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Fragmentos de Nós

Capítulo 2

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⚠️ Aviso de Conteúdo: Esta obra contém cenas e temas que podem ser sensíveis para alguns leitores, incluindo:

 

Relacionamento abusivo: A história aborda, com seriedade e sensibilidade, um relacionamento tóxico e emocionalmente abusivo entre o personagem secundário Eric e o protagonista ômega, Ellington. As cenas retratam manipulação, controle e ameaças, com clara crítica narrativa e distanciamento emocional.

 

Trauma emocional e psicológico: O impacto duradouro de dinâmicas abusivas, inseguranças internas e episódios de ansiedade são temas recorrentes na perspectiva do protagonista.

 

Estigma social e opressão de classe no ômegaverso: A narrativa explora a desigualdade estrutural, o preconceito e a discriminação — especialmente em relação à biologia ômega e aos papéis de gênero.

 

Referências indiretas à negligência familiar e ao abandono emocional.

 

⚠️Importante: Nenhum desses tópicos é romantizado ou tratado levianamente. Eles são abordados com cuidado e seriedade, servindo como parte da jornada de cura, crescimento e construção de um vínculo saudável e de apoio dos protagonistas.

 

⚠️As idades dos personagens foram ajustadas:

 

Ellin 18 anos / Cas: 18 anos / Eric: 19 anos no início da história

 

Ellin 19 anos / Cas: 18 anos / Eric 19 anos no final da história

 

……

O banheiro estava silencioso, exceto pelo zumbido baixo das luzes fluorescentes no teto. Eric se encostou na pia, rolando o telefone enquanto seus amigos conversavam preguiçosamente ao seu lado. Tinham acabado de terminar um treino e estavam se refrescando, suas vozes ecoando nas paredes de azulejos. Eric não estava prestando muita atenção — sua mente estava em outro lugar, preocupada com o pensamento da festa que aconteceria no fim de semana.

Mas então, um de seus amigos o cutucou com o cotovelo.

— Ei, Eric, essa cabine está ocupada há uma eternidade. Quem diabos demora tanto no banheiro?

Eric olhou para a única cabine fechada, franzindo a testa ligeiramente. Desde que haviam entrado, não se ouvira nada além do sutil barulho de tecido se movendo, como se a pessoa lá dentro tentasse fazer o mínimo de ruído possível.

— Talvez ele esteja doente ou algo assim — disse Eric com um encolher de ombros, voltando-se para o telefone. Realmente, não se importava. Quem quer que fosse, não era problema dele.

Mas Jake não estava pronto para deixar para lá.

— Devemos verificar? Tipo… e se ele tivesse desmaiado ou algo assim? Isso seria uma bagunça.

Eric suspirou, irritado, mas não o suficiente para discutir. Deslizou o telefone no bolso e se endireitou.

— Tudo bem. Vou ficar e me certificar de que ele está bem. Vocês vão na frente.

Jake e os outros trocaram mais algumas piadas antes de finalmente irem embora, suas risadas sumindo quando a porta do banheiro se fechou atrás deles. Eric demorou-se perto da pia, olhando para a cabine novamente. Não queria ficar ali mais tempo do que o necessário, mas a curiosidade levou a melhor.

— Ei, você está bem aí dentro? — gritou, sua voz firme, mas não cruel.

Houve um momento de silêncio, seguido por um leve farfalhar. A trava da porta da cabine clicou e, lentamente, ela se abriu com um rangido. Os olhos de Eric se arregalaram quando Ellin saiu, suas bochechas coradas e as mãos segurando a mochila com força.

— Oh — Ellin gaguejou, sua voz quase um sussurro. — E-eu não percebi que ainda havia alguém aqui.

Eric inclinou a cabeça, estudando o ômega. Ellin parecia nervoso, seus olhos correndo ao redor como se procurasse uma fuga. Pareceu considerar voltar para dentro e trancar a porta novamente, mas o momento de hesitação custou caro.

