Capítulo 109

Bruna se divertiu muito no sábado, ainda que o plano tenha saído dos trilhos, porém, não abalou em nada.

 

Depois do aquário, foram parar num barzinho em Vila Isabel, ao ar livre, tocando pagode ao vivo.

 

Foi estranho ver o poderoso sentado numa cadeira plástica, onde tantos usaram, comendo com um rosto pacífico algo que nunca provaria, mas estava lá, com um churrasquinho de rua e bebendo cerveja local.

 

Logo, o clima conturbado de sexta caiu por terra, podendo assim curtir o futuro.

 

E o domingo prosseguiu, com saudade do resquício de sábado, caindo na cama.

 

É tarde, sentindo o sono, e mesmo tomando remédio, a adrenalina e a dopamina expelidas para fora acabaram desgastando rapidamente.

 

Como se tivesse voltado de um dia inteiro na praia, apenas bateu nos travesseiros, se cobrindo, aproveitando o frescor proporcionado pelo ar-condicionado.

 

Não é a mesma sensação na suíte, mas o cansaço e o sono são os mesmos, então é válido.

 

Morfeu, que discutiu com a deusa do amor, a viu numa posição engraçada com um fole para fazer aquela pequena chama formada esquentar ainda mais esses troncos.

 

A única chama, tirada de um último fósforo, conseguiu criar a primeira camada, só que não era o suficiente, precisava de mais.

 

Espalhando, por isso, tentaria mais uma vez e assim concluir o ciclo desejado por muitos.

 

Foi nesse impasse que se arrependeu de o filho travesso ter jogado a flecha no coração dela na adolescência.

 

Sim, um grande desperdício no passado, se esperasse, seria tão fácil quanto qualquer romance erótico.

 

Mas acabou se ferrando, ao desperdiçar as madeiras secas para outro mortal, e lutava triplamente para essa lareira coberta de cinzas aquecer esses troncos úmidos.

 

E, devido a isso, se irritou com Morfeu por enviar o sonho errado, dificultando a situação, tornando tudo tão lento quanto uma tartaruga montada numa lesma.

 

Forçando-se a fazer seu melhor, e como não dependia só deles, pois a ordem vem de cima, caprichou para o ciclo concluir e colher os frutos, adiado por tantos anos.

 

Apesar da situação, reconhece o dom.

 

Mexer com sonhos nunca foi o fator principal, mas um meio em que se diverte indo para o futuro e passado.

 

Mexer na ampola do tempo era uma habilidade saborosa, fora que conecta, através dela, o encontro breve dos mortos e vivos.

 

Bruna, que desfrutava do sono profundo, não notou o retorno do seu carrasco, que por sorte é menos agressivo do que o primeiro, fazendo-a navegar nas profundezas do passado de um cafajeste.

 

Flutuando numa conexão quase 5G, Bruna entra num universo em que esse Deus resolveu simular um jogo de Otome.

 

Num banheiro de alguma casa requintada, a jovem usa seu uniforme casual.

 

Uma regra muito debatida pela alta cúpula, para provar que, mesmo tampada, tinha poder sobre ele.

 

“Que?”

 

Tranças com tererê coloridos fazem recordar da infância, quando recebeu sua única e primeira boneca negra.

 

Logo, a mãe, que fazia essas ornamentações.

 

Bonito, e brilhavam num preto que acreditou ser o natural. A visão, ora colorida, fez distinguir a sua rouparia simples.

 

Uma camisa preta de rock e um short de pano mole num rosa pálido.

 

“Que fofo.”

 

O seu corpo, bem, não era atual, mas quando chegou aos 84kg.

 

A testa de amolar facão que se destacava quando emagrecia sumiu, dando formato ao redondo e carnudo, em que a papada era visível.

 

Não sentindo nada.

 

Antigamente, presa ao biótipo padrão, acreditava que a magreza era sinônimo de saúde, glorificando a vaidade, na qual recebeu a retaliação da essência.

