Capítulo 4
A manhã arrastava-se em tons pálidos, o céu encoberto por uma camada difusa de nuvens, abafando o brilho do sol e tornando o ar frio e denso. Os corredores ainda estavam tranquilos, preenchidos apenas pelo som ocasional de passos dispersos e conversas murmuradas.
Ellin caminhava com a postura controlada de sempre, os livros apertados contra o peito, o olhar vagamente distraído. O cheiro suave de papel e tinta ainda impregnava suas roupas da noite anterior, lembrando-o do tempo que passara organizando os arquivos da biblioteca.
— Bom dia, querido. — Cortou a voz, rouca e arrastada, carregando a familiaridade irritante de quem sabia exatamente como desestabilizá-lo. — Sempre tão ocupado, não é?
Eric ronronou, sua voz escorrendo com uma doçura falsificada.
Ellin parou. Os dedos apertaram os livros por reflexo antes que ele se virasse. Eric estava ali, encostado contra os armários com a despreocupação ensaiada de quem sabe que sempre terá a atenção desejada.
Seu sorriso era lânguido, os olhos semicerrados numa mistura de tédio e curiosidade, como quem avalia um brinquedo antes de decidir se vale o tempo.
— Você acorda cedo para alguém que vive reclamando. — Comentou Ellin, mantendo o tom neutro.
Eric riu e se empurrou dos armários com um movimento preguiçoso.
— E você sempre diz que não tem tempo, mas, de alguma forma, nunca me evita.
A aproximação foi precisa: o bastante para quebrar a distância, mas sem transparecer agressividade. Ellin manteve-se firme, embora sentisse o olhar de Eric percorrer seu corpo — um toque invisível que se demorava mais do que deveria.
— O que você quer? — Suspirou Ellin.
— Nada demais. — Respondeu Eric, inclinando a cabeça com um sorriso mais íntimo. — Só quero roubar um pouco do seu tempo antes da aula. Você sabe o quanto eu gosto de começar o dia com você.
Sem esperar resposta, segurou-o pelo pulso. A firmeza no gesto não era bruta, mas clara. Ellin sabia que resistir não era uma opção prudente — Eric não reagia bem a negativas, embora adorasse provocá-las.
Seguiu-o em silêncio por corredores que se tornavam progressivamente mais vazios, até pararem diante da porta entreaberta de um almoxarifado esquecido, trancado apenas por um descuido. Um espaço estreito, abafado, repleto de caixas empilhadas, produtos de limpeza e um odor discreto de papelão úmido.
Assim que entraram, Eric fechou a porta atrás de si com um estalo seco. Sem perder tempo, seus dedos deslizaram pela cintura de Ellin, puxando-o para perto. A respiração quente contra sua pele foi o prenúncio do beijo: insistente, possessivo e impaciente, como tudo que Eric sabia fazer bem.
Seus dedos apertaram o quadril de Ellin com a confiança de quem conhece todas as reações antes que aconteçam. O corpo de Ellin se enrijeceu, mas não se afastou. Fechou os olhos, tentando pensar em qualquer coisa que não fosse o toque invasivo do alfa. Um arrepio subiu por sua espinha, mas ele não se deu ao luxo de hesitar.
Respondeu ao beijo com a mesma intensidade — não por desejo, mas por uma necessidade contida e amarga. As mãos subiram pelo peito de Eric, sem ternura, apenas tensão. Havia algo não dito pairando entre eles, uma presença silenciosa à beira do colapso.
Eric sorriu contra sua boca, saboreando os suspiros involuntários que escapavam entre um beijo e outro. Com mãos ágeis, desabotoou a blusa de Ellin, deslizando os dedos para dentro com um toque brusco. Os seios inchados cederam sob sua palma, os dedos apertando com impaciência, beliscando os mamilos sensíveis até que um leve gemido escapasse dos lábios de Ellin.
Quando Eric finalmente se afastou, seus olhos se estreitaram, analisando o peito do ômega com suspeita.
— Hmm… — murmurou, franzindo o cenho. — Eles não parecem tão cheios como de costume. O que está acontecendo?
O coração de Ellin vacilou, mas sua expressão permaneceu inalterada.
— Eu tenho drenado com mais frequência. — disse calmamente. — O acúmulo de leite é doloroso durante as aulas.
Eric estalou a língua, visivelmente irritado.
— Que desperdício. — Resmungou, suas mãos ainda vagando pelo peito exposto de Ellin.