O aperto em sua mochila escorregou, e ela caiu no chão. O conteúdo se espalhou em um som abafado de plástico contra os azulejos. Pequenas garrafas cheias de líquido branco rolaram para fora, algumas ainda lacradas, outras parcialmente cheias. Junto a elas, bombas de extração. O mundo pareceu prender a respiração.

O olhar de Eric se concentrou nos itens, sua testa franzindo em confusão. Aproximou-se, os olhos se estreitando enquanto observava a cena.

— O que diabos é isso? — perguntou, o tom afiado, mas não agressivo.

O rosto de Ellin ficou pálido, e ele rapidamente caiu de joelhos, as mãos trêmulas tentando recolher tudo.

— Não é nada — disse rapidamente, a voz tremendo. — Só… só esqueça que viu alguma coisa, ok?

Mas Eric não ia deixar passar. Agachou-se, seu corpo grande se elevando sobre Ellin, e pegou uma das garrafas. Girou o objeto entre os dedos, observando o conteúdo. Então ergueu o olhar para Ellin, cuja pele parecia queimar de vergonha.

— Ellin, o que é isso? Você está… amamentando?

Ellin congelou, as mãos ainda segurando a bomba tira-leite que tentava esconder. Olhou para Eric, os olhos arregalados e implorantes.

— Por favor — sussurrou, a voz quase inaudível —, não conte a ninguém.

Eric o encarou por um longo momento, sua mente acelerada. Nunca ouvira falar de algo assim antes — ômegas masculinos não deveriam amamentar a menos que estivessem grávidos. Mas Ellin claramente não estava. Então, o que diabos estava acontecendo?

— Como isso… funciona? — perguntou Eric, o tom agora curioso, em vez de acusatório.

Ellin hesitou, o olhar caindo para o chão.

— Eu tenho uma condição — admitiu suavemente. — Hiperprolactinemia. Meu corpo… ele produz leite, mesmo que eu não esteja grávido. Eu tenho que drená-lo, ou fica doloroso.

Eric assentiu lentamente, as peças começando a se encaixar. Via o desconforto nos olhos de Ellin, a maneira como os ombros estavam curvados, como se tentassem se tornar menores. Era… intrigante.

— Deve ser difícil — disse Eric, a voz suavizando um pouco. — Quero dizer, fazer isso sozinho.

Ellin assentiu, as mãos apertando a bomba.

— Sim — admitiu. — É. Eu geralmente não faço isso na escola, mas às vezes não tenho escolha.

Eric o observou por um momento, a mente trabalhando. Via a vulnerabilidade na expressão de Ellin, a maneira como ele praticamente implorava para que não contasse a ninguém. E então, uma ideia se formou.

— Eu poderia ajudar você — disse Eric, a voz suave e persuasiva.

A cabeça de Ellin se levantou de repente, os olhos arregalados de surpresa.

— Ajudar?

— Sim. Quero dizer, você já tem que lidar com isso sozinho, não tem? — Eric sorriu de novo, aquele mesmo sorriso tranquilizador. — E você já sabe que eu não vou contar a ninguém. Então, por que não facilitar um pouco as coisas para você?

Ellin hesitou. Sua mente gritava para sair dali, para se afastar, para não confiar. Mas, ao mesmo tempo, a promessa de ajuda soava tentadoramente fácil. Não precisaria se esconder tanto. Não precisaria se preocupar tanto.

E Eric parecia tão… genuíno.

Ele não sabia, então, que estava prestes a cometer um erro.

— Você… você faria isso?

Eric assentiu, um pequeno sorriso puxando o canto dos lábios.

— Sim, claro. Ninguém precisa saber.

Ellin hesitou, o olhar oscilando entre o rosto de Eric e o chão. Parecia tão inseguro, tão vulnerável. E Eric praticamente podia ver o momento em que a determinação do ômega ruiu.

— Ok — disse Ellin calmamente, a voz quase um sussurro. — Se você tem certeza…

O sorriso de Eric se alargou, e ele estendeu a mão, colocando-a no ombro de Ellin.

