Capítulo 173
“[…]Estou de volta pro meu aconchego. Trazendo na mala bastante saudade. Querendo um sorriso sincero, um abraço. Para aliviar meu cansaço. E toda essa minha vontade[…]”
Ao som de Elba Ramalho, em um show ao vivo com a participação de Dominguinhos, fez o peito embalar numa atmosfera diferente do costumeiro.
Bruna, que há tanto não sabe dançar, a não ser quando bêbada, agora é guiada num forró melodioso, tratando de um romance com carga pesada na saudade.
O casal está na sala principal depois do almoço, um último antes de partir, o sabor de sua comida permanecerá por um longo tempo em seu paladar, como residual de sua boca e corpo.
“Eita, tô vendo que esse cowboy deseja prender essa prenda.”
“Nossos caminhos foram cruzados antes de querermos, é claro que farei isso.”
“Tá bom.”
Mohammad deseja que esse curto período traga excelentes notícias, espera um dia despertar e receber a mensagem de que está grávida.
E mesmo sob o regime programado, desistirá e correrá para seus braços e compartilhará essa alegria.
“Tudo bem. Quer andar de moto?”
“Aquela que o Sam pilota?”
“Não, uma bem mais segura.”
“Claro, vamos zanzar por aí e tomar sorvete.”
“Tá bom.”
Para isso, precisa colocar seu disfarce e ir até a garagem particular.
***
O vento forte e gostoso, proporcionado por um veículo veloz, está batendo em seu rosto protegido por um capacete preto, e suas mãos não estão segurando a garupa, mas envolvendo a cintura de seu namorado.
Sim, oficialmente se acostumou com esse status.
É ao contrário de um velho de 65 anos, que ama andar sem um capacete e desrespeita as normas de segurança, seu parceiro está equipado corretamente e respeitando o limite de velocidade.
Causando segurança e adrenalina na medida certa, saíram à tarde, quando a loja está aberta, e para agradar seguiram em travessia ao túnel Rebouças.
Bruna recorda quando tinha 22 anos, afundada no cristianismo na antiga congregação, onde possuía um breve crush por um homem mais velho, que tinha pinta de playboy, e possuía uma moto negra quase igual a essa.
E quando foi para o luau com os membros, estava no ônibus alugado, na janela, vendo-o andar em sua moto, imaginando como seria ir junto, segurá-lo do mesmo jeito que faz agora.
Só que, não foi daquela vez, e experimentar depois de quase dez anos está sendo a melhor sensação de todas, então valeu a pena não ir naquele dia.
O visor de seu capacete está aberto para sentir o fenômeno invisível, e ver a paisagem ao redor que se transforma em vultos, enquanto seu parceiro fazia o oposto e, pela segurança, deixou baixo, desviando fenomenalmente as pequenas brechas deixadas entre carros ou transporte público.
Não causando medo e sim, um frio gostoso e um dia, quem sabe, fazer o mesmo quando estiver em Dubai, sabe que as paisagens de lá devem ser tão marcantes quanto aqui.
Com o cabelo molhado, balança ao vento, passam pelo túnel sofrendo outra sensação.
E mesmo controverso, a realidade que muitas queriam passar é o fato de ter esse momento com alguém que a ama, e sentir o calor através da camiseta branca com seu perfume maravilhoso.
Como se ter um namorado, garantisse todas essas seguranças de modo viável, promovendo esse prazer incomparável.
Talvez não seja tão ruim ser comprometida.
Não quando pensa ter sofrido aquele horror à maioria da vida, e observando que foi apenas uma colheita pelo mal que fez a outras pessoas.
E nesse instante, está pegando os louros que semeou durante a depressão.
Não tem como não atrair olhares dos experientes, por isso, quando viam a Harley, viam a surpresa e admiração por ver essa beleza em suas vistas.
É a semana de carnaval e está mais colorido e alegre. Tomar sorvete bem chocolatudo é tudo que precisa, enquanto afunda em outras delícias oferecidas.
Disfarçando, percebe que está bem triste, como se nunca mais fossem se ver, como se esse romance fosse igual às férias de verão, que terminam assim que se aproxima o outono e sente frio na solidão do inverno.
Sabe que não será inverno quando o visitar, porém, se resistirem, deseja curtir o verdadeiro inverno.
“Mohammad!”
Gritou, pela rajada de vento proporcionada pela velocidade.
“Sim.”
“Quero ir para a Argentina em junho.”
“Curtir o inverno?”
“Sim, quero ver neve e ficar em frente à lareira bebendo chocolate quente.”
“Tudo bem. Depois que terminar o aniversário de Latifah, levarei para passar um tempo e voltaremos no dia 25.”
“Ok.”