Ellin manteve-se quieto, observando a frustração silenciosa que escurecia o rosto do alfa. Os dedos de Eric voltaram aos mamilos, provocando com lentidão e intenção. Ellin ofegou, as mãos apertando uma das caixas ao seu lado. O nojo borbulhava no peito, mas seu corpo traía seu desconforto.
— Você realmente é inútil desse jeito.
A mandíbula de Ellin se contraiu. Silenciosamente, abotoou a blusa, as mãos trêmulas ao fazê-lo.
— Podemos nos encontrar depois da aula, para tentar de novo. — Murmurou Eric, a voz baixa, como se a decisão já estivesse tomada.
Ellin abriu os olhos, as íris azuis refletindo a fraca luz que penetrava pelas frestas do almoxarifado.
— Não posso.
O aperto em sua cintura se firmou — um gesto sutil, mas revelador.
— Ah?
— Tenho trabalho na biblioteca.
Um breve silêncio recaiu, denso, e Ellin pôde perceber a mudança imperceptível na respiração de Eric. Ele odiava ser recusado. E, como sempre, lidava com isso da maneira mais desagradável possível.
O sorriso voltou aos lábios do alfa, agora tingido por algo mais sombrio.
— Deixa eu adivinhar… você prefere passar o fim da tarde cheirando a páginas velhas em vez de vir comigo?
— Não é uma questão de preferência. — Respondeu Ellin, a voz firme.
— É sim. — Sussurrou Eric, arrastando os lábios pelo pescoço do ômega antes de morder de leve a pele sensível. — Você só não quer admitir.
Ellin esforçou-se para manter o semblante impassível. A forma como Eric explorava seus pontos fracos era mais do que irritante — era um jogo cruel. A risada baixa que veio a seguir confirmou que ele sabia exatamente o que fazia.
— Não se preocupe… eu o tornarei útil novamente.
O coração de Ellin se acelerou, mas ele manteve a compostura. O aperto das mãos de Eric afrouxou, mas seus olhos mantinham-se escuros, intensos.
— Pode ir agora, mas não pense que isso acabou. Hoje à noite, vou me certificar de que esteja pronto para mim. Você sabe o que quero dizer, não é?
O estômago de Ellin se revirou, mas ele apenas assentiu, puxando o pulso para si.
Virou-se e saiu do almoxarifado com os ombros tensos e o coração disparado, como se o ar frio do corredor não fosse suficiente para aliviar o peso do que acabara de acontecer.
……
A biblioteca estava silenciosa — o tipo de silêncio que te envolvia como um cobertor, abafando o mundo exterior. Havia apenas o som ocasional de páginas viradas e o farfalhar discreto dos passos entre as estantes. O cheiro de papel envelhecido misturava-se ao perfume amadeirado dos móveis antigos, criando uma atmosfera reconfortante e imutável.
Cas e Ellin andavam juntos pelos corredores estreitos, sua presença tão natural agora que nem justificava um segundo pensamento. O ritmo de suas tarefas compartilhadas — empilhar livros, organizar prateleiras, sussurrar piadas — havia se tornado uma rotina, mas não uma rotina monótona. Era o tipo de rotina que parecia menos uma obrigação e mais um lar.
O espaço entre eles parecia menor a cada dia, a barreira invisível que antes os separava dissolvendo-se em gestos simples — um livro entregue sem palavras, um toque acidental ao se movimentarem no corredor estreito, um olhar trocado quando um dos dois dizia algo que o outro achava divertido.
Era um daqueles momentos em que o silêncio entre eles era confortável, preenchido apenas pelo farfalhar das páginas e pelo som suave de livros sendo colocados de volta às prateleiras.
— Cas, você não precisa ir para minha casa hoje.
— Hmm? Você vai fazer sozinho?
— Não, Eric disse que quer me encontrar hoje à noite.
O nome soou como um estilhaço de vidro — cortante e inesperado. Cas sentiu seu corpo enrijecer, os músculos se preparando instintivamente para algo ruim — porque, quando se tratava de Eric, nunca poderia ser algo bom.
— Te encontrar? Quer dizer, para… — Sua voz saiu baixa, mas tensa, carregada de um alerta silencioso.
— Sim. Ele tentou hoje mais cedo e, quando não deu certo, ficou irritado… disse que ia me tornar funcional de novo. Se eu não tiver nada dessa vez — ele levou uma das mãos ao peitoral, instintivamente —, ele vai ficar ainda mais irritado.
