Capítulo 144
O bar estava lotado, bem mais que o costume, isso é pelo fato de ser final de semana.
Os três funcionários e uma senhora lidavam com a clientela grande, que veio em grupo para curtir um dia desestressante.
Havia os conhecidos e visitantes curiosos, e compreendeu a razão do Mike amar esses dois dias. As gorjetas são maiores, podendo arrecadar até 150 euros numa noite.
Ser apolíneo é uma qualidade para arrancar grana, os solitários e rejeitados eram vítimas perfeitas, conversar e dar o mínimo de atenção já garantia um bom caixa no final do expediente.
“Novato! Pega a caixa de cerveja, estamos ficando sem nada.”
“Tudo bem.”
E lá foi ele, pegar outra caixa, já era a quinta e pelo andar Jude precisará repor, pelo que tem aqui só durará até o final, ou nem isso.
O florescer da primavera era o ápice da melhor estação, nem muito quente nem frio, com temperatura agradável. Assim, Smith quase não usava casaco, exibindo seus músculos desejáveis para quem quiser admirar.
E quando trouxe, começou a esvaziar e colocar no freezer, congelando em segundos.
Nisso, não notou o surgimento de um cara que há dois dias passou raiva.
Park Hyung esperou a poeira abaixar para finalmente frequentar os lugares badalados e se conectar melhor com seu grupo.
Na Coreia, existem algumas casas noturnas direcionadas ao público gay, só que, por ser filho de um chaebol, não podia arriscar. Portanto, ficou na vontade e se contentava em memorizar leis e focar nos estudos.
Agora, foragido, experimenta o que há de melhor no submundo da bandeira colorida.
Tentou ao máximo ser informal, mas suas roupas caras eram iguais a sinais de trânsito, visto de longe poderia abrir caminho ou bloquear estradas.
De aparência, era o típico ativo perfeito, alto, bonito e robusto, qualquer um entenderia que cortejar, provavelmente teria uma ótima noite embalada a sexo, numa piroca grande e grossa.
De modo que muitos que optaram eram passivos, só que, desde a primeira experiência com um desconhecido, ser passivo o agradou mais.
E, quando viu os olhares, seu interior queria gargalhar.
Uma Hello Kitty dessas não é apropriado para entreter os passivos.
“Hey, Jude! Coloca ‘Live to Tell’, hoje meu amigo completa 15 anos de falecido.”
“Você que manda, chuchu.”
Uma travesti, cliente frequente desde a velha guarda, tinha um amigo querido que faleceu após contrair o vírus HIV.
Foi uma era dolorosa, complicada para todos, principalmente para a comunidade LGBT.
O horror, a perseguição, a dor pelas sucessivas surras de serem verdadeiros e aceitarem o que são, deixou cicatrizes que atualmente não foram saradas e, infelizmente, ainda se manterão abertas.
Então, para se livrar de um mundo que os rejeita, procuram lugares de pertencimento mesmo por poucos segundos.
Honrar aqueles que lutaram contra o sistema, para que gerações futuras possam ter um pouco de dignidade e respeito, é motivo de comemoração ao ser preciso andar para os sucessores atuais correrem.
E, sendo nativos, a música de Madonna foi cantada perfeitamente como um hino emblemático. Enquanto o ouvinte lembrava dessa guerra com lágrimas nos olhos.
Park Hyung sentiu um mix de sentimentos conflituosos, era estranho, maravilhoso, chocante e alegre.
Para isso, resolveu encher seu corpo com o máximo de bebida possível, é acostumado à alta dose alcoólica, até porque seu país é campeão em consumo de álcool, tanto que existem várias comidas e bebidas para tratar a ressaca.
Ao se aproximar do bar, o barulho é alto, fazendo-o gritar para pedir uma cerveja.
“O que deseja?”
Perguntou Mike, do jeito carismático de sempre, percebendo que esse cara é um estrangeiro rico.
“Uma cerveja.”
“Beer…? Ah! Cerveja?”
“Sim.”
“Só um instante.”
Rapidamente desapareceu, surgindo em segundos com uma garrafa gelada.
Nessa hora, imaginou misturar no soju para potencializar e curtir a maresia alcoólica, mas não era a Coreia, logo, se contentou com esse tipo até evoluir para os mais fortes.
À medida que Smith terminava o serviço, ao se levantar, seus olhos imediatamente vão ao novo cliente, que, como estava de lado, não reconheceu.
Entretanto, quando virou e ambos se bateram, tiveram reações opostas.
Em Park Hyung, que não esqueceu o olhar marcante, ficou surpreso e até animado em saber que tal mal-educado trabalhava num bar gay.
Já Smith… Bem, as pernas eram bem marcantes, entretanto a raiva ascendeu, quase se machucou e perdeu o único transporte válido nessa vida.
Virando o rosto e atendendo outro freguês.
Quem diria… Talvez… Não sei, esperarei ficar um pouco mais bêbado.
O conselho dado por dois anjinhos e um diabo não funcionou logo, curtiu o ambiente e bebeu doses após doses, até que, no fim, não ficou com ninguém e despachou os passivos.
Fazendo voltar para o apartamento sozinho.
“Táxi.”
Fazendo sinal, o motorista para e diz o endereço que gravou com muito custo.
Talvez na próxima.
Deduz, no entanto, essa ‘próxima vez’ nunca surgiu, as mesmas encaradas e sem resultados, no final virou freguês e conseguiu se integrar no grupo onde, com toda paciência, ensinaram o básico para se virar aqui.