As eleições foram bem conturbadas, e a antiga não tão boa liderança deu origem a uma duvidosa e horrível revelação de que o desespero, nos faz ignorantes, acreditando que o fim do arco-íris terá ouro, mas a desgraça só está começando.
O Brasil passou por essa febre louca, e agora, recupera o que foi perdido bem antes do antigo governo tomar posse.
Óbvio, esse governo ainda não se alinha tanto aos pobres, pois, há uma distribuição torta entre a burguesia e o proletariado.
E continuará assim até a classe trabalhadora remover a venda e romper os grilhões e lutar com sangue, mostrando quem realmente sustenta esse país.
Socando o ‘brioche’ no cu dessa elite maldita.
A felicidade é notável, pelo pequeno retrovisor soube que é seu sonho sentir esse fenômeno que cansou de presenciar.
Vendo que a pobreza tem suas qualidades, transformando algo tedioso em único.
E falando, no mês seguinte, o calor intensifica, a primavera estoura, trazendo desidratação e insolação.
Portanto, precisará cuidar quando estiver consigo.
E, como é sensível, garantiu que, por onde passar, será fresco, e, caso tenha um surto, não medirá esforço para receber o tratamento adequado para esse problema.
Ao sair do túnel e descer para o Rio Comprido, entranhou-se um nervosismo que passou e seguiram reto pela Praça da Bandeira, chegando na Tijuca.
E fará o mesmo caminho que 608 para acessar o Grajaú, mas logo pegará a estrada Grajaú/Jacarepaguá.
Mas…
“Me leva antes na praça?”
“Tudo bem.”
O ponto de partida quando suas vidas se cruzaram definitivamente e, esquentou em citar o destino.
Sendo tão importante para si quanto para ela.
O bonitão já saiu da mente daquela parte, mas não de seus corações e, usando todo aparato para ‘impedir’ a identificação, seus rostos viraram para mirar quem engatou um romance.
A aposta de alguns e decepções de outros.
Quando a moto estacionou perto da praça, uma sensação esquisita inundou. Foram apenas semanas, mas parece anos, onde tudo começou.
E que nesse instante, depois de cinco semanas, voltaram para o ponto que iniciou separado, agora estão juntos de mãos dadas. Ainda lembra a feição de contragosto quando veio falar com ela, chegava a ser engraçado.
“Que tal aproveitarmos esse momento e conversarmos?”
“Por quê?”
“Será divertido, e gostei do seu jeito, e queria isso.”
“Não falo com estranho.”
Isso fez morder a língua a tal ponto que morreria de hemorragia, e que está de mãos dadas com esse ‘estranho’ que desejava evitar.
E juntos foram para o lugar que iniciou tudo, essa versão melhorada do JJ está sendo a melhor coisa, que faz bem para a mente, corpo e alma.
Mas, em vez de sentar em sua cadeira, puxou-a e obrigatoriamente a fez ficar perto dele. E aqueles que acompanharam esse casal presenciaram que esse relacionamento evoluiu para um nível que nem especulavam.
São opostos, ainda assim, são mais fortes juntos do que separados, como a panela que encontrou sua tampa, o outro par de chinelos e carne e unha.
“Nosso relacionamento mudou, sua irmã tem um celular novo e você continua a perambular com esse dinossauro nas mãos.”
Zombou de seu celular, um guerreiro incompreendido.
Riu dessa analogia e não sentiu ofensa alguma, e sim, entende que é antigo e já clama para ser substituído, e muitos passaram por sua mente, e foram até apresentados alguns modelos bons que o famigerado iPhone.
“Deixa meu saudoso amigo, quando der, mudo para uma versão mais ‘galinha’ possível.”
Essa brincadeira de evolução deixou palpitando. Nunca imaginou que se relacionar com a nerd fosse mais divertido que milhares iguais a ele.
“Sinto vontade de pegar esse ‘frango’ e fazer um assado numa lata de lixo.”
“Hahahaha, não se preocupe, quando menos perceber, já estarei com modelo novo.”
“Sei…”
O beijo no rosto foi a prova de que não perdurou na amizade, algo que ansiou fazer assim que mirou e teve, sem levar bronca ou um tapa.
Aquele tigre foi fácil de domar, agora é permanecer ao seu lado.
A dama propôs um passeio interessante a várias partes, que um dia foram palco de seu passado fogoso.
“Só falta a saia rosa e uma calcinha pequena para ficar perfeito.”
“Não sou tão sem noção quanto antigamente, naquele tempo vivia o final da adolescência e o início da fase adulta, então essa parte só deve ser revelada em privado.”
“Por que as safadezas não permaneceram quando é minha vez?”
