Capítulo 141
Bruna contou algo curioso, que já foi exposto quando baixou as informações secretas dela, ou como afirmou, seu irmão é só um parente.
Breno, de mesmo nome que o marido da irmã caçula, é o primogênito, sendo dois anos mais velho que Mohammad. Contudo, os mares são opostos, não nessa ação suja, pois já fez e faz bem pior.
Porém, deixou-a irritada e nunca comentou abertamente com ele, pois denunciaria as suas ações erradas.
Mas, quando questionou sobre a hipótese, sabe que é verdade.
Em 2020, quando saiu da antiga casa da mãe — agora do seu padrasto, pelos anos casados e por seu nome constar como dono e autenticado em cartório — perguntou se seu nome é usado como laranja.
Pelo simples fato de ter dado seu CPF na época fragilizada e por chegar a tal diagnóstico, entendeu os fatos e as peças se encaixaram.
“Posso ver isso, e o que deseja fazer?”
“Tire meu nome disso, tá?”
“Não vai querer denunciar, sabe que para a Receita é um crime grave.”
“Sei, mas não farei, se for verdade o que penso, não vou denunciar, não quero nada dele comigo.”
“Tudo bem.”
Quer se afastar lentamente, a ponto de formar uma cratera enorme que ligava ambos, igual a uma corrente sanguínea.
“Fez algo grave, a ponto disso?”
“Talvez, sim, mas é passado e não gosto de mexer em trapos velhos. Agora estou dispensando as roupas que não cabem em mim, e vivendo com a leveza que o destino me oferece.”
Não olhou em sua face, essa atitude mostra que o assunto ainda machuca e a vergonha invade a ponto de destruir algo que nasceu para amar.
“Tudo bem.”
Aos poucos, Mohammad vai entendendo as variações de humores silenciosos, tudo é guardado para manter o exterior inteiro.
O orgulho, com a teimosia, impede de expressar o que mora ali, acumulando por debaixo do tapete até um vento invadir e espalhar toda sujeira, fazendo tão mal quanto ficou durante os quase 4 anos e meio.
Por isso, sente medo quando desmoronar novamente e não tiver por perto para segurar, igual a esse final de semana.
E retornar ao ponto de partida, quando finalmente resolveu arriscar a ter algo com ele.
Recorda-se do frio, da chuva e da conversa sobre seu antigo relacionamento.
Agora, retorna sabendo da verdade e com o próprio para fazer compras como casais que se amam e moram juntos.
Mas, entende que o status é um caso extraconjugal.
E fica um tanto complicado ao entender que todos sabem sobre seu relacionamento errado.
“Droga, não pedi por isso, mas, ao mesmo tempo, não saí, não vou lamentar por algo que decidi.”
“Vamos?”
Não parecia um simples convite para fazer compras e sim, a decisão final garantindo o futuro deles daqui para frente.
Em que vai lhe pedir em namoro.
Bem, acha que não viu, mesmo sendo esperto e quase onipresente, Bruna vislumbrou uma linda caixa vermelha, onde pousavam duas alianças prateadas, e distraidamente olhava como se perguntasse se faria o pedido.
Para qualquer criatura que o conhecesse, não acreditaria que tal estava em dúvida sobre algo pequeno.
E seu rosto, por incrível que pareça, lembrou muito Dojin, de ‘LIAI’, antes de tentar novamente pedir Hyesung em casamento.
Queria gravar, todavia, esperou acontecer e depois falar a verdade.
“Tudo bem.”
Colocou sua mão apoiada, aceitando o laço que lhe deram, vamos ser felizes? Combinamos ou só é fogo de palha?
“Você guia o carrinho, enquanto vou pegando as coisas na lista.”
“Tá.”
De tanto usar boné, pensa que faz parte da estrutura, e quando fica sem, é estranho, entretanto o disfarce é um tanto fajuto, para o que nunca mais se vestiu assim, somente os funcionários saberiam sua identidade.
