Capítulo 140
Segurando as sacolas retornáveis, ambos desciam pelo escadarão para ir ao primeiro destino, sendo a feira semanal, que ocorre nesse bairro, ocupando uma parte da rua Borda do Mato.
Toda a área fica bloqueada para atender à grande demanda de clientes, que buscam por alimentos frescos a preços um tanto ‘acessíveis’.
O bom é que reunia inúmeros microempreendedores, os ‘feirantes’, e também a habitual barraca de pastel.
Atraindo quem saboreará essa iguaria gordurosa, não deixando de lado o copo de caldo de cana feito na hora e servindo quanto desejar.
É doce e gelado, a moça detesta pelo fato de ser doce até para seu paladar formiga, contudo, ama chupar cana.
Na época, quando criança, o pessoal se arriscava na mata para pegar essa mina. Era delicioso descascar e chupar o doce, e também, uma coisa não feita há anos, é comer jaca.
Doce, melequento e nostálgico.
Tudo isso causa memória afetiva e deseja permanecer pelo resto da existência.
“Presta atenção, vamos tomar café na barraca de tapioca e depois vamos direto comprar a cesta básica.”
“Por que simplesmente não vamos pegar a cesta que minha empresa oferece?”
Propôs, querendo fugir de um galpão cheio de gente, num local propício à infecção bacteriana.
“Não, lá estão contados para seus funcionários, então é como falei, ok?”
“Tá…”
O carro, pilotado pelo Takano, pelo fato de cobrir as horas de descanso de Oliver — que agora é um nove dedos —, esperava o casal terminar a primeira etapa, para ir logo para a próxima.
Pelo simples fato de Sam ser bem sociável, foi selecionado para ser motorista na viagem da irmã dela.
Enquanto o restante da equipe focou em proteger o casal desde o último acontecimento e a falha nítida do segundo líder, Mohammad resolveu reforçar a segurança ao sentir que é um ímã para perigos.
“Desculpa, não queria lhe fazer tanto mal.”
Declarou com o coração ferido, depois da tragédia. Estavam deitados, era de noite, quase início de segunda.
O quarto estava escuro, e seus braços envolviam seu corpo, agradecendo por ser quente, pensando o quão doloroso seria encontrar seu cadáver frio caso conseguisse atingir seu objetivo.
“Que nada, às vezes não entendo como aceitei, caso rejeitasse firmemente, não sei, talvez não sentiria isso.”
“Você nem ajuda.”
“Hahaha… Foi mal, mas pense nisso, ‘fique com um rico e gostoso, e ganhe uma maldição’, já imaginou?”
Essa frase, infelizmente, tem um fundo de verdade, não queria admitir, mas diante dos fatos, não há argumento, é amaldiçoado por alguém que era mais peso-morto que benefício.
Lauren esperou pacientemente para iniciar seu plano de vingança e aparentemente está conseguindo.
“Prometo impedir, não morrerá sem minha autorização.”
Prometeu para si, quanto mais perto, mais difícil se tornava.
A feira, no começo, estava cheia, parecia um festival ao vivo, com um cantor ou banda de requinte. Contudo, só é a venda única de frutas frescas e legumes que custam o olho da cara em seu país.
Aqui se vende por peso, diferente de onde mora, que é por unidade.
E, dependendo, pode ser em abundância ou quase nada. Quem pagará será ele, pois o pagamento do pai será usado para comprar a cesta e fazer as compras.
As sacolas estão proibidas de serem comercializadas, pelo ‘meio ambiente’, mas entende-se que não basta proibir se o plano geral for sucateado.
Para auxiliar verdadeiramente, deveria reduzir o plástico e utilizar a reciclagem, fora estimular energias mais limpas e a coleta de lixo organizada, separando e aproveitando o máximo para novas embalagens.
Entretanto, focaram nas sacolas e canudos, um resultado ineficiente se tudo é horrível.
Dessa forma, mesmo a população adquirindo sacolas retornáveis, e há leis para cobrar a unidade, por debaixo do pano é o oposto, por isso, é comum ver comerciantes oferecerem sacolas plásticas para os clientes que possuem a retornável.
É um hábito de anos, e derrubá-lo demanda tempo de insistência.
“Vai embora na sexta, né?”