A frase foi dita com uma calma tão ensaiada que quase parecia trivial, mas Cas sentiu como se algo dentro dele tivesse sido arrancado e deixado para sangrar.
Ele segurou a respiração por um instante, os olhos cravados em Ellin, esperando que ele dissesse que era só uma provocação, que Eric não faria nada de fato. Mas Ellin apenas apertou sua mão, como se quisesse prepará-lo para o que viria em seguida.
— Eu quero matar ele, Ellin. Eu quero que ele…
— Por favor, se acalme. Ficar com raiva assim não vai me ajudar.
Cas queria dizer que não, que aquilo não aconteceria, que Eric jamais encostaria um dedo nele de novo. Queria arrancá-lo daquela situação, levá-lo para longe — onde ninguém jamais pudesse tratá-lo dessa forma.
Mas Ellin estava ali, calmo, olhando para ele com aqueles olhos azuis que pareciam conter oceanos inteiros de resignação.
— Eu não tenho escolha, Cas — disse, baixinho. — Se eu me recusar, ele pode fazer algo pior.
Pior. A palavra reverberou dentro de Cas como uma ameaça silenciosa, e foi naquele momento que ele percebeu o que realmente o aterrorizava.
Não era apenas o que Eric fazia. Era o que ele poderia fazer. O que ele ainda não havia feito.
Cas engoliu em seco, sentindo o gosto metálico do próprio medo. Porque agora sua mente começou a reconstruir cenários — como havia feito antes —, mas dessa vez eram imagens terríveis. Visões de Ellin sozinho, vulnerável, nas mãos de alguém que não via valor nele além do prazer que podia literalmente extrair.
Cas respirou fundo, os nós dos dedos ficando brancos sobre a mesa.
— Eu não quero deixar isso acontecer.
— Eu sei — Cas sentiu o toque quente e reconfortante dele em sua mão, um contraste doloroso com o assunto que discutiam —, vou fazer o possível para acabar logo. — Ellin acrescentou, como se estivesse tentando convencê-lo, tentando convencer a si mesmo.
Cas não acreditava nisso. Não quando Eric ainda estava por perto, quando ainda tinha qualquer controle sobre Ellin. Mas ele sabia que não podia interferir sem tornar tudo pior.
E isso o destruía por dentro.
Por mais que sua raiva queimasse, por mais que seu instinto gritasse para fazer algo, ele sabia que, naquele momento, suas mãos estavam atadas.
— Tenha cuidado — murmurou, sentindo como se aquelas palavras não fossem o suficiente. Nunca fossem o suficiente. — Qualquer coisa… qualquer coisa mesmo, me ligue.
— Eu ligaria para você antes de qualquer outra pessoa.
Cas não sabia dizer se isso o confortava ou o fazia se sentir ainda pior.
— Por favor, não fique pensando nisso. Vamos falar sobre outra coisa, tudo bem?
— Tudo bem. — Cas hesitou, mas sabia que Ellin tinha razão. Essa raiva não lhe faria bem.
— Já decidiu o tema da sua cafeteria? — perguntou Ellin de repente, quebrando a quietude.
Cas, que voltava a empilhar alguns livros grandes de literatura clássica, arqueou uma sobrancelha, como se a pergunta não fizesse sentido.
— Minha o quê?
— A cafeteria da sua turma — Ellin explicou com um sorriso discreto, deslizando um livro na prateleira com um movimento gracioso. — O evento? Todas as turmas precisam organizar uma.
Cas fez uma expressão de leve descrença. Ele havia ouvido falar sobre aquilo por alto, mas não se dera ao trabalho de prestar atenção. Eventos escolares nunca foram sua prioridade.
— Não faço ideia — respondeu, sem entusiasmo. — Nem sei se vou participar.
— Não pode simplesmente ignorar — disse Ellin, fingindo indignação, pousando a ponta dos dedos sobre a prateleira mais próxima e inclinando ligeiramente a cabeça. — É uma grande tradição da escola! As turmas competem para ver quem tem a melhor cafeteria.
— E o que vocês ganham?
— Prestígio. Orgulho. Diversão — Ellin sorriu. — Talvez um prêmio simbólico.
Cas bufou levemente, mas havia um brilho sutil em seus olhos que indicava que, apesar de sua resistência, ele estava ouvindo.
— Então, qual vai ser o tema da sua turma? — ele perguntou, mais para manter a conversa do que por real interesse.
