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Fragmentos de Nós

Capítulo 6

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Novel Info

O antigo armazém nos fundos da escola era um refúgio discreto, um espaço abandonado pelo tempo. O prédio se erguia à frente, seus tijolos vermelhos desbotados e janelas rachadas contrastavam fortemente com o movimentado campus que eles deixaram para trás.

Cas liderou o caminho, seu corpo musculoso projetando uma sombra protetora sobre Ellin enquanto eles entravam.

O ar estava frio, o silêncio ali era diferente do da biblioteca ou dos corredores desertos após o toque final – era um silêncio mais denso, um mundo à parte, onde ninguém os encontraria. Cas carregava uma bolsa pendurada no ombro, o peso dela mudando ligeiramente quando ele a colocou no chão.

— Você está bem? — Ele perguntou, sua voz baixa e firme.

Ellin assentiu rapidamente, ele seguia um pouco atrás, suas mãos mexendo na bainha de sua camisa.

— Sim. Só… pensando.

Cas não pressionou. Ele conhecia Ellin bem o suficiente para entender quando pressionar e quando deixar as coisas acontecerem. Em vez disso, ele estendeu a mão, seus dedos roçando levemente o pulso de Ellin.

— Vamos.

O armazém estava escuro, a luz do sol filtrando-se pelas janelas empoeiradas criando um brilho suave, quase etéreo. Cas os levou para um canto limpo onde algumas caixas velhas tinham sido reaproveitadas como assentos improvisados.

Cas ajeitou a bolsa ao lado e tirou de dentro duas marmitas, cuidadosamente preparadas.

— Achei que poderíamos almoçar em um lugar tranquilo. — Ele começou a desempacotar os recipientes, o aroma da refeição favorita de Ellin flutuando no ar, frango grelhado com um toque de alho e ervas, um prato que Cas havia aperfeiçoado apenas para ele.

Os olhos de Ellin brilharam, suas bochechas corando ligeiramente quando ele pegou o recipiente.

— Você fez isso?

— Claro. Eu sei o quanto você ama esse prato. — Cas sorriu, entregando-lhe um recipiente.

— Você não precisava fazer isso — disse ele, sua voz suave, mas grata —, mas… obrigado. O cheiro é incrível.

Cas se acomodou, encostando-se na parede e dando tapinhas no espaço ao lado dele.

— Vamos comer.

Ellin hesitou por um momento antes de se juntar a ele, seus ombros se tocando enquanto abriam suas refeições. A primeira mordida foi uma explosão de sabor, e Ellin não conseguiu evitar um suspiro suave de contentamento.

— Você é muito bom nisso, sabia? — ele disse, olhando para Cas —, você poderia ser um chef ou algo assim.

Cas riu, o som caloroso e profundo.

— Talvez. Mas acho que prefiro cozinhar para você. — Ele deu uma mordida em sua própria comida.

As bochechas de Ellin queimaram, e ele desviou o olhar, concentrando-se em sua refeição.

— Eu… eu não sei o que fiz para merecer você.

— Você não precisa fazer nada — disse Cas, sua voz suave, mas firme —, você é só você. Isso é mais do que suficiente.

Eles comeram em um silêncio confortável por um tempo, o tilintar rítmico de seus garfos contra os recipientes preenchendo o espaço silencioso. Quando terminaram, Cas se recostou, esticando os braços acima da cabeça.

— Cas.

— Hmm?

— Eu quero acabar com isso.

A voz saiu baixa, mas resoluta. Não era um sussurro hesitante, mas uma afirmação carregada de exaustão e uma ponta de desespero contido. Cas deixou a refeição de lado, inclinando-se ligeiramente para frente, o olhar atento capturando cada nuance daquela decisão inesperada.

— Com Eric?

Ellin assentiu, desviando o olhar para a janela, como se a luz morna pudesse suavizar a tensão que se acumulava em seu peito. Sua mão repousava sobre o joelho, e ele apertou a própria coxa levemente, como se precisasse de algum ponto físico de ancoragem.

— Não posso mais continuar assim — ele disse, com um suspiro profundo que parecia carregar o peso de meses de angústia. — Não quero mais sentir essa sombra sobre mim. Não quero mais olhar por cima do ombro toda vez que saio de casa. Não quero mais lidar com o jeito que ele me olha… como se eu fosse propriedade dele.

Cas permaneceu em silêncio por um momento, permitindo que Ellin colocasse para fora aquilo que havia guardado por tanto tempo. Ele já sabia de tudo isso, claro, mas ouvir Ellin dizer as palavras em voz alta dava-lhes uma gravidade diferente. Como se, ao nomear seus medos, ele estivesse começando a tomar posse deles, ao invés de deixar que eles o possuíssem.

— Então vamos acabar com isso — Cas disse, finalmente, a voz firme, mas calma. — De vez.