Gradualmente, Smith foi se adaptando, altos e baixos eram superados, mas nunca mais sentiu fome.
Agora, após seis meses, em setembro, melhorou na técnica de luta, todavia seu chute continuava horrível. E o treinador insistia nessa parte, pois previa ser uma joia a se lapidar, um grande lutador.
Lentamente, os traços juvenis foram sumindo, dando forma ao masculino, a virilidade estampava-se em seu corpo e rosto.
Deixando de ser um menino.
Até que o que não dava bola brotou e aonde não deveria existir.
“Toma, obrigado pelo serviço.”
Uma senhora, de quarenta anos, muito rica, queria afastar a monotonia e a solidão com um bom sexo, queria se envolver e sentir a virilidade da juventude, e nada mais certo que contratar um prostituto para liquidar o básico.
Smith recebeu a bela quantia de 500 euros e pensou em guardar na sua conta. Cada serviço extra é posto na poupança ‘caseira’, para garantir sua sobrevivência quando surgir a oportunidade de disputar.
O andar onde mora essa viúva era o mesmo em que Park Hyung reside, um bairro nobre que exala riqueza por toda parte.
Transar numa cama confortável e depois ir embora era o mínimo do luxo adquirido há mais de seis meses nessa profissão.
“Falei de você a uma amiga, ela tem 50 anos e perguntou se topa participar. A grana oferecida é o dobro do que ganha comigo e com as outras mulheres.”
“Tudo bem, só passe o número e enviarei uma mensagem.”
“Que bom, só um instante.”
Deixando a porta entreaberta, fazendo esperar.
Desse modo, Park Hyung, que retornava de uma comemoração, saiu do elevador e entrou em conflito com Smith, aceitando o cartão com o número de uma possível cliente.
E não foi preciso pesquisar, já de cara, soube o que de fato esse garoto estava fazendo, e para engatar no que demorou para fazer, provocou.
“Muito obrigada, te espero semana que vem no mesmo horário.”
“Sim, obrigado.”
Ignorando, esperava não ser provocado, não desejava confusão, foi ordenado para não brigar na rua, para o bem do que busca. Nesse sentido, afastou-se de tudo que possa estressar e concentrou-se na meta.
Entretanto, Park Hyung tinha sede, queria provar um pouco do que essas clientes mais velhas têm.
“A necessidade pode fazer um homem cometer loucuras.”
Disse por alto, o jovem que esperava o elevador ouviu a frase sarcástica e ridícula, claro que precisa, faz algo que gosta e ganha uma grana, nada diferente sob o sol.
No entanto, nem sob conselhos e desviando o máximo de encrenca, o espírito adormecido acordou.
“Vai se foder, seu viado sujo. Por que não chupa a porra de um pau e me deixa fora disso?”
“Hahaha… que gracinha, toda essa maturidade física não esconde que é um adolescente medíocre, que para sobreviver precisa se submeter ao deplorável.”
Aos poucos, implorava que o elevador não demorasse, mas tudo cooperava para o oposto.
O sexo de antes não amenizou a paz de espírito, agora, um desconhecido que frequenta seu trabalho sabe que faz essas merdas.
O pior é a academia descobrir, por isso, tentou se controlar.
“Se consegue chegar a esse nível, da próxima vez, não serei o único a implorar por um pau.”
“Seu filho da puta!”
Veio com tudo, igual a um touro perante seu inimigo, e Park Hyung era perfeito para desestressar, imaginando que um simples soco o deixaria calado, mas o seu inimigo se mostrou ser de nível superior, muito além da sua capacidade.
E a técnica que lhe falta, após pedir, treinar e ser cobrado, é feita esplendidamente por quem julgou ser fraco. Derrubando com um belo chute, honrando sua faixa preta em taekwondo.
Deixando-o confuso, no chão, a velocidade e força gerada num golpe perfeito selou seus sentidos.
“Garoto, não é bom julgar precipitadamente, não confunda minha sexualidade com fraqueza. Se tentar, revido quantas vezes quiser e fazer beijar o chão dezenas de vezes.”
O tempo fez ser desse jeito, está nas mãos de seu pai, garantiu em se esforçar e ser o melhor em tudo, e uma das técnicas precisas e essenciais foi a defesa, precisava disso para um dia superar aquele que concebeu.
Se não, seria facilmente engolido.
Smith entendeu que nesse mar existem predadores maiores sob um disfarce pífio.
Park Hyung é um crocodilo americano usando uma saia de tule rosa. E, facilmente, caiu em seu campo, sendo agarrado.
Esses olhos vão me devorar!
Fácil, igual a uma presa recém-nascida.
A presunção queimou o orgulho e o ego desse garoto, é comum para os que estão aprendendo a andar, diferente de seu adversário que caminha há tempos.
Por isso, para não perder, contra-atacou e, como a primeira, caiu novamente, fazendo entender que é fraco perante um cara gay.
“Não seja orgulhoso, isso só fará cair mais ainda, será melhor levantar e entender que precisa melhorar e se esforçar.”
A mistura do espanhol e inglês o fez questionar como aprendeu tão rápido, se fosse esperto entenderia que o destino lhe deu a chance de aperfeiçoar a técnica defeituosa.
Mas o preconceito impediu, fazendo-o levantar e fugir desse louco.
Uma pena, mas vejo que não é hora de desistir.
Subindo um degrau, agora insistiria até tê-lo na sua mão.
Portanto, a temporada de caça estava aberta.
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Capítulo 144
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