Capítulo 158
Risadas, pagode, cheiro intenso de carne sendo assada numa churrasqueira maravilhosa, um ambiente alegre que não combina com a realidade de todos presentes, ou, do cotidiano dos guardas e principalmente do dono.
Ao mesmo tempo que é bizarro, é tão agradável, tornando tudo tão satisfatório quanto um vídeo de ASMR, causando relaxamento gradual.
O secretário, numa mesa, bebe seu quinto copo de refrigerante, ao qual aos poucos se acostuma nesse quadrado.
O terreno dela é um convite para aproveitar, e o terror e estresse dos dias posteriores ou até futuros não movem o dedo do que é oferecido.
Contudo, depois de um cumprimento agradável e agradecimento, Mohammad não saiu de seu lado, ficando tão próximo quanto um carrapato.
Os toques suaves, o sorriso verdadeiro sem um pingo de maldade, saboreando carne e bebida gaseificada, são o puro retrato do ciúme doentio que queima em seu interior.
Não permitindo que chegue até si, não que deseje isso, mas queria fazer parte desse quintal… desse campo florido, que lentamente é introduzido minas terrestres para não ousarem se aproximar.
Toda vez que tentava sair desse círculo, impedia carinhosamente para não escapar, ficando cativa em seu próprio mundo.
“Essa carne é gostosa, bem macia e suculenta.”
Elogiou, Bruna degustava pela primeira vez wagyu, vendo a diferença da tradicional picanha brasileira.
Mas ainda prefere sua coxinha e asinha de frango, ou até coração de galinha. Todos apreciaram a culinária nacional feita por três pessoas: arroz, farofa, maionese, vinagrete… tudo que se pode imaginar estava ali.
Oferecendo a raiz culinária brasileira.
Que, gradualmente, as quantidades absurdas iam se esvaziando, o clima é perfeito para um banho de mar ou até piscina.
Só que, embora essas descontrações, continuam em horário de serviço, impedindo de pular nessa maravilha gelada.
“Poderíamos fazer mais vezes, que tal em abril?”
“Hum.. Seria bom, queria fazer na minha casa… ou… não, melhor não.”
O desejo foi preciso barrar, para não atrair tanta atenção. O anel de compromisso de platina estava neles, notificando um relacionamento um tanto perigoso.
Na mão direita de Mohammad, estava cravejado, informando que finalmente encontrou sua metade, já na moça, habita em seu pescoço num cordão fino.
Todos que viam isso entenderam que a verdadeira esposa estava aqui e não em Dubai.
Depois de casar, removeu a aliança e ficou com as mãos cruas, explicitando que seu coração estava fechado e com correntes fortes.
Ocasionando questionamentos para a primeira esposa, que usava essa peça por pura decoração, que com o pronunciamento, afastou esse fantasma aterrador que destruiria essa farsa rapidamente.
Agora, por amor, e em nome da fidelidade que tem a ela, usa e deseja manter por um longo tempo.
“Tudo bem, podemos fazer aqui.”
Compreende o medo, apesar de que alguns devem ter visto sua presença pela favela.
O beijo suave na bochecha deixava o outro casal anestesiado, principalmente a irmã que via toda essa atmosfera doce demais.
Se questionando se era o fato do início do compromisso, ou algo vitalício.
Seu esposo não é romântico a esse nível, sempre mantendo a neutralidade e, por mais que goste desse tipo de afeto, compreendeu que cada ser expressa seu amor de forma diversa.
Apesar do não carinho, é um grande companheiro que, nos momentos complicados, está ao seu lado.
Ou o simples fato de entender seu posicionamento em sua dieta.
E quando compra algumas flores, para colorir sua vida um tanto cinza, logo não sentiu inveja e aceitou essa questão valiosa.
Ao som do show do Belo de 2001, o favorito, mas, lança flechas românticas para os apaixonados e casais.
Bruna está tão feliz que revelou um lado oculto em cantar e remexer o corpo, percebendo a diferença da primeira esposa, que é mais contida e delicada.
Entretanto, é dessa que o presidente ama, a que não tem classe ao expressar a felicidade nesse rosto eufórico em comer algo delicioso e curtir um dia bom na presença dos que acostumou em seu espaço.
“Que triste… não quero voltar pra Dubai.”
Exclamou Charlie, já visualizando o prelúdio de uma longa temporada na terra de seu lar sem a presença dela.
“Para de chorar, parece que nem convive com o presidente há bastante tempo.”
Exclamou Dom, que também gostava disso.