Ellin ergueu os olhos para ele, e havia uma vulnerabilidade ali que Cas reconhecia bem. O medo de falhar. O medo de que, mesmo com todos os esforços, Eric ainda encontrasse uma maneira de manter suas garras cravadas nele.

— Mas como? — perguntou Ellin, a voz mais baixa agora, quase um sussurro. — Ele não deixa rastros. Ele sempre foi cuidadoso… manipulador.

Cas manteve o olhar fixo no dele, sério.

— Precisamos reunir provas contra ele — Cas continuou, a voz firme, mas sem agressividade. — Se quisermos tirá-lo da sua vida de vez, temos que ter algo concreto.

Ellin apertou os lábios, hesitante.

— Você fala como se fosse fácil.

— Eu nunca disse que seria.

Cas inclinou-se um pouco mais para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, e olhou para Ellin com aquela seriedade sólida que sempre o fazia sentir que não estava sozinho, mesmo nos piores momentos.

— Você confia em mim?

Ellin ergueu os olhos para ele, surpreso com a pergunta.

— Claro que confio.

— Então vamos fazer isso direito.

O silêncio se alongou entre eles. Ellin, ainda sentado com as costas encostadas na parede fria do armazém, absorvia o peso daquela promessa silenciosa. O cheiro suave de comida caseira misturava-se com o ar ligeiramente abafado do local, mas ele mal o percebia, perdido em seus pensamentos.

Por fim, ele assentiu, o movimento quase imperceptível.

— Tudo bem.

Cas não sorriu, mas a determinação tranquila em seu olhar dizia o suficiente. Ele pousou o recipiente da marmita ao lado e estendeu a mão para Ellin.

— Pode me dar seu celular? Quero ver as mensagens entre vocês.

Ellin hesitou por um momento, mas acabou deslizando o aparelho do bolso e o entregando sem dizer mais nada. Cas o desbloqueou e começou a rolar a conversa entre ele e Eric. Já havia lido algumas mensagens antes, mas queria ter certeza de que não estava ignorando algo importante.

No entanto, como Ellin já havia dito, não havia nada ali que pudesse ser usado contra Eric. Nenhuma ameaça explícita. Nenhuma mensagem coercitiva. Apenas uma conversa fria, distante — um relacionamento que, ao menos pelas mensagens, parecia existir apenas por formalidade.

Cas bloqueou o celular e o devolveu com um gesto simples.

— Isso não vai servir para nada.

Ellin suspirou e apoiou a cabeça contra a parede.

— Eu te disse.

Cas inclinou a cabeça para o lado, refletindo.

— Mas ele tem ficado cada vez mais irritado ultimamente, não é?

Ellin desviou o olhar para o chão empoeirado.

— Sim…

— Porque você não está dando o que ele quer. E porque está passando mais tempo comigo do que com ele.

Ellin franziu a testa, desconfortável. Ele sabia que era verdade. Eric não dizia nada diretamente, mas a impaciência estava sempre presente. As respostas cada vez mais curtas. Os toques mais insistentes.

Cas cruzou os braços, o que só destacava ainda mais seus ombros largos e a postura firme.

— Eu realmente não quero que ele toque em você de novo.

Ellin sentiu um arrepio percorrer sua pele. Ele também não queria.

— Se ele tentar alguma coisa — a voz de Cas ficou um pouco mais tensa —, você precisa se impor.

— Você sabe que eu tento…

— Eu sei. Não estou dizendo que você não está fazendo o suficiente. Você está fazendo o que pode, e isso é bom.

Cas olhou para o celular de Ellin, que estava de volta em suas mãos, e pareceu ponderar algo antes de falar:

— Você precisa gravar.

Ellin piscou, confuso.

— O quê?

— Se ele tentar te forçar a fazer qualquer coisa, você precisa manter o celular por perto. Ligue a gravação de áudio sem que ele perceba. Se tivermos algo concreto, poderemos usá-lo contra ele.

Ellin engoliu em seco.

— Você acha que ele seria descuidado o suficiente para dizer algo comprometedor?

Cas o encarou por um longo momento antes de responder.

— Ele já foi descuidado uma vez, lembra? Agora, se ele estiver com raiva o suficiente, vai se descuidar ainda mais.

Ellin não gostava daquela ideia. A simples possibilidade de Eric perder o controle o deixava ansioso.

— Digamos que eu consiga gravar algo. O que fazemos com isso?

Cas já tinha pensado nisso.

— Se tivermos algo sólido, podemos denunciar. Mas, se ainda não for suficiente, podemos ameaçá-lo com isso. Ele não vai querer que algo assim vaze. Se ele souber que temos algo contra ele, pode recuar.

Ellin mordeu o lábio inferior, ainda processando.

— Isso pode funcionar.

— Mas você precisa ser esperto. E tomar cuidado.

