Capítulo 130
“Ela é assexual e arromântica? Significa que o casamento é uma fachada?”
O semblante ainda é sério, não é surpresa saber que grandes casamentos são mero contrato para beneficiar ambos os lados, mas ainda é cedo demais para dar o veredito, por isso, escutou o depoimento do criminoso.
“Sim, tivemos um acordo de parceria, ela pediu um investimento para gerir seu próprio negócio, e sou apenas um sócio.”
“E por que não se separam? Já que a empresa deu certo?”
“Pelas condições não favoráveis para as mulheres, a nossa união é igual a um ‘escudo’, evitando represália do sistema conservador da comunidade árabe.”
“Que ironia…”
“E, continuando casados, tem a total liberdade de ter seu negócio sem se preocupar com boicote e críticas pesadas.”
“Hum… e estão casados há dez anos, qual o motivo de não conseguirem um herdeiro?”
“Latifah não pode ter filhos, é estéril depois de uma doença adquirida na menarca, impedindo-a de fabricar óvulos e manter um feto.”
“Ahn, sou uma barriga de aluguel?”
“Não! Jamais. Planejava fazer futuramente, mas foi antes. Era algo sistemático e obrigatório, e agora, depois de tudo que passamos, não é assim.”
“…”
“Eu te amo e o meu desejo é verdadeiro, quero um filho, e não para usá-la. Pense, não teria todo esse trabalho sabendo que tenho inúmeras possibilidades com o poder e grana que possuo.”
Isso é um fato, essa cara é um Haroon, não iam faltar voluntárias para gerar o futuro herdeiro, pois esse tem tudo que quiser. Desse modo, o processo seria perda de tempo se, no final, a usasse.
E, gradualmente, foi cedendo, até ser abraçada. A sensação ainda é esquisita, por isso desvinculou e deitou.
Mohammad acompanhou e ficaram um bom tempo nesse estado, até sua irmã abrir a porta e encontrá-los na mesma cama.
“… O que está acontecendo?”
Assim que despertou, entrou no Instagram e viu o terror instalado causado pelo escândalo. Logo, veio contar as boas novas, nas quais a irmã não estava envolvida.
E agora, vendo esse clima deprimente, acredita que a identidade do seu caso e o fato de ser comprometido meio que abalou o início desse relacionamento.
“Nada, está tudo bem.”
“É… Tudo bem, fecharei a porta. Com licença.”
O carinho dado se tornou tão bizarro, logo num ano que prometeu uma nova segunda-feira.
Então, não tinha em quem se apoiar, cedendo à fraqueza, virando o corpo e aconchegando-se num cara que deveria escapar.
“Tô sem força pra nada, tudo dói, é doloroso. Não sei, mas a mentira era melhor.”
“Sei, perdão, deveria ter deixado ir ou sair de seu caminho, mas infelizmente, é impossível. Eu te…”
“Queria que não me amasse, que olhasse e não cobiçasse. E hoje, seríamos felizes.”
“Não… não seríamos.”
Entende que, sem ela, sua vida seria uma mentira.
O amor deixou-o mais agressivo, todavia não pode largar o que é seu, só o pertence. Desse jeito, não deixa de amá-la.
“Me perdoe se meu amor lhe faz sofrer, mas não posso largar. Nem que isso faça sobreviver sob aparelhos.”
***
“Sr. Haroon, seu filho possui traços de sociopatia.”
“Hum, e?”
A psiquiatra que comanda a ala, onde Mohammad, de apenas cinco anos, fez sua primeira consulta, ficou espantada pela atitude leviana desse senhor.
Como se fosse bom ter tal diagnóstico.
“Significa que será prejudicial futuramente. Principalmente em meio à sociedade, com risco de se tornar violento.”
“É algo a se lidar diante de tantas bênçãos. Mohammad é a criatura perfeita, programada e pesquisada por um longo tempo. É claro que teríamos consequências.”
“…”
“Senhora, toda criação é dotada dos dois lados e, como médico e criador, é natural lidar com essa perspectiva.”
