Capítulo 112
“O que deseja comer?”
No carro, ocupa o lado que uma outra mulher servia com a boca, mas, por razões opostas, essa será sua parceira de vida.
Quando o jovem mestre saiu acompanhado dessa mulher, Takano e Dmitri estranharam, pois o clima ali era bem diferente do acostumado.
No entanto, se manterão em silêncio em que o herdeiro conversava num português, descarregando toda a gentileza inexistente.
E, quando abriu a porta do carro pra ela, como qualquer cavaleiro com uma dama, o sinal berrante ecoou em seus cérebros.
“Só pode ser brincadeira.”
Comentou com seu parceiro de cela antes de seguir caminho.
Logo, a janela aberta, momentaneamente veio um misto quente pelo beijo anterior.
“Quero comer ‘jajangmyeon’.”
Claro, a sonoridade saiu bem indecifrável, mas entendeu a tradução.
“Tudo bem.”
“Vamos comer numa loja de conveniência, tá?”
Lá só vendem algo rápido, e não feito na hora com a massa sem aditivos.
Esse cara não come nada dali, e muito menos macarrão instantâneo, por ser ‘cancerígeno’ demais para seu corpo filtrar.
Mas Bruna queria ir, por ver tantas reviews na internet que aguou por saber o gosto dessa culinária tão diversificada.
“Bem, então vamos ao sul do bairro Soho.”
“Por quê?”
“É a Chinatown londrina.”
No trajeto, perguntou muitas coisas, mas as respostas eram divertidas e bem vagas, a dama escondia algo e, para não constranger, não aprofundou.
E se contentou com o relato de ser uma ‘andarilha sem rumo’, o seu maior medo é que suma de um dia para a noite.
Rezando para que o sedentarismo invada e fixe-se em sua casa.
Londres à noite é quase como qualquer centro urbano moderno, misturando fator histórico como cabines telefônicas vermelhas, com edifícios de multinacionais da época.
E o cartaz da chegada do filme Crepúsculo fez situar que estava em 2008.
Seu estômago roncava, a fome pra degustar algo novo foi como esbarrar nesse bonitão e provar sua boca.
Árabe e muçulmano, distinguiu que um e outro nem sempre se misturam, pois se trata do idioma e religião. Apesar de se socarem tão bem, que juram que são iguais.
“Bem hipócrita, pois nem deveria tá naquele tipo de festa e bebendo bebida alcoólica.”
“As coisas boas são sempre proibidas. E, como bom apreciador, faço e depois rezo.”
“Nada abala vindo de religiosos.”
Englobando a todos, não discriminando ninguém, odiando cada um.
Quando chegaram perto da Chinatown, as bandeiras britânicas com o vermelho vivo acenderam um furor que nunca visitou esse ponto turístico.
Estava lotada, apesar do horário, e tão mais viva que o resto do passeio, em que não poupou em colocar a cabeça pra fora.
“Cuidado.”
“Foi mal.”
Outra vez, quando se aconchegou no interior, a mão dele segurou a sua numa tentativa clara de reafirmar sua presença, um cadeado de carne para não fugir.
Mohammad não se vestia belamente, estava quase igual a ela nesse moletom e blusa esportiva branca.
“Esse cheiro de riqueza é inigualável.”
“Vamos estacionar aqui.”
“Kya!!”
Os guardas também fizeram igual para acompanhar essa nova rotina, do mesmo modo para entrar, foi para sair, em que sua mão englobou a dela como namorados.
“Cara, isso é bizarro. O senhor não chegou nesse nível.”
“Quis dizer, nunca, não é?”
Refutou Dmitri, que permanecia com os lábios selados.
Um homem que anda ao lado de sua parceira deve recorrer a truques para que os turbos dos pés não façam entrar em certas lojas e sair com trocentas coisas fora do estipulado, todavia, deixou-se levar pela euforia dela.
“Olha, tem canetas! Eu amo papelaria!”
“Quer?”
“Claro!”
Mesmo sabendo que desaparecerá, ainda quer aproveitar cada pedacinho.
Cartão de crédito pra lá, cartão de crédito pra cá, e bolsas com bugigangas diretamente das fábricas chinesas e taiwanesas.
“Gato da sorte, vamos ter muita sorte daqui pra frente.”
“Esse ursinho também é bonito.”
“Fofinho.”
O dinheiro gasto é pequeno, mesmo assim, jamais aconteceria por essa mão de pedra.
Mas toda vez que aponta para algo, e sem pedir, automaticamente o cartão cria vida própria, acumulando em várias sacolas.
Até que chegaram a uma das lojas de conveniência mais famosas dessa região.
Por ser dominado por coreanos, não teve jeito de o pedaço do coração não vir para cá para relembrar o sabor industrializado de seu país.
O ‘Haven Bap‘, uma mistura de céu com gimbap.
Que juntos formam um ‘Hambap’.
Menos tecnológico, ainda é modernizado com tudo que tem numa loja de conveniência.
Era novidade, que seus olhos brilhavam apontando para traduzir o sabor de cada produto e ainda vendiam outras coisas além do setor alimentício.
“Igual a posto de gasolina.”
“Tem vários Jajangmyeon, o mais apimentado e o sem, que é um tanto agridoce.”
“Sei que os apimentados daqui convidam qualquer um a uma temporada na emergência.”
“Vou escolher esses que não levam carne de porco.”
“Quero esse por ser menos apimentado.”
De frango, carne e tofu, havia outros além do sonho dela que são os gimbap.
Pareciam dois adolescentes, riam por coisas bobas e escolhiam besteiras como refeição séria.
E, preparando cada prato nos micro-ondas disponíveis, sentaram do lado de fora em que o parceiro insistiu em pôr um casaco.
“Ainda não é meia-noite. Vamos ali comer um pedaço de torta, em comemoração ao seu aniversário.”
Em frente ao Hambap, há uma doceria que vendia especialidade da cultura, e na vitrine, havia o famoso ‘strawberry shortcake’.
Exclusivo do sol nascente, faz sucesso pela massa leve, o recheio delicado e morangos bonitos e doces.
Bem comum em celebrações, aniversários ou durante as temporadas de fruta.
“Quero comer aquele ali.”
Apontando, não relutou, mesmo não gostando de fruta em doces, aceitou, pois aniversário é uma vez ao ano.
“Tá.”
Deixando uma parte para curtir o parabéns, Mohammad devorou o que deixou, uma atitude notória, perpetuando a importância dela.
Lá, o atendente ofereceu uma ‘vela’ sem número para que o aniversariante aproveitasse esse momento único ao lado de quem gosta.
Como qualquer brasileira criada na alegria, bateu parabéns, deixando o jovem mestre vermelho como a fruta no topo do bolo.
“Hummm… Esse morango é gostoso, olha, chega a brilhar de tão vermelhinho.”
Com os lábios sujos de chantilly, o sabor suave de baunilha e levemente adocicado não é enjoativo.
“Volta à lembrança de 2002, quando assistia Sakura. Vire e mexe, sempre tinha esse tipo de bolo. Era tão colorido…”
Logo a mente é inundada pela canção ‘Yume ni mita date’, sua favorita que a faz sorrir sem ao menos cogitar.
E a tradução, sendo relacionada a um sonho, cabe aqui, pois, apesar do realismo, é nada mais que uma fábrica de sonhos.
“Vamos ir pra casa.”
O convite soou conflituoso pois não era verdade, ainda assim, não esboçou e sorriu aceitando brevemente.
“Tenho que ir embora?”
Entretanto, o subconsciente era uma esfera longe demais da consciência que ocupava quadrado por quadrado.
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Capítulo 112
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