— Não se preocupe — disse, o tom tranquilizador. — Eu vou cuidar de você.

Ellin assentiu, os ombros relaxando um pouco. Confiava em Eric — ou, ao menos, queria confiar.

Eric se endireitou, a mão permanecendo no ombro de Ellin por um momento a mais do que o necessário.

— Vamos — disse, a voz baixa e firme. — Vamos sair daqui.

Ellin se levantou, jogando a mochila sobre o ombro. Olhou para Eric, os olhos ainda cheios de incerteza. Mas havia algo mais ali também — algo como alívio.

……

O frio da manhã ainda pairava sobre a escola quando Cas avistou Ellin parado perto da entrada, o corpo esguio envolto no uniforme impecável. O cabelo negro, ainda úmido da rotina matinal, caía sobre os ombros, captando a luz pálida do amanhecer com um brilho sutil. Ele parecia distraído, os olhos azulados vagando pelo pátio sem realmente focar em nada, como se a mente estivesse longe dali.

Cas se aproximou sem pressa, passos firmes ecoando contra o concreto do chão. Quando Ellin notou sua presença, um breve lampejo de surpresa cruzou seu rosto antes de se dissolver em um pequeno sorriso.

— Cas…

— Você está melhor? — perguntou Caspian, a voz baixa, mas carregada de uma preocupação contida.

— Sim, estou. — Sua resposta veio suave, mas havia algo quase hesitante na forma como ele desviou o olhar, como se as palavras carregassem um peso invisível. — Não foi nada demais.

Cas não reagiu de imediato. Seu olhar permaneceu sobre ele por um segundo a mais do que o necessário, como se buscasse algo além das palavras.

Sabia que Ellin não gostava de se prolongar nesse tipo de conversa, especialmente quando se tratava de Eric. Ainda assim, algo nele parecia diferente. A exaustão havia se dissipado um pouco, mas a maneira como ele mantinha os ombros ligeiramente tensos denunciava que o alívio não era completo.

— Sabe que isso não é verdade.

Ellin desviou o olhar, ajeitando a alça da mochila no ombro como se precisasse ocupar as mãos. O silêncio entre eles não era desconfortável, mas carregado de um subentendido que nenhum dos dois ousava nomear.

— Eu sei… mas eu estou melhor. Isso é verdade.

Cas não insistiu; apenas assentiu de leve. Sua voz, porém, manteve um peso que Ellin não conseguiu ignorar.

— Se ele te incomodar de novo, me avise.

Ellin riu, mas não foi um riso genuíno.

— E o que você faria?

Cas não respondeu de imediato. Apenas cruzou os braços, lançando-lhe um olhar indecifrável.

— Você sabe o que eu faria.

A resposta fez Ellin desviar os olhos novamente.

Um silêncio carregado se instalou entre eles, mas não durou muito.

— Não precisa disso. Eu não quero que você se meta em problemas… não faça nada imprudente.

Enquanto conversavam, Cas percebeu os olhares ao redor. O burburinho dos alunos no pátio parecia ganhar um tom diferente sempre que eles estavam juntos — um tipo de atenção velada, como se a simples visão de Ellin ao seu lado fosse algo incomum, até ousado.

Para os outros, Ellin era um mistério dentro da dinâmica social da escola: sempre reservado, sempre obediente às expectativas que lhe eram impostas. E ali estava ele, conversando com Caspian — alguém que, apesar de nunca buscar problemas, carregava uma reputação intimidadora.

— Você sabe que não precisa conversar comigo na escola. Eu sei que você não precisa desse tipo de atenção.

As pessoas observavam; algumas sussurravam entre si, mas Ellin parecia imune àquilo — ou talvez apenas escolhesse ignorar.

— Não importa. Eu não quero me afastar de você só porque você parece assustador.

— Pareço assustador? — Ele riu. — Eu sou assustador.