“Não é ‘perspectiva’, seu filho não é um material ou ‘coisa’, é um ser humano defeituoso.”
“Hahahaha. Tudo bem, quanto menos humano, melhor.”
Nessas palavras, Ali defendia a hipótese de não ter criado um humano, e sim uma máquina quase divina, desse modo aplaudia de pé enquanto ouvia o sintoma perigoso da boca de uma profissional capacitada.
Mas havia um erro, um sociopata não deveria amar.
É um absurdo uma criatura dessa ter empatia ou amar o próximo, portanto, por que a ama? Qual foi o motivo de derramar toda a sua obsessão nessa criatura inocente?
Não saberá a resposta, nisso, o que resta é mantê-la ao seu lado e, caso tente fugir, prendê-la para nunca escapar.
“Eu te amo.”
Um beijo suave é lançado em sua testa.
***
O plano de curtir o carnaval foi por água abaixo, assim como as outras consultas programadas para dar andamento ao diagnóstico.
Não existia vontade de curtir, por mais que seu nome e seu delito tenham sido colocados de lado, e o escândalo esteja indo em poupa, causando rebuliço no mundo.
Bruna não aprovou a atitude de ter feito o que fez.
Por mais que tenha sido para defender, é errado, não se faz isso com ninguém, inclusive uma mulher. Mesmo que seja uma criminosa, envolvida na morte de três pessoas.
Ainda é inadmissível.
Desse modo, nem que participasse do julgamento, faria um pronunciamento sobre o ocorrido e pagaria a indenização merecida.
Pelo menos, quanto mais rápido sair dessa, melhor.
“Park Hyung, irá nos representar no tribunal.”
“Pelo crime racial?”
“Sim, e não se preocupe, não precisa comparecer. Tudo ficará nas mãos da minha equipe.”
“Ah.”
A jovem tenta engolir que os que deveriam defender são os algozes, o que o sistema tem feito?
Quando a máscara caiu, revelou que o buraco é mais fundo do que especulado.
À medida que os pés de Mohammad lançam o grupo para o abismo, ele sorri, ouvindo seus gritos aterrorizados clamando por outra chance.
Compreendendo que esse mundo foi criado para a besta viver.
“Sabe cozinhar?”
Já descongelando o pacote de asa de galinha para fazer um panelaço de ensopado.
“Sim.”
“…”
O mudez foi devido à surpresa de que tal playboy tenha noção de algo que não envolve mandar alguém fazer. E quando cogitou que nada possa surpreendê-lo, o destino ri de sua cara e lança outra bomba.
“Mentira.”
“De novo, não é. Peça e farei o que pedir.”
“Arroz… O brasileiro.”
Especificou, para não errar e lhe oferecer algo que não seja da sua nacionalidade.
“Tudo bem.”
“Hum.”
Com as instruções, pegou o pote de alho triturado com coentro.
E explicou como lavar o arroz. Mohammad achou estranho, porque os produzidos aqui não precisavam desse processo, diferente dos asiáticos.
Entretanto, obedeceu, pois não é seu território.
Mesmo lutando com a faca cega, conseguiu tirar as partes indesejáveis e temperou do modo que ama. Logo, colocando para selar na airfryer.
O que por si só é estranho, mas foi explicado.
“Poupa o gás.”
“Ahh….”
Pela visita, terá que fazer muito, por comer bastante e prometeu almoçar aqui, até porque não iria embora tão cedo.
“Ela sabe falar meu idioma?”
“O que?”
“Sua esposa.”
“Um pouco.”
“Igual ao secretário?”
“Sim. Ela e minha progenitora ficaram um tempo quando fez faculdade em Paris, nisso, aprendeu um pouco o português. Por quê? Quer falar com ela?”
“Depois.”
Quando viu concluir a primeira etapa, notou que não fugia da tradicional receita. Gradualmente, conversou sobre sua nova moradia, qual o motivo de vir para cá e sobre seu casamento.