“Primeiro é o da minha irmã, vamos ver…. Quanta coisa. Whey protein de pistache e chocolate dark…”
“Segundo corredor, prateleira do meio.”
“Ok.”
O que ninguém conta, e até é difícil de engolir, é que fazer compras consome energia vital. É nítido que gastar dinheiro com o necessário é uma merda, fazer compras, pagar luz, água, aluguel…
É um porre, ao contrário dos prazeres.
Assim, todo mês, quando fazem esse trabalho, as irmãs chegam exaustas, porque andar para lá e para cá com carrinho, anotar e no final fazer a conta para saber se cabe no orçamento é exaustivo.
E mesmo não querendo repetir, entende que é fundamental.
E estando na companhia de Mohammad, a tarefa é mais árdua, pois esse cara tem nojo e alergia de qualquer vivente abaixo da pirâmide social.
“Se é assim na área nobre, numa loja que respira requinte com pessoas de classe elevada, imagine chegar no atacadão? É capaz de ter uma parada por choque anafilático.”
“Mohammad.”
“Oi.”
“Já pegou uma da mesma classe que eu?”
“Pobre?”
“…”
Foi uma pergunta, mas no final saiu humilhada.
“É… pobre.”
“Não, é a única.”
“Por quê? O que impediu de fazer? Pensava que amava sexo como gosta de rezar.”
“Sim, mas não é do meu agrado me envolver com pobres.”
“Que educado, em dizer que é elitista até na área sexual.”
“Hum.”
“Eu te amo.”
“Deus…”
Bruna espera que, antes de enfiar esse pau em sua buceta, não ocorra uma reação alérgica, porque nunca comeu uma pobre. Coitadinho…
Com isso, perguntou sobre seu passado e histórias engraçadas, porque acha que durante o tempo de curtição deve ter colecionado desastres e situações engraçadas.
“Existia a auxiliar do professor da minha faculdade, que gemia muito feio, era horrível a ponto de imaginar a Suite de Bach n.3.”
“Kkkkkkkk. Porra, era tão ruim assim?”
“Parecia cachorro chorando, não sei, só que facilitava nas casas de swing.”
“Uau…”
“Lembro de inúmeras histórias do Breno, quando falava dessas coisas, eram engraçadas.”
A música suave navegava, enquanto gargalhava das histórias desse Don Juan, e quando perceberam, concluíram a lista e todo estresse foi embora.
Na fila para o caixa, o reservado foi tomado por um grupo apressado, fazendo esperar enquanto aproveitava o momento para falar sobre a vida, futuro e filhos.
“Doeu?”
“Um pouco, agora vamos para a prova de fogo.”
“Nem fale, tenho outra lista e será um tanto demorada.”
“Tudo bem, fizemos tudo bem cedo e….”
O telefone dela toca, é uma ligação de seu pai.
“Só um minuto… pai? O que aconteceu?”
[Oh, hoje vou chegar um pouco tarde.]
“Por quê? Ontem, tu chegou tarde também.”
[Surgiu um serviço grande lá pra dentro de Niterói, então, acredito que devo chegar lá pelas 0h ou 1h.]
“E vai trabalhar no dia seguinte?”
[Sim, mas pegarei tarde para concluir a interjornada.]
“Tá, se cuida, ok? Liga quando concluir tudo.”
[Tá, faz as compras com sua irmã e não esqueça do meu vinho e cerveja.]
“Sim…”
Ao desligar, um suspiro de chateação surgiu em seus lábios.
Estava cansada dessa empresa explorar seu pai, já faz um tempo que o serviço ficou sob seus ombros, e até hoje não contrataram um ajudante.
Na antiga equipe, havia funções divididas, eram quatro funcionários com funções delimitadas, portanto, a carga não ficava pesada, mas agora que trocou, reformularam trazendo ‘menos é mais lucro’, seu pai, que é instalador, faz o serviço de auxiliar e o seu.
Pelo fato de cagarem para os colaboradores e delegarem serviço pesado para um senhor de quase 60 anos. E a indignação faz com que seu conhecimento na área de RH seja utilizado.