“Coisas boas devem ser prolongadas, apesar da vida ‘maravilhosa’ num lugar que cheira a riqueza, a verdadeira paz é aqui.”
“Tão simplista.”
Criticou pelo fato de seu passado ser tão rico quanto a maioria dos que habitam nos Emirados.
Dominique ainda não entende o motivo de Charlie apagar a herança dos Roy’s após a morte de seu pai e sua querida madrasta.
“O quê?”
Questionou o advogado da família.
“Apague a descendência dos Roy’s e venda tudo, não desejo nada disso.”
Após confirmar o assassinato de seu pai, Charlie não desejou que essa herança maldita o perseguisse, assim, tudo foi vendido e doado para várias instituições de caridade no mundo.
O pobre homem, que já trabalha há tantos anos, esvaziou-se ao ouvir essa loucura, o império proeminente foi destruído pelo último que lidaria com toda essa montanha.
Depois, com apenas o necessário, fundou uma nova vida, onde o seu passado ficou para trás e se transformou num cidadão comum.
Agora, sem a riqueza e poder, é membro da guarda de elite que constrói os melhores disfarces, sendo tudo o que desejou, um cidadão comum que luta para ganhar seu sustento diário.
“Esse ano vai pra Tailândia?”
“Infelizmente, não posso me livrar do exército, todo ano é a mesma pataquada.”
“É, né? O rei está perdendo um grande soldado.”
Esse seria seu último ano a fazer aquele bendito sorteio, o presidente conseguiu impedir que fosse escolhido, mas como cidadão deve comparecer ao listamento e passar vergonha numa filmagem que ficou hypada no ocidente.
Após várias tentativas falhadas, a dama consegue desvincular-se da magia de amarração dele e vai em direção ao secretário para saber se estava tudo bem.
O corpo de Mohammad endurece, e seus olhos expressam tudo aquilo que não pode pôr para fora.
O embate mais cedo o deixou apavorado, logo, para evitar qualquer discussão ou até um possível término, apenas observou, indo até seu escravo, para expressar toda gentileza que odeia ver dando a outro.
“Oi, secretário, tá tudo bem? Tá comendo bem?”
Manteve um distanciamento seguro, onde não provocou o mar furioso atrás de si, contudo, foi gentil com qualquer convidado em sua casa.
“Sim, obrigado, senhorita.”
“Não tô vendo tanta carne, peraí, vou pegar um pouco.”
Nunca recebeu nada, nunca foi servido, era sempre o oposto, o que causou estranhamento e um formigamento em seu estômago.
Beatriz e Breno, que observavam a cena, olharam para Mohammad, que tem uma expressão mortal como se, a qualquer instante, fosse avançar no convidado, fazendo imaginar o quanto sua irmã é ingênua em dar atenção a outro que não fosse seu namorado.
Causando uma situação constrangedora.
Mas Bruna não liga, por ser o modo simples de fazer o convidado se sentir bem.
“Aqui, coma tudo, tem bastante e sei que come bem como todos aqui, então não fique envergonhado.”
Ver o tanto que colocou em sua frente ocasionou um balançar em seu coração, que pulsava igual a um relógio antigo.
O sentimento, que iniciou pequeno, crescia cada vez mais, fazendo-o corar sem querer.
O que fez o outro bufar de raiva, percebendo que o proibido agora é expresso em sua cara.
“Muito obrigado, senhorita, comerei tudo.”
“Qualquer coisa, é só falar, tá? Voltarei porque sinto que o lugar tá um tanto ‘pesado’ demais.”
“Sim, obrigado.”
Assim como um bumerangue, retorna para o ponto de origem, acalmando o seu receptor. Que teve seu peito amolecido ao tocar em seu rosto, e o sorriso em agradecimento por não fazer nada.
“…”
“Eu sei, fico feliz que não deu chilique.”
“Que bom.”
Ao beijar de novo, seus olhos miraram o empregado que comia e bebia, para quando estivesse longe dela, de sua proteção, fazer o que deve ser feito.
No entanto…
“Não quero que faça nada com ele, longe de mim, não posso impedir que o mate, então espero que não faça nada, ok?”
O tom calmo, porém frio, impedia o espírito vingativo de concluir o propósito, deixando-o de mãos atadas.
“Tudo bem, farei como prometido.”
Realmente, mulher é um bicho estranho, possui um radar poderoso que premedita qualquer coisa, deixando seu destinatário em situação complicada.
Mohammad não o mataria pela promessa, entretanto, daria um jeito de penalizar.
