Capítulo 168
Bruna, que seguiu a criança, viu algo inusitado, observou a figura do seu passado quando tinha apenas seis anos, vestindo apenas uma calcinha infantil branca coberta por desenhos de nuvens azuis claras.
E sabe o motivo, depois de tomar banho, sua mãe a vestia desse modo para dormir, e ficava assim na residência e também no antigo beco que reunia várias mulheres, inclusive a filha mais velha da avó de seu amigo de infância.
E pelo simples fato do Wellington morar com a avó em vez da mãe, sempre saia de casa e de pés descalços descendo o pequeno lance de escada que era de frente para antiga casa, para cumprimentar a todos que sabiam desse ato desde que soube andar.
Sendo retirada de seu antigo lar durante o sono, mirava a forma medrosa, convencendo-se do quanto ruim foi essa qualidade.
“Mohammad, o que estou fazendo aqui?”
Lançou ao parceiro que está tão confuso quanto, saber de algo ocultado não é fácil, ver Bruna aos seis anos, daquela foto, deixou dolorido.
Não apenas o eu de agora, mas o do passado, havendo a mistura de dúvida, alegria e dor.
Caso aquele monstro encontre, cumprirá o prometido. Desse modo, não foi cruel, e sim bondoso e cuidadoso com seu verdadeiro amor.
“Você está bem?”
Disse, de feição assustada, e se agachou para ficar igual. Porém, a menina que desconhece tudo está pronta para chorar sem a presença dos pais.
“Está tudo bem, não precisa chorar. Não farei mal, prometo.”
Apesar disso, Bruna tem o mínimo de consciência em não dialogar com estranhos. E por não reconhecer, procurou por sua mãe, mas esse tipo de casa, com banheiro enorme, não sabe onde achar.
Nisso, o maior temor dele aconteceu, a garotinha começou a chorar porque estava assustada demais para receber a voz amorosa desse desconhecido.
“…”
“Cadê minha mãe? Quero minha mãe… pai….”
É baixo, como se soubesse que não poderia ser escandalosa.
E, sem perceber, foi até lá e abraçou, confortando.
Só tinha um pouco mais de um metro, baixa o suficiente para a idade, batendo em sua cintura. Segurando o choro de um filhote que perdeu a mãe, o apavorou por não saber o que fazer.
E, quando notou, algo quente tocou seus pés descalços. Ao olhar, viu ser urina pelo medo de estar aqui. E mesmo com a fobia, não ligou em pisar e fez como qualquer pai faria para acalmar uma filha.
Ergueu-a em seu colo e pousou sua cabeça, é leve, não há ponto de ser desnutrida, mas magra como qualquer um com esse biótipo, e a ninou com a canção ‘You are my Sunshine’.
Servindo para acalmar desse pesadelo dourado, que soluça e o ranho escorre, melando a túnica pura, só queria acalmar de alguma forma e assim parar de doer.
O casal observa a ação, espantados, a mulher teve seu coração aquecido.
“Ah, lobo mau. Era tão carinhoso, seria um ótimo pai e irmão.”
“Quando tivermos nossos filhos, vou cantar essa canção.”
“Que coisa mais fofa. Dá até vontade de abraçar.”
Foi o que fez, seu pequeno corpo envolveu um bem mais alto que sua antiga versão, e acolheu e beijou sua testa e bochechas, fazendo rir.
“Eu te amo muito. Sempre te amei e amarei.”
“Eu sei.”
Disse em retribuição, e tudo bem, já a tem e, com o passar do tempo, terá seu amor. Enquanto isso, basta ficarem observando esses seres de mundos diferentes que moram no mesmo planeta.
Não importa qual divindade trouxe até aqui, mas já é o bastante para saber a verdadeira história desse amor tão violento.
“[…]You are my sunshine, my only sunshine. You make me happy when skies are gray. You’ll never know dear, how much I love you. Please, don’t take my sunshine away.[…]”
Quando terminou a última estrofe, o choro se transformou em soluços e o barulho característico do nariz entupido é audível. Quando percebeu, já estava um pouco mais calma, perguntou com toda doçura e delicadeza sobre seu estado.
