Capítulo 162

“Boa tarde, me chamo Branca e farei suas unhas.”

 

De nome tal, mas aparência outra, a mulher de pele negra é o contrário do seu nome de nascença.

 

Provavelmente a mãe gostava de alguma personagem de mesmo nome ou queria retratar toda a pureza em um tom que os que odeiam são contra.

 

Mohammad marcou uma manicure para colocar unhas de gel, o desejo intenso de ver suas costas pintadas de vermelho foi aceito pela dama.

 

A funcionária é de uma rede de salão de alto padrão, que por um cascalho faz atendimento domiciliar.

 

Devido ao furacão, todo cuidado é pouco, portanto, não poderiam ser vistos juntos trafegando livremente.

 

Em que, para acompanhar, estava Sam, que entende o idioma, sendo perfeito para vigiar.

 

“Sente-se, já comeu alguma coisa? Quer beber algo? Tem suco, café… O que desejar, pode pedir.”

 

“Muito obrigada, aceitaria um copo com água, por favor.”

 

Branca ficou espantada pela gentileza de sua semelhante, por prestar serviço há tantos anos, a ponto de frequentar várias casas e conhecer milhares da nata.

 

Soube que são mesquinhos por natureza e raramente encontram alguém de coração gentil que se preocupa em deixar seu serviço o mais suave possível.

 

Claro, tirando essa pequena porcentagem, as que conseguem o feito têm que puxar muito o saco para considerar um filete da unha do dedo mindinho.

 

Mas, a maioria mal se importa se padeceu no deserto, e não oferece nem a água da pia para eliminar a sequidão em sua garganta.

 

Por isso, quando reconheceu qual era o condomínio, soube que a cliente seria um porre e pão dura.

 

Sentada numa poltrona confortável, que oferecia uma mini massagem em suas costas durante o procedimento, já a conquistou de imediato.

 

“Ainda bem que não sofrerei tanto.”

 

Pela profissão, existe a doença ocupacional favorita.

 

O dela é a tendinite nas mãos e a coluna pela posição curvada e horrível, causando certos travamentos e doses altas de remédios para conseguir fazer suas atividades.

 

Entretanto, só não pode parar ou desistir, entende que o pobre só descansa quando fecha os olhos eternamente. E ainda, se preocupa que a carcaça seja velada, certamente.

 

“Como deseja sua unha?”

 

“Não muito grande, e no formato amendoado.”

 

“É diabética, né?”

 

“Sim.”

 

“Tudo bem, então não retirarei a cutícula.”

 

O modo correto de fazer o procedimento é não remover a película pela proteção contra qualquer micro-organismo que cause uma infecção generalizada ou até necrose.

 

Sendo o certo amolecer e empurrar para baixo, promovendo a proteção e a saúde das clientes.

 

Porém, como são terras brasileiras, esse conceito é pouco usado, a não ser pelos que sabem ou são pacientes com doença crônica igual à da Bruna.

 

Fazendo com que essa barreira seja sempre retirada para deixar tão perfeita quanto.

 

O modelo do passado foi deixado para trás, e hoje se utiliza o eficiente e o que é bom, assim não havia um pote d’água quente para amolecer a região, com apenas um creminho específico, já ajuda muito.

 

Agilizando para atender outros clientes tão apressados e impacientes.

 

Por mais do jeito calmo e gentil, Bruna é calada, tendo o sério problema de deixar uma conversa fluida, ou até sem graça.

 

E para respeitar esse lado, Branca fez o mesmo, em que cada uma fica em seu quadrado, aproveitando um clima fresco e uma bela massagem, tornando as dores suportáveis.

 

Nisso, Sam observa, porém, não profissionalmente, mas imaginando essa mão pequena com as garras em seu corpo.

 

Mohammad observa atentamente em 8k, nada fora do lugar, entretanto a protege de qualquer problema.

 

Contudo, seus olhos não saíam da tela em que expressava um sorriso gentil, à medida que a manicure teve todo cuidado sem lesionar.

