Capítulo 1
⚠️ Aviso de Conteúdo: Esta obra contém cenas e temas que podem ser sensíveis para alguns leitores, incluindo:
Relacionamento abusivo: A história aborda, com seriedade e sensibilidade, um relacionamento tóxico e emocionalmente abusivo entre o personagem secundário Eric e o protagonista ômega, Ellington. As cenas retratam manipulação, controle e ameaças, com clara crítica narrativa e distanciamento emocional.
Trauma emocional e psicológico: O impacto duradouro de dinâmicas abusivas, inseguranças internas e episódios de ansiedade são temas recorrentes na perspectiva do protagonista.
Estigma social e opressão de classe no ômegaverso: A narrativa explora a desigualdade estrutural, o preconceito e a discriminação — especialmente em relação à biologia ômega e aos papéis de gênero.
Referências indiretas à negligência familiar e ao abandono emocional.
⚠️Importante: Nenhum desses tópicos é romantizado ou tratado levianamente. Eles são abordados com cuidado e seriedade, servindo como parte da jornada de cura, crescimento e construção de um vínculo saudável e de apoio dos protagonistas.
⚠️As idades dos personagens foram ajustadas:
Ellin 18 anos / Cas: 18 anos / Eric: 19 anos no início da história
Ellin 19 anos / Cas: 18 anos / Eric 19 anos no final da história
……
Caspian nunca se importou com os rumores da escola. Na verdade, sequer os ouvia. Eram sempre as mesmas vozes, os mesmos assuntos reciclados em tom excitado por aqueles que viviam à sombra de histórias alheias. O que importava para ele eram os fatos, e os fatos diziam que Eric e Ellin estavam juntos. Um casal invejável aos olhos dos outros.
Eric era o tipo de alfa que parecia predestinado ao sucesso. Alto, bonito, excelente aluno, sempre com um sorriso fácil e uma postura impecável que fazia com que até os professores falassem bem dele. Ele se movia pelo ambiente com a confiança de quem sabia ser admirado. Quando ele e Ellin começaram a namorar, as reações foram previsíveis — comentários sussurrados pelos corredores, olhares furtivos nas aulas e uma enxurrada de suspiros dos ômegas que se perguntavam como Ellin conseguira chamar a atenção de alguém tão impecável.
Mas Caspian não via Eric assim.
No começo, não viu nada de errado. Ellin sempre fora bonito, o tipo de beleza que só se aprofundava para aqueles que tinham paciência de conhece-lo. Ele não era o centro das atenções como Eric, mas havia algo nele que fazia com que as pessoas quisessem olhar por mais tempo.
Fazia sentido que Eric, por algum motivo, tivesse se apaixonado por Ellin. O problema foi que ele nunca o conheceu primeiro. Havia algo no início repentino daquele relacionamento que incomodava Caspian. Ele lembrava-se de como, dias antes, Ellin e Eric sequer trocavam palavras nos corredores. Eric nunca demonstrou qualquer interesse em Ellin até que, de um dia para o outro, passaram a ser vistos juntos, como se sempre houvesse existido algo entre eles. Caspian se perguntava quando aquilo começara, em que momento Eric decidira que queria Ellin como seu namorado, mais importante, por quê?
Se Ellin estava feliz, Caspian nunca questionaria. Ao menos, era o que ele dizia a si mesmo.
No entanto, havia momentos em que aquela sensação incômoda voltava. Um detalhe pequeno aqui, um gesto estranho ali. Ellin sorria ao lado de Eric, mas Caspian conhecia seus sorrisos — sabia quando eram genuínos e quando eram algo que ele apenas oferecia por conveniência. Com Eric, muitas vezes, era difícil dizer.
Era a maneira como Eric o tocava, sempre com um controle imperceptível, guiando-o por entre as pessoas como se Ellin não soubesse andar sozinho. O modo como seus olhos o avaliavam, não com o brilho de quem estava apaixonado, mas com um ar de posse, como alguém que já decidira que aquele era um território seu.
