Capítulo 114

[Não poderei sair hoje, na vdd, durante esse período vou precisar ficar em casa. Me desculpe.]

 

A mensagem enviada pelo WhatsApp foi lida assim que descia pelo elevador.

 

Esse era o horário combinado, e quando leu o relato, ficou um tanto nervoso.

 

Dia 29, combinaram de sair para passear e visitar o ponto turístico mais famoso.

 

E, por alguma razão, não poderá ser realizado, não na convicção dela.

 

Pois, ao ver dele, aconteceria hoje mesmo.

 

Faltando apenas três dias para encerrar o primeiro mês do ano, é um tempo chato para ela, que sofre com um sintoma delicado.

 

O alto libido não deve ser ignorado.

 

Na realidade, acaba por paralisar e queimar por inteiro, um fogo invisível dominava a mente pela sensação intrínseca de fazer sexo.

 

Sua parte íntima pulsa descontroladamente, implorando para comer um membro, em que o movimento fantasma assola perigosamente.

 

O toque mais leve por cima da calcinha já provoca a ebulição, e o bico do peito fica tão duro e um tanto sensível, salivando, mendigando por algo que o organismo negava.

 

Junto o líquido seminal, colorindo sua boca, como um delicioso mel que escorre por sua garganta.

 

Não havendo ninguém, tentou se aliviar como sempre faz, mas, diferentemente, os vídeos pornográficos não estavam fazendo tanto efeito assim.

 

Não se trata de um sonho recente, mas sim de um longo contato com aquele ser que a viciou lentamente e agora necessita do físico que não seja obtido por meio de telas ou terceiros.

 

“Eu quero transar, quero transar. Por favor, faça isso parar!”

 

Portanto, alertou, desmarcando o compromisso até a menstruação descer.

 

[Está tudo bem com você?]

 

A mensagem preocupada foi visualizada, que de imediato queria mentir, mas não fez.

 

[Não estou me sentindo bem, mas passará, só preciso desse tempo mesmo.]

 

“Droga, por que tinha que acontecer comigo?”

 

Acreditava que nada é de graça, em troca dos benefícios do ciclo perfeito e de uma menstruação regular, algo tem que ceder.

 

Nunca procurou ajuda profissional para explicar a razão desse fenômeno.

 

Incapacitando em todos os modos.

 

[Tem alguém em casa?]

 

Com o questionamento, a porta do quarto é aberta, surgindo não só sua irmã, mas a cachorra, que por hábito pulou na cama.

 

Olhando para a criatura, que deveria sair de casa, perguntou o que aconteceu.

 

“Não estou me sentindo bem, ficarei em casa por esses dias.”

 

“Hum… tá, vou deixar a Belinha aí.”

 

“Sim…”

 

“Cara, que bom arrumar a casa de noite, hoje não precisamos fazer nada e fiquei sabendo que será tão quente como nunca.”

 

“Vu levantar e fazer comida.”

 

“Ok, só não esquece de pegar o café da manhã. To amando tomar o café de lá.”

 

“Droga, esqueci da entrega.”

 

A porta foi fechada e, rapidamente, a cachorra se enfurnou para dentro do lençol e, como estava nua, só ocultando com a blusa, ficou com preguiça de se vestir ou fazer o ato novamente.

 

Assim, retornou para despachar esse homem.

 

[Minha irmã, e acredito que meu cunhado. Olha, vai passar, ok?]

 

Com intuito de terminar, quando menos esperou, o celular começou a tocar, bem alto.

 

Logo de quem quer evitar a todo custo.

 

“Vai se foder! Vai se foder! Me deixa em paz, encosto de Jezabel!”

 

Deixou, até baixou o volume, permitindo a vibração, esperando sua desistência e passar essa névoa libidinosa.

 

Insistindo interruptamente, até a sexta vez, onde, sem paciência, atendeu furiosa.

 

“O que quer?!”

 

[Estou chegando em 20 minutos, então acho melhor falar o que está sentindo.]

 

“Não venha para cá, falei para não vir hoje. E, diferente dos outros dias, tô sem paciência, então não atenderei na próxima.”

 

[Isso não foi uma pergunta ou sugestão, só um aviso de que estarei aí nesse tempo. Portanto, é melhor falar o que está acontecendo.]

 

“Não, não e não!”

 

[Acho que seus familiares vão gostar da minha presença.]