Agora, tem que seguir outro caminho para aquietar seu espírito.
Sam, que observa de longe, viu que não pode ousar demais nesse ponto, não deseja essa fatalidade.
Contudo, seu espírito de carniceiro explodia para ser liberto, porém o medo impede qualquer reação, prendendo essa fera numa gaiola forte.
Pois entende que o medo é a chave essencial de sua permanência no plano dos vivos.
A tarde ia se esvaindo, o clima não mudou, ficando tão calmo e divertido como no princípio.
Ele, que está nesse meio, onde era acostumado com comemorações e festas mornas a geladas, deseja que esse calor continue.
“O que acha de fugirmos e brincarmos um pouco?”
A proposta é tentadora, infelizmente essa boa camponesa acabou viciada em sexo, o que nunca cogitou na sua realidade.
E logo com um mestre nessa arte, portanto seu interior escorreu quando escutou essa boa mensagem para aplacar o desejo.
“Não sei…”
É estranho ouvir a dúvida em aceitar algo que esteja tão cativa, o que fez rir. Nada na Bruna é igual ao passado, à rotina, enfrentam a dúvida e a incerteza.
Deixando sem preparo.
“É realmente como a água.”
Diferente do resto, soube o significado de suas palavras, físico mais escorregadio, e se gelar, doerá, causando queimaduras piores que colocar a mão no fogo.
“Só um pouco.”
Significa não gozar dentro.
E, por estar no início de algo bom, ambos escaparam da alegria para se aprofundar na luxúria.
***
“O que acha do Belmopan Palace?”
Repousando na cama depois de longo exercício frenético. Está molhado com gotículas de água do banho tomado, e sua irmã e cunhado estão se divertindo por algum canto dessa mansão maravilhosa.
A pergunta lançada por seu amante pegou-a de surpresa, mareada com o esquiço do prazer, a frase veio cremosa demais, não denotando nada ruim.
“O que tem?”
“Acha um lugar bom?”
“Hum.. Claro, tenho memórias boas, mesmo que por pouco tempo.”
“Hum…”
“Apesar de que a sua expulsão foi necessária.”
Mesmo assim, não deixou barato, vingativo, conseguiu encontrar uma brecha para atingir o coração da organização que gerencia tudo, nisso, infeccionou o sistema igual a um vírus maligno.
E agora, decidi se desmantelar apagando esse patrimônio nacional, ou permanecer e fazer parte de seus empreendimentos.
Só precisava de sua decisão.
“Sério, gosto de lá…”
“E o que acha caso esse lugar não exista mais?”
Ao sentar na ponta da cama, de peito nu e calça de moletom, seu penteado desfeito deixou-o tão sensual quanto.
Bruna admira essa beleza igual a um quadro famoso no Louvre.
E o que mais?
Por mais desse amor, que pressiona como uma máquina poderosa, esse sentimento não brotou dentro de si, e continua ali, não amando, mas aprendendo aos poucos a sentir isso novamente.
“Séria ruim, não pelo que representa, mas pelos empregados que trabalham ali, sabe? Hoje em dia, mesmo com a mudança de governo, a taxa de desemprego é alta. Então, os que estão lá lutam com unhas e dentes para manter o que já não é muito.”
Esse pensamento, que visa o coletivo, é uma bênção com carga pesada numa maldição.
Na trajetória humana, desde o seu surgimento, o coletivo é visado como melhor para a sobrevivência da espécie.
Mas a individualidade é lida como a autopreservação, sendo exclusivamente a maldição para um meio coletivo.
Desse modo, esse pensamento egoísta garante que o oposto seja usado numa salada alienada, em privilegiar a sua herança genética à custa da venda dos manipulados.
Não é à toa que existem guerras, retratando o puro sumo dos motivos individualistas para um ‘bem’ futuro.
O egoísmo incendeia o coletivo, assim, ganhando o prêmio final.
Desse modo, não existe o trabalho em conjunto para gerar um equilíbrio, até porque as linhas não cruzam ou dão as mãos.
Vendo o retrato atual, ambos têm características demasiadamente pesadas de um lado e outro.
Enquanto Mohammad se preocupa com o egoísmo e a preservação de seu código genético, Bruna é altruísta e pensa no coletivo, para haver uma sobrevivência de um todo.
No qual precisavam aprender uma arte, que internamente não daria certo.
E a tática é a destruição de uma dessas polaridades, idêntica ao choque entre dois planetas em meio a um universo violento e hostil.
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Capítulo 158
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...