 

Só que, não agora.

 

Aprendeu que deve combater a obesidade e o sedentarismo, e que isso não era a chave, e sim a saúde.

 

Parando assim de se odiar.

 

Após a reflexão, focou no que tem.

 

Envolvida por um ar de opulência e sofisticação.

 

As paredes são revestidas com mármore branco de alta qualidade, que reflete a luz suave dos lustres de cristal pendurados no teto, criando um ambiente iluminado e acolhedor.

 

O piso, igualmente em mármore, apresenta veios sutis em tons de cinza e dourado, complementando a estética geral do espaço.

 

No centro, uma espaçosa banheira de hidromassagem se destaca, feita de porcelana branca imaculada.

 

A banheira possui detalhes em ouro nas torneiras e nos acabamentos, proporcionando um toque de glamour.

 

Um elegante lavatório duplo está instalado em uma bancada de mármore escuro, com pias esculpidas que possuem torneiras contemporâneas em acabamento cromado.

 

Espelhos grandes, com molduras ornamentadas em prata, refletem cada detalhe do espaço.

 

A iluminação é suave e regulável, permitindo criar diferentes atmosferas conforme a necessidade.

 

“Caralho…”

 

Pela primeira vez, sentiu que um ambiente inorgânico poderia ser alérgico à sua pobreza.

 

Era tão lindo, que enfeitiçou como um mosquito guiando para a luz, assim, queimando e morrendo.

 

A sensação de que não era a sua casa não causou pânico, contudo, queria sair daqui.

 

Mas esqueceu de um detalhe que instantaneamente Morfeu preparou, enquanto assiste a essa interação com um balde de pipoca.

 

[ATENÇÃO!]

 

Uma mensagem acima de sua cabeça surge, brilhava como qualquer universo do meio.

 

“Que porra…”

 

Não precisou tocar ou outra coisa, automaticamente é trocada explicando a temática do jogo.

 

[SEJA BEM-VINDA AO JOGO ‘PERSEGUINDO O ANTAGONISTA’! SUA MISSÃO É SEDUZIR O MC E CONCLUIR A DLC.]

 

“Vai pu caralho!”

 

[BOA SORTE!]

 

***

 

Era primeiro de maio, seu aniversário, mas o ar era comum.

 

Após sair de sua terra, Mohammad desconsiderava qualquer data comemorativa e fazia apenas o necessário, que era o calendário islâmico.

 

Portanto, esse dia era como qualquer outro, só estava completando mais um ano de vida.

 

Vinte anos já foram considerados uma idade do santo grau, época em que a juventude pulsa a ponto de autorizar cometer erros.

 

No entanto, esse cara que já tinha um pé na formação da sua graduação, ficaria mais um tempo para concluir outros pormenores como a pós e o doutorado.

 

Ainda que esteja indo a uma outra festa de um colega de mesma graduação.

 

Em que reuniu vários outros departamentos na mansão de seus pais, que tem uma longa história de 350 anos.

 

Fazendo parte da nata britânica, os Rockefeller permanecem na história com uma linhagem privilegiada, em que alguns sucessores se tornaram parceiros de algumas figuras políticas e reais.

 

Uma fábrica de casamento, para manter no poder.

 

Claro, donos de algumas subsidiárias valiosas que dominam o mercado europeu.

 

Esse jovem, que esquematizou o programado, é o segundo mais novo e não tem planos de casar ou tomar o poder, apenas curtir o que sua idade propõe, antes de abraçar a velhice medíocre.

 

Em seu carro, não estava sozinho, uma dama que cursava medicina estava ao seu lado, privilegiando-o com um sexo oral, para aguentar algumas horas no meio de tantos idiotas.

 

O bom é que existem vários quartos e muitas outras opções para se degustar e não interagir em meio social.

 

“Já chegamos, sai daqui.”