Ellin ficou em silêncio, sentindo o peso das palavras. Ele não gostava da ideia de ter que gravar uma conversa com Eric, mas, se fosse a única maneira de se livrar dele…

Cas percebeu o conflito interno e suavizou o tom.

— Se não quiser fazer isso, vamos encontrar outra forma.

Ellin inspirou profundamente, tentando se acalmar. Depois de um tempo, ele ergueu os olhos novamente.

— Eu quero tentar. Quero me livrar dele de uma vez por todas.

Cas inclinou a cabeça levemente, um brilho de respeito silencioso em seu olhar.

— Então faremos isso. Com cuidado. E no seu ritmo.

A decisão ainda não estava tomada, mas, pela primeira vez, Ellin sentiu que tinha uma chance de escapar.

Ellin hesitou por um momento antes de pegar seu telefone de volta.

— Você… quer assistir alguma coisa? — ele perguntou, sua voz hesitante. — Eu estava querendo assistir a esse programa.

— Claro.

Cas chegou mais perto até que seus ombros se tocaram. Ellin entregou a ele um dos fones de ouvido, seus dedos se roçando brevemente na troca. Eles se recostaram nas caixas, a tela do telefone lançando um brilho fraco em seus rostos enquanto um vídeo começou.

O armazém parecia ainda mais silencioso agora, o mundo lá fora desaparecendo enquanto eles se concentravam na tela. Mas a atenção de Ellin continuava se desviando — não para o show, mas para Cas. Para a maneira como seu peito subia e descia a cada respiração, a maneira como seu braço roçava no seu.

A refeição já estava quase terminando quando Cas, ainda mastigando, olhou de soslaio para Ellin, que terminava os últimos bocados de sua comida favorita com um semblante satisfeito. O som abafado do vídeo ainda tocava no celular ao lado deles, mas nenhum dos dois prestava mais atenção. O silêncio confortável entre eles foi quebrado quando Cas falou, sua voz soando casual, mas carregada de uma intenção subentendida.

— Seu aniversário está chegando.

Ellin piscou, surpreso, parando por um instante. Ele olhou para Cas, quase desconfiado, como se estivesse tentando entender como ele sabia ou por que estava mencionando aquilo.

— Você se lembrou? — sua voz saiu com uma nota de incredulidade.

Cas ergueu uma sobrancelha, um vestígio de desdém discreto passando por sua expressão.

— Claro que me lembrei — respondeu, como se fosse óbvio. — Eu sempre lembro.

Ellin ficou em silêncio por um momento, desviando o olhar. O calor subindo em seu rosto era discreto, mas presente.

— Então foi por isso que você cozinhou meu prato favorito? — perguntou, com um pequeno sorriso.

Cas bufou, balançando a cabeça.

— Não, cozinhei porque quis. Sempre gostei de cozinhar pra você.

Ellin não discordou. Porque era verdade. Desde que eram mais jovens, Cas sempre fazia algo para ele, fosse um prato completo ou algo mais simples. Era uma daquelas pequenas coisas que Ellin percebia, mas nunca comentava diretamente.

Cas recostou-se na parede, cruzando os braços.

— A gente devia fazer alguma coisa. Quero sair com você no seu aniversário.

Ellin hesitou por um momento, o brilho de expectativa em seus olhos se apagando um pouco. Ele mexeu nos restos da comida com os hashis, antes de murmurar:

— Eric já fez planos.

Cas ficou em silêncio. Seu olhar se tornou mais afiado, como se estivesse tentando decifrar cada nuance na expressão de Ellin.

— E quais são esses “planos”?

Ellin suspirou.

— Alguma coisa que ele gosta mais do que eu.

A forma como ele disse aquilo, sem entusiasmo algum, deixou a expressão de Cas ainda mais carregada. Seu maxilar travou levemente, mas ele não disse nada de imediato, esperando que Ellin falasse mais.

E ele falou.

— Eu não queria ir — Ellin admitiu, ajeitando a franja distraidamente. — Mas se eu dissesse não, ele ficaria irritado. Então…

Cas permaneceu olhando para ele, sério.

— Então você pensou em me chamar pra ir junto?

Ellin o encarou, os lábios se pressionando em uma linha fina.

— Sim.

Cas não respondeu de imediato. Ele podia sentir o incômodo de Ellin, o quanto ele não queria estar naquele programa e, principalmente, o quanto não queria estar sozinho com Eric.

— E qual é o sentido disso? — Cas perguntou, seu tom carregado de ceticismo. — Eu teria que passar o dia inteiro ao lado dele, e a todo momento eu iria querer socá-lo.

Ellin soltou um riso curto, sem humor.

— Ter você lá seria o único jeito de eu sentir alguma felicidade naquela situação.

Cas ficou em silêncio por alguns segundos, apenas olhando para ele.