— Não para mim. As outras pessoas só não se importam em conhecê-lo melhor… como eu conheço.

Cas manteve um sorriso no rosto, que, infelizmente, não durou muito.

Então, sem aviso, braços surgiram ao redor da cintura de Ellin. Ele se sobressaltou, o corpo enrijecendo com o contato repentino. O cheiro inconfundível de Eric o envolveu.

— Bom dia, amor — a voz de Eric soou casual, mas carregada de uma posse deliberada.

Ellin se enrijeceu, mas forçou um sorriso.

— Bom dia.

Ellin sentiu os lábios dele pressionando-se contra os seus — como se não houvesse ninguém ao redor, como se a presença de Cas não fosse relevante.

Eric sempre demonstrava seu amor em público. Nada exagerado que causasse desconforto, mas o suficiente para causar a impressão de que eles eram um casal perfeito e apaixonado.

Cas observou a cena com o maxilar travado, os olhos estreitos em uma análise silenciosa. Não disse nada, não se moveu, mas a tensão em sua postura falava por si só. Seus dedos, que momentos antes haviam estado relaxados dentro do bolso da jaqueta, se fecharam sutilmente, como se reprimissem um instinto latente.

Quando se afastou, Eric lançou um olhar rápido a Cas, um sorriso carregado de algo que não era exatamente simpatia. Ellin forçou um pequeno sorriso para o namorado.

— Vejo que vocês estavam se divertindo — comentou, a voz despreocupada, mas carregada de algo subentendido.

Ellin riu sem humor.

— Só estávamos conversando.

— Ah, sinto muito por interromper — Eric deslizou as mãos pela cintura dele antes de se afastar —, mas tenho algo pra te mostrar antes da aula. Pode vir comigo?

O convite não era um pedido.

Ellin lançou um breve olhar a Cas, como se quisesse dizer algo, mas a frase nunca chegou a se formar.

— Claro. — Havia um certo desconforto, um resquício de constrangimento pelo que acabara de acontecer, mas ele apenas desviou o olhar e seguiu Eric.

Cas não se moveu. Permaneceu parado, observando Ellin ser conduzido para longe, as mãos de Eric sempre presentes — sempre um lembrete de posse. Ele acompanhou cada passo, cada pequeno gesto que entregava mais do que Ellin jamais admitiria em voz alta. A rigidez no caminhar, os ombros que nunca se relaxavam por completo, o modo como seus dedos pareciam querer se fechar em punhos, mas se contiveram.

Cas só desviou o olhar quando Ellin desapareceu no meio do fluxo de alunos.

E então, muito lentamente, soltou o ar que nem havia percebido estar prendendo.

……

O tédio da aula se espalhava como um nevoeiro denso. O professor falava algo sobre estruturas argumentativas, mas Cas não prestava atenção. Mantinha a postura relaxada na cadeira, as mãos cruzadas sobre a mesa. Naquele momento, sua atenção estava em outro lugar.

O celular, estrategicamente posicionado sob a mesa, vibrava em resposta ao toque de seus dedos. A tela brilhava com uma notificação, discreta o suficiente para passar despercebida.

Caspian: O que o Eric quis dizer com “mostrar algo” pra você mais cedo?

O tempo entre sua mensagem e a resposta pareceu mais longo do que realmente era. Cas mantinha o olhar vago na lousa, os olhos pálidos refletindo a claridade fluorescente, mas sua atenção estava completamente voltada para o celular.

Ellin demorou um pouco para responder. Ele não costumava mexer no celular durante a aula, mas eventualmente cedeu.

Ellin: Ele gosta de ficar comigo antes das aulas.

Cas sentiu os músculos da mandíbula se contraírem de leve.

Caspian: Na frente de todo mundo?

Ellin: Depende. Às vezes ele faz isso quando estamos com os amigos dele. Às vezes, só nós dois.

Cas não respondeu de imediato. O dedo pairou sobre a tela antes de finalmente escrever:

Caspian: Parece que ele gosta de te exibir.