“Nem parece aquele que odeia escândalo ou manchar a própria reputação.”
“Não ligo, quero uma saia com a calcinha pequena.”
“Não seja mimado.”
Logo, revelou para esse marujo de primeira viagem os lugares que colecionou boas recordações, que agora doem muito, pela culpa que sente.
E, em cada espaço, o turista ia marcando território que era de outrem, e sendo um dia com grande risco de ficar estampado como assédio sexual ou atentado ao pudor, na verdade estava semelhante a adolescentes que iniciaram um relacionamento amoroso.
Similar a um casal escrito na linha torta de Deus, é o encontro perfeito entre dois polos opostos, a nerd e excluída com o capitão do time de futebol americano.
Sim, uma coisa que acreditou que nunca aconteceria acabou existindo no mundo real, onde cada um tem idade o suficiente para dar sermões nesse tipo de casal.
E o passado e presente se juntaram, onde algo que mantinha em segredo com seu segundo namorado é aproveitado em que a escuridão ocultava.
Feita a claridade, sem qualquer medo de serem vistos, como se isso fosse para ficar e ser mais claro que água cristalina.
Portanto, fez outro pedido como retratação histórica pelo malfeito à outra vida.
E, de alguma forma, pedir perdão e oferecer uma pequena parte do que lhe foi roubado, sabe que não será o suficiente para limpar toda a mancha escura que fez, assim, precisava da ajuda dele.
Entendendo que vai lhe afetar lá na frente, como banco cobrando a dívida com juros altíssimos.
“Queria pedir uma coisa, algo que tenho que fazer para, pelo menos, reparar uma pequena parte do erro que fiz há muito tempo.”
“Fale.”
“Queria que encontrasse o Marco e que retirasse um valor mensal de minha conta. Caso não esteja mais presente, que essa carta seja entregue para o parente mais próximo e que esse dinheiro vá para essa pessoa, ok?”
“Ainda dói o que houve no passado?”
“Sim, e isso ficará pelo resto da minha vida, infelizmente. Odeio o meu eu antigo, fui mesquinha, má e orgulhosa.”
“Cordeirinho…”
“Não pensei nele quando resolvi terminar, tinha acabado de perder o irmão e precisava de apoio, era a única nesse momento. Só que… pensei em mim e na dor causada no antigo relacionamento.”
Compreendeu o erro, não importa o tempo para curar a ferida, mas é o certo.
Entretanto, o seu machucado destruiu outra vida.
“Tudo bem, não precisa se preocupar, ele está bem, ok?”
Aliviou seu coração culposo.
Os passos não condiziam com o gênero, e sim um próprio sem nome, mas lindo. Talvez seja a paixão nos primeiros momentos, em que é forte e arrebatador, e dizem que com a intimidade isso cai por terra.
“Mas já não somos íntimos?”
Questiona, que já arrotou e peidou, fora que tiveram dezenas de embates e situações raivosas a ponto de queimar o sentimento rosado.
E nada, continuam inteiros e dançando algo que expressa o que vivem.
Logo, a canção é mudada para outra da mesma artista que é a favorita.
Escutava sempre que podia, e quando esquecia o algoritmo ou a força do universo, voltava a lembrar, entrando num infinito que aquece.
“[…]Quem sabe o destino, ainda vai juntar. O céu e o mar, eu e você…[…]”
Desafinada, mas mascarada pelo som alto, Mohammad entendeu o que quis passar. Realmente, a liberdade dela o prendeu numa gaiola que planejou para esse pássaro.
E espera que seu amor, seja igual ao dele.
Tão forte que a linha do tempo é incapaz de apagar.
E pegando, começou a girar igual à lua ao redor da terra, um sem o outro causa desequilíbrio, devendo ficar juntos, para que todos possam sobreviver.
“Hahahaha… vou ficar tonta!”
“Não vou soltar!”
“Mohammad! Seu…..!”
Charlie, que navega pela mansão, vê a interação e vem em sua cabeça uma poesia romântica.
“O amor é lindo.”
Repetiu em francês, o destino lhe deu a chance de amar, mas a covardia fez perder o que um dia deu valor. Agora, é brincar com quem queira brincar enquanto afunda sua frustração num copo de cerveja.
“Minha vida é um eterno sertanejo brega.”
Deu a volta, procurando algo para deglutir.
Muitas nuances atravessaram aquele cômodo, todos guiados por composições brasileiras, não dando espaço para estrangeiras nesse embolo.
Desejando que se repita ainda mais, que nunca acabe.
“Quando casarmos, faremos isso todos os dias.”
“Quê? Casar?”
“Acha que ficaremos assim pelo resto da vida? Vou colocar uma aliança nesse dedo.”
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Capítulo 173
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