 

Aos poucos, uma a uma, iam ficando fabulosas e dando charme à mão favorita. Bruna é extremamente básica, escolhendo a cor favorita sem muita firula. Sendo algo comum.

 

Já não bastam as marcas de mordida pelo ombro e pescoço, essas unhas também são a sua ganância.

 

“Muito obrigada, os meninos lidarão com os pormenores e sua comissão.”

 

De um jeito humilde, fez questão de tratar a funcionária como convidada e curvou ligeiramente a cabeça, pelo costume do antigo emprego.

 

“Tudo bem, agradeço pela recepção.”

 

Sam acompanhou para resolver tudo, se distanciando até sumir de vista.

 

Bruna, que agora tem seu instinto de perigo mais apurado, consegue sentir a presença de Mohammad sem ao menos olhar.

 

Semelhante a uma leoa à espreita do macho.

 

“O que achou?”

 

Revelou o que viu pela tela, tão bonito, a coloração lavanda dava formato e destaque que sua cor precisava, vermelho, preto, azul e até rosa pink, fez parte de sua vida.

 

Todas as cores marcaram sua pele de um modo, só que não se compara com esse lado fofo e entende que não só ficará externamente, mas profunda e eternamente.

 

“Lindo….”

 

“Que lisonjeio, fico até pintada de vermelho.”

 

Brincou, na realidade não sente isso, e sim alegria. Mesmo seco, ainda havia risco de borrar e, tomou cuidado ao segurar e erguer.

 

“O que deseja fazer?”

 

“Hum… Quero comer torta de limão, igual à da loja.”

 

“Quer que faça ou pegue lá?”

 

Cozinhar se tornou algo prazeroso, sempre recebeu pronto pela mão de outros e um dia se questionou o motivo de aprender a arte.

 

Bem, a resposta está diante de si com o rosto puro de felicidade, pedindo para fazer algo que antes achou descartável.

 

“Sem raspas de limão.”

 

“Tudo bem.”

 

E não desgrudando, a guiou até a cozinha principal.

 

***

 

“Prove.”

 

Diante disso, não havia a torta de limão, pois esperava gelar, mas outra iguaria que será usada para a Páscoa de 2024. Pequenos ovos de chocolate, com recheios diversos, seriam vendidos pela Health Fitness.

 

E nada melhor do que uma formiga diabética dar sua autorização.

 

A nova linha Tropicália parabeniza o sabor latino, com frutas que nasceram nesse solo fértil, deixando de lado os favoritinhos como avelã e pistache.

 

“Hum, é um pouco azedo, bem longe, lembrando um pouco maracujá, só que suave e mais doce. Combinou com o chocolate branco e a castanha de caju salgada.”

 

Ao avaliar positivamente, o produto que leva geleia de granadilla e chocolate branco temperado com castanha do caju salgada, dava a dualidade ideal, em que a geleia anula a concentração da baunilha do chocolate, e o sal da castanha dá um toque agridoce agradável.

 

“E esse aqui.”

 

Empurrou outra amostra, esse é o famoso frutas vermelhas, oriundo de um campo especializado que foca na produção orgânica, com propriedades no azedo e doce.

 

Tudo é pequeno para não encher, oferecendo o que sempre propôs, sem açúcar.

 

“Hummm… Esse é ótimo, amei!”

 

Derretia com o mínimo de temperatura, escorregando pela garganta com forte acentuação no leite, tornando a casca tão cremosa quanto um chocolate quente.

 

Dos seis protótipos, cinco foram aprovados com êxito, menos um que causou uma sensação enjoativa e a boca levemente dormente.

 

Em que, será retirado do catálogo, a promoção dos novos produtos será anunciado no final de fevereiro, pelo fato, da semana santa e páscoa cair no final de março.

 

Época um tanto desfavorável para os comerciantes, por estar no final do mês e não entre o quinto dia útil.

 

Portanto, para conseguir uma margem de lucro boa, a novidade será anunciada antecipadamente para as vendas serem um sucesso.