Ellin ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de responder:
— Uma cafeteria vitoriana. Com decoração tradicional, trajes elegantes, cardápio refinado. Algo sofisticado e encantador.
Cas parou momentaneamente para imaginá-lo vestido de forma requintada, cercado por porcelanas delicadas e um ambiente decorado com papel de parede floral e mobília de madeira entalhada. Combinava com Ellin.
— Faz sentido — murmurou.
Ellin sorriu, percebendo a aprovação velada.
— E a sua turma? — provocou, inclinando-se ligeiramente para ele. — O que acha de um café de delinquentes? Imagino um ambiente sombrio, luz baixa, garçons com jaquetas de couro e cicatrizes falsas no rosto. Talvez até sirvam café em canecas que parecem latas de spray de grafite.
Cas soltou uma risada curta e nasal.
— Ridículo.
— Perfeito, você quer dizer — retrucou Ellin com ar divertido. — Podem chamar de Reformatório Café. A experiência completa de um beco perigoso, mas com bons lanches.
Cas balançou a cabeça, mas havia uma curva quase imperceptível no canto de sua boca.
— Não depende de mim. Talvez a gente sirva um café tão forte que dê vontade de socar alguém.
Ellin colocou a mão no peito, como se estivesse profundamente comovido.
— Poético. Um café que captura a essência da sua turma.
Cas lançou-lhe um olhar de soslaio antes de se apoiar contra uma das estantes.
— Você parece bem animado com isso.
— Claro. É um evento divertido — respondeu Ellin, pegando mais alguns livros para organizar. — Além disso, acho que é o tipo de coisa que cria boas lembranças.
Cas observou-o por um momento, sem responder de imediato.
— Vai usar um uniforme vitoriano completo?
— Provavelmente — Ellin sorriu —, um casaco com botões dourados, luvas brancas, talvez até uma cartola.
Cas olhou para o próprio uniforme escolar, que já lhe parecia incômodo o suficiente.
— Parece desconfortável.
— Parece elegante — corrigiu Ellin.
Cas apenas resmungou algo inaudível antes de voltar a empilhar os livros.
— Você deveria pelo menos aparecer — sugeriu Ellin casualmente. — Eu poderia servir um chá para você.
Cas não respondeu de imediato, mas seu olhar fixo sugeria que ele não havia descartado a ideia por completo.
— Vou pensar no assunto.
Ellin sorriu, satisfeito, e voltou ao trabalho.
Cas gostava de vê-lo sorrir. Gostava da forma como seus olhos se estreitavam levemente, das pequenas pausas em sua fala quando tentava conter o riso, da maneira como seu corpo relaxava sem perceber.
Ellin estava equilibrando um livro pesado em uma mão, a outra apoiada na prateleira inferior para apoio. A posição era desconfortável, mas ele manteve a postura graciosa, os movimentos meticulosos na tentativa de encontrar o espaço certo.
— Está indo bem aí? — perguntou Cas, a voz carregando um tom de diversão discreta.
— Sim — respondeu Ellin, soprando uma mecha solta do rosto.
Cas o observou por um momento, admirando a maneira como as sobrancelhas de Ellin franziam em concentração, a maneira como seus lábios se separavam levemente enquanto ele inclinava a cabeça. Havia algo quase hipnótico na graça do ômega, mesmo em algo tão mundano quanto colocar um livro na prateleira.
Ellin tentou erguer o livro com uma mão só, a outra apoiada na estrutura de madeira abaixo. Cas franziu o cenho. Algo estava errado.
Ele notou a maneira como a prateleira tremia. Era leve, quase imperceptível, mas estava lá. Seus instintos se inflamaram. Antes que pudesse alertá-lo, o som da madeira se estilhaçando encheu o ar — agudo e repentino — e quebrou o silêncio.
O tempo pareceu desacelerar quando, em um movimento rápido, ele fechou a distância entre eles, envolvendo seus braços em volta de Ellin e puxando-o para perto. Virou o corpo, protegendo Ellin. O impacto ressoou pelo corredor, seguido pelo estrondo abafado dos livros que caíam em uma avalanche caótica. Cas não pensou. Ele apenas agiu.
O peso dos volumes antigos golpeou suas costas e ombros, mas ele manteve Ellin seguro.
Por um momento, houve apenas o som dos livros caindo no chão, o rangido da prateleira quebrada e o rápido zumbido do batimento cardíaco de Cas em seus ouvidos. Então, silêncio. Cas não se moveu; seu aperto em Ellin era inflexível enquanto esperava para ter certeza de que o perigo havia passado.
