Capítulo 174
Dominique está usando o notebook do presidente pela primeira vez, e foi para uma boa causa.
Seu papel é fabricar uma identidade falsa para substituir a dona de uma instituição de caridade.
A senhorita conversou e decidiu que a renda recebida de vários empreendimentos e ações seria redirecionada para ajudar a população periférica, e para auxiliar nesse disfarce, o falsificador precisa fabricar uma senhora pobre que ficou rica e mora na Europa.
“Heliana Souza dos Santos, 54 anos, baiana…”
O nome alterado é o de sua mãe com o sobrenome de seu pai, a idade é quando faleceu e sua naturalidade é igual à real.
Já a aparência foi bem específica, em que à primeira vista não despertaria suspeita, mas para a jovem, o olhar é dela.
A princípio, iniciaria pela redondeza que cobre Grajaú e Andaraí, famílias que mal sobrevivem com um ou um salário e meio.
Que estão em situação de rua, vulnerabilidade, ajudando com alimento e outros itens essenciais.
O mapa foi feito por Mohammad, que mal demorou duas horas, verificando que são muitas as que possuem dificuldade ou que mal têm para o sustento.
Nisso, para dar veracidade, precisa de ‘trabalhadores’ para formatar toda a ação social.
E, por ser leiga, seu namorado ajudaria com a administração. Rapidamente, conseguiu criar um site e a verificação como ONG social.
Uma conta foi criada para notificar as autoridades de onde vem o fluxo de caixa sem ligação com a ilegalidade.
Ao visualizar os primeiros passos de um sonho antigo, seus olhos brilharam e finalmente a ‘Baianinha’ foi criada.
“Enviei os dados a Christian para a criação de uma plataforma de ensino.”
Como foi explicado, a base é fácil, mas o difícil é contratar profissionais competentes para estruturar e dar forma a esse projeto.
O sonho de um dia cursar universidade pública foi apagado pelas condições financeiras e sua mentalidade mal desenvolvida.
A competitividade com alunos de instituição privada impede aqueles que precisem desse acesso.
E nem aqueles que usam as cotas conseguem tal poder, devido aos que possuem grana ocultarem suas condições e utilizarem o meio.
Fazendo com que a parcela pobre sucumba à ignorância ou pague caro a ponto de se endividar para ter o básico e importante.
Bruna foi uma dessas.
E deseja dar essa oportunidade a esses que recebem um ensino sucateado, tendo a chance de colocar seus pés nessa instituição.
Em que um periférico curse medicina ou o que somente os nepos baby tem.
Pela injustiça, um pobre recebe a vida toda um ensino público, mas, no final, não pode cursar uma faculdade pública.
Ocorrendo o oposto com ‘Enzos e Valentinas’ da vida.
E será difícil, a sociedade proeminente não quer um periférico com sabedoria, pois senão, não renderá lucro e muito menos mão de obra barata.
A ignorância é valiosa, tão quanto ouro.
Com isso, derrubará a doutrina, fazendo essa margem pensar e ser importante. Não quer criar uma Eliana ou um Paulo, e sim doutores e livres a ponto de quebrar suas correntes e olhar a verdadeira paisagem.
Um pobre com venda é benéfico, mas sem ela é prejuízo.
Em que a religião juntará forças para derrubar o que demorou para se cultivar.
Se antigamente pais ficavam orgulhosos de seus filhos em uma faculdade e viravam ‘doutores’, hoje, é capaz de expulsar em nome da religiosidade que incentiva a tornar cativo e burro.
E render mais dinheiro para algo que não necessita.
Contudo, para criar esse sonho, precisa valorizar a equipe por trás disso, os professores devem ser privilegiados e exaltados a ponto de se sentirem confortáveis e ter prazer de ensinar, formalizar um plano em que lhe dê garantias únicas que o estado tenta negar.
Focando no educador Paulo Freire.
Formar pensadores críticos e não teleguiados de coleira. Esse é seu plano.
“Posso resolver a maioria, sobre contratação e planejamento pedagógico.”
Como acordado, a metodologia de ensino será descomplicada para alunos que possuem dificuldade de entender, focando no melhor ensino das instituições importantes do mundo, e primeira do Oriente Médio.
A mesma escola em que Mohammad estudou.
Para isso, materiais didáticos serão disponibilizados em PDF, para atender o sonho de sua mulher.
Nem que indiretamente o prejudique, pois usufrui do mesmo sistema que tantos lobos adoram.
“Obrigada.”
O olhar em agradecimento encheu seu ser, quase transbordando, e não evitou beijar sua testa.
“Faço o que quiser.”
“Sei disso.”
O foco é estimular o estudante a conquistar suas metas de forma saudável, oferecendo prêmios, dando igualdade e expulsando qualquer filhinho de papai de ter acesso.
Dando garantia somente a quem é de baixa renda.
Ao lado de uma ativista, ainda possui fome insaciável.
“Vamos arrumar as malas?”
Sim, chegou finalmente o momento, o qual sairá daqui e retornará à sua origem.
“Sim.”
As orelhas baixas explicitam o que não deseja, ainda que não tenha a qualidade da primeira esposa, farão juntos para dar forças que voltarão a se ver.
“Tudo bem, tenho umas coisas para lhe dar.”
Não se esqueceu de lhe dar algumas coisas simples que possam servir como promessa de sua palavra.
“Thanks, Dom.”
“Yah!”
Devolvendo o aparelho, o guarda que voltará também se prepara com a equipe para esperar no aeroporto.
E caminhando com esse idoso, vai em direção ao fim, ou quase isso.
Dizem que nunca existirá um amor igual ao de Paco e Preta, e o que aconteceu lá não poderá ser reproduzido no mundo real.