“Sim, mas retorno para nos vermos no final de março.”
“Hum, então vai passar a sexta-feira santa comigo?”
“E a Páscoa também.”
“Quero ovo de Páscoa e um presente misterioso.”
“Se quiser, te dou até dois.”
Falou maldosamente, o que foi percebido, quase cuspindo pela audácia desse cidadão.
Caminhando em meio à muvuca, diferente de antes, sua mão agarrava firmemente para não ocorrer o mesmo risco.
E esbarrando, vendo o que há de novo, os feirantes são amistosos e davam amostras dos produtos que selecionava.
Como Mohammad passará o dia em sua casa, resolveu fazer algo simples e pegou couve, bastante para fazer um refogado com farofa, e uma carne ensopada com batata e cenoura.
Está nervosa, pois mesmo gostando de sua comida, ainda é inquietante por acreditar que faz por ‘gentileza’.
No entanto, é inútil.
O crítico acabou se rendendo ao tempero do amor, e ninguém consegue convencê-lo do contrário.
E com o preço um tanto elevado — explicitado pela boca dela que sabe da situação de seu país — para ele era o paraíso.
“Sinceramente, aqui é perfeito para quem visa ter hábitos saudáveis.”
Inclusive, por metro quadrado, encontra algumas frutas de árvores plantadas na rua. Onde mora, existe um pé maravilhoso de manga-espada, e na propriedade tinha um enorme pé de abacateiro.
Fruta na qual Mohammad ama comer em saladas temperadas.
“Vamos tomar café aqui, quero provar o mel.”
“Por quê?”
“É o meu favorito, é de laranjeira, é docinho igual à fruta.”
“Tudo bem.”
É uma barraca simples, e não viu cadeiras, imaginando ser o espaço dividido entre os clientes e outros comerciantes. Nele havia quatro pessoas, três homens e uma mulher.
Responsável pelas tapiocas, ali não só fazia, vendia vários produtos frescos ligados ao laticínio. E o que Bruna falou, estampava em um lindo pote de vidro de quase meio litro com a fava dentro.
É sedutor, os queijos vendidos estavam dentro de sua validade e conforme o padrão de higiene.
E a tapioca é caseira, peneirada na hora e vendida.
A mulher comentou que, quando tinha grana, parava para se deliciar, pois a tapioca e o queijo eram divinos, e não encontrava em mercados.
“Quero experimentar.”
“???”
A interrogação veio pelo fato dele estar o tempo inteiro com uma cara de bunda e agora falou algo que não condiz com sua conduta.
“Vamos?”
“Esse cara é pior que mulher trocando de vestido. Que humor volátil.”
“Tudo bem. Estou com fome mesmo, pedirei uma lata de suco de pêssego.”
“Esqueci que não vende café, tudo bem.”
A mulher que iniciou o trabalho, atendendo dois clientes, foi bem receptiva com o casal, vendo que estão juntos pelo fato da boa química circular pelo ar.
E é nítido o respeito dele pela companheira.
“Oi, bom dia.”
“Bom dia, o que vão querer?”
“Por favor, quero uma tapioca de pizza e você, Mohammad?”
“Carne seca desfiada, com manteiga de garrafa.”
“Tudo bem, se quiser, temos uma cadeira para esperar.”
Ao lado, tem um micro espaço perto da barraca com a cadeira de plástico que passou despercebido, carregando todo o peso.
Mohammad deixou que Bruna esperasse sentada enquanto oferecia o suco da lata.
“Obrigada, que calor… Essa chuva não adiantou de nada, tá quente do mesmo jeito.”
“Seu pé não inchou ainda, mas mais tarde faço massagem para aliviar esse ardor.”
“Tudo bem. E como foi a chegada do advogado?”
“Normal, quem recepcionou foi o secretário, acredito que mais tarde faça uma pequena reunião para saber a estratégia abordada.”
“Falando em advogado, poderia fazer um favor?”
“Sim.”
“… não, no carro falo, aqui não dá.”
“Tudo bem.”
A mulher usava uma pequena frigideira antiga, mas não grudava, possuindo técnica para manusear com a luva de plástico sem se queimar.
E pronto, o primeiro pedido estava pronto.
