Capítulo 139

“E aí? Como foi o passeio?”

 

Mohammad deixou no ponto de sempre e seguiu sozinha. Marcando em se encontrar amanhã, pela proposta de fazer a compra do mês com ela, e passar o dia em sua casa.

 

“Tirando o fato de quase ser estuprada e morta, de resto estou bem.”

 

“Foi bom.”

 

No domingo e segunda, propôs fazer, pelo menos, uma consulta com psicólogo ou quem sabe a psiquiatra.

 

Falando disso, recebeu a notificação para uma nova remarcação para continuar o diagnostico neurológico.

 

Mesmo chovendo, só contribuiu para aumentar o mormaço.

 

Às vezes, não compreende o clima de seu estado. Enquanto o resto, principalmente o sudeste, pode chegar a ter um ‘frio’, o RJ é hardcore.

 

Onde o sol elegeu-se como favorito e é calor predominante.

 

“Tá quente.”

 

Essa casa parecia um forno.

 

Beatriz, acostumada, apenas desistiu de reclamar e encarar a realidade de sua terra ser ‘diferenciada’ de outros lugares.

 

“Amanhã vão fazer compras?”

 

“Sim, praticamente vamos passar o dia na rua. Falando nisso, já fez a lista do que vai querer? Vamos passar na Health depois que pegarmos a cesta.”

 

“Claro, mas estou em dúvida, não sei qual sabor de whey escolho.”

 

“Ah… só faça, porque vou trocar de roupa e dormir cedo. Cadê meu pai?”

 

“Está vindo, vai chegar um pouco tarde hoje.”

 

“A, tá.”

 

Por tomar banho no flat, apenas retirou o top, deixando-se mais à vontade, e migrou para o quarto, ligando o ar-condicionado. Graças ao homem, sua irmã e cunhado vão ‘curtir’ um dia na praia com tudo pago.

 

“Que sono… parece que fiz muita coisa, mas, nada aconteceu…”

 

Cenas de uma noite e uma manhã gostosa passaram por sua mente; ficar com Mohammad dava sensação de pertencimento idêntica a namorar.

 

Portanto, mesmo que descubra certos pontos negativos, ainda assim, o positivo inunda toda podridão de sua personalidade, fazendo-a permanecer.

 

***

 

Hana está no salão de beleza, reaplicando alisante brasileiro nas madeixas. Ama esse procedimento pelo simples fato de não prejudicar os fios, permanecendo lisos e hidratados.

 

Aqui estava cheio, muitas clientes fazendo ‘n’ coisas ou só mantendo a manutenção.

 

Por ser irmã da dona, é fornecido o desconto de 50% em tudo que fizer de forma vitalícia. O que economiza, e o privilegia demais.

 

É uma tarde gostosa de terça, o inverno luta com todas as forças para prevalecer e fornecer um clima agradável aos habitantes e turistas.

 

E, como tal, a gentileza e o cuidado são dados, especialmente, igual a uma soberana.

 

Contudo, sendo uma rainha, odiava o castelo e o rei dessa área. E apenas remoía, pelo fato de a irmã estar em um reinado que sempre sonhou em ter posse.

 

Devido a esse amargor, quando estão em presença, não deixa de jogar indiretas do que teve com seu marido. Realmente, foi memorável, e seria perfeito se Mohammad não fosse tão cauteloso e desconfiado.

 

Provavelmente teria uma cria e seria ela a que está nesse trono.

 

Um trono, que infelizmente nem sua irmã pode ocupar.

 

Porém, um telefonema na segunda deixou-a um tanto instabilizada, e que, se não tomasse cuidado, esse trono seria ocupado.

 

Uma amiga querida, quase do peito, viajou pela América Latina, casada o mesmo tanto que Hana, seu marido, um político importante nos Emirados, comemorava o aniversário de casamento em belo estilo, aproveitando para ir primeiramente ao Brasil.

 

É época festiva, assim iniciaram por Minas Gerais por ser um destino ‘suave’ devido ao Nordeste e o RJ estarem lotados.

 

Escolhendo ir a um hotel fazenda famoso, até aí tudo bem, o problema foi que não só eles resolveram aproveitar o clima maravilhoso e a comida mineira, mas um casal ‘diferenciado’.

 

E nele, essa amiga reconheceu que o homem, mesmo usando boné, era Mohammad, que estava ao lado de uma mulher baixa e novinha que não era a irmã de Latifah.