O cheiro de poeira pairava no ar, e alguns livros ainda escorregavam preguiçosamente das prateleiras desalinhadas. Quando teve certeza de que havia acabado, ele afrouxou o aperto apenas o suficiente para olhar para Ellin.
Ellin piscou algumas vezes, como se estivesse tentando processar o que acabara de acontecer. Então, finalmente, seus olhos encontraram os de Cas — arregalados em uma mistura de surpresa e preocupação.
— Cas, você está bem? — sua voz saiu quase trêmula. — Meu Deus, isso—
— Estou bem — interrompeu Cas, seu tom firme. Ele não se importava com os hematomas que já podia sentir se formando nas costas. — Você não está machucado?
Ellin balançou a cabeça, mas suas mãos ainda estavam segurando a camisa de Cas, os dedos tremendo levemente.
Foi então que ambos perceberam o quão próximos estavam. Tão próximos que suas respirações se misturavam. Cas podia sentir o calor do corpo de Ellin pressionado contra o seu, e seu cheiro — doce e reconfortante — o envolvia como um feitiço.
Ellin ainda estava preso contra ele, os braços de Cas ao redor de sua cintura, como se segurassem algo precioso. Seus olhos azuis refletiam a luz dourada que filtrava pelas janelas altas. Cas sentiu quando ele se moveu levemente, os dedos hesitantes tocando seu peito, como se quisesse se afastar, mas ao mesmo tempo relutasse em fazê-lo.
A tensão entre eles não era algo novo, mas, naquele momento, era palpável, densa como o próprio ar ao redor. Nenhum dos dois se moveu. Nenhum dos dois falou.
Ellin foi quem quebrou a distância primeiro.
Seus dedos subiram pelo tecido da camisa de Cas, os olhos buscando os dele em uma última permissão silenciosa antes que seus lábios se encontrassem.
Não foi um beijo nascido da paixão ou luxúria. Foi suave, como se ambos estivessem provando algo pela primeira vez. Cas retribuiu com a mesma ternura, os olhos se fechando à medida que a sensação tomava conta de si.
Ellin suspirou contra seus lábios, e o som foi suficiente para despertar algo nele — algo profundo e instintivo — que o fez apertá-lo um pouco mais, aprofundando o beijo com um carinho que beirava a devoção.
Quando se afastaram, Ellin não pareceu satisfeito.
— De novo — murmurou, quase inaudível.
Quem era Cas para negá-lo? Ele o beijou de novo, mais profundamente dessa vez, suas mãos deslizando para o rosto de Ellin como se ele fosse algo frágil.
Ellin parecia não conseguir ter o suficiente, sua respiração saindo em suspiros curtos e trêmulos entre os beijos. Ele segurou os ombros de Cas, os dedos apertando o tecido da camisa como se temesse que ele se afastasse. Mas Cas não o fez.
Era impossível dizer quanto tempo ficaram assim, o mundo ao redor deles desaparecendo na insignificância. Tudo o que importava era aquilo — o calor dos lábios de Ellin, a maneira como seu corpo se encaixava tão perfeitamente contra o de Cas.
Foi apenas quando notou o leve inchaço nos lábios de Ellin que Cas interrompeu os beijos, afastando-se apenas o suficiente para olhá-lo com atenção.
— Ellin — disse, a voz áspera de preocupação —, você não está machucado, está? Se você estiver—
— Estou bem — interrompeu Ellin, a voz firme apesar do leve tremor —, me desculpe. Eu não perguntei se você queria, eu só—
— Tudo bem. — Quando Ellin parou de falar, suas bochechas coraram em um tom profundo e belíssimo de rosa. — Como foi?
— Foi bom.
— Você se sente bem?
— Sim… como se eu não conseguisse ter o suficiente de você.
O coração de Cas disparou com as palavras, suas mãos apertando a cintura de Ellin como se precisasse de âncora.
— Você pode ter o quanto quiser de mim, Ellin. Sempre.
A respiração de Ellin engatou, seus olhos procurando o rosto de Cas como se buscassem por algo — alguma forma de segurança. Quando encontrou, sua expressão suavizou; seus lábios se curvaram em um sorriso tímido.
— Sempre? — sussurrou, a voz quase inaudível.
Cas não hesitou.
— Sempre. — Repetiu, o tom firme e inabalável.
