Capítulo 111
“Ugh..!”
Quente, borbulhante e sem gosto, essa era a bebida endeusada mundialmente.
Se decepcionando que não fosse gelado ou, pelo menos, doce.
Brasileiro é uma criatura estranha, sempre flutuando entre o 8 e o 80, em que o frio tinha que ser congelante enquanto o quente deve ser infernal.
Se estivesse morno, vomitaria, levando o versículo de Apocalipse ao pé da letra.
Abandonando a taça quase cheia em uma decoração qualquer, no miolo onde a luz de boate fazia-se presente, as danças variadas e toscas brotavam um risinho de escárnio.
Como céu e inferno, mulheres deslumbrantes com corpos esculturais de modelo eram tocadas à medida que mexiam o quadril conforme a batida.
Já os homens pareciam pássaros selvagens tentando seduzir as fêmeas com suas danças peculiares.
“Que merda… hahahaha.”
Teve vezes que acompanhou a mãe em algumas festas, só pelo fato de zoar a ginga alheia, fazendo disso um lazer recreativo.
O que não morreu nela, que não controlou diante desse palco numa eterna comédia.
Mohammad, que viu seu sol indo em direção oposta, saiu de seu reinado e foi procurar o calor que o contaminou por instantes.
“Onde está?”
As que tinham seus papéis ficaram confusas quando esse jovem mestre não a quis e procurava por uma plebeia, inclusive Lauren, que assistiu aos detalhes.
“Amiga, o que aconteceu? Por que desse olhar perdido?”
“Eu… Não sei, ele me chamou para ir lá pra cima, mas do nada…”
Pode até ser do nada, mas não ‘qualquer coisa’, aquele tipo de mirada e o sorriso bobo eram de uma criatura que encontrou o amor.
Logo por quem nem se encaixava nas suas exigências.
“Olha, vamos sair daqui, ok? Precisa descansar, vamos ver aquele filme de que gosta e comer pipoca, que tal?”
A loira fatal não deu ouvidos e guiou seus pés à procura daquele fugitivo que se rendeu ao poder de uma bruxa.
“Preciso encontrá-lo, salvar disso.”
Como sempre, as intenções eram as melhores, como uma protagonista, contudo, sem ser a heroína, esse cara jamais lhe daria ouvidos.
E nem seus gemidos surtiriam efeitos.
“Me espere, por favor…”
Uma área grande, Mohammad encontra num vórtice para achar a metade que lhe falta, a que esperou pacientemente, e procurou arduamente sem ao menos sentir.
Muitas iguais a ela caíram ali e aqui, mas longe da original, e como ouvisse suas preces, colocou no seu caminho e não queria perder de vista.
Seguindo os instintos do coração, o seu olfato sensível distinguiu milhares de cheiros para encontrar o dela.
O seu ‘X’ do mapa, o tesouro em meio à devassidão.
E parada no mesmo ponto, a jovem se diverte enquanto é ignorada pela multidão, só esse circo já pagava pelo tédio.
“Misericórdia, olha aquele ali…”
Alto, cabelo escuro em cachos bem bagunçados, de musculatura seca, dando todo gás numa coreografia patética, atraindo a beleza, garantindo uma noite de sucesso.
E, como qualquer festa numa mansão que relembra séculos passados, penas de um animal desconhecido caem do alto, planando até o chão em grande quantidade, similar a uma guerra de travesseiros.
Bruna estava a poucos metros de distância, porém, virou no time certo que o seu admirador a encontrou.
Escuro, sua visão detalhou a silhueta à medida que cada um se perdia no mundo pela audácia do dono em pincelar o chão com algo considerado ‘puro’.
“Hahahahaha.”
“Huuuuu!”
Risos tornaram-se mais altos que a música, Mohammad e Bruna olham para o alto buscando razão em algo puramente caprichoso, ainda assim, eram tão belos ornamentando a cena simbólica.
Outra vez, seus olhos se esbarraram, e aquele sentimento vai de encontro a ela, como se o amor morasse nesse corpo.
Raramente teve essa reação, e não pôde aproveitar, pois quando se tocou, já era tarde demais.
Até porque, na maioria das vezes, era ela que sentia toda essa carga, e ver nele, num padrão elevado para o resto da humanidade, quase roubou seu ar.
Fazendo seus pés darem os primeiros passos.