O tempo que Ellin levou para responder não passou despercebido. Quando finalmente digitou algo, foi curto.

Ellin: Eu sei.

Cas respirou fundo, olhando para frente, mas sem realmente enxergar nada do que estava no quadro. Seu polegar deslizou pela tela devagar antes de digitar de novo.

Caspian: Você não gosta disso.

Ele observou discretamente quando Ellin leu a mensagem. O ômega umedeceu os lábios, ajeitou a postura, como se o próprio corpo se retraísse um pouco. A resposta não veio imediatamente, e Cas sabia que isso significava mais do que qualquer palavra poderia expressar.

Finalmente, uma resposta apareceu na tela.

Ellin: Não… mas pelo menos ele só faz isso na frente dos amigos dele.

Cas soltou um longo suspiro pelo nariz. Poderia insistir, mas não o fez. Em vez disso, mudou o rumo da conversa.

Caspian: Você vai almoçar com ele hoje?

Ellin pareceu aliviado pela mudança de assunto.

Ellin: Não. Ele vai estar ocupado.

Houve uma pausa, então mais uma mensagem chegou.

Ellin: Se você estiver livre, podemos nos encontrar.

Uma proposta simples, sem rodeios, mas carregada de significado. Cas não respondeu de imediato. Observou a frase por um instante, sentindo um resquício de algo que não sabia nomear.

Caspian: Tudo bem.

Houve um pequeno intervalo antes de ele acrescentar:

Caspian: Estarei na biblioteca.

Ellin visualizou a mensagem, mas não respondeu. Cas esperou alguns segundos antes de bloquear a tela e deslizar o celular de volta ao bolso, a mente ainda levemente dispersa.

O professor continuava explicando alguma coisa que ele não absorveu.

Ellin leu a resposta e abaixou o celular, tentando voltar sua atenção para a aula.

……

Cas olhou pela janela estreita da sala de aula de Ellin, seu coração apertando ao ver o ômega caído sobre a mesa, o rosto pálido e cansado. Olheiras emolduravam os olhos fechados de Ellin, e seu peito subia e descia em respirações superficiais e irregulares.

Cas franziu a testa, seus instintos formigando. Algo parecia errado.

Entrou silenciosamente, o som de suas botas abafado pelo carpete gasto. A sala estava vazia, exceto por Ellin, que não se mexeu quando Cas se aproximou. Cas agachou-se ao lado dele, seus instintos de alfa gritando para consertar o que quer que estivesse errado.

Estendeu a mão, afastando uma mecha de cabelo da testa de Ellin, sentindo o calor de sua pele.

— Ellin — murmurou suavemente, a voz baixa e suave —, acorde.

Os olhos de Ellin se abriram, nebulosos e desfocados.

— Cas? — murmurou, a voz grossa de sono. — O que você está fazendo aqui?

— Você me chamou, disse que estaria livre depois do almoço — disse Cas, o tom gentil, mas carregado de preocupação. — Mas você nem almoçou. Tem estado exausto ultimamente. O que está acontecendo?

Ellin sentou-se lentamente, estremecendo ao se mexer na cadeira. Evitou o olhar de Cas, as mãos instintivamente movendo-se para o peito, pressionando-o levemente, como se tentasse aliviar uma pressão invisível.

— Não é nada — murmurou, a voz quase um sussurro.

Os olhos de Cas se estreitaram. Já tinha visto aquele gesto antes — o desconforto, a tentativa de esconder. Suas narinas se contraíram, captando o leve e doce cheiro de angústia sob o aroma usual de baunilha e mel de Ellin.

— Não é nada, Ellin? Você está com dor, não está?

Ellin estremeceu, o rosto corando. Desviou o olhar, os dedos mexendo na ponta da camisa.

— Estou bem, Cas. Sério.

— Você não está bem — insistiu Cas, a voz mais firme agora. Estendeu a mão, pousando-a no braço de Ellin. — Você não tem drenado seu leite, tem?