Caspian notou também que, pouco a pouco, Ellin passou a ter menos tempo. Estava sempre ocupado, sempre ao lado de Eric, e, quando se encontravam, havia uma fadiga em sua expressão que não condizia com a suposta felicidade de alguém apaixonado.
A dúvida pairava sobre Caspian como um peso constante. Ele se perguntava se via coisas que não estavam lá, se estava sendo paranoico. Afinal, Ellin nunca disse nada. Nunca pediu ajuda.
……
Caspian não gostava da sensação ruim que o inquietava sempre que perdia Ellin de vista. Desde pequenos, ele tinha o hábito de procurá-lo sempre que algo parecia fora do normal, como se fosse um instinto. Naquele dia, depois de não encontrar Ellin em lugar nenhum, ele seguiu sua intuição.
O caminho pelos corredores desertos o levou até os fundos da escola, um local isolado onde ninguém deveria estar àquela hora. Seu corpo ficou tenso ao ouvir uma voz masculina exaltada. Ele reconheceu de imediato.
O maldito Eric, um homem arrogante e detestável.
Cas parou no canto do prédio, os punhos cerrados ao ver a cena diante de si. Eric estava encurralando Ellin contra a parede.
— Eu já disse que não quero. — A voz de Ellin saiu tensa, mas controlada. Ele tentava manter a calma, apesar da pressão crescente.
Seu namorado, soltou um suspiro exagerado, revirando os olhos.
— Você está sempre com essa frescura. — Eric se inclinou, a boca muito próxima à sua orelha. — Você faz isso para mim o tempo todo. Por que tá dificultando agora?
Ellin virou o rosto para o lado, o estômago embrulhando ao sentir os dedos do outro puxarem os botões de sua camisa sem qualquer hesitação.
— Para com isso. — Murmurou, a voz um pouco mais instável.
Eric ignorou enquanto desabotoava o restante da camisa e empurrava o tecido para os lados, revelando sua pele. Agora a camisa de Ellin estava aberta, sua pele pálida exposta ao ar frio.
A mão grosseira de Eric agarrou seu corpo com impaciência, os dedos apertando seu peitoral de um jeito invasivo, forçando-o contra a parede como se tivesse o direito de fazer aquilo.
Ellin apertou os olhos, o rosto queimando de vergonha.
— Olha só isso, eles estão prestes a explodir. — Ele deslizou os dedos pelos mamilos, pressionando com força, ignorando completamente a rigidez do corpo de Ellin. — Você gosta disso, eu sei.
A respiração dele ficou trêmula. O corpo de Ellin tremeu e seus joelhos se dobraram. Ele se encolheu no próprio corpo, buscando alguma segurança.
— Eu não gosto… — disse, quase num sussurro —, eu nunca gostei disso.
Eric soltou uma risada baixa e cheia de desdém.
— Me diz, Ellington. Por que seu corpo reage tão bem?
Os olhos de Ellin se arregalaram levemente, e sua garganta travou quando sentiu a umidade começar a escorrer de seus mamilos.
— P-pare… alguém pode nos ver se você fizer isso.
— Ótimo. Você sabe que eu poderia contar para todo mundo, certo? Aposto que a escola inteira ia adorar saber como você é especial.
Ellin sentiu o pânico subir, a respiração acelerando.
— Você prometeu não contar a ninguém desde que—
— Desde que eu pudesse ajuda-lo a drenar seu leite e fazer o que quiser, não é mesmo? Você precisa de mim, não é por isso que estamos juntos? Ou você quer voltar a se esgueirar pelos banheiros como uma vadia?
— Eu não…não quero isso—
— Então pare de ser tão difícil. Eu cumpri minha palavra até agora, se vai continuar desse jeito depende de você, amor. Você sabe o que tem que fazer. — Ele apertou seus seios novamente, dessa vez mais forte, provocando um pequeno gemido de dor.