O som de passos ecoando pelo corredor deixou Cas tenso; seus braços instintivamente apertaram Ellin, enquanto ele virava a cabeça para ver quem se aproximava. Mas Ellin não se afastou. Em vez disso, permaneceu pressionado contra o peito de Cas, os dedos ainda segurando sua camisa, a respiração quente contra o pescoço dele.
Quando a bibliotecária apareceu, os olhos arregalados ao ver a prateleira quebrada e os livros espalhados, Cas não soltou Ellin. Apenas encontrou seu olhar, a expressão calma e sem remorso.
— Meninos, vocês estão bem?
— Sim, estamos bem. Foi um acidente. Nós vamos limpar — disse ele, o tom firme, mas educado.
Cas olhou para Ellin, a expressão suavizando enquanto afastava uma mecha de cabelo do rosto do ômega.
— Tem certeza de que está bem? — perguntou, a voz baixa e cheia de preocupação.
Ellin assentiu, as bochechas ainda coradas, mas o sorriso inabalável.
— Sim — disse, a voz firme pela primeira vez desde que a prateleira quebrou —, estou bem.
— Que bom. Agora vamos limpar essa bagunça.
— Claro.
— Agora você tem uma desculpa para não ir ver Eric esta noite. Esse incidente provavelmente vai ser notificado. Mesmo que você não tenha se machucado, diga a ele que estava aqui.
……
A enfermeira suspirou profundamente, os olhos estreitando-se em uma expressão de preocupação contida enquanto deslizava um algodão encharcado em antisséptico contra o couro cabeludo de Cas. Ele sentiu a ardência imediata, mas não reclamou.
— Você tem sorte de não ter desmaiado no meio do caminho — disse ela, sem esconder o tom reprovador.
Cas permaneceu em silêncio por um momento, observando a iluminação fria da enfermaria projetar sombras geométricas no teto. O ambiente tinha o cheiro característico de antisséptico e lençóis limpos, e a textura do colchão sob suas mãos era áspera o suficiente para lembrá-lo de que deveria estar em outro lugar.
— Não foi tão ruim assim — murmurou, fechando os olhos quando sentiu outro algodão pressionar a lateral da cabeça.
— Foi, sim, senhor. Você tem uma concussão leve, Caspian. Se tivesse procurado assistência médica logo depois do acidente, eu poderia ter prevenido a dor de cabeça que está sentindo agora.
Cas desviou o olhar, a mandíbula tensa. De fato, sua cabeça latejava em um ritmo pulsante, a dor irradiando até a nuca e se espalhando pelos ombros como um peso incômodo. Mas não havia como admitir isso sem receber outro sermão.
— Não queria preocupar ninguém — disse simplesmente.
Na verdade, ele sabia que deveria ter ido até ali imediatamente, mas Ellin ainda estava perto demais quando o impacto dos livros se dissipou. Ele não queria que visse o sangue, nem a forma como sua visão oscilou por um instante antes de se estabilizar. Não queria que Ellin o olhasse daquele jeito — preocupado, talvez até culpado.
Então, manteve a compostura, garantiu que Ellin estava bem e encontrou uma desculpa para se afastar. Só depois que sua cabeça parou de zunir o suficiente para que pudesse andar sem tropeçar, seguiu até a enfermaria.
A enfermeira soltou um suspiro exasperado antes de continuar:
— Se sentir enjoo, tontura ou visão turva, volte aqui imediatamente. Isso pode piorar.
Cas assentiu de forma quase imperceptível, o olhar fixo em um ponto indefinido à sua frente. Ele queria sair dali logo.
— Foi muito nobre da sua parte proteger seu amigo, mas se machucar tentando proteger os outros não faz de você invencível. Lembre-se de que você precisa se cuidar.
Aquelas palavras, ditas de forma tão simples, pairaram no ar por mais tempo do que deveriam.
Cas manteve o rosto impassível, mas sua mente retornou ao momento em que puxou Ellin para seus braços sem hesitação, ignorando completamente o próprio bem-estar. A lembrança do toque delicado de Ellin em seu peito, o olhar preocupado e a suavidade do primeiro beijo fizeram sua respiração desacelerar.
Ele fechou os olhos por um instante.
— Entendido.
A enfermeira apenas balançou a cabeça, terminando de enfaixar a lateral de sua cabeça antes de se afastar.
Cas não respondeu de imediato. Apenas deslizou os dedos pelo curativo recém-feito, sentindo a textura do tecido contra a pele.
Então, sem olhar para trás, levantou-se e saiu.
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Capítulo 4
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