Ellin congelou, a respiração presa na garganta. Olhou para Cas, o pânico piscando nos olhos.

— Eu… eu não posso — gaguejou, a voz quase inaudível. — Tenho ajudado muito minha avó ultimamente. Não tenho tempo pra fazer isso em casa, e aqui… bem, você sabe. Eu… eu não sabia mais o que fazer.

O coração de Cas apertou. Só podia imaginar como aquela condição fazia Ellin se sentir — constrangido, exposto, preso em um corpo que nem sempre conseguia controlar. Mas também sabia o quanto pioraria se ele não aliviasse a pressão logo.

— Ellin — disse suavemente, o tom firme, mas gentil —, você precisa cuidar de si mesmo, ou vai piorar.

Ellin balançou a cabeça, os olhos brilhando com lágrimas contidas.

— Eu não posso, Cas. Não posso arriscar fazer isso aqui. Eu só… eu não quero ser um fardo.

— Você não é um fardo — disse Cas com firmeza, apertando o braço de Ellin. — Eu farei o que for preciso para garantir que você esteja bem. Deixe-me ajudá-lo.

Ellin hesitou, as bochechas ainda coradas de vergonha. Olhou ao redor da sala de aula vazia, como se temesse que alguém pudesse ouvir.

— Tudo bem, mas… por favor, não aqui — sussurrou, quase inaudível.

— Claro que não — Cas balançou a cabeça. — Vamos para um lugar em que ninguém possa nos achar. Você tem o que precisa?

— Sim, na mochila.

— Então venha comigo.

Cas se levantou, oferecendo a mão a Ellin. Após um momento de hesitação, Ellin a pegou, permitindo que Cas o ajudasse a se pôr de pé. Agarrou a mochila antes de saírem.

Moveram-se rapidamente pelos corredores, Cas guiando-o até o antigo armazém nos fundos da escola — um lugar que sabia estar vazio. O ar era frio e empoeirado, mas silencioso, isolado, longe de olhares curiosos.

Cas trancou a porta atrás deles e se virou para Ellin.

O ômega parecia nervoso. Segurava a mochila contra o peito como um escudo, os dedos crispados nas alças. Cas via a hesitação estampada em seu rosto.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Ellin perguntou, a voz baixa, evitando seu olhar.

Cas cruzou os braços, impaciente.

— Não é sobre querer, Ellin. Você precisa. E eu tô aqui pra ajudar.

Ellin abaixou a cabeça, mordendo o lábio. Com a mochila em mãos, tirou os itens familiares: as bombas de leite e os recipientes que carregava consigo.

— Como funciona? — perguntou Cas, referindo-se aos itens.

Ellin engoliu em seco antes de começar a explicar o processo. Cas ouviu atentamente, tentando ignorar o rubor cada vez mais intenso no rosto dele.

Cas puxou uma cadeira do canto e se sentou.

— Sente-se no meu colo. Vai ser mais fácil.

O rosto de Ellin corou mais uma vez, mas ele não discutiu. Mexeu-se com cuidado, acomodando-se contra o peito de Cas, as costas pressionadas ao corpo largo do alfa. Os braços fortes de Cas o envolveram, uma mão acariciando seu estômago num gesto reconfortante.

— Confie em mim — disse suavemente, a voz firme e acolhedora.

Ellin assentiu.

— Eu confio em você, Cas.

Cas moveu as mãos devagar, posicionando as bombas nos seios de Ellin e ajustando-as com o máximo de cuidado. Depois, começou a pressioná-los suavemente, como Ellin havia instruído.

Cas fechou os olhos. Seu corpo ficou tenso no início, e ele percebeu quando Ellin segurou os próprios joelhos, tentando se conter. Seus cílios tremiam à medida que a pressão começava a diminuir. As mãos de Cas agarraram as coxas de Ellin, sua respiração engasgando na garganta.

A respiração de Cas também se prendeu ao ver o alívio no rosto do ômega — o doce e inebriante aroma de leite misturando-se aos feromônios naturais de Ellin.

