Capítulo 163

Bruna visualizou o disfarce de seu namorado e quase teve um ataque de riso. Não tem como negar, mas a ficha caiu quando foi presenteada com um seme genérico.

 

De boné escuro, máscara preta e óculos escuros, e toda vestimenta acostumada a ver, é sexy, porém engraçado.

 

“Todo cuidado é pouco em…”

 

Debochou, Mohammad sente o calor que não deseja, a roupa é o mais fresco possível, mas esse aparato em sua cabeça e rosto é algo a que não está acostumado a usar.

 

Nem quando saía com diversas mulheres, e os paparazzis questionavam sua ação contrária à religião.

 

Mas, para dar segurança, não deve ser explícito, e pior, cada um vai em veículos separados.

 

“Não fique triste, pense no lado positivo.”

 

Ajudou, está vestida como habitual e livre de qualquer pressão.

 

“Que incômodo.”

 

O ruim não é usar isso, mas ficar longe dela.

 

Mirando o anel no pescoço, imaginava o dourado em sua mão esquerda, fazendo-a tão bela quanto, sendo totalmente sua.

 

Domingo não é visto como o melhor, pois a segunda é igual à morte à espreita, fazendo os condenados passarem pela tortuosa semana.

 

Até os programas de TV são horríveis, fazendo compreender que é chato.

 

O plano era não sair, só que as criaturas criadas ao ardor do oxigênio e paisagem natural não aguentaram e decidiram arriscar.

 

Resolvendo dar uma volta, curtir pelo menos mais um pouco o que esse lugar tem a oferecer.

 

“Vai com Sam, Takano fará companhia, e irei logo atrás.”

 

“Tudo bem. Te encontro lá.”

 

O espaço é pela redondeza que serve a culinária típica nordestina, óbvio que não terá tudo, mas os famosinhos farão presença.

 

O intuito era ir antes, teve desejo quando saíram pela primeira vez no sábado, só que o plano foi alterado e só agora sentirão o sabor dessa verdadeira culinária, ou perto disso.

 

Indo à frente, Mohammad não usaria uma das suas SUVs e sim um modelo esportivo, que os ávidos por notícia desconhecem.

 

E mesmo que vá atrás, Sam despistará, deixando comer poeira.

 

Quando viu sair, esperou dez minutos e seguiu logo em seguida.

 

A bela Bugatti atrai atenção por onde passa. Diferente do possante negro, esse é a mistura do branco com o azul.

 

Os poucos corajosos que presenciaram o acidente de alguns colegas de serviços seguiram o que guiava Bruna, já os que ficaram permaneceram, não vendo que o verdadeiro alvo saía bem debaixo de seus narizes.

 

Usando pela primeira vez, o veículo era proibido por aqui, mas a cor de pele e seu odor de diamante não causariam uma multa ou sequer repreensão policial.

 

Falando na equipe, por ser época carnavalesca, a operação ‘Lei Seca’ habita nas principais rodovias e estradas, monitorando o teor alcoólico dos motoristas.

 

Seja um simples bombom de licor que se transformará na chance de ganhar uma multa exorbitante.

 

Portanto, cada um é cauteloso para não ser vítima dessa batida.

 

Desviando, procura estradas mais ‘vazias’ que cheguem o mais rápido possível ao destino.

 

Bruna mira a paisagem, por sair primeiro, não seria surpresa que alguns paparazzis fossem atrás de si, só que logo desapareceu pela habilidade do motorista.

 

Os que ficaram feridos ontem não possuem ferimentos graves, entretanto, não poderão fazer seus deveres pela perna machucada.

 

Os veículos de imprensa noticiaram sobre o acidente e a polícia continua atrás do criminoso, que não teve o veículo o% identificado.

 

Dando dados de uma senhorinha que nem no RJ mora ou está viva, dificultando tudo, fora que o vidro escuro impedia ainda mais sua identificação.

 

Sam, aos poucos, se acostuma que daqui pra frente a responsabilidade será sua. Sendo a maior prova de fogo, apesar da personalidade tranquila, aparentando algo ‘fácil’, esse pouco tempo mostrou o oposto.

 

Encaixando no alerta vermelho.

 

Takano mantinha a atenção ao rádio, notando várias nuances. Está calor, bem mais do que necessário. A mudança climática é um porre, logo, quando chegou sua vez, sofre pela catástrofe.

 

O RJ teve um número baixo de chuva, fazendo a seca e o ar perigosos para todos os habitantes.

 

E com umidade sufocante, fez viver no ar gelado e só saí quando necessário.