 

“Mas, me desculpe, eu posso…”

 

“Cala a boca, se fosse pra ter isso, não teria gasto a gasolina pra levar uma incompetente.”

 

Ainda não encontrou aquela que faça um oral bom, e essa era pior que a Lauren.

 

Falando nessa vadia, por saber de sua chegada, estava esperando, querendo importunar o juízo, e a todo custo tenta se livrar dessa maldita.

 

Mas como?

 

Saindo de lá, a camisinha que nunca era jogada fora foi colocada num saco esterilizado para ser diluída, não tendo risco de seu material genético parar na mão de qualquer doida.

 

A aluna que não conseguiu agradar esse senhor terá que voltar com outra pessoa ou pegar um táxi.

 

Por sorte, garante em sua beleza e sabe que não ficará às traças, ainda assim, pesa no peito, pois é foda ser desprezada em algo que deveria ser perfeito.

 

Todavia, nada o agradava.

 

E será assim até o destino se saturar das suas exigências.

 

Durante isso, seu pênis, que nem gozou, estava chateado em desperdiçar a oportunidade, deveria ter jogado no meio da estrada.

 

Piorando ainda mais seu humor.

 

O som amplificado já deixou amargo, como se o espaço relembrasse as festas organizadas por seu pai.

 

A ponto de causar gastura na garganta.

 

A dama que vestia algo bem primaveril e sexy reconhece que não deve insistir para que a mão dele não vá em sua cara como da última vez.

 

Logo, assim que pisou no território dos Rockefeller, desvinculou-se, indo em direção contrária.

 

E por ser um grande filho da puta, somente outras donzelas vieram em sua direção, cercando-o como humanos ao redor da colmeia de mel.

 

“Mohammad.”

 

Os cavaleiros, que sentiram o ar pesar e as outras migrarem para um único ponto, já fecharam o rosto, pois dependiam desse cara para dispensar algumas para abocanhar.

 

Claro, se não levar para um desses quartos e alimentar essa fome antes de partir para alguma boate.

 

“Babaca, filho da puta!”

 

Bem, não ousaram expandir o domínio da fala, pois, além do rancor, têm medo desse sanguinário que não poupa ninguém.

 

A festa não era igual aos filmes americanos, até porque, estão na Inglaterra, berço dos bons atores.

 

Portanto, havia empregados servindo e outros invadindo a cozinha principal pegando aquilo que não seja champanhe.

 

Os gêneros tocados têm influências do mundo, como o pop, hip hop, R&B e dance.

 

Lauren estava ao lado de Karen, esperando a presença do principal, que não era o dono da festa.

 

A pobre sulista mudou da água para o vinho, e não foi somente na aparência, mas nos jeitos, deixando-a mais mesquinha e agressiva, pelo ciúme do seu amor.

 

“Lauren, que tal irmos a uma boate depois daqui?”

 

“Depende, se for aquela que o Mohammad vai, será melhor ainda.”

 

“Lauren…”

 

Karen, que mantém o mesmo estereótipo, apenas colocou silicone para desfazer os pequenos brotos da adolescência.

 

E, por ter um envolvimento com o grande amor de sua melhor amiga, ficou no impasse, pois recebeu uma notificação para ir à casa dele depois que sair desse lugar.

 

“Não precisa falar, mas acredito que mudou. Eu sinto que agora, finalmente, podemos dar o seguinte passo.”

 

Mentira, Mohammad já estava saturado, mas o amor a contaminou juntamente com seu pau corrosivo.

 

Além do que, Karen soube que não era a única amiga, e que outra que conheceu pela internet, ditou seu comportamento, fazendo-a sair do meigo para um lago escuro.

 

Semelhante a um cisne negro.

 

“Amiga…”

 

“Olha, ele chegou, vou lá cumprimentar, volto logo ou… nem tanto.”

 

Já explicitando que cederia outra vez a alma em troca de algumas horas de sexo.