Conforme o leite começou a fluir, o ômega relaxou, soltando um suspiro aliviado. As mãos de Cas pressionavam suavemente os seios de Ellin, ajudando o leite a sair com mais facilidade.

Por um tempo, permaneceram assim: Cas concentrado na tarefa, sentindo sob os dedos a tensão dos músculos de Ellin ceder pouco a pouco. O silêncio era quebrado apenas pelo som do leite sendo armazenado nas garrafas.

Então, de repente, Ellin quebrou o silêncio:

— Normalmente, eu prefiro fazer isso sozinho.

A voz dele soou frágil, como se fosse uma confissão. Cas não interrompeu os movimentos, mas lhe deu total atenção.

— Eu imagino.

Ellin abaixou a cabeça.

— Eric… ele nunca faz questão de me ajudar de verdade. Não que eu quisesse que ele fizesse isso, mas…

Cas apertou os lábios.

— Mas?

Ellin hesitou antes de continuar:

— Quando ele fazia… ele me machucava. Não se importava se eu estava com dor ou desconfortável. Só pensava no próprio prazer.

Um arrepio percorreu a espinha de Cas. O que ele já suspeitava, agora se confirmava. A raiva cresceu dentro dele, mas respirou fundo, tentando manter a calma. Aquele momento não era sobre seu ódio por Eric. Era sobre Ellin.

— Você nunca deveria ter passado por isso — disse ele, com a voz carregada de contenção.

Ellin apenas sorriu, um sorriso triste. Sua respiração engasgou de novo, um som suave e choroso escapando de seus lábios.

— Cas…

A voz de Ellin era quase inaudível, uma mistura de constrangimento e algo mais… necessitado.

— Relaxe — acalmou Cas, seus dedos ainda trabalhando com cuidado —, você não precisa ficar envergonhado. Não comigo.

A cabeça de Ellin tombou para trás, repousando contra o ombro de Cas, seu peito subindo e descendo rapidamente. O alfa podia sentir o coração do ômega acelerado, o leve cheiro de excitação misturando-se à doçura de seus feromônios.

As garrafas estavam cheias. A pressão no peito de Ellin havia quase desaparecido por completo. Cas removeu as bombas com cuidado, enquanto Ellin tampava os recipientes e os colocava de lado, com igual atenção.

As mãos de Cas permaneceram no peito de Ellin, seus polegares roçando os mamilos sensíveis. Ellin arfou bruscamente, seus quadris balançando involuntariamente.

— Me desculpe — deixou escapar Cas, o rosto em chamas enquanto tentava se afastar.

— Não sinta, está tudo bem — disse ele, gentilmente.

A respiração de Ellin engasgou outra vez, seu corpo tremendo enquanto lutava para controlar a própria reação. Mas a evidência da excitação era impossível de ignorar.

Ellin se atrapalhou com as roupas, as mãos tremendo enquanto tentava se recompor. Cas observou em silêncio, seus olhos esbranquiçados suaves e compreensivos. Quando terminou, levantou-se rapidamente, guardando os itens de volta na mochila.

— Eu deveria ir — disse Cas, a voz firme.

Ellin estendeu a mão, quase tocando o pulso dele.

— Ellin, espere—

Mas Cas se afastou, os olhos baixos.

— Obrigado. Por… por me ajudar.

Antes que Cas pudesse responder, Ellin já destrancava a porta, deixando o alfa sozinho.

Cas recostou-se na cadeira, passando a mão pelos cabelos escuros. Seu peito doía com o peso do constrangimento de Ellin, mas mais do que isso, doía com a necessidade de proteger, cuidar, amar.

Ele daria espaço a Ellin — por ora. Mas uma coisa era certa: não permitiria que seu ômega carregasse esse fardo sozinho.

……

O coração de Ellin batia com força quando ele fechou a porta do banheiro atrás de si, mexendo na fechadura até ouvir o clique. Sua respiração era superficial, e as bochechas ardiam de humilhação.