Até agora, Latifah não se pronunciou e, depois do escândalo, viu que fez o certo em ficar calada.
Pois acreditou que Mohammad daria um jeito.
Mas quem não ficou nada feliz foi sua irmã, que acompanha tudo ligado ao seu querido cunhado.
“Não!”
A identidade de Bruna se mantém em segredo, pela agilidade do secretário e principalmente de Christian em apagar em segundos, porém essa cobra que nutre um amor avassalador não deixou passar em vão.
E procuraria por respostas.
***
“Vamos passar um tempo a dois.”
“Não quero.”
No almoço, estavam reunidos na mesa de jantar enquanto Beatriz via qualquer coisa na sala, suas antenas estavam ligadas para qualquer coisa.
Ouvindo essa sugestão, vislumbrou acontecendo, mas depois de tudo, ficou preocupada por ser recente o caso de agressão, e seria ruim.
“Sabe que não podemos. Ainda é recente, mesmo com o escândalo, o que fez não foi apagado.”
“Sim, está certa. Só que, depois de tudo, acredito que precise relaxar e fugir um pouco desse caos. O que acha? Pode ser aqui ou onde desejar.”
“Tentador.”
Ontem mesmo, enviou mensagem cancelando o carnaval, queria brincar e pular nessa época tão festiva, mas agora se transformou num enterro.
Nisso, Mohammad deu várias opções de destinos maravilhosos, em território nacional, na América Latina e até na Europa.
Por ainda enfrentar o inverno, dava tempo de conhecer a neve.
Um final de semana na Europa, navegar nos lugares que são o sonho de qualquer pobre. E um singelo sorriso formou-se no rosto, imaginando pisar num solo coberto por neve, usar casaco, dormir de frente para a lareira…
“Onde quiser, levarei, nem que seja o inferno.”
“Pelo amor… nem brincando.”
“Que tal?”
Levantando, apenas recolhe os pratos para serem limpos, deixando a louça limpa. Esse é um sinal claro de que estava pensando, por enquanto, queria sair de casa e no caminho decidiria.
***
A cidade aparenta estar tranquila, mesmo com todo o revuê, o trânsito, clima e estresse dos mortais reinam sob esse mundo.
Igual a uma rotina, não interessando devido à sobrevivência.
Mesmo o secretário abarrotado de serviços, pois a confusão agitou os negócios e a balança comercial, o casal só imagina o que será daqui para frente e para onde vão repousar, igual a um velho casal de ricos rindo da cara do perigo.
Com o estômago empanzinado, a comida dela tem o gosto caseiro feito pela mãe, é deliciosa e aconchegante como um enorme abraço de amor difícil de desvincular.
E sentirá falta quando estiver distante, esse amor o sufoca, mas, ao mesmo tempo, lhe dá vida, ficando dividido entre continuar ou interromper.
Entretanto, toda vez que a olha, tudo é solucionado e volta ao ponto de origem.
Amar é um jogo interessante e viciante, planejando ficar por toda a eternidade.
Entrando no estacionamento, percebe-se a diferença do grande hotel.
Os flats são nada mais que uma mistura sucedida, perfeita para passar um tempo e ir embora, sendo usados na maioria das vezes por empregados de várias empresas que viajam de um lugar a outro.
E necessita deixar o funcionário hospedado num ponto até resolverem os procedimentos e depois voltar para seu lar.
Tudo é incluso: serviço de quarto, Wi-Fi, restaurante, lavanderia… Num conjunto igual ao apartamento, em que tem uma cozinha privativa para lanches rápidos.
E pertence ao Império.
Localizado no Recreio, é um apart-hotel de alto padrão, cada andar possui quartos espaçosos.
Quando entrou, queria morar ali, é semelhante a um apartamento vendido por um preço exorbitante.
“Cara, moraria fácil.”
“Não dá, aqui só aparenta, mas não é uma casa.”
“Prum rico, não, mas pra mim, com certeza.”
“Vamos tomar um banho.”
Carregando, leva para conhecer um lugar bastante interessante, onde um monstro devasso se esconde na escuridão.