“Eu… eu… Cadê a minha mãe?”
“Virá daqui a pouco, tudo bem?”
“Ela tá no hospital?”
Mohammad, que não sabia nada da vida dessa pequena, perguntou o que a sua mãe fazia.
“Ela trabalha….. Ela trabalha no hospital de noite….”
“É… está no hospital.”
De repente, sentiu um aperto grande por estar enganando, nunca teve problema e a mentira era seu maior aliado, mas quando queria ser direto, sua sinceridade era mais fatal que um tiro na cabeça.
No entanto, utilizar um artifício essencial para a vida que leva machucou muito, como se tivesse cometido um crime grave.
“Desculpa, desculpa. Não quero mentir, mas se for preciso para ficar comigo, não tem importância sentir esse espinho.”
“Ela vai voltar amanhã?”
“Sim, pediu pra cuidar de você daqui por diante.”
“…”
“Está tudo bem ficar comigo?”
“…sim”
Maturando essa confiança, achou que isso foi o estopim por sofrer aquele trauma todo.
Confiava rápido demais, deveria ser o oposto.
Mohammad tem a mesma opinião e ficou preocupado. É normal as crianças confiarem nas pessoas devido à sua inocência e falta de maldade, acarretando sempre tragédias.
Por isso, os pais têm que incentivar a serem desconfiadas com tudo ao seu redor, isso inclui parentes.
O que não passou despercebido foi o tom de pele, sendo mais escura do que atualmente, não chega a ser retinta, mas é proeminente que o tom pálido.
O subtom quente faz o amarelado dar destaque maior, expondo claramente a categoria de ‘morena escura’ ou negra clara, diferente de sua irmã que é uma morena média.
Visto nesse momento, o subtom dá charme a mais, um tipo de qualidade extra que a deixa com fundo assim, combinando com o tom escuro.
E isso é lindo, caso pegasse sol, ficaria bem escura, se aproximando do retinto. O que deixou eufórico e encantado.
Seu braço toca o molhado de xixi, é gelado, com odor forte de ureia e isso já é o motivo suficiente pra jogar essa pequena criatura pela janela, mas o que predominava era o cheiro de bergamota com o fundo floral.
Não sabe como, porém, seu olfato sensível percebe, causando um efeito calmante natural.
“O que acha de ir tomar banho? Em?”
“Mas já tomei banho, tomei antes de ir dormir.”
Relatou, lembrando da mãe mandar vestir seu ‘pijama’ e ir dormir.
“Sim, sei. Mas já é outro dia, e sua mãe pediu para dar banho em você, e também mijou nas calças, precisa trocar isso. Tudo bem?”
“Hum… não vou ir para a escola, não? Quero ver a Pamela.”
“E.. Hoje não, vai ficar aqui comigo agora. Pamela é sua amiga?”
“Sim, é minha melhor amiga e estudamos na mesma sala.”
“Ah, entendi, por enquanto ficará sem a ver até ajeitar tudo, depois posso levar até lá e brincar com ela.”
“Hum….”
“Tudo bem, tudo bem. Não chore, vai vê-la de novo. Tá?”
“Tá.”
“Vou levar ao banheiro para tomar banho, ok?”
“…”
Em seu colo, caminham até o banheiro, pesava igual a uma folha sulfite e logo concede algo sagrado para ele.
E, mesmo pisando na pequena poça, foi até um canto em que estivesse seco e perguntou onde queria se banhar.
Sem contato com nada disso, foi em direção à enorme banheira de mármore e ficou maravilhada com a dimensão.
“Posso tomar banho nessa piscina?”
Controlando a vontade de rir, o rastro de lágrima é nítido, mas em vez de ser choroso e assustado, é tímido e curioso, o que tornava mais fofo ainda.
“Quer tomar banho aqui?”
“Sim, posso?”