Ellin não estava exagerando. Sua expressão, a maneira como sua voz soou sincera, deixavam claro que aquilo não era apenas um capricho.

Cas soltou um longo suspiro e passou uma das mãos pelos cabelos.

— Tudo bem. Eu vou.

Ellin levantou os olhos para ele, surpreso.

— Sério?

Cas desviou o olhar, incomodado.

— Eu sou idiota, mas nem tanto.

Ellin sorriu de leve, um sorriso pequeno, mas genuíno.

E por um momento, o peso que sentia sobre os ombros pareceu diminuir um pouco.

— Cas?

— Sim? — Cas respondeu, sem tirar os olhos da tela do telefone, mas seu tom era atento, mostrando que estava ouvindo.

Ellin hesitou, entrelaçando nervosamente os dedos no colo, antes de falar em um tom quase inaudível:

— Você… acha que eu poderia… ganhar um beijo?

Cas desviou o olhar do celular para Ellin, sua expressão suavizando instantaneamente ao ver a timidez nos traços do ômega. No entanto, em vez de se inclinar, ele suspirou e deixou o celular de lado sobre a mesa improvisada à frente.

— Ellin… — Ellin piscou, surpreso, e recuou levemente, como se esperasse uma repreensão. Cas notou o gesto e se apressou em explicar, mantendo o tom firme, mas calmo: — Eu tenho pensado muito sobre tudo o que aconteceu entre a gente… e acho que talvez eu tenha apressado as coisas sem perceber se você estava pronto. — Ele apoiou os cotovelos nos joelhos, as mãos entrelaçadas, e baixou a cabeça por um instante antes de erguer o olhar para Ellin. — E depois daquela discussão sobre você se sentir culpado… acho que precisamos respirar um pouco.

Ellin ficou em silêncio, processando o que Cas dizia. O coração dele deu um salto desconfortável no peito, e ele sentiu uma ponta de vergonha retornar. Mesmo assim, forçou-se a falar:

— Eu sinto muito… pelo beijo, aquele dia, na sua casa. — A voz dele estava trêmula, mas carregada de sinceridade. — Você estava certo em me afastar. Eu estava confuso… e com medo. Mas… eu juro, Cas, meus sentimentos são legítimos.

Cas o ouviu com atenção, absorvendo cada palavra. Seu olhar era sereno, sem vestígios de julgamento, e havia uma compreensão profunda em seus olhos.

— Eu sei disso, Ellin — respondeu, sua voz baixa e sincera —, mas eu quero ir com calma, e quero que você também sinta que pode ir no seu tempo, sem pressa e sem essa culpa que você carrega.

Ellin abaixou os olhos, sentindo um nó se formar em sua garganta. As palavras de Cas eram um alívio e, ao mesmo tempo, um lembrete do quanto ele ainda precisava aprender a confiar e a se permitir sentir sem medo.

Cas se aproximou um pouco mais e ergueu a mão, repousando-a com delicadeza na lateral do rosto de Ellin. O ômega levantou o olhar novamente, encontrando os olhos esbranquiçados do alfa.

— Isso… — Cas murmurou, inclinando-se devagar e pressionando um beijo suave e prolongado na testa de Ellin —, é o suficiente por enquanto.

Ellin sentiu o calor se espalhar por seu rosto e seu peito ao mesmo tempo. Não era o beijo que ele havia pedido, mas, de alguma forma, era ainda mais significativo.

Quando Cas se afastou, ele sorriu de leve, meio desajeitado.

— Melhor? — perguntou em um tom mais leve, com uma nota provocadora, ainda que gentil.

Ellin assentiu, as mãos ainda inquietas no colo, mas agora com um brilho novo nos olhos.

— Melhor. — Sua voz estava quase num sussurro, mas carregava uma ternura que falava mais alto do que qualquer palavra que pudesse dizer naquele momento.

E, naquele instante, ambos sabiam que estavam no caminho certo — um passo de cada vez.

……

O quarto de Ellin estava silencioso, iluminado apenas pela luz suave do abajur ao lado da cama. A atmosfera tranquila contrastava com o som abafado da porta do frigobar sendo aberta e fechada. Ellin ajeitou com cuidado as garrafas de vidro no pequeno compartimento, acomodando-as entre as demais já armazenadas ali. O líquido branco movia-se sutilmente dentro das garrafas, refletindo a luz do abajur em suaves ondulações.

Com um suspiro silencioso, ele fechou a porta e voltou para a cama, onde deixou-se cair de costas, o celular em mãos. Depois de alguns segundos de hesitação, abriu o aplicativo de mensagens e encontrou a última conversa com Cas. Seus dedos pairaram sobre o teclado antes de digitar:

Ellin: “Acabei de fazer a drenagem.”

Não demorou muito para que a resposta de Cas chegasse.

Cas: “Sozinho?”

Ellin: “Sim. Foi tranquilo hoje.”