 

Nem em Dubai degustou tal requinte.

 

Como planejado, chegaram primeiro, o carro do presidente está a caminho, assim a jovem saiu na presença do segurança até o lugar desejado.

 

Por ser domingo, época propícia para a família, está lotado, precisando esperar até surgir uma vaga.

 

Dois funcionários lidavam com a entrada e saída, barrando quem deseja entrar antes da hora ou sair sem pagar.

 

Bruna é a terceira e, pacientemente, ficou.

 

O líder ao seu lado fincou para não terem contato.

 

Logo, quando marcou presença, nenhum dos dois se comunicou e a jovem manteve o fone no ouvido, sendo acompanhada por outro.

 

“Boa tarde, mesa pra dois?”

 

Perguntou uma das meninas.

 

“Sim, tem no segundo andar?”

 

“Sim, aqui é sua placa. No final, é só passar no caixa para concluir o pagamento e depois me entregar de volta.”

 

“Tudo bem, obrigada.”

 

Segurando, entraram e seguiram caminho iguais, esperando Mohammad chegar.

 

Para despistar, Takano ficaria numa mesa à parte enquanto o casal aproveita a culinária caseira.

 

Espantados, mas não surpresos, o disfarce de Mohammad não causou estranheza por ter resquícios da pandemia, e certos clientes ainda usarem máscara.

 

Os óculos não despertaram medo, dando toda liberdade para adentrar e se divertir.

 

Nem a altura alarmante deixou o público sair de suas bolhas, ignorando totalmente.

 

Contrário dela, que segurou o riso, esperou com o cardápio em mãos, o líder se distanciou, tomando um lugar em que usufruísse da culinária, mas, protegesse eles.

 

“Demorou.”

 

“É complicado andar dessa forma.”

 

Removeu só a máscara, escondendo a qualidade que são seus olhos dourados.

 

“Tá parecendo um seme.”

 

Finalmente pôs para fora, sim, esse elogio deixou animado.

 

“Já pediu alguma coisa?”

 

“Não, estou lhe esperando.”

 

“Ok.”

 

Com liberdade limitada, de frente um para o outro, toca em sua mão pintada, ousando beijar suavemente.

 

“A vida de amantes não é as mil maravilhas.”

 

“Não mesmo, não vejo a hora de pôr uma aliança e sermos o que nascemos para ser.”

 

A sua realidade parece não encaixar a de dezenas que ouvem isso, e as que conseguem acabam sofrendo após essa decisão importante.

 

O sonho da amante é ser a fiel, enquanto a fiel deseja ser tratada como amante. Sem vínculo, sem responsabilidades, apenas sexo e todas as qualidades, quem negaria tal presente?

 

Mas quando a terceira roda se transforma na principal, e infelizmente a primeira é chutada de escanteio, a felicidade dos ônus dessa relação benéfica se transforma em pesadelo.

 

Em que os infiéis procuram em outros o que o ‘atual’ perderam.

 

É igual pintar um quadrado com uma caneta em gel de glitter vagabunda, e ao passar a borracha, apaga-se totalmente o brilho, restando somente o cru.

 

Não sendo uma lei, mas vale para a regra, aquele que trai sempre fará o mesmo modus operandi com o parceiro novo.

 

Um ciclo vicioso que não existe saciedade.

 

O que será de sua vida quando pôr a aliança em seu dedo? Um sonho ou pesadelo?

 

Nem que a vida dele seja uma mentira, será que a sua será tão verdadeira ou apenas uma decoração malfeita?

 

“Mohammad.”

 

“Fale.”

 

“Será que…”

 

“Boa tarde, sou José e atenderei hoje. Já decidiram o que vão comer ou desejam esperar um pouco mais?”

 

Sem avisar, o garçom que precisa bater meta e atender o máximo possível possui um sorriso artificial para um dia que denota descanso.

 

Sem saber o que perguntaria, olhou para ele com a feição fechada, mas o funcionário está imune pelos óculos, em que apenas recebeu a gentileza da cliente.

 

“Hum… esse bolinho de rabada é feito com o quê?”

 

Proibida de comer muita coisa, a sua opção é rasa. Enquanto o outro, nada que leve porco ou frutos-do-mar sem escama.

 

“Farinha panko, para a estrutura, mandioca e farinha branca. E o recheio é de rabada e agrião e, no meio, queijo mussarela.”

 

Só de ouvir, já soube que não é para si, tendo que procurar opções mais ‘saudáveis’.

