Capítulo 171
Já é o quinto corpo jogado no poço abandonado.
Antigamente, quando chegou, não entendeu a razão dessa criação, parecia apenas um pedido caprichoso de uma criança rica, mas depois de cinco anos soube para o que realmente foi criado.
O motivo é agora, onde Ahmad eliminou o último segurança.
Todos trabalhavam para o Sr. Haroon sendo sua guarda de elite. Cada um tinha uma função e eram os principais que comandavam a mansão.
Com a morte deles, ficariam sem um guia para obedecer, estando à mercê do novo patriarca.
Assim como Mohammad, o servo é avançado para sua idade. Sua altura de 1,70 cm se adaptou a situações extremas, torturas que beiram a insanidade e um treinamento árduo idêntico ao de um mercenário se preparando para uma missão que não sabia quando chegaria.
Foi através disso que eliminou esses que são mais fortes e tinham experiência de sobra.
Não foi difícil, mas dizer que foi moleza é uma grande falácia. Lutar com eles foi o teste final para finalmente ganhar seu selo de cachorro oficial.
O que provou com eficiência, a bala que atingiu o ombro esquerdo foi removida sem muito esforço, igual a um arranhão, e depois jogada no buraco.
Perdeu a sensibilidade à dor, não precisava mais dela até ser punido novamente.
A máquina de fazer concreto já fez seu trabalho e é lançada para dentro do poço, e assim, encerra um antigo ciclo e começa um novo.
“Não combina com ‘Dog’, vou te chamar de ‘Pudim’, tá bom? Pode me chamar também de ‘Bubu’, minha mãe me deu esse apelido.”
“Talvez não seja tão ruim ter uma nova dona.”
***
“Nós vamos ir a onde?”
Bruna está sentada na cama, enquanto seu novo amigo coloca o tênis em seus pés, que eram bem pequenos e delicados. Iguais à princesa, e combinou muito com o look, como imaginou diversas vezes.
“Não quer ir ao McDonald’s? E também vamos a várias lojas comprar algumas coisas para usar e brinquedos também.”
“Posso pegar a Barbie?”
“Sim, pode comprar a casa e tudo que sempre quis.”
“Ahhh!”
Já é tarde, o sol das 15h iluminava esse país quente demais, não era oportuno para o turismo pelo clima sufocante de setembro.
Assim, precisa ter todo cuidado, é uma criança que não está habituada a isso, portanto passou uma camada grossa de protetor solar e pegou um chapéu seu para não sofrer com esse tempo tão castigador.
“Me trata tão bem, é igual à Mel. Ela cuidou de mim, depois que minha mãe brigou com a última mulher que ficava comigo e meu irmão.”
“Por que brigou com ela?”
“…”
É recente, ainda assim, a memória é fresca de todos os maus-tratos que sofreu, logo, não queria falar porque ainda dói, e muito.
Bruna, que olhava o silêncio com um semblante triste, entende bem o que de fato aconteceu. Ter tirado de lá e salvado de algo pior foi a maior prova de amor existente.
E também é muito grata ao seu irmão, se não fosse ele, com certeza seria pior.
Mohammad previu como mar sem sujeira, e por isso queria saber.
“O que aconteceu para sua mãe ter brigado com a mulher que cuidava de vocês?”
“Será melhor ouvir isso do meu eu quando criança.”
Sem a resposta, esperou o relato vir da boca dela e não demorou muito para questionar.
“O que aconteceu para sua mãe brigar com essa pessoa?”
“Hum… Não sei se posso falar….”
“Está tudo bem, pode falar, não está aqui para fazer nada, ok?”
“Pode mesmo?”
“Claro, assim como sua mãe, estou aqui para te proteger de todo mal.”
“Minha mãe e meu pai precisavam trabalhar, e não tinha ninguém para ficar comigo até quando meu irmão chegasse. Breno estudava de manhã e eu ia pra a creche, e depois essa mulher ia pegar e ficávamos esperando até minha mãe voltar pra casa.”
“…”
“Só que… não gostava de ficar lá, não deixava brincar, não podia ver TV, e ficava sentada no chão o tempo todo….”
A fúria preenchia a barrinha, com o relato desse que não merecia tal coisa, era quase o mesmo tratamento que dava ao seu escravo.
Não podia sair, ficava sentada no chão de cimento no escuro, comida fria num prato de alumínio, igual a um animal.
“Você chorava?”
“Não podia chorar, se não me batia, e me obrigava a comer tudo, e se não comia, brigava comigo. Com meu irmão era diferente, ele podia brincar, via TV e comia na mesa.”
“…”
“Aí teve um dia em que minha mãe chegou cedo do trabalho e me viu naquela situação, era escuro, nunca acendia a luz… aí ela discutiu feio e me tirou dali.”
Bruna, ao escutar sobre o trauma vivido, recorda-se das lágrimas da mãe pela culpa em permitir essa crueldade com sua filha. E prometeu não fazer uma segunda vez.
Até hoje, mesmo com vários relatos, não sabe o motivo de ter feito isso, já que nunca causou nada e sempre foi calada e obedecia às ordens.