Ellin arregalou os olhos.
— Você está me machucando.
Eric suspirou de novo, como se estivesse cansado daquela conversa.
— Você sempre complica tudo, Ellington. Só facilita pra mim e isso vai acabar logo.
Ellin sentiu um nó em seu peito. A raiva misturada ao medo. O desprezo misturado à vergonha. Seu corpo tremia e ele sentia vontade de chorar, mas não queria demonstrar fraqueza.
E então, antes que percebesse, sua mão se ergueu e acertou um tapa forte no rosto Eric. Um estalo seco preencheu o silêncio e o outro congelou. Sua cabeça virou para o lado com o impacto, e por um instante, tudo ficou parado.
Ellin arfou, os olhos arregalados, o coração pulsando violentamente contra o peito.
Eric tocou o próprio rosto, atordoado, até que lentamente virou a cabeça para encará-lo. Sua expressão estava sombria, os olhos faiscando de fúria.
— Seu…
O sangue de Ellin gelou. O braço de Eric se ergueu numa ameaça que não precisava de palavras. Por um instante suspenso, a violência parecia inevitável. Mas, antes que o golpe pudesse descer, uma figura surgiu de relance, movendo-se com precisão e ímpeto.
Caspian o alcançou num segundo, os dedos firmes envolvendo o pulso de Eric com força brutal. O som seco do impacto de pele contra pele ecoou como uma sentença. Eric girou o corpo, surpreso, a expressão agora uma máscara de incredulidade e tensão contida. Caspian o fitava de perto, o olhar glacial e incisivo. Havia algo profundamente predatório em sua presença — como se o ar ao seu redor tivesse se tornado mais denso, carregado de uma eletricidade silenciosa.
— Tire suas mãos de cima dele — disse, e embora sua voz fosse baixa, havia nela uma solidez que não admitia contestação.
Eric soltou uma risada breve e ríspida, o sorriso torto surgindo com desdém nos lábios.
— Oh, veja quem é, seu amiguinho delinquente. O que você vai fazer?
Caspian o ignorou, seus olhos se fixaram nos de Ellin. Por um breve instante, permaneceu ali, com os olhos fixos em Eric, até que, sem cerimônia, soltou o pulso que prendia — apenas para empurrá-lo com firmeza para trás. O gesto foi direto, quase violento, e fez Eric dar um passo desajeitado, afastando-se alguns centímetros. Não havia mais espaço para confrontos, nem para ameaças. A mensagem estava clara: ele não chegaria perto de Ellin outra vez.
Com o agressor à distância, Caspian enfim voltou o olhar para Ellin. O rosto do ômega estava pálido, seus olhos arregalados e suplicantes, algo nos ombros do ômega cedeu, como se toda a rigidez que o mantinha em pé começasse a desmoronar.
— Ellin, vem comigo.
Ele não respondeu com palavras. Em vez disso, se lançou para Caspian, os dedos agarrando sua camisa com força, como se temesse que ele também desaparecesse a qualquer instante. Ellin se agarrou a ele com a urgência de quem, no meio do caos, encontra enfim um refúgio. O corpo tremia, e suas lágrimas caíam silenciosas, sem que ele tentasse contê-las.
O corpo tremia, e suas lágrimas caíam silenciosas, sem que ele tentasse contê-las.
— Você vai se arrepender disso, delinquente. — rosnou Eric, recuando com relutância. Mas sua voz já não tinha mais a força de antes. Quando se virou, lançou uma última olhada por cima do ombro antes de desaparecer, deixando para trás apenas o som incômodo de sua risada, aguda como um corte.
O silêncio que se seguiu foi espesso e tenso. Caspian olhou para baixo, para o corpo frágil que se aninhava contra o seu. Ellin continuava encostado na parede, como se ainda buscasse equilíbrio, os dedos apertando com força os tecidos amassados da camisa de Cas, o rosto semi-escondido contra o peito dele. Sua respiração seguia entrecortada, os ombros estremecendo a cada soluço contido.