 

“Quero então, arroz pra cinco pessoas, feijão sem carne, rabada com agrião pra dez pessoas, costela bovina no bafo, couve refogada sem bacon, só no alho, e salada verde com queijo minas frescal.”

 

Vendo apenas duas pessoas, não acreditou que tanta coisa fosse pra esses dois, principalmente para ela.

 

Porém, o pedido não foi pensado nela, mas em seu companheiro que come por três búfalos famintos.

 

“Ah.. Aipim frito.”

 

“Algo pra beber, senhora?”

 

“Quero um guaraná diet e uma coca normal.”

 

Sim, sempre há um equilíbrio no final, o garçom se despediu para enviar o pedido enorme que terá auxílio de outros colegas.

 

Bruna não precisou pedir, apenas soube como fazer igual a uma esposa falando por seu esposo. Mohammad relaxou, segurando sua mão e alheio a tudo.

 

A interrupção da conversa não voltou em sua boca, dando foco à decoração que relembrava uma casa feita de barro.

 

O nordeste é sempre visto como algo pobre, com paisagens belas, igual ao RJ, que logo vem à mente a criminalidade e o funk.

 

Mas, um dia, deseja que esse estereótipo caia e mostre o outro ângulo que não encaixe com o que foi pré-definido por outros estados um tanto xenofóbicos.

 

Foi graças a esse povo que ninguém sofreu outro regime de terror por mais quatro anos.

 

Logo, agradece pela remoção da corda no pescoço.

 

Takano também fez seu pedido, para não soar suspeito. Seu traje é simples, sem o famoso terno, dando ar de um turista e não de segurança.

 

“Está tudo bem?”

 

“O que?”

 

“Sinto insegurança de sua parte.”

 

“Um pouco. Às vezes me pergunto se sou apenas um interesse passageiro, em que assim que casar serei abandonada para encontrar outro protótipo semelhante a mim.”

 

A desconfiança é comum, em igual nível, em casais em situação normal, é comum, o futuro tende a ser diferente do passado, onde o ontem não equivale a nada.

 

Ao contrário, que se mostra tão escuro quanto um pano denso.

 

“Eu te amo, não terei outra a não ser ti. Se quiser, posso terminar com Latifah.”

 

A resposta é desejada e doce, que qualquer amante desejaria ouvir, remover a atual e ficar em seu lugar. Seria a opção certa, mas… a correta?

 

“Não… não dá, como falou, precisa infelizmente de você. Então, não abandone.”

 

Em situação normal, o seu plano era deixar nas mãos do velho, e Hana seria a escolhida, porém, Mohammad calculou ser um péssimo investimento, como se o futuro fosse mais tortuoso com a mais nova do que com a mais velha.

 

E mesmo não rendendo nada, Latifah vem sendo uma mão na roda, em que seu matrimônio capturou mais ativos que passivos.

 

Assim, previu o filho que deveria vir de Bruna, ser de Hana.

 

“Jamais consideraria aquilo como meu sangue.”

 

Com certeza, ela não estaria no livro dourado e essa criança seria um ninguém, provavelmente, um escravo de seu verdadeiro herdeiro e filho.

 

“Por que incluiu mais três suítes na casa principal?”

 

“Intuição.”

 

Ao ouvir o atrevimento, não foi contra ou adulterou, o quarto de Latifah é o último, enquanto os três esperavam serem ocupados.

 

O poder de adivinhação é fatal.

 

Esperando dez anos ser concluído, no qual terminou saindo como planejado.

 

Não só casará, mas terá filhos de seu grande amor, os quartos que eram inúteis terminaram sendo ideais.

 

“Tudo bem.”

 

O amor tende a ser argiloso, escolhemos por quem sentimos atração, mas não quem amamos. Sendo a trajetória reta ou cheia de curvas.

 

Esperou um longo tempo para conhecê-la, e agora tem vários obstáculos à sua frente.

 

O pedido demorou um pouco, mas chegou, o cheiro maravilhoso e o calor em seu peito são iguais à comida caseira.

 

Não importa o preço absurdo ou a decoração de cada empratamento, restaurantes assim são casa de vô e o número um para qualquer pessoa.

 

Os olhos cintilantes para inúmeras opções e com boa porção, não foram indelicados e serviram primeiro à esposa, colocando o que gosta, focando nas proteínas e fibras.

 

O local oferecia linhaça e chia, para incrementar para os amantes ou em dieta específica.

 

Um pouco de rabada, com bastante agrião e uma costela de boi gorda, dando água na boca.

 

Lentamente, Mohammad vai sentindo que a culinária brasileira não é tão horrível assim.