 

“Fico contente.”

 

Desde o presente, seu sorriso sempre foi verdadeiro, sem alguma malícia, antes deu uma sensação esquisita, já que era habituado à ironia, maldade e ao escárnio.

 

Mas, se acostumou e agora não sabe como viver sem.

 

Como os opostos se atraem tanto?

 

Será pela energia oposta? Esses prótons podem trabalhar com os elétrons sem causar o efeito de uma ogiva nuclear?

 

E onde ficam os nêutrons?

 

Para ele, não, fica tão natural que, caso tente usar o do passado, soará falso. Claro, perto dela, mas longe… Talvez volte ao habitual.

 

“Você é minha felicidade.”

 

Lançou, enquanto os olhos escuros, que se confundem com o preto polido, brilham mais que uma galáxia inteira.

 

“Também, apesar dos pesares, estou feliz com você… com isso, sabe?”

 

“Essa é a melhor afirmação que posso receber.”

 

“Melhor que ganhar um bilhão de dólares?”

 

“Muito mais, nem toda riqueza que possuo será tão arrebatadora quanto sua presença.”

 

“Que meloso, não somos protagonistas de um romance erótico.”

 

“Quem sabe? O homem tem conhecimento profundo do universo, mas não do oceano. O que seria, caso sejamos apenas modelos de algo que outros cobiçam?”

 

“Tipo o show de Truman?”

 

“Sim, cordeirinho.”

 

“Hahaha.”

 

O beijo rápido é mais doce que todos os produtos presentes, exemplificando que a química é o tempero ideal para o casal, isso inclui os opostos.

 

Só tem o domingo e uma segunda-feira pela metade, pois embarcará para casa…

 

“Que casa? Eu tenho uma?”

 

O que planejou não é seu, sendo provisório só para o descanso em que é ela seu verdadeiro lar, mesmo que more num local que odeia.

 

Doce como mel, pele macia que beira ao chocolate e canela, sim, é uma tropicaliana que deseja.

 

***

 

“Ei, filhote!”

 

Chamou Oliver, seu turno chegou ao fim e agora é sair e descansar para o próximo. Sam, que amava curtir com os colegas, agora só tem uma na cabeça.

 

Ainda assim, tem que disfarçar para não morrer.

 

“Boa noite, líder.”

 

Um cigarro pousa em sua boca, mas o pensamento está longe, intrigado se aquelas unhas podem fazer tanto estrago em si, quanto no presidente.

 

“Como estão as coisas?”

 

“Hum… nada fora do normal, tudo bem calmo…”

 

“Isso me cheira a problema.”

 

“Por quê?”

 

“Não lhe disseram?”

 

Sam enruga a testa lisa, procurando algo que passou despercebido, a não ser quando precisou sair para fazer as encomendas obrigatórias.

 

“O que?”

 

“Como o maior fofoqueiro fica sem saber de nada? Takano às vezes gosta de zoar com sua cara.”

 

“…”

 

Oliver riu, achando graça na fisionomia desse filhote que possui um radar sensível para quaisquer informações, nada passa despercebido para esse dom.

 

“Quando foi fazer a encomenda, parece que os paparazzis resolveram usar um drone espião para colher informação da senhorita. Isso foi quando o casal estava na piscina.”

 

“Quem abateu?”

 

“Foi o Dom.”

 

“Que coragem.”

 

“A coisa tá ficando um tanto chata, seria legal fazer algo, né?”

 

“Você diz….”

 

“Sim. Use suas habilidades e faça alguns irem para o hospital, nada grave, apenas uma perna quebrada.”

 

“Uhuuuu!”

 

Já faz um tempo que o paraíso estava entediante, e quando foi lançado, não recusou a boa ordem.

 

“Até logo, líder.”

 

“Tá, tá.”

 

Correndo em animação, o pequeno e não tão fofo animal vai em direção a um carro com a placa adulterada cometer um crime leve, com o peito cheio de aflição e desejo.