Do outro lado da conversa, Cas estava em seu quarto, encostado contra a cabeceira da cama, o telefone descansando na mão. Ele franziu ligeiramente o cenho antes de digitar novamente.

Cas: “Você sempre guarda as garrafas no frigobar do quarto?”

Ellin sorriu de leve ao ler a pergunta e respondeu sem demora:

Ellin: “Sim. É mais prático ter um lugar só para isso.”

A resposta de Cas chegou quase que imediatamente.

Cas: “E o que você faz com todo o leite?”

Ellin já esperava a pergunta. Sentando-se mais ereto na cama, ele ajustou a franja para o lado e começou a digitar com calma:

Ellin: “Eu sou voluntário. Doo para centros que atendem pessoas que não podem amamentar. Alguns ômegas, por problemas hormonais ou outras condições, não produzem leite o suficiente. Também há mulheres que passam pelo mesmo problema, além de bebês prematuros ou com alergias ao leite industrializado.”

Cas leu a mensagem com atenção, processando cada palavra antes de responder:

Cas: “Não sabia que existia algo assim.”

Ellin: “Existe. É como os bancos de leite comuns. Desde que fui diagnosticado, um médico sugeriu que eu considerasse isso. No começo, achei estranho… mas depois entendi a importância.”

Cas ficou em silêncio por um tempo antes de responder:

Cas: “Faz mais sentido do que desperdiçar.”

Ellin leu a mensagem e sorriu suavemente. Cas sempre tinha esse jeito direto e prático de encarar as coisas, mas Ellin sabia que ele realmente estava tentando entender. Depois de um instante, Ellin digitou novamente:

Ellin: “Tem mais uma coisa… Recentemente, uma empresa farmacêutica entrou em contato comigo.”

Cas: “Por quê?”

Ellin: “Por causa dos feromônios. Eles estão no leite, independentemente de ser produzido por um homem ou mulher, ômega ou beta. A empresa quer extrair esses feromônios para fabricar medicamentos.”

Cas: “Isso já é feito?”

Ellin: “Sim, há pesquisas sobre isso. Eles usam feromônios para medicamentos que ajudam ômegas com problemas hormonais e até alfas, para controle de impulsos agressivos. Mas normalmente trabalham com doadores selecionados.”

Houve uma pausa mais longa antes da próxima resposta de Cas.

Cas: “Você aceitou?”

Ellin: “Não. Fiquei com medo. Não confio em empresas grandes assim. E se for uma armadilha? E se quiserem me obrigar a algo?”

Cas suspirou ao ler aquilo, compreendendo as preocupações de Ellin. Ele digitou devagar, escolhendo bem as palavras:

Cas: “Você tem razão em ser cauteloso.”

Ellin leu a resposta duas vezes, surpreso por Cas não ter o chamado de paranoico. Ele respondeu quase de imediato:

Ellin: “Você acha?”

Cas: “Sim. Mas, se for um negócio legítimo e você tiver controle total sobre o que está fazendo, pode valer a pena. Desde que você não assine nada sem entender cada detalhe.”

Ellin respirou fundo, sentindo-se um pouco mais aliviado. Ele refletiu sobre as palavras de Cas por alguns segundos antes de digitar:

Ellin: “Nunca pensei nisso assim.”

Cas: “Claro que não. Você pensa demais antes de agir.”

Ellin revirou os olhos, mas um pequeno sorriso curvou seus lábios.

Ellin: “Obrigado.”

Cas: “Pelo quê?”

Ellin: “Por me ouvir.”

Depois de um momento de silêncio, uma nova mensagem de Cas surgiu na tela.

Cas: “Vou ter que comprar um belo presente para você.”

Ellin piscou, confuso, antes de responder:

Ellin: “Você não precisa fazer isso.”

Cas: “Claro que preciso.”

Ellin: “Não precisa.”

Cas: “Vou comprar mesmo assim.”

Ellin suspirou e soltou uma risada baixa. Ele sabia que não havia como convencê-lo do contrário.

O silêncio confortável que se instalou entre as mensagens foi quebrado por uma última notificação.

Cas: “Boa noite, Ellin.”

Ellin: “Boa noite, Cas.”

Depois disso, Ellin colocou o celular de lado e se deitou na cama, sentindo uma tranquilidade nova em seu peito. Cas tinha esse efeito sobre ele — o poder de fazer com que as coisas parecessem um pouco mais fáceis e um pouco menos assustadoras.

……

O corredor estava razoavelmente tranquilo naquela manhã, o fluxo de estudantes ainda disperso enquanto os primeiros minutos do intervalo se estendiam como uma pausa entre a agitação das aulas. O ar carregava aquele cheiro característico de livros usados, misturado ao aroma distante de café vindo da cantina.