 

Por isso, resolveu contactar e contar a ‘novidade’.

 

[Hana, não vai acreditar no que vi.]

 

“Fale, estou cheia de tempo hoje.”

 

Respondia depois de sair de casa, deixando as babás cuidando das meninas.

 

[O seu cunhado está aqui no mesmo hotel que falei, lembra?]

 

“Claro. E o que faz aí?”

 

[Acredito que o mesmo que eu, o que é um choque já que detesta esse país, mas o problema não é isso e sim que estava acompanhado de outra mulher.]

 

“Hum…”

 

A névoa controlada subiu, proporcionando uma concentração densa de vapor pronto para estourar.

 

Depois do ocorrido, a tal ‘mulher’ misteriosa simplesmente desapareceu de seu radar, todavia, recorda de sua voz quando ligou para o número privado de seu amor.

 

Desse modo, o ódio consumiu para descobrir quem era a invasora.

 

Inclusive por não ser nada passeiro a ponto dele gastar num passeio.

 

Vaca!

 

Não é novidade que é um muquirana raiz, a Latifah só tem acesso ao básico, no território da propriedade, e outros caprichos é custeado com a grana de seu bolso.

 

[Não estou mentindo, hoje de manhã eu e meu habib tomamos um banho na cachoeira. Só que, chegando lá, estavam eles. Sério, parecem um casal superfofo de dorama.]

 

“Isso é mentira.”

 

[Quem me dera, mas é real, poucas vezes que vi seu cunhado acompanhado de sua irmã nunca demonstrou essa feição ou carinho. A mulher estava nas costas dele e os dois nadavam por toda extensão, uma gracinha.]

 

“Aé? Tem fotos?”

 

[Ficarei devendo, porque os seguranças de seu cunhado parecem ninjas. Quando consegui tirar uma, chegou aquele…. Qual é o nome? Não sei, ele é negro e alto, pegou meu celular e me ameaçou a não fazer isso, e excluiu a imagem.]

 

“Que pena…”

 

O fogo da ira derramou-se para fora, queria acreditar que era uma ilusão ou apenas loucura, entretanto, quanto mais falava, as provas insistiam na realidade.

 

E os dados apresentados, não são nada legais, parece que seu grande amor encontrou um amor.

 

E não é ela.

 

O que é uma pena, por detestar encerrar o caminho como fez com aquela suicida.

 

“É feia ou bonita?”

 

[Se falar que é feia, estarei mentindo e até sendo indiciada como invejosa. Mas não, infelizmente é bonita, claro, não chega à beleza de Latifah, porém, é bonita e fofinha.]

 

“‘Fofinha’?”

 

[Sim, é gordinha, mas não obesa, e tem um rosto bem juvenil, parece que tem entre 22 a 24 no máximo. Só é uma pena, tão relaxada com seu visual, acredito que, se Mohammad continuar, pode ser tão bonita quanto Latifah.]

 

“Engraçado, olha, farei uma coisa e percebi que meu dia vai ser corrido, mas qualquer coisa me avisa, irei alertar minha irmã dessa ‘aventura’ do meu cunhado.”

 

[Não foi nada, tenha um ótimo dia e fale para Latifah que mando lembranças, e me conta como foi a reação dela.]

 

“Tudo bem, boa comemoração.”

 

Não contou, mantendo esse segredo explícito dentro de si, pois precisa pesquisar sobre a ‘amante’ que ameaça seu lugar.

 

Entretanto, há muitas barreiras para conseguir informações, começando pela guarda especial dele, sendo cachorros tão espertos quanto.

 

E depois, Mohammad, com a sagacidade e inteligência, é difícil lutar, não tem como ultrapassar, necessitando ser paciente porque entende que comer pelas beiradas será valioso para si.

 

“Sra. Khalid, terminamos, gostou do resultado?”

 

“Huh….”

 

Os cachos recém-retocados estão esvoaçantes e brilhantes, modelados em cachos graciosos, combinando com sua natureza ‘delicada’.

 

“Sempre arrasando, realmente é merecedora da sua gorjeta.”

 

“Fico feliz por isso, fará as unhas?”

 

“Não sei, a Latifah lançou novas cores, né?”

 

“Claro, se quiser testar, fique à vontade.”

 

“Obrigada, Honey. Vou lá, porque preciso renovar meu guarda-roupa.”

