Capítulo 136

Na era moderna, dizem que o ato mais antigo é o assassinato.

 

Pelas escrituras judaico-cristãs, a morte de Abel ascendeu ao ápice da maldade humana. E dali, foi para pior. Logo depois, surgiu outro, o estupro.

 

Um fato em que a vítima recai como culpada, e hoje, nada mudou.

 

Não importa, seja homem ou mulher, diante de um predador malicioso, as forças se perdem e o ato é feito. Em que, no final, implorar ou simplesmente negar não funciona.

 

E o órgão desse agressor invade profundamente, deixando seu DNA e o medo nelas.

 

Mohammad, que é cruel, nunca recorreu a tal quando deseja alguém, é uma regra bem restrita com tantas formalizadas. Nunca fique com menores, drogadas e doentes.

 

E nunca recorrer a um estupro, por mais que o desejo aflorasse.

 

É paciente, e quando caía sobre seus encantos, devorava.

 

Entretanto, não se limitava aos outros, o homem que a levava para um canto mais reservado e longe dos olhares suspeitos ignorava os gritos e o desespero.

 

É uma selva, e precisa se alimentar.

 

Contudo, tem ciência das coisas, Bruna é a presa perfeita: mulher, negra e pobre. Três características, que o estado está pouco se fodendo.

 

Por ser filho de desembargador, a culpa nunca recairia sobre si.

 

“A chance perfeita.”

 

E quando parou, iniciou o ritual, e forçou com seus tentáculos a deslizar sob essas curvas carnudas, tão duras e firmes como se passassem anos numa academia, de bunda firme do jeito que amava.

 

“Tão deliciosa.”

 

“Me solta! Socorro!!”

 

Presa, só tinha voz para tentar sair dessa armadilha.

 

“Calma, calma, gatinha. Vamos nos divertir um pouco e depois pode voltar com seu namorado.”

 

“Não quero!”

 

No escuro, o tapa conseguiu atingir o rosto de seu violentador.

 

“…”

 

Ao contrário de Mohammad, que recebeu com carinho e beijos, esse não é tão compassivo. Treinado para subjugar, jamais perdoaria esse descaso de alguém inferior, por isso, a mão solta retribuiu na mesma intensidade.

 

Batendo forte, fazendo os sentidos zonzos, tão deturpado, ficando sem reação. Ninguém, nem seus pais, fez isso, e a sensação de querer chorar invadiu.

 

“Sua puta! Tá achando que é o que nessa porra? Vagabunda! Tentei ser compassivo, mas to vendo que não colabora.”

 

Enquanto se perdia em fúria, com forças restantes, seus pés começaram a correr, porém seu agressor despertou, correndo atrás dela, agora é motivo de honra.

 

Caso encontrasse alguém e o denunciasse por tentativa de estupro, mesmo todos os fatos colaborando, a vida seria um tanto complicada.

 

Portanto, agarrou novamente e não poupou em rasgar seu body, mostrando assim um lado dos seios.

 

“Vai ser rápido, e prometo que quando tudo terminar, posso te dar um bom ‘cala boca’.”

 

Ao tentar se livrar, percebeu que seu peso é ineficiente diante desse cara, e sofreria a penalidade brutal onde não será justiçada.

 

“Socorro! Mohammad, por favor…!”

 

Tantas pessoas, no entanto, é como estar sozinha.

 

E, lutando com as últimas forças, à medida que é levada para outro canto, perto da floresta, sentiu o fim se aproximar e possivelmente sua imagem seria estampada num cartaz de desaparecido.

 

“Mãe…”

 

Implorou para que tudo acabasse e sua vida fosse poupada.

 

Logo, algo improvável surgiu igual à águia capturando sua presa, a mão não invisível afastou dele, deixando-o livre outra vez. Bruna caiu no chão de terra, confusa por saber quem fez isso, quem a salvou.

 

Pensando ser Mohammad, a fragrância denunciou o erro.

 

“Senhorita! Está bem?”

 

“Secretário!?”

 

Num tom choroso e de alívio, agradeceu silenciosamente pelo livramento.

 

O homem, preso numa armadilha bruta, sente dor em seu braço, dobrado para trás sem conseguir sair.

 

“Porra! Me solta, filho da puta! Sabe quem sou filho?! Vou foder com sua vida!”

 

Usando a carteirada para amedrontar, não funcionou, pois o aperto ficou mais forte a ponto de estalar os ossos do ombro.

 

“Ahhhhhhhh!!”

 

“Senhorita, saia daqui, vá em direção àquela luz, encontrará um dos guardas.”

 

“…”

 

Tentando, sentiu o peso da falta de adrenalina, ficando paralisado.

 

Vendo que o medo invadiu, não teve escolha e deixou escapar.

 

E sem permissão, a consolou, abraçando para tudo sair. Um calor que nunca sentiu nos piores momentos de sua vida é oferecido a uma que se libertou da morte.

 

“Tudo bem, tudo ficará bem.”

 

Em choque, não conseguia chorar, acreditando ser irreal. Tremia, só queria saber onde Mohammad estava.

 

“Bruna!”

 

O tom grave, em desespero, soou em seus ouvidos, a tensão foi desfazendo, afastando-o, deixando o seu senhor terminar o serviço.