Ellin caminhava em passos leves, quase distraídos, mas ao dobrar uma esquina, avistou Cas, parado casualmente perto de seu armário. Seu coração deu um pequeno salto, não exatamente de surpresa, mas por algo mais sutil e indefinível, um hábito que ele nunca conseguia controlar quando o via.

Cas estava recostado contra o armário, com a postura despreocupada que parecia ser quase natural para ele, as mãos enfiadas nos bolsos e o cabelo levemente desalinhado caindo sobre os olhos. Assim que Ellin se aproximou, Cas ergueu o olhar, e a familiar intensidade de seus olhos pálidos encontrou os de Ellin com aquela tranquilidade que sempre o fazia hesitar por um segundo.

— Ei — Cas cumprimentou, sua voz baixa e rouca cortando o silêncio.

— Oi — Ellin respondeu, parando ao lado dele. — Como foi a aula de química?

Cas deu de ombros, um gesto que dizia tudo e nada ao mesmo tempo.

— Chata. Você?

— A mesma coisa — Ellin murmurou, um sorriso quase imperceptível surgindo em seus lábios.

Houve um breve silêncio, mas não desconfortável. O tipo de silêncio que se instala entre duas pessoas que estão confortáveis demais para sentir a necessidade de preenchê-lo com palavras vazias. Ellin encostou-se levemente à parede ao lado do armário de Cas, cruzando os braços de forma relaxada.

— Ah, quase esqueci — disse, quebrando o silêncio com um leve suspiro. — Eric mencionou ontem que quer me levar para andar de kart no meu aniversário.

Cas franziu o cenho quase instantaneamente, a expressão relaxada endurecendo um pouco, embora o restante do rosto permanecesse impassível.

— Kart? Você nem gosta disso.

Ellin desviou o olhar, mexendo nos próprios dedos.

— É… eu sei. Mas ele parecia animado.

Cas soltou um suspiro, um som baixo e cheio de significado, como se dissesse mais do que qualquer palavra.

— E você disse que ia?

— Ainda não dei uma resposta — Ellin respondeu. Havia uma hesitação sutil em sua voz, como se ele próprio ainda estivesse tentando decidir o que fazer.

Cas bufou, mas não parecia realmente irritado. Era mais uma espécie de frustração protetora, o tipo de sentimento que surgia sempre que percebia Ellin sendo levado por situações que, no fundo, ele não queria.

— Se não quiser ir, não vá. Não precisa agradar ninguém.

Ellin piscou e ergueu os olhos para ele, como se aquelas palavras o pegassem desprevenido. Cas raramente era tão direto em suas preocupações, mas quando era, havia algo de genuíno que tornava impossível ignorar.

— Vou pensar — murmurou, e um leve sorriso curvou seus lábios. — Obrigado.

Cas apenas acenou com a cabeça, um movimento quase imperceptível, mas o suficiente para Ellin entender que ele havia captado o que não foi dito.

Antes que pudessem continuar, Cas abriu a porta de seu armário e, assim que o fez, uma folha dobrada caiu silenciosamente no chão, repousando ali como se esperasse ser notada. Ellin franziu o cenho e abaixou-se para pegá-la antes que Cas pudesse reagir. Ele estendeu a folha ao amigo, que a pegou sem pressa.

— O que é isso? — Ellin perguntou, observando enquanto Cas desdobrava o papel e lia em silêncio.

Por um momento, Cas não respondeu. Seus olhos pálidos se moveram lentamente pelas linhas da carta, e sua expressão permaneceu impassível, embora Ellin pudesse perceber o leve arquear de uma sobrancelha enquanto ele lia.

— Provavelmente alguém querendo se confessar — Cas disse por fim, dobrando a carta novamente com um gesto casual.

— Sério? — Ellin piscou, surpreso.

Cas deu de ombros.

— Pediram para me encontrar depois da aula.

Ellin inclinou a cabeça ligeiramente, o olhar curioso.

— E você vai?

Cas ergueu uma sobrancelha.

— Não sei. Talvez.

O sinal tocou, anunciando o fim do intervalo, e ambos começaram a caminhar pelo corredor em direção às suas respectivas salas. No caminho, Cas mencionou casualmente:

— A turma achou interessante aquela sua ideia do café temático de delinquentes.

Ellin piscou, surpreso, e depois riu baixinho.

— Sério?

— Sim. Talvez a gente consiga fazer acontecer.

Havia uma leveza na voz de Cas que Ellin reconhecia como entusiasmo disfarçado, e isso fez seu sorriso crescer um pouco mais.

Enquanto caminhavam lado a lado, o silêncio confortável voltou a se instalar entre eles, mas dessa vez havia algo diferente. Uma sensação de entendimento mútuo, de uma conexão que não precisava de palavras para ser sentida.