 

“Venha quicando ou voando, tô pouco me fudendo. Vá se lascar! Vá pra puta que pariu e me deixe em paz!”

 

Bloqueou para não entrar em contato novamente.

 

E ao fazer isso, sua dor de cabeça foi amenizando, entendendo que fez mais bem que mal.

 

Detesta quando não respeitam o espaço, principalmente quando explica a razão. Pode até ser indelicado, só que essa pessoa é pior que chiclete e, quando gruda, não solta mais.

 

“Ai… aliviou um pouco, acho que posso descansar por umas horinhas antes de comer alguma coisa.”

 

A cachorra, que fazia companhia no meio dessa tempestade, notou que simplesmente tacou o ‘foda-se’ e agiu igual a Jesus no meio do temporal, fechando os olhos enquanto o restante se lascava.

 

Nisso, Mohammad dirigia freneticamente, eufórico com a resposta ofensiva de seu amor, é tão estimulante que o tesão transbordou a ponto de derramar por todo seu ser.

 

E isso não é bom.

 

Hoje, quem entregará não será o filhote, e sim, o patrão.

 

Fazendo uma visita um tanto peculiar, para desvendar o que estava acontecendo, e se for isso, aquele quarto ficará pequeno.

 

[Sam, encontre com o presidente na Alfredo e entregue as encomendas para ele.]

 

“É o quê, líder?!”

 

[Só faça, recebi a mensagem urgente, parece que aconteceu algo e fará pessoalmente.]

 

“Ih! Lascou!”

 

“Sim, líder.”

 

Com o pé atrás, achou que tinha notado algo fora do normal que tenta esconder, e agora punirá sem testemunha ocular. Desse modo, um temor formalizado no sábado surgiu.

 

“Será que… Não, normalmente não é desse jeito, quando repreende ou mata, não faz às escondidas. Então, o que será?”

 

Colocando o capacete, desceu a rua, esperando no ponto sugerido, e orou para que não seja tão doloroso assim.

 

***

 

“Bruna, não vai pegar as coisas?”

 

Repreendeu a irmã, que tentava cair no país dos sonhos, seu rosto estava meio amassado e meio grogue com o cochilo rápido, e decidiu não ir.

 

“Sério? Tá de sacanagem, tô com fome.”

 

“Vai você. Só deixa dormir.”

 

“Cara…”

 

Mesmo que insista, não adiantará e não levantará dessa cama, deixando o trabalho para seu colo que detesta sair.

 

Desse modo, fechou a porta com o barulho audível e, por se viciar em café expresso, foi para o quarto trocar de roupa.

 

Enquanto a paz reina no castelo, um rei de tão, tão distante trafega pela primeira vez em uma favela.

 

Na verdade, onde há uma concentração maior de pobres.

 

E aquilo causava asco, com todas as entregas sabendo exatamente aonde ir sem precisar de guia e, por não ser dali e de nenhum canto, atraiu a atenção dos poucos que trafegam pelo lugar.

 

A beleza, claro, encantava e também instigava o desejo de inveja em alguns.

 

Até aí, normal, mas sua face de puro desprezo fazia ser colocado em último lugar em ‘gente bacana’, e só bater o olho denota a condição do sujeito.

 

O boné não ocultava nada, só destacava ainda mais.

 

E pelo beco estreito, sua altura atrapalhava seguir pela viela, e como é cedo, não havia tanta gente ali, apenas o sol morno que lentamente vai esquentando para mais tarde fritar todo o resto.

 

“Que lugar nojento! Cheiro de mijo e fezes. Como pode viver aqui? Na realidade, sobreviver.”

 

Aos passos rápidos, para chegar ao destino.

 

Por ser um dos primeiros, o piso que enfeita toda residência é como uma flor em meio ao lixão.

 

Onde perdeu todo o brilho e estava chapiscado de lama e sujeiras de chuvas intermitentes assoladas desde que foi colocado na frente da casa.

 

“Até que enfim, agora é… Tocar nessa porta, droga! O amor força a suportar o insuportável.”

 

As mãos ficaram tão rígidas, e todo o nojo invadiu para bater três vezes. Ou só abrir, tem a cópia e pode invadir.

 

Contudo, lembrou-se do humor dela, então essa opção só pioraria.

 

“Ok, só bater, depois desinfecto. Simples.”

 

Respirando, ouviu passos internos e achou que fosse ela, e momentaneamente sentiu um alívio.