“Claro, vou encher para usar. Gosta de espuma?”
“Espuma de sabão?”
“Sim, aqui tem uma coisa que faz bastante espuma. Quer ver?”
“Quero!”
“Vou pegar, fica aqui me esperando e não tire nada agora, tá?”
“Hum-rum.”
Confirmou antes de sair, ligando o sistema da água bem morno, já que não aguentaria a temperatura quase congelante.
E, pelo receio de desaparecer, confirmou se é real ou apenas delírio de sua mente viajada.
Após a confirmação, saiu e pegou o interfone, ligando para o único que confirmaria o silêncio.
Ahmad, que veio com Mohammad, está em sua mesa de estudo fazendo o trabalho de casa. Era o único empregado que dormia no território da mansão, seu quarto é semelhante ao de empregadas.
Simples, com uma cama de solteiro confortável, um armário com uniformes escolares e sapatos sociais que deviam ser engraxados diariamente.
Seu uniforme de trabalho é igual ao de mordomo e tem pouquíssimas peças de roupa para dormir.
Tudo bem organizado, mantendo o padrão exigido pelo patriarca Haroon, e principalmente Mohammad, que tem TOC grave.
Uma mesa de estudo com computador de última geração, uma impressora da Apple lançada em 95 que imprime cópias coloridas, e vários livros de diversas matérias e atividades extracurriculares que são tão importantes quanto as obrigatórias.
Tudo nesse pequeno cômodo vale uma fortuna.
Principalmente as mensalidades altíssimas, livros, roupas e alimentação.
Tudo é incluso, como se de fato fosse filho do Sr. Haroon, mas é apenas um empregado, na realidade um escravo.
Um escravo eterno de seu filho.
Assim, tem a ‘vida de rei’, seis refeições ao dia, uma água quente ou gelada para se banhar, uma cama para dormir, um teto para morar e segurança de sobra.
Todavia, por debaixo dessa boa vida, esconde-se uma miserável, sujeitando-se a obedecer alguém que é mais novo, sofrer torturas diárias, ser punida por nada, ver todos os experimentos em animais indefesos para sua pesquisa louca por ser um amante em criar venenos.
Se mata de estudar e ser o melhor nos esportes para estar ao alcance de seu dono e… ser atendido por um médico quando for necessário.
Não era o estipulado, e sim um veterinário, o Dr. Schneider.
Pois não é ‘humano’ e sim, um simples cachorro.
E um animal tem que ser tratado por especialista dessa área, e só faz exames para verificação anual e checar se ainda é apto a servir, caso não, é dispensado ou morto.
E precisa seguir uma dieta especializada, porque deve ser saudável o suficiente para não morrer.
Enquanto quebrava a cabeça com o exercício de física, matéria que odiava, ouviu o interfone tocar.
Sabendo muito bem que não é o Sr. Haroon, já que nunca comunicou para nada, é cachorro do filho dele, o máximo que faria é o respeito e ficar o mais invisível possível, já que sua presença incomodaria as visitas e daria um ar ruim nessa casa luxuosa.
Quando toca, tem que atender, não passando de cinco segundos.
“O que posso fazer, jovem mestre?”
[Venha, traga a espuma de banho, as essências de rosa-branca e bergamota, o creme de pentear de meu pai e os produtos de limpeza para banheiro.]
“Sim, jovem mestre.”
Ao desligar, voltou para o banheiro, onde a menina manteve a posição admirada por ver uma banheira pela primeira vez.
Pelo que soube filtrar de Samir, Bruna é pobre, não passa fome e possui conforto para dormir, e gosta de ver TV e ler livros.
Entretanto, não possui muitos brinquedos, roupas da ‘hora’, e brinca na rua com suas amigas que moram na mesma comunidade.
Os pais são empregados para manter a casa e os três filhos que necessitam deles, assim, quase não têm nada.
E com a presença da mais nova, a qual é um bebê de um ano, precisa receber o cuidado necessário enquanto os filhos vivem à sua maneira.
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Capítulo 168
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...