Fragmentos De Nós S2

Fragmentos de Nós

Capítulo 16

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🟡 Em breve

A luz suave do amanhecer filtrava-se pelas frestas das cortinas, banhando o quarto em um brilho tênue e dourado. O silêncio era quebrado apenas pelo som ritmado e tranquilo da respiração de Cas, ainda mergulhado em um sono profundo. Ellin, entretanto, despertara primeiro. Seus cílios longos tremeram antes que ele abrisse os olhos lentamente, sentindo a lassidão confortável que pesava em seus músculos. Ainda assim, o conforto cedeu espaço a um incômodo sutil que se espalhava por seu corpo.

Ele piscou algumas vezes, tentando afastar o torpor do sono, antes de soltar um suspiro e se movimentar com cuidado. A primeira coisa que sentiu foi o calor residual entre os lençóis e, em seguida, a umidade pegajosa que parecia envolver sua pele. Não era apenas suor — disso ele tinha certeza. Seus lábios se curvaram em uma linha embaraçada, e uma onda de calor subiu até suas orelhas enquanto ele se recordava dos acontecimentos da noite anterior.

Sem fazer barulho, Ellin afastou-se de Cas, sentando-se à beira da cama. Seus movimentos eram lentos e cautelosos, tanto para não acordá-lo quanto porque suas pernas ainda estavam fracas. Um arrepio percorreu sua espinha, e ele fechou os olhos por um instante, tentando organizar seus pensamentos e estabilizar sua respiração. Quando finalmente se levantou, seus pés tocaram o chão frio, e ele caminhou em direção ao banheiro, com os passos ligeiramente trôpegos.

Ao alcançar o espelho, Ellin hesitou antes de encarar o próprio reflexo. E, quando o fez, sua reação foi imediata. Os olhos arregalaram-se levemente, e ele corou com tanta intensidade que as bochechas ficaram quase tão vermelhas quanto o tom rosado que cobria o corpo.

Marcas.

Elas estavam por toda parte.

Seu pescoço, seu peito, seus ombros… até mesmo em regiões mais íntimas às quais não ousava deter o olhar por muito tempo. A combinação de mordidas, chupões e arranhões pintava sua pele clara como se fosse uma tela, e Ellin não pôde evitar o misto de vergonha e excitação que essa visão despertava. Ele desviou o olhar rapidamente e passou uma das mãos pelos cabelos desalinhados, suspirando com certa exasperação.

— Cas… — murmurou baixinho, quase como se o estivesse repreendendo, embora soubesse que o alfa não podia ouvi-lo dali.

Por um breve momento, Ellin considerou entrar direto no chuveiro e lavar-se por completo. A sensação pegajosa em sua pele o incomodava, e ele queria se livrar dela o quanto antes. Mas, antes que pudesse dar o próximo passo, ouviu um som atrás de si — o som de lençóis se mexendo e um leve resmungo.

Ao virar-se, deu de cara com Cas, que agora estava parcialmente sentado na cama, com os cabelos ainda mais bagunçados do que o normal e os olhos semicerrados de sono. Ele esfregou o rosto com uma das mãos antes de abrir um sorriso preguiçoso e satisfeito.

— Já acordado? — murmurou Cas, a voz rouca e grave, carregada pela sonolência. Seus olhos claros deslizaram pelo corpo de Ellin com uma lentidão deliberada, e o sorriso em seus lábios alargou-se em algo um pouco mais travesso. — E já exibindo as marcas que eu deixei.

Ellin sentiu o rosto queimar ainda mais e desviou o olhar, cruzando os braços sobre o peito em um gesto automático, embora isso não fizesse nada para esconder o que estava à vista.

— Não exagere — respondeu ele, tentando manter a voz firme, mas o tom embaraçado o traiu. — Você já teve o suficiente… Não acha?

Cas soltou uma risada baixa e rouca, e o som reverberou pelo ambiente, tão íntimo e confortável quanto o calor que emanava de seu corpo. Ele inclinou-se levemente para frente, apoiando os braços nos joelhos, mas sem desviar o olhar de Ellin.

— Eu diria que nunca é o suficiente — provocou, arqueando uma sobrancelha.

Ellin revirou os olhos, mas não conseguiu evitar o pequeno sorriso que surgiu em seus lábios. Por mais que Cas adorasse provocá-lo, havia algo na maneira como ele o olhava — algo genuíno e cheio de afeto — que sempre fazia seu coração acelerar e seus pensamentos vagarem para um lugar seguro, onde tudo parecia menos complicado. Cas sabia exatamente como deixá-lo desconcertado e, ao mesmo tempo, confortável, uma dualidade que apenas ele conseguia evocar com tanta naturalidade.

— Estou com fome… — anunciou Ellin, desviando-se da conversa com um suspiro, ao sentir o estômago roncar, exigindo atenção. O som baixo, mas insistente, pareceu ecoar no ambiente silencioso, e ele franziu o cenho, levemente embaraçado.

Cas arqueou uma sobrancelha, um sorriso quase imperceptível brincando em seus lábios, mas não fez nenhum comentário provocativo, o que, para Ellin, foi um pequeno alívio. Em vez disso, Cas apenas inclinou a cabeça com aquele jeito calmo e ponderado que lhe era tão característico, como se estivesse deliberando sobre a questão com mais seriedade do que o necessário.

— Quer alguma coisa especial? — perguntou, a voz grave e suave, mas com um toque de casualidade que mascarava o cuidado implícito. Ele cruzou os braços de maneira relaxada, mas o olhar permanecia fixo em Ellin, atento, como se quisessem captar qualquer nuance na resposta.

Aquela pergunta simples, aparentemente sem importância, carregava muito mais do que as palavras sugeriam. Cas não estava apenas oferecendo comida; ele estava oferecendo atenção, querendo saber o que Ellin desejava, o que poderia fazê-lo se sentir melhor naquele momento, como se cada escolha importasse.

Ellin percebeu isso de imediato e