Caspian não disse nada. Apenas passou o braço em torno das costas de Ellin e o puxou mais para perto.
— Ele te machucou? — Caspian perguntou, a voz baixa, mas carregada de preocupação.
Ellin demorou a responder.
— N-não… estou bem.
Caspian não acreditou na resposta, mas não insistiu. Seus olhos se arregalaram quando ele notou as manchas molhadas que se formavam na blusa de Ellin. Um líquido branco escorreu dos seios dele.
— Ellin… o que é isso?
O corpo de Cas ficou rígido. Ele piscou, processando o que estava vendo, enquanto Ellin arregalava os olhos em puro pavor.
O choro se intensificou, com os ombros tremendo enquanto ele fechava a blusa, tentando esconder as evidências. Seu rosto queimava de vergonha.
Ele não queria que Cas soubesse. Nunca quis. Mas agora não havia mais volta.
— Eu… eu tenho essa condição — começou, a voz vacilante. — Hiperprolactinemia. Isso me faz lactar. Todos os dias. Eu… não consigo controlar isso.
Cas demorou um segundo para responder.
— Certo… mas, só para esclarecer… você não está grávido, está?
Ellin soltou uma risada curta e amarga, desviando o olhar.
— Não. Não estou. Isso… acontece comigo desde que… — Ele hesitou. — Desde que meu corpo começou a amadurecer.
Cas não sabia exatamente o que dizer. Ele nunca tinha ouvido falar de algo assim antes. Mas, ao ver a expressão vulnerável de Ellin, percebeu que seu amigo esperava uma reação.
Cas sentiu uma onda de culpa tomar conta dele. Como ele não havia notado? Como havia deixado Eric se aproximar tanto de Ellin sem saber que havia algo errado?
— Ellin… Eu sinto muito. Eu não sabia.
Ellin balançou a cabeça, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Não é sua culpa. Eu não queria que ninguém soubesse.
— Por que você nunca me contou?
— Eu tinha medo. — Ellin mordeu o lábio inferior, os olhos baixos.
Cas sentiu algo apertar dentro do peito.
— Medo de mim?
— Medo de que você me achasse… estranho.
Cas não respondeu imediatamente. Então, lentamente, ele soltou um suspiro e esfregou a nuca.
— Claro que isso é novidade, mas… Ellin — ele se inclinou um pouco para frente, tentando capturar seu olhar —, eu nunca te veria de forma estranha. Nunca.
O silêncio caiu entre eles. Ellin sentiu algo se partir dentro dele. Uma tensão que ele carregava há tanto tempo que nem lembrava como era viver sem ela.
Mas Caspian ainda não havia terminado.
— Eric… — sua voz ficou mais tensa —, ele sabe disso?
— Sabe. — Ellin fechou os olhos.
Cas sentiu o sangue ferver. De repente tudo fez sentido.
— Aquele desgraçado, eu vou mata-lo.
— Cas, por favor… não faça nada impulsivo. — Ellin interrompeu, segurando seu braço.
— Tudo bem, tudo bem.
Cas o olhou por um longo momento. Então, sem dizer nada, simplesmente puxou Ellin para um abraço firme.
Ellin ficou tenso, mas depois de alguns segundos, relaxou contra o peito dele, os olhos se fechando enquanto as lágrimas escapavam. Ele segurou a camisa dele com força, como se Caspian fosse a única coisa que o mantinha de pé.
E, de certa forma, era.
……
O ginásio estava escuro e silencioso, iluminado apenas pela luz fraca que filtrava pelas janelas superiores, em tons azulados e cinzentos. Havia uma paz tênue ali — não de conforto, mas de suspensão, como se o tempo tivesse decidido desacelerar para que ambos respirassem.