Ao pegar, está envolvida com um guardanapo comum em pastelaria numa sacola transparente, dando segurança para que cada ingrediente bem caprichado não escorra, fazendo o cliente consumir cada pedaço.
“Quente….”
Assoprou, o cheiro é maravilhoso e o queijo usado é o mesmo, derretia, mas não esticava e salgado na medida certa. Não sabia se era um minas, ou a mistura perfeita entre o mussarela e minas padrão.
E ofereceu ao seu parceiro que esperava ficar pronto. E quando comeu, admitiu entre os dentes que é bom.
Sim, bom de verdade, não para agradar.
O queijo fresco é tostado na medida certa e salgado de um jeito saboroso, os tomates e cebolas não são velhos, o que indica que usa produtos recém-colhidos para vender e a tapioca…
Semelhante ao que experimentou há tantos anos em uma feira internacional de gastronomia, onde um chefe nordestino fez essa iguaria.
Claro, elegantemente e com carnes nobres. Porém, o sabor usado nessa barraquinha é o mesmo que utilizou em seu prato.
“Bom, acho que vou pedir uns cinco.”
A vendedora se espantou pelo simples fato de cada unidade ser grande e bem recheada, mantendo cheio um estômago normal.
No entanto, esse monstro de mais de dois metros, bonito o suficiente para fazer desmaiar, admitiu que a fome é enorme e acabou agradando demais.
“Tá bom.”
“Hoje será um dia cheio.”
***
Estavam se aproximando do Jardim América, nada glamoroso, ali o calor machuca os condenados e a atmosfera é semelhante ao filme ‘Mad Max’, tão desértico que dúvida como algumas árvores resistiram a esse clima hostil.
E ali, havia vários galpões e lojas especializadas para comerciantes e quem procura algo mais barato, como cesta básica.
Quando seu pai afirmou que ali fazia parte do Jardim América, não quis acreditar até pesquisar no Google e ser revelada a verdade.
E como tudo, dia de pagamento não é esperado estar vazio, por isso, quando saíram e encararam a realidade escaldante, Mohammad tentou convencê-la do contrário.
Não quer ficar aqui, principalmente fazendo sofrer nesse calor.
“Mohammad, se o paraíso se mostrou um pesadelo, talvez esse inferno seja abençoado por Deus.”
Caminhou na frente, sabendo onde fica o destino.
“Fiquem de olho.”
“Sim senhor.”
Diferente, não cometerão o mesmo erro.
A caminhada é curta, não é difícil achar, pois frequenta vez ou outra, e sem um protetor ou sombrinha, Mohammad veio com um leque para aliviar o calor dela.
O esquema adotado é bem simples: ficar na fila, depois pagar o que deseja e partir para outra fila para verificar e logo, mais fila para pegar o produto.
Tanta burocracia e filas deixaram-no nervoso e perguntou o porquê do brasileiro amar filas.
Tanto que, não importa o tamanho, a expressão é paciente igual recitar um mantra, desde pequeno é nítido esse treinamento para o futuro.
Já ele, não existia isso, não sabe o que é esperar por nada, sempre vem em sua direção rapidamente.
Entretanto, precisa obedecer às regras dela e entender melhor seu mundo.
E uma dessas, surpreendeu, em que virou e envolveu sua mão em seu corpo e apoiou sua cabeça perto do peito.
O que, para a maioria, é bem fofa essa demonstração de carinho. Poderia estar no inferno sob temperatura escaldante, mas nada faria rejeitar esse abraço. Neste caso, retribuiu com algo que recusou.
No entanto, vem à mente a face daquela amiga insuportável de Hana que o flagrou curtindo na cachoeira. Com certeza, o seu caso já deve estar no ouvido dessa cobra.
E, precisava manter o máximo de segurança para ninguém danificar essa flor delicada.
“Pronto, tá calor.”
“Só mais um pouco.”
Puxou novamente, fazendo um cadeado para não sair de seu alcance.
Como tinha muita gente, esgotou sua paciência para chegar ao ponto final e pegar a merecida recompensa, uma cesta básica de 265 reais com um kit de limpeza de péssima qualidade.
E tudo foi levado por ele com extrema facilidade, sendo até leve e organizado no enorme porta-malas, iniciando outra etapa fundamental e um tanto agradável.
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