E marcará uma consulta com reumatologista, para passar exames direcionados a doenças ocupacionais, e identificar o problema de seu ombro devido ao longo esforço por carregar escada e fazer além do que não é pago.
Assim, responsabilizar o empregador a fornecer tratamento e todos os direitos ocasionados nele.
Mohammad viu, diante da expressão, a não aprovação e a raiva ressentida sobre a conversa. Realmente, o que acontece ali deve ser grave a ponto de ocasionar isso.
Mesmo não tendo a resposta, queria saber se pode pelo menos apoiar nessa parte e desvincular o silêncio — explicitado que assuntos pessoais não são de sua conta.
“Meu pai está se fudendo, fazendo o que não condiz com o contratado para ganhar migalhas. A empresa, esse maldito lugar, está sugando cada gota de sangue dos empregados, sobrecarregando para obter mais lucro.”
“Como?”
“Acham que, o fato da maioria não ter estudo, devem fazer o que bem entendem. Usam a necessidade para ter benefícios.”
“…”
“Já roubam na cara dura as horas trabalhadas antes das férias, os quinze dias trabalhados que deveriam ser pagos quando voltam das férias. E, pela ignorância e medo, ninguém cobra nada.”
Diante disso, não se calou, revelando falcatruas de uma instituição que possui anos de mercado, sendo fachada.
As interjornadas direcionadas foram ‘apagadas’ do ponto eletrônico, porém, com a inteligência e sabedoria, a jovem ‘ameaçou’ passivamente o responsável.
Que fez retroceder e mudar as horas negativas, pelo fato de fazer horas extras e trabalhar nas folgas, logo, recebe bem mais que seu salário e, para não gerar prejuízo, secretamente tentaram realizar essa manobra.
No entanto, felizmente, Bruna percebeu e tirou print de tudo para cobrar o certo, onde ‘magicamente’ voltou ao normal e seu pai recebeu o justo.
“Meu pai pode não ter estudo, mas não está sozinho, não permitirei que faça de palhaço, mesmo que discuta e brigue comigo por fazer o correto.”
“Quer que faça alguma coisa?”
“Que?”
“Posso comprar a empresa e dar a você.”
Ao ouvir, rapidamente lembrou-se da cena de ‘Cinquenta Tons de Cinza’, onde Christian comprou a editora onde Anastácia trabalhava, fazendo dela a editora-chefe, e depois, dona.
É engraçado, e até tentador, ser dona de algo, todavia, a responsabilidade de não ter conhecimento em gerar um empreendimento chocou.
De que adianta ganhar algo, se não sabe utilizar as ferramentas certas? Pra quê? No final, entrar em falência e prejudicar um monte de famílias que necessitam disso?
Não, não deseja, por isso, recusou.
“Está tudo bem, pode ser a dona, porém, ajudo a administrar. Não será problema ter mais uma.”
“Mas…”
“Fará parte do meu império, onde vou cuidar, e o lucro será passado para você.”
“Não sei, tenho medo de falhar…. Não quero ser responsável.”
“Serei responsável, estará sob minha gestão, portanto, fique tranquila. Não fiz meu curso e doutorado com a bunda. Então, confie.”
O título dessa história deveria ser: ‘As mil e uma formas de conquistar uma comunista, sendo um capitalista ferrenho.’
No entanto, deixa pra lá.
Assim, aceitar e remover os grilhões desses empregados, interrompendo uma cadeia danosa, ou piorar e ser tão cruel quanto um senhor de engenho?
E se a ganância corromper? O que fará se for outra pessoa? Como dizem, ‘Se quer conhecer alguém, dê dinheiro ou poder, logo a verdadeira face se revelará.’
Não isso, tem medo de se transformar no opressor. Fazer justiça em cima de sangue inocente não é justiça, é tirania.
Tudo passa em sua mente e cogitou rejeitar a gentileza desse diabo, nem que tudo se desmorone.
“O que devo fazer? O que é certo?”
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Capítulo 141
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