***
O veículo de informação de grandes emissoras tirou várias fotos da Jéssica Amorin, saindo do hotel de óculos escuros. As malas couberam em dois carros por aplicativo.
Para não gerar alarde, evitou as perguntas e simplesmente entrou para se hospedar em um motel, já que a maioria dos serviços hoteleiros está ocupada pela alta demanda de carnaval.
E também, ninguém está aceitando pela reputação manchada, e só podia ficar em motéis, o preço da diária é menor, sendo que não é feito para se abrigar.
Por isso, comprou cobertas, travesseiros e usou um serviço particular de lavanderia para lavar suas roupas que permanecem nas malas.
Isso é tão humilhante, mal podia colocar as caras, e sua alimentação é feita por delivery.
Agora é conhecida como a ‘Sinhá da modernidade’, pelos podres envolvidos na existência.
Mesmo com todo o dinheiro, ainda assim, se estenderá, até receber uma intimação da justiça para comparecer à delegacia e prestar depoimento por crime racial.
Não só ela, mas os que participaram dessa cruz.
E já foi enviado para sua equipe jurídica, que resolverá os pormenores, mas foi avisada de que haverá uma audiência, pois os advogados da cliente notificaram a justiça para agilizar o processo.
O primeiro de muitos que virão.
Usando o wi-fi, viu os comentários sobre ela e cada um fez entrar num vórtice de desespero.
Ano passado, no caso daquela garota que cometeu suicídio, zoou enviando um direct xingando e debochando das notas, que implorou para interromper os ataques depois das fake news criadas pelas páginas de fofocas.
Agora, é a sua vez, e até suas acusações para o jovem estavam expostas.
Chorando, não supria o hate lançado sobre si, são cruéis e ninguém deveria ouvir ou ler, muitos diziam para se matar, outros faziam figuras com seu rosto espalhado para os quatro cantos.
Isso virou pauta até na mídia estrangeira, e não tem ciência do que acontecerá se continuar assim.
Entendia que, por ser rica, nada a afligiria e era impune, mas não compreendeu que existe o dia da caça e outro do caçador. E esse dia chegou, onde se transformou na caça.
E pior, não tem ninguém para ajudar ou dar apoio.
Seus familiares que a cercavam não enviaram mensagens de consolo.
O único contato é de seus advogados, e mesmo assim, indicaram para não sair na rua, permanecendo no motel o máximo possível.
Não só ela, mas a Chloe continua em choque e não passa bem, e os paparazzis plantaram na entrada do hospital procurando informações sobre o estado de saúde dela, e tudo era passado através da equipe jurídica.
[Srta. Amorim, o seu caso é complicado. O que podemos tentar garantir nesse instante é sua pena em liberdade, e negociaremos com os advogados da cliente para entrar em um acordo que não prejudique o capital. Mas, não garantimos 100% de certeza, já que essa pessoa está ligada a alguém muito poderoso.]
Seu mundo caiu.
Para esse crime, tem certeza de que cumpriria em liberdade, contudo existiam outros mais graves, e não sabe se se safará da cadeia.
É algo eminente, que a esperava igual à porta do paraíso.
O pior, ainda veio a cavalo. A grana de uso emergencial, em paraísos fiscais, sumiu.
Foram surrupiados, igual à vítima de ladrão noturno, e o que tem, pagará os advogados, nem a multa gigantesca para indenizar as vítimas de sua empresa tem.
Ainda em recuperação judicial, não adiantará, as dívidas serão maiores que os proventos.
Fazendo declarar falência.
Não podia vender, pois ninguém compraria nada de alguém que cometeu crimes hediondos. Agora é só suportar e depois, quem sabe, dar um fim à sua miséria.
“Eu não sei o quanto vou suportar, não deveria ter sido tão idiota em ter me envolvido nisso…. Por quê? Por que, meu Deus…?”
Sem lágrimas, a torturava mais do que o vídeo que a destruiu por completo.
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Capítulo 130
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...