Mohammad fez igual, contudo, pela atmosfera transbordante, mais se juntaram, atrapalhando norte e sul de se juntarem.
Enquanto um carregava a água doce, o outro era um oceano salgado, e não tem nada a ver com o sexo biológico.
E montanhas não foram o suficiente para bloquear esse encontro. Que se chocaram, a estrutura espantou quem batia na metade do peito.
O sonho de qualquer baixinha.
“Ah… Oi.”
Bruna analisava esse idioma, então arriscou num outro, o espanhol.
“Sou brasileira.”
“Ahh…”
Era para odiar, nasceu pra isso, no entanto, não vem, não consegue.
“Que bom que sei falar português.”
Não o europeu, mas do ponto que acreditava ser uma gaiola de macacos.
“Me perdoe.”
Nesse instante, sentiu-se lisonjeado em falar o idioma em que seu interesse amoroso nasceu.
“Verdade. Então, qual é o lance?”
Essa gíria, sotaque carioca, expulsando a frase como se comesse as palavras, é estranho e tão sedutor.
“Quer dançar?”
“Ahn?”
Perdido, sua mente embaralhou e soltou o primeiro que veio à mente: colar seu corpo no dela e dançar lentamente, comemorando o melhor presente de aniversário.
“É que, se puder, podemos. Portanto…”
“Tá, só não sou boa, mas menos pior que os pavões daqui.”
Ouvindo outra vez, Paula Abdul em ‘Rush Rush’ é tocada num remix que não pecou no romantismo abordado pela cantora.
“[…]Depressa, depressa! Rápido, rápido, amor, venha pra mim. Depressa, depressa![…]”
“Também não sei dançar, mas vamos tentar daqui por diante.”
“…”
Uma promessa que não ficará aqui, mas se arrastará futuramente até o final dos seus dias.
Mais um ano de vida, nunca sentiu que um aniversário fosse bom ou merecedor de todo esplendor, por isso, um vinho ou uísque, uma ótima refeição e sexo já eram bons.
Terminaria outro ciclo em sua rotina, mas o destino cansou disso e resolveu mudar um pouco e dar cor ao seu mundo cinza.
E seus pés balançam no mesmo embalo do coração, o tique de um era a direção dada pelos dois. Sua mão trêmula envolveu o corpo dela, que não se incomodou com a invasão.
Quente.
Não só eles, mas os que cataram seus pares curtiam esse romance, mesmo que a fofoca do dia seguinte não saísse de seus lábios tão cedo.
A morena que provocou Lauren exibiu um risinho cínico ao ver o todo-poderoso juntando seu pedaço com uma desconhecida com esse rostinho bobalhão.
Um adolescente ao lado de sua garota favorita.
Todas na vibe de ser ‘Wanna be your girl’, e ele apenas um ‘Wanna be yours’.
Não isso, mas quando a própria chegou ali, o show instalado com algo que não teve chance, presenciando o seu amor com aquela mulher absorto numa canção detestada, lágrimas encharcaram.
Logo atrás, Karen viu o coração de sua irmã despedaçar.
Só que é real.
“[…]Quando você me beija, pra cima e pra baixo. Gira meus sentidos em todas as direções. Oh, amor, oh, amor. Eu não sei exatamente como ou por quê. Porém ninguém mais me tocou. Tão fundo, tão fundo, tão fundo lá dentro[…]”
No meio da declaração do eu lírico, o cavaleiro intoxicado pegou o queixo de seu afeto e não impediu de juntar seus lábios, que foram bem aceitos.
Concluindo, o laudo indica que o grande encantador não estava em seu modo sedutor, e sim, entregando tudo que há de si para ter o coração da felizarda.
“Por quê? Por quê?”
“Vamos, amiga, aqui tá ficando pesado demais.”
“Eu o amei há tanto tempo, são quase dois anos nisso, mas nunca quis dar o seu afeto.. E agora, essa estranha aparece dos infernos e rouba de mim em segundos.”
Verdade, se vangloriou do castelinho de areia, garantindo sob uma placa instável, sofrendo sob terremotos.
E no ponto mais alto, a erupção a queimou, cozinhando sua carne e queimando seu coração, tornando-o em cinzas.
“Não fique assim, talvez seja um dos seus joguinhos.”
Consolando, compreende que o compromisso foi desmarcado por muitos anos.
Escutando até a marcha nupcial glorificando o amor perfurante desse novo casal.
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Capítulo 111
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Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...