Cas me viu assim. Ele me sentiu. E eu fiquei com tesão. Como uma espécie de animal.

Encostou a testa no metal frio da porta da cabine, tentando se firmar, mas a imagem das mãos de Cas em seu peito, aqueles dedos fortes apertando gentilmente seus seios inchados, não parava de passar em sua mente. A lembrança enviou uma onda de calor direto para sua virilha, e ele gemeu baixinho, traído pelo próprio corpo.

“Não posso voltar para a aula assim.”

Relutante, Ellin puxou o cós da calça, baixando-a junto com a cueca. Sua ereção saltou à frente, e ele hesitou, tomado por uma mistura de culpa, vergonha e necessidade. Isso é errado. Muito errado. Mas a pressão era insuportável. Seus dedos tremiam ao envolver a mão em torno de si mesmo, dando um golpe hesitante. Um estremecimento percorreu seu corpo, e ele mordeu o lábio com força para conter um gemido.

Enquanto se movimentava, sua mente se voltava para Cas. As mãos dele… tão quentes, tão seguras. Ele não era bruto, mas também não era hesitante. Sabia exatamente o que eu precisava.

A mão livre de Ellin subiu até o peito. Ele hesitou por um instante antes de desabotoar a camisa, expondo o torso. Os mamilos ainda estavam sensíveis, inchados de leite e, ao passar os dedos sobre eles, um pequeno suspiro escapou de seus lábios. Algumas gotas de leite se acumularam nas pontas, e ele se arrepiou.

Fechou os olhos, imaginando que eram as mãos de Cas sobre ele — aqueles dedos calejados que pareciam sempre saber como tocá-lo. O que ele faria se me visse assim? O pensamento o atravessou como uma lâmina quente, e ele se apertou com mais força, os movimentos se tornando mais desesperados. A outra mão imitava os gestos de Cas, apertando e massageando gentilmente seu peito, ajudando o leite a fluir livremente.

Estou uma bagunça. Uma bagunça completa.

Os sons da própria respiração enchiam a cabine, misturando-se com os ruídos úmidos das mãos trabalhando sobre o corpo. Sua mente era um turbilhão de culpa e prazer. E ele não conseguia afastar as imagens que o invadiam: a voz de Cas, seu cheiro, o modo como seus olhos o olhavam com tanto cuidado.

E se ele não tivesse parado? E se ele tivesse continuado?

O pensamento o empurrou para o limite. Seus movimentos se tornaram frenéticos, a respiração entrecortada.

Quando gozou, foi com um grito abafado, o corpo estremecendo sob ondas de prazer que o invadiram sem piedade. Sua liberação se espalhou pela parede da cabine, e ele permaneceu ali por um momento, tremendo, a mão ainda sobre si.

Seu peito pesava, e ele podia sentir a umidade pegajosa do leite em sua pele, misturada ao suor na testa.

“O que eu fiz?”

A realidade voltou com brutalidade, e seu estômago se revirou de culpa. Pegou a mochila, retirou uma toalha pequena e começou a se limpar com movimentos apressados. A evidência do que fizera estava por toda parte — na parede, no chão, em si mesmo. Limpou tudo o melhor que pôde, as mãos trêmulas, mas sabia que não conseguiria apagar a vergonha.

Tenho que ser mais cuidadoso. Não posso deixar que isso aconteça de novo.

Vestiu-se rapidamente, abotoando a camisa com dedos trêmulos, ajustando a calça. Quando ergueu o rosto, o reflexo no espelho acima da pia era pálido, os olhos arregalados, assombrados.

E se alguém tivesse entrado? E se Cas descobrisse?

O pensamento fez seu estômago se contrair novamente. Jogou água fria no rosto, tentando acalmar o rubor que teimava em tingir suas bochechas. Mas, por mais que tentasse, não conseguia apagar da pele — nem da memória — o toque de Cas. Nem a forma como ele o havia feito se sentir.

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