Caspian empurrou a porta com cuidado, o rangido das dobradiças rompendo a quietude momentânea. Seus passos ecoaram vagos no chão encerado enquanto ele cruzava o espaço, os olhos varrendo cada canto com atenção. Nenhum sinal de movimento. Nenhuma presença além da deles. Só depois de se assegurar disso, virou-se e fez um gesto leve para que Ellin o acompanhasse.
O ômega entrou em silêncio, os ombros ainda levemente encolhidos, o olhar fugidio. O peso dos últimos minutos ainda repousava sobre ele, mas havia ali uma tentativa — sutil, frágil — de se manter inteiro.
Sem trocar palavras, Ellin caminhou até o banheiro lateral, empurrando a porta e desaparecendo atrás dela. O som da água correndo chegou fraco, abafado pelas paredes, misturado ao leve gotejar que ecoava dos canos antigos. Caspian ficou do lado de fora, imóvel por alguns instantes. Seus punhos ainda carregavam a memória do impacto — não de violência, mas de contenção. Respirou fundo. Aquilo não havia terminado. Não de verdade. Mas por ora, Ellin estava seguro. Isso bastava.
Quando Ellin saiu, a iluminação difusa acentuava o brilho úmido que ainda marcava seus cílios. Seu rosto estava mais calmo, os traços menos tensos, mas a maneira como ele segurava os próprios braços — cruzando-os contra o peito como um escudo involuntário — traía o esforço que fazia para parecer bem.
— Desculpe por isso. — murmurou, e tentou uma risada breve, forçada, como se quisesse desfazer a rigidez com algo leve, ainda que lhe faltasse convicção.
Caspian o olhou com atenção. Seus olhos eram frios por natureza, mas naquele momento havia neles uma suavidade difícil de explicar — uma espécie de entendimento silencioso.
— Tudo bem — respondeu, a voz baixa, quase neutra, mas firme. — Você está melhor? Lavou o rosto?
Ellin assentiu devagar, puxando o ar com mais calma.
— Sim.
Cas o observou por um momento, então puxou um banco dobrável e se sentou. Ele indicou que Ellin fizesse o mesmo, e após um momento de hesitação, o ômega se sentou ao lado dele. O silêncio se prolongou, mas Cas não queria deixar a conversa morrer ali.
— Agora me conta — disse, finalmente —, o que aconteceu? Como você se envolveu com um cara como ele?
Ellin suspirou, passando uma mão pelos cabelos antes de responder.
— Ele descobriu por acidente — começou, a voz baixa. —, não lembro exatamente quando, mas foi num dia em que eu estava me sentindo muito desconfortável. Eu não consegui ser discreto o suficiente e ele descobriu.
Cas franziu o cenho, mas não disse nada, esperando que Ellin continuasse.
— No começo, ele não disse nada e foi gentil… — Ellin fez uma pausa, como se odiasse admitir o que viria a seguir —, eu gostei dele. Ele me fazia sentir seguro e me ajudava… Ele fazia isso parecer menos solitário.
Cas apertou os dedos ao redor dos próprios joelhos.
— Mas então ele começou a mudar, não foi?
Ellin riu sem humor.
— Ele não mudou, Cas. Ele só esperou — Ele olhou para o chão, a voz amarga —, no começo, era sobre me ajudar. Depois, começou a dizer que achava… excitante. Mas ainda assim, ainda havia um limite, ele não forçava nada. Até que um dia, ele sugeriu o uso de brinquedos sexuais. Eu achei que ele só queria ajudar, de novo, mas ele me fez usar na escola…
Caspian cerrou os punhos. Ele não precisava ouvir o resto para saber o que aconteceu a seguir.
— Ele começou a usar isso contra você.
Ellin assentiu, os olhos baixos.
— Ele começou a dizer que, se eu não cooperasse, poderia contar para alguém. Sempre dizia que me amava e que se eu o amasse de volta, devia confiar nele. Devia deixá-lo… cuidar de mim. — Seu rosto ficou vermelho de vergonha e raiva. — Eu queria acreditar que ele ainda era o cara gentil que eu conheci. Mas ele nunca foi esse cara.