Bruna se perguntou por anos se o fato de ter uma preferência por brancos é algo ruim.
E a resposta é pelo fato da moldura social, negros sofrem ódio constantemente e em várias esferas possíveis.
Em que, para agregar valor perante a sociedade, escolher um branco ‘abre portas’ perante a comunidade que de fato é racista e ainda olha o negro como ‘objetos’.
Fazendo os seus, terem repúdio dos próprios, e para uma ‘sobrevivência’ casar com o que denigrem é a chance de serem ‘queridos’ e até ‘aceitos’ pelos que perpetuam com esse crime.
E qual criatura não adoraria ficar nesse quadro de ‘melhor funcionário’?
Mesmo que não tenha se envolvido com brancos, pois, apesar dessa preferência, quando se apaixonava, isso era insignificante.
Mas moldada pela mão desse oleiro, juntamente com a base dessa pirâmide maldita.
Os que repudiam o relacionamento inter-racial são os que discordam do amor homoafetivo, já que, na intuição deles, o amor pode até ser sem ‘barreiras’, porém, que não cruzem a ‘barreira’ deles.
Perpetuando o que os opressores pregam, que esse sentimento só pode vir dos ‘brancos’, como um item escasso de valor exorbitante para ser exibido como artigo de luxo pelo grupo da irrelevância contemporânea.
Esse sentimento virou mercado, e quem tem o passe ‘VIP’ pode ter acesso infinito a esse show de horrores.
Devemos entender que essa ocasião só deve ser impedida quando beira ao errado, sendo grotesco socialmente e à integridade de todos ao redor.
Fora isso, não se põe coleira ou cria ‘barreira’, tendo o significado de ‘sem fronteiras’ porque de fato é assim, e ninguém precisa lhe tirar qualquer liberdade que o destino lhe presenteou.
O conselho materno diz: você não é todo mundo.
O amor é para várias áreas da vida, sendo carnal ou não.
O principal vem com a mentalidade chamada respeito.
Pode ser algo ‘antigo’, o significado dessa palavra não engloba ‘categoria’, inclui que, ao ensinar, esse novo indivíduo terá a visão de mundo de que todos são iguais.
Merecem e devem ser tratados respeitosamente, pois sem isso, há uma lacuna entre o preconceito e a consciência de classe.
Sendo mulher negra, em que sua carne tem preço para ser consumida num episódio de compulsão, às escondidas, a jovem imagina se tudo isso é apenas um episódio de loucura de seu parceiro.
Jamais um cara branco, rico e que respira a elite teria olhos para ela.
“Mas por que tem?”
Não sabe, talvez não terá a resposta, como o futuro depende dos cosmos, só permite viver e tentar não sair tão fragmentada, como seu passado.
E caso gere uma nova vida desse momento, existirá a prova de fogo, pois seu ideal e pensamento serão testados a ensinar a não serem um extremo e outro.
“Está tudo bem, não fugirei.”
Prometeu, ao fechar a última mala.
“Será que realmente aguentarei esperar tanto tempo? Já estou sofrendo por antecipação.”
“Não fique com esse semblante. Daqui a pouco, vai ser abril e vamos voltar a nos ver.”
Faltava uma hora e meia para o embarque, e acompanhou até o final.
Mohammad, que veio sozinho, com planos de retornar rápido, agora se martiriza por ir desacompanhado.
“Olha, tenho um presente pra te dar. Acredito que não seja o mais caro ou valioso do mundo, mas é de coração e queria que usasse, pode ser?”
“Tudo bem.”
Pediu para Sam fazer o pedido e enviou as especificações de cada item, escolhido carinhosamente.
Pode ser até brega para um que exala masculinidade por todos os poros.
E quando entregou, igual presente de Natal, Mohammad segurou com todo dengo e não esperava isso, mas adorou antes mesmo de saber o que era, porque era carregado com o máximo de cuidado possível.
Uma caneca de porcelana muito bonita com a estampa de um lobo envolto em rosas-vermelhas e brancas, e a mensagem atrás dizia: ‘Para sempre meu lobo mau’ e não só esse, mas uma camisa enorme, com a estampa bem fofinha de uma ovelha com a pelagem negra, escrito ‘Eu amo uma ovelha negra da família’.
E outras coisas, como algumas gravatas sociais de cores sóbrias que combinam com qualquer terno social, cartão bonito com desenhos de várias flores com os dizeres ‘Com o passar do tempo, percebo que nosso jardim está ficando mais belo’.
E ao abrir, há uma foto deles tirada antes da tragédia no hotel fazenda, uma carta escrita à mão de um poema que copiou da internet.
Lendo, só se encheu mais ainda de tristeza.
“Venha, vamos para casa, cordeirinho.”
Colocou um pouco do seu peso no ombro dela, que recebeu com um cafuné.
O dia foi intenso e aproveitaram o que tinham para fazer, e espera que esse pequeno momento fique gravado como tatuagem.
“Mohammad, não se preocupe, voltarei como a música ‘O Vento’ de Jota Quest. Então, não se preocupe, nós vamos nos ver novamente, ok?”
“…”
“Seja bonzinho, tá?”
O silêncio foi retribuído e continuou com a cabeça apoiada em seu ombro. Sabe que será difícil, principalmente para ele, que tem um sentimento meteórico.
Entretanto, pretende deixar um pouco dela em si enquanto estão distantes.
“Vamos lá.”
Finalmente chegou, agora não tem escapatória, prolongaram ao máximo e precisam se despedir oficialmente.
Esse romance promete não ficar somente no verão e se estender em todas as estações e anos seguintes.
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Capítulo 174
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