 

Queria ver, mesmo brava, ainda é seu alívio, entretanto, o som da chave girando e a porta de alumínio abrindo, murchou.

 

A caçula, que ao bater de frente ficou sem reação.

 

“!!!”

 

Seus olhos se expandiram e puderam sentir tudo: surpresa, vergonha e um tanto de desejo.

 

“Você é… é…”

 

“Sim, Mohammad, desculpa por vir sem avisar. Mas trouxe o café e queria saber como está sua irmã.”

 

“Jeová Jireh! Que monumento! Agora não! Tô horrível, meu cabelo, minha roupa… a casa pelo menos está limpa.”

 

“Sim, ahn… tá passando mal e está no quarto, eu vou…”

 

“Posso entrar? Ou tem algum problema com isso?”

 

Ficou no meio-termo, entre ser hospitaleira ou sobreviver e não permitir a entrada desse vampiro, todavia, demorou na fala.

 

Mas, o jeito manso e tranquilo em um rosto gentil, por tudo que incentivava, permitiu sua entrada, implorando para não notar nada na perfeição.

 

O cheiro fraco de desinfetante barato circunda a área.

 

O piso, com decoração cafona, não conseguiu disfarçar o cheiro do mofo das infiltrações.

 

Máquina, um freezer velho, onde o exterior é enferrujado, um pouco de roupa suja onde o odor era perceptível, fazendo embrulhar fracamente o estômago.

 

Roupa limpa estendida no varal, a fina camada de poeira na janela de madeira inutilizada, tudo, tudo fazia querer correr e pegá-la dali.

 

No entanto, parou, pois aqui reside em seu reinado e, como visitante, não deve ser desagradável.

 

“Com licença, espero não incomodar.”

 

O rosto petrificado fez o peito da outra relaxar e apresentar o restante do castelo.

 

E outra vez, o som alto dos latidos da primeira cachorra contida por uma porta é alto, o que não agradou à entrada desse cara.

 

E na segunda parte, julgando ser a sala de estar, o olhar é outro, onde o mesmo cheiro persistia, porém, aos olhos alheios, é limpo e organizado.

 

Só que, para quem possui fobia, nada estava legal e, se pudesse, caminhava utilizando uma vestimenta hospitalar para infecção.

 

“Por favor, não ligue para a bagunça… Nina, para de latir!”

 

As duas nuances na mesma frase fizeram notar as personalidades que fluíam entre calma e tempestade.

 

“Não precisa se preocupar, estou acostumado a isso.”

 

“Nada, é visita, só um instante. Deseja um copo com água?”

 

Só de olhar para a pia limpa e a louça escorrendo, cogitou não aceitar, mas como quem lava é a Bruna, então, não recusou, mesmo que não seja o padrão exigente.

 

“Só um minuto.”

 

“Espero que a Bruna tenha lavado a louça direito, dá pra perceber que esse cara é nojento.”

 

O latido das duas cachorras atormentou a que tentava esquecer a sensação agonizante, por isso, gritou duas vezes.

 

Mohammad ouviu e seu coração acelerou. Beatriz, que ouviu, fechou os olhos, imaginando a vergonha que estava fazendo passar.

 

Portanto, entregou o copo mais limpo que julgou e encheu com água do bebedouro, checando três vezes para ver se não caiu nada suspeito.

 

“Porra! Chata pra caralho.”

 

O grito encheu de euforia, querendo invadir esse interior.

 

Na cadeira, olhou para o objeto cristalino, que por cima estava limpo, com cheiro de sabão neutro e resíduo metálico na borda.

 

Planejou engolir e depois vomitar, ou simplesmente deixava ali enrolando até surgir seu amor.

 

Sem graça, pois não é uma visita que faz ficar à vontade.

 

Queria adentrar no quarto e não sair mais, até que Bruna, sem paciência, vestiu a calcinha, pois toda tranquilidade foi roubada e a vontade de fazer xixi era pesada.

 

Saindo de lá, revela a natureza para esse encosto que espera pacientemente.

 

E, como tudo, sua visão mal-humorada mirou em direção a essa besta transvestida de humano em sua cadeira, com o copo cheio de água que mal tocou.

 

“O que…”

 

“Não duvide de minhas palavras quando digo que farei algo. Eu faço, Bruna.”

 

“…”

 

A irmã queria permanecer no meio desse embate entre marido e mulher e também ver um lado nunca presenciado dela.