 

Mohammad está em fúria, depois da separação, o terror se instalou e tudo se tornou vermelho. No meio da multidão colorida, ficou cinza, o sol foi embora e a eterna escuridão retornou.

 

E toda a equipe se prontificou a caçar, encontrar o mais rápido possível, a sorte é que o empregado possuía qualificações para achar o secreto, encontrando-a e salvando-a do pior.

 

E vê-se envolvida, recebeu alívio e a dor, pois o calor que esquentou foi embora e agora pertence à sua origem.

 

Ao seu dono.

 

“Vamos sair daqui.”

 

A parte nua e o rosto machucado fizeram o instinto assassino gritar.

 

E, como prometeu, irá matá-lo.

 

***

 

No quarto, ficou o máximo possível, é uma noite divertida, porém, agora é um terror.

 

Deveria ter feito algo antes, impedir, mas permitiu que a cobra entrasse nesse jardim e violasse, deixando-a traumatizada.

 

E, sem chorar, aceitou sua ajuda para tomar banho e vestir roupas limpas.

 

“Sinceramente, é a última vez que encaro uma aglomeração.”

 

Por fim, depois de um longo tempo em silêncio.

 

“Me perdoe, deveria ser mais atento, isso aconteceu.”

 

“Tá tudo bem, só fica aqui.”

 

“Ok.”

 

A TV está ligada, passando uma série antiga de investigação favorita, mas não valia de nada, era igual a uma decoração simples.

 

Pelo álcool e energético, não conseguia pregar o olho. E, como o cérebro está acostumado a passar por situações traumáticas, o simples ardor foi essencial para varrer por debaixo do tapete.

 

Tentando ao máximo não recordar.

 

“Eu te amo.”

 

“Obrigada, muito obrigada.”

 

“Bruna.”

 

“Sim?”

 

“Se importa em ficar alguns minutos sozinha?”

 

“…. Não sei, mas se é urgente, espero sim.”

 

“Não demorarei, ok? Deixarei um dos meus homens do lado de fora para ficar segura.”

 

“Ok… só não demora, tá?”

 

“Sim.”

 

Não tomou banho, ou trocou de roupa, precisava disso para o que fará e dessa vez não terá plateia, e será ele a prestar contas.

 

A face dela está um tanto marcada, contudo, não machucada, por não ter força suficiente.

 

E o motivo era para deixar o mínimo de impressão caso encontrasse morta.

 

Entretanto, o dia da caça passou, agora é a vez dele experimentar ser a presa.

 

***

 

Guilherme Bittencourt D’Nobrega Jr. é filho do desembargador Guilherme D’Nobrega, que comanda a área de Minas Gerais.

 

De herança militar, o avô fez parte do time que comandou a Ditadura Militar, sendo tão cruel quanto os carrascos do passado.

 

Tendo em suas costas mortes inocentes que até hoje não tiveram solução e estão desaparecidos, sendo apelidado de ‘Cão de Ferro’, pelos materiais metálicos para subjugar os ditos ‘comunistas’.

 

E, com o tempo, foi liberto de seus crimes, dando privilégio à sua descendência.

 

Em que o filho conseguiu um alto cargo, e seu neto esbanja o luxo e estuda numa universidade particular em SP, tornando-se um ‘Farialimer’.

 

E, pelo poder, nunca foi punido por quaisquer iniquidades, seja pela morte de um motorista de aplicativo quando bateu o carro caro em alta velocidade, seja quando usou a ‘carteirada’ para furar a fila na vacinação durante a pandemia.

 

É livre, igual a um pássaro venenoso.

 

Cercado de tudo, luxúria, ganância, orgulho e avareza são seus amigos íntimos, então, quando se libertou daquele cara, não se preocupou com as consequências e foi curtir o restante da festa.

 

Diferente, dessa vez não forçou ninguém, e transou até com uma beleza fantasiada de enfermeira.

 

É o rei, podia tudo e não era punido por nada.

 

Mas não esperava, quando retornasse ao seu ninho bêbado e feliz demais, o seu executor.

 

“Mano, amanhã vou sair daqui e vamos dar um pulo no RJ. Uns amigos me convidaram para a casa deles em Angra, vai rolar um bacanal gostoso… que? Tá maluco? Vai ter algumas do Job também… Amanhã pego o jatinho e te encontro aí… Hahaha….”

 

Falando ao telefone, abriu a porta para adentrar e descansar um pouco e depois curtir o verdadeiro fervo. Seu objetivo é acumular o máximo de recordações antes de retornar à vida universitária.

 

Só que, ao fechar, o vento, que deveria estar quente, é gelado.

 

“Porra, não lembro de ligar o ar…..”

 

Mesmo no escuro, sentiu a presença de outro visitante.

 

“Que caralho…”

 

De mesma roupa, Mohammad só colocou as luvas de couro, poupando-se de ser identificado, assim como faria com ela.

 

“Seja bem-vindo, Sr. D’Nobrega.”

 

“…”

 

“Não seja tímido, prometo que será inesquecível.”

 

Quando aquela besta veio em sua direção, a fechadura, que deveria ser fácil de deslizar e proporcionar liberdade, se tornou inimiga, deslizando de suas mãos suadas, permitindo que o parceiro daquela mulher a fizesse beijar a morte, dolorosamente.

 

E foi assim que o predador se rendeu a uma quimera demoníaca.