 

“Sempre deslumbrante, qualquer roupa é maravilhosa em seu corpo.”

 

Por esse elogio, viu que manter o padrão dele é uma colheita frutífera.

 

Mohammad sempre amou as gorduras na cintura e quadril que tanto um dia apertou.

 

Só de relembrar das cenas de amor intenso, seu interior esquenta.

 

“Um dia só vai me amar, e seremos uma família perfeita. Sem essazinha, igual à Lauren.”

 

***

 

Bruna estava no planeta dos sonhos, e de alguma forma o seu subconsciente a fez transportar para um rio rodeado de cobras, parecia a cena icônica de ‘Anaconda 2’, só que eram najas, e algo dizia para pular.

 

Mas, do outro lado, havia a mata fechada, vendo nitidamente olhos vermelhos a mirando, o que causou um certo calafrio.

 

Entendendo que a criatura do outro lado era mais perigosa que esse rio recheado de serpentes peçonhenta.

 

E ficou ali, e cada um se encarou até que carinhos quentes e beijos suaves a fizeram despertar.

 

Não sabia o horário, ou se havia alguém em sua casa, porque não teria escapatória. No entanto, reconhece quem é.

 

“Moha….mad?”

 

“Acertou, cordeirinho.”

 

“Hum… Cadê todo mundo?”

 

“Seu pai foi trabalhar, sua irmã e cunhado já devem estar a caminho da praia com o casal de amigos deles.”

 

“Tá, só fica em silêncio, deixa dormir um pouco mais.”

 

Sorrindo levemente, achou engraçado esse lado preguiçoso. Concordaram em ir cedo, para chegar em casa cedo, entretanto, o fator cansaço misturado com os resquícios do sedativo faria com que se atrasassem.

 

Porém, entende que, caso obedecesse, mais tarde receberia uma bronca.

 

Logo, acordou novamente, alertando os afazeres de hoje.

 

“Droga…”

 

Não queria sair, como tantas vezes, e questiona o motivo de um bilionário estar apaixonado se ela ama ser caseira.

 

É o mesmo que jogar dinheiro pela janela, sabendo que poderia viajar pelo mundo e ter todas as experiências fabulosas e inesquecíveis, contudo, é uma casa o que almeja.

 

“Às vezes, acho que perde tempo comigo.”

 

“Por quê?”

 

“Sou caseira, e sinto que amaria que fosse igual às outras e escolhesse curtir tudo que pode oferecer.”

 

“Não é assim, e caso ame mais isso do que sair, tudo bem, faremos. O importante é ficarmos juntos.”

 

Bruna olhou em seus olhos, em que a coloração é rara, acreditando que não seja humano e sim, fabricado em laboratório.

 

Portanto, mesmo sendo artificial, ainda gera calor para seu corpo frio. Nisso, ergueu seu braço e fez carinho em sua face.

 

Sem barba, liso igual a bumbum de neném, porém tão viril e masculino.

 

Perguntou como consegue manter as características sem precisar de uma barba.

 

“Quero um dia sentar em frente à lareira, num inverno rigoroso, apreciando um chocolate quente e que nosso calor nos envolva num edredom bem esdrúxulo.”

 

“Tudo bem.”

 

“Obrigada.”

 

Desde o incidente, a jovem não cansa de agradecer, ainda mais ao secretário que a encontrou e salvou daquele louco.

 

Assim, sendo algo chato, Mohammad espera que esses agradecimentos se transformem em declarações melosas.

 

Um dia, esse ‘obrigado’ se transformará em ‘eu te amo’.

 

E luta dia após dia para cercar e forçar a entrar nessa gaiola confortável, fazendo crer que só existe ele como único merecedor desse amor.

 

“Não é ‘perspectiva’, seu filho não é um material ou ‘coisa’, é um ser humano defeituoso.”

 

Ao recordar dessas palavras, de quem odeia o mal, fez repensar se é defeituoso ou apenas perfeito demais para se enquadrar como ser humano.

 

No qual se sente completo ao lado de Bruna, sim, talvez era defeituoso, pois não encontrara ninguém para amar, e logo o seu oposto, uma luz para suas trevas, o tenha feito completo.

 

Nisso, existe o antes, ser imperfeito e incompleto, e agora, completo.

 

Toda malignidade, será jogada para fora, em nome desse sentimento e sua possessão.