Cas soltou um longo suspiro, passando uma mão pelos cabelos.
— Ellin, você precisa sair desse relacionamento.
Ellin soltou uma risada curta, mas sem humor.
— Eu sei… Mas ele tem o meu segredo. E se ele contar, minha vida vai virar um inferno. Eu não posso correr esse risco.
Cas ficou em silêncio por um momento, observando a expressão cansada de Ellin.
— E… me sinto um tolo — disse, por fim, sua voz quase inaudível —, eu gostei dele. Antes de tudo isso… eu realmente gostei dele.
Cas não sabia o que dizer para isso. Ele não queria soltar frases vazias como “não foi sua culpa” ou “você não deveria se sentir assim”, porque sabia que Ellin já tinha consciência disso. Então, em vez disso, ele apenas respirou fundo e disse:
— Foi um erro, mas isso não significa que você merece o que aconteceu. — Ellin piscou, surpreso. — Você gostou dele — Cas repetiu, com um tom de voz neutro. —, isso não te torna fraco. Isso só significa que ele soube atuar bem. Mas agora você sabe quem ele realmente é e isso significa que você pode fazer algo sobre isso.
Ellin ficou em silêncio por um longo tempo, seus dedos entrelaçados no próprio colo. Então, finalmente, ele soltou um suspiro trêmulo.
— Eu só queria que ele nunca tivesse descoberto.
Cas também desejava o mesmo. Mas não havia como voltar no tempo.
— Ele não pode segurar isso contra você para sempre — disse Cas, firme —, e eu não vou deixar ele fazer isso.
Ellin o olhou, os olhos brilhando com algo que Cas não conseguiu decifrar. Talvez fosse um resquício de esperança.
— Obrigado, Cas.
Cas não respondeu de imediato. Em vez disso, ele desviou o olhar, murmurando:
— Não precisa agradecer. Você sabe que eu sempre vou estar ao seu lado.
……
Os dias que seguiram o incidente foram estranhamente silenciosos para Caspian.
Desde aquele dia, quando segurou Ellin nos braços e ouviu sua confissão entre soluços, algo dentro dele mudou. Ele já pensava em Ellin, se preocupava a ponto de perder o sono e agora era como se ele tivesse tomado seus pensamentos por completo.
Cas pegava verificando o celular a cada poucos minutos, esperando uma mensagem dele. As conversas entre eles eram superficiais. Ellin não podia falar muito quando estava com Eric, então, os textos eram curtos, objetivos, mas Cas conseguia ler nas entrelinhas o nervosismo dele.
Na escola, Cas observava.
Ellin e Eric caminhavam juntos pelos corredores como um casal normal. Para qualquer um que olhasse de relance, pareciam apenas dois namorados seguindo sua rotina. Mas Cas agora via além da fachada. Via o modo como Ellin se encolhia levemente quando Eric passava o braço por sua cintura. Como seus ombros ficavam rígidos quando Eric o puxava para perto. Como suas expressões nunca combinavam com as palavras que saíam de sua boca.
Cas apertava os punhos até as juntas ficarem brancas.
Ele queria quebrar Eric. Queria arrastá-lo pelos corredores e jogá-lo contra a parede até que admitisse todas as coisas nojentas que fazia. Mas sabia que agir no impulso não ajudaria. Eric ainda tinha um poder sobre Ellin, algo que o impedia de simplesmente se afastar. Cas precisava ser inteligente.
Então ele esperava.
Esperava pelo momento certo.
E enquanto isso, mantinha-se perto o suficiente para garantir que, no instante em que Eric ultrapassasse um limite, ele estaria lá para impedir.
Comentários no capítulo "Capítulo 1"
COMENTÁRIOS
Capítulo 1
Fonts
Text size
Background
Fragmentos de Nós
Ellington sempre foi uma presença discreta nos corredores da escola - um ômega reservado, de fala suave e olhar sempre atento. Sua vida era marcada por silêncios: o...