As duas versões tiveram seu coração atingido e um ódio sem precedentes.
“Por que não contou?”
“Não havia necessidade, saí de lá e nunca mais voltei. E fiquei sendo cuidada pela mãe do meu cunhado, é um doce comigo, parecia que era filha dela, gostava muito.”
“Ele te salvou?”
“Sim, presenciou os maus-tratos e contou para minha mãe, que propositalmente saiu mais cedo do trabalho e pegou no flagra. Nunca a vi tão furiosa como naquele dia, chorou muito quando saímos de lá.”
“Enquanto essa mulher? O que aconteceu?”
“Morreu, a filha está viva, mas até o último fôlego de vida, nunca olhou ou direcionou a palavra. Sei que não tem nada a ver, porque nunca fez nada comigo e era uma criança, mas dona Eliana, quando pegava ranço, era bem rancorosa.”
“Cordeirinho….”
“Tá tudo bem, já passou. Não precisa ficar triste, e aí, explique por que fez aquilo com seu pai?”
“Quer saber o que realmente aconteceu ou o que está sendo mostrado aqui?”
“Os dois.”
Ao relatar, juntou peças do passado e presente, originando o futuro atual. Gostaria muito que acontecesse isso, mas foi preciso esquecer para proteger.
“Qual resposta?”
“Parece absurdo, mas te conheci antes mesmo de ter noção sobre mim.”
“Como assim? Está dizendo daquela vez que…”
“Não, muito antes. Em 1998, foi o dia em que te vi pela primeira vez, na realidade, uma fotografia sua. Conhece Samira ibn Samir?”
“Samira, quê?”
“Ela morava numa casa enorme no Grajaú, em frente à praça da Sá Viana, e tinha um filho de cinco anos.”
“Samira… Samira… Sá Viana… filho de cinco anos… ah!”
Instantaneamente, a lâmpada acendeu. Havia uma mulher gente fina cuja mãe era diarista, limpava e fazia comida.
Foi dali que experimentou nhoque de batata.
Era muito gentil, deixava ver TV, lia os livros que pertenciam ao filho dela e brincava. Também tirou algumas fotos, só que depois não sabe de mais nada e não lembra onde foi parar.
“Sim, a tia Samira. Gente finíssima, tratava muito bem, o filho dela quase não ficava em casa porque fazia várias coisas, mas quando estava… era um furacão… doce época.”
“Foi através dessa fotografia que a conheci. O falecido amigo do meu pai trouxe e me apaixonei à primeira vista. No entanto, meu pai descobriu e forçou a apagar sua existência na minha cabeça, se não, faria algo horrível.”
“…”
“Logo, sua foto foi queimada, tive que guardar todas as coisas que comprei num baú com o bloco de desenhos.”
“E como me esqueceu?”
“Acho que meu cérebro funcionou igual ao de quem sofre um trauma muito forte, e para se autoproteger, meio que oculta o que lhe causou isso, como se nunca tivesse acontecido. Agora entendo por que tive uma queda pela antiga empregada do meu pai.”
Parece que seu sistema é mais esperto que o próprio, defendendo o item valioso, sua joia desse garimpeiro e sua trupe bizarra.
“Não vem dizer que o primeiro encontro ‘sexual’ foi com ela?”
“Não. Se assemelhava em muita coisa, como ver o corpo adulto nela… não foi uma simples atração, meio que uma ‘paixonite’, já que parecia muito. Mas acredito que tenha descoberto e deve ter sumido com o corpo dela. Nunca mais vi.”
“Poxa, coitada… estava na hora e momento errado, seu pai era uma pessoa tenebrosa. Mas sou grata, obrigado por me proteger.”
“Eu te amo muito, se não fosse por isso, iria até você, sabia? Tinha um plano de ir para o Brasil nas minhas férias escolares para te encontrar, e levaria todas as coisas que comprei e passaria um tempo até voltar de novo e deixar tudo pronto quando chegasse.”
“Tá… tá….”
Já é quase hora de acordar, os dois, que vislumbravam um passado distópico, começaram a entrar em colapso.
Sabiam que era para sair dali, e como um bom marido, pegou sua esposa no colo e abriu a antiga porta, onde deu acesso ao seu passado em Londres.
Só que a cama está vazia como se nunca tivesse acontecido nada e, quando abriram a última, chegaram ao quarto, na mansão que adotaram como casa de verão.
É diferente, o calor predomina.
Ao colocar na cama com a fragrância deles, disse o que habita em seu coração e desejo à flor da pele.
“Quero fazer amor com você agora.”
Seu peito esquenta e um frio invadiu seu estômago, fazendo-o flutuar como milhares de borboletas, igual ao céu… o amor.
“Quando acordar, estarei pronta pra isso.”
“Tudo bem.”
Ansioso para despertar.
“Eu te amo, vou amar por nós dois, ok?”
“Tudo bem. Não esqueça, tá?”
“Sim.”
Quando se beijaram, despertou de seu sono.
Voltando, dessa vez, a jovem estava ao seu lado em sono profundo e já era dia.
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Capítulo 171
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