……

O céu já se tingia de um dourado melancólico quando Ellin saiu pelos portões da escola. A tarde avançava, e o tempo parecia escorrer por entre seus dedos como areia fina. Ele olhou o relógio e sentiu um leve aperto no peito ao perceber que estava atrasado. Cas já devia ter saído do treino de esgrima — se é que ele ainda estava treinando naquele dia. Ellin esperava vê-lo em ação, algo que costumava fazer com certa frequência. Havia algo na concentração de Cas enquanto manuseava o florete, na elegância contida de seus movimentos, que o fascinava de maneira quase hipnótica. Mas agora, era tarde demais.

Suspirando, ele deu alguns passos hesitantes para fora do pátio. Estava prestes a ir para casa quando algo lhe ocorreu: a carta. Aquele bilhete deixado no armário de Cas. A lembrança o atingiu com uma clareza súbita e fez seu corpo inteiro ficar tenso. Alguém havia pedido para se confessar a Cas depois da aula. E, pelo horário, provavelmente isso já estava acontecendo.

Sem pensar duas vezes, Ellin começou a correr.

O vento frio da tarde cortava seu rosto enquanto ele atravessava o pátio lateral, o som dos seus passos ecoando pelo chão de concreto. Seu coração batia forte, mas ele não sabia se era pelo esforço da corrida ou pelo estranho pressentimento que o deixava inquieto. O ar parecia mais pesado a cada passo, e, por um instante, ele quase parou, perguntando-se por que estava tão aflito. Cas sabia se cuidar. Ele sempre sabia o que dizer e como agir.

Mas então ele virou a última esquina do prédio e avistou Cas, e tudo ao redor pareceu desacelerar.

Ali, sob a sombra de uma árvore antiga, ao lado do tronco robusto Cas deixou sua mochila escorregar do ombro até o chão com um movimento despreocupado. Seu olhar vagava sem pressa pelo espaço ao redor — um canto tranquilo da escola, afastado da maior parte do movimento. Não havia muito barulho ali, apenas o som distante dos alunos que já começavam a deixar o prédio e o canto discreto de um pássaro pousado em um galho acima.

Ele não sabia exatamente por que havia decidido aparecer. Em situações assim, seu instinto natural seria ignorar a carta e seguir em frente, mas algo na caligrafia apressada e um pouco tremida das palavras o deixara curioso. Talvez fosse o fato de que ele raramente recebia bilhetes como aquele. A fama de “delinquente” que carregava, embora um tanto exagerada, geralmente afastava as pessoas — especialmente aquelas que poderiam nutrir sentimentos por ele.

Não que ele reclamasse. Cas nunca fora do tipo que buscava atenção ou se envolvia em dramas escolares. Mas ali estava ele, esperando por alguém que não sabia se queria ver.

Antes que pudesse refletir mais sobre o assunto, ouviu passos leves se aproximando. Quando ergueu o olhar, viu a garota parada a poucos metros de distância, hesitando como se estivesse decidindo se deveria continuar ou fugir.

Ela tinha cabelos castanhos presos em uma trança que caía sobre o ombro e olhos castanhos claros que refletiam uma mistura de nervosismo e determinação. Estava com o uniforme impecável e segurava um caderno contra o peito, como se ele fosse um escudo.

— Olá, Caspian — ela disse finalmente, com uma voz que tentou soar firme, mas que tremeu levemente na última sílaba. — Sinto muito ter feito você esperar.

Cas inclinou levemente a cabeça em um gesto quase imperceptível de cumprimento.

— Tudo bem.

Ela deu mais alguns passos até parar diante dele, deixando um espaço seguro entre os dois. Por um momento, nenhum deles disse nada. Cas a observava com uma expressão neutra, enquanto ela parecia estar reunindo coragem para começar a falar.

— Obrigada por ter vindo — disse ela, depois de uma breve pausa. — Eu… eu sei que pode parecer estranho, mas tem algo que eu queria te dizer há muito tempo.

Cas não respondeu de imediato. Ele apenas assentiu lentamente, como se a estivesse incentivando a continuar, embora sem mostrar muito interesse.

A garota respirou fundo e apertou o caderno com mais força.

— Eu gosto de você, Caspian. Desde o primeiro ano.

As palavras saíram apressadas, como se ela temesse que, se demorasse mais um segundo, não conseguiria dizê-las. Havia algo de genuíno na confissão — algo que Cas reconheceu, embora não soubesse exatamente como reagir.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, refletindo sobre o que dizer. Não era a primeira vez que alguém se confessava para ele, mas essas situações nunca deixavam de ser desconfortáveis. Cas não era bom com palavras — especialmente quando se tratava de sentimentos que ele próprio nunca havia experimentado com profundidade.

— Obrigado por ser honesta — disse ele finalmente, mantendo o tom calmo e direto que lhe era característico. — Mas eu não sinto o mesmo.

A garota piscou rapidamente, como se não tivesse certeza se havia ouvido direito. O rosto dela ficou um pouco mais pálido, e seus lábios se entreabriram, mas nenhuma palavra saiu.

Cas passou a mão pelo cabelo, um gesto que fazia sempre que estava ligeiramente desconfortável.

— Não quero te dar falsas esperanças — continuou ele, tentando deixar claro que sua resposta não mudaria. — Desculpe.

Por um instante, o silêncio entre eles pareceu ensurdecedor. A garota desviou o olhar e mordeu o lábio inferior, claramente tentando manter a compostura.

— Eu… entendo — disse ela, com um sorriso fraco que não chegou aos olhos. — Obrigada por ouvir, pelo menos.

Cas assentiu novamente, sem saber o que mais poderia dizer. Ele não era bom em consolar as pessoas, e qualquer tentativa provavelmente só pioraria a situação.

A garota segurou o caderno com ainda mais força e deu um passo para trás.

— Bom, espero que você seja feliz… com quem quer que você goste — acrescentou ela, com um tom que parecia uma mistura de resignação e tristeza.

Cas franziu ligeiramente o cenho, mas não respondeu. Ele não tinha certeza do que ela quis dizer com aquilo, e, antes que pudesse perguntar, ela já estava se afastando, caminhando rapidamente em direção ao prédio principal.

Ele observou até que ela desaparecesse de vista, depois soltou um suspiro baixo e desviou o olhar para o chão. Embora soubesse que havia feito o certo ao ser honesto, a expressão dela ainda pairava em sua mente, trazendo uma leve sensação de desconforto.

Ele pegou a mochila do chão e estava prestes a sair quando avistou Ellin.

Ellin estava parado a alguns metros de distância, meio escondido atrás de um arbusto baixo, com uma expressão que misturava surpresa e algo que Cas não conseguiu identificar de imediato. Ele desviou o olhar, sentindo o calor em suas bochechas se intensificar, como se tivesse sido pego fazendo algo errado. Mas Cas já estava vindo em sua direção, com passos largos e despreocupados.

— Você ouviu tudo, né? — Cas perguntou, sem parecer particularmente incomodado.

Ellin deu de ombros, tentando soar casual.

— Não foi minha intenção, mas… sim. — Cas suspirou novamente e passou a mão pelo cabelo, bagunçando ainda mais os fios negros. — Você foi… bem direto.

Cas deu de ombros, como se aquilo não fosse grande coisa.

— Fui sincero. Não vejo sentido em enrolar alguém.

Ellin assentiu lentamente, mas o olhar ainda parecia distante, como se houvesse mais pensamentos circulando em sua mente.

— Sim, eu sei… Só que, às vezes, ser direto pode magoar mais do que você imagina.

Cas franziu o cenho, intrigado pela observação. Ele sabia que Ellin não estava falando apenas sobre a garota. Havia algo mais ali — algo que ele ainda não conseguia nomear.

— Você acha que eu fui cruel? — perguntou, com um tom que misturava curiosidade genuína e um leve desafio.

Ellin hesitou antes de responder, e, quando finalmente falou, sua voz estava mais suave.

— Não… Acho que você foi você.

Cas olhou para ele, e havia algo em seus olhos que suavizou a intensidade habitual de seu olhar. Por um instante, o silêncio entre eles voltou a se instalar, mas desta vez havia algo reconfortante nele, como uma espécie de compreensão tácita.

— Quer ir pra casa? — Cas perguntou depois de alguns segundos.

— Sim — Ellin respondeu, sentindo-se estranhamente leve. — Mas.. Cas

— Sim?

— Você pode me ajudar hoje? Nós não precisamos fazer nada além do necessário.

— Tudo bem.

Eles começaram a caminhar lado a lado, sem pressa, e enquanto atravessavam o pátio agora quase vazio, Ellin percebeu que, por mais estranho que o dia tivesse sido, havia algo naquela tarde que ele guardaria consigo por muito tempo — algo que não precisava ser dito, mas que estava ali, nas pequenas coisas.

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Capítulo 6
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Fragmentos de Nós

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Ellington sempre foi uma presença discreta nos corredores da escola - um ômega reservado, de fala suave e olhar sempre atento. Sua vida era marcada por silêncios: o...							

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  • Vol 1
      • Capa OR Edit [PTBR]
        Capítulo 6 A Calma Que Ele Me Dá
      • Capa OR Edit [PTBR]
        Capítulo 5 Tudo Que Cas Nunca Disse em Voz Alta
      • Capa OR Edit [PTBR]
        Capítulo 4 De novo... e De Novo
      • Capa OR Edit [PTBR]
        Capítulo 3 Talvez Isto Seja Amor
      • Capa OR Edit [PTBR]
        Capítulo 2 O Toque Que Não Me Assusta
      • Capa OR Edit [PTBR]
        Capítulo 1 Eu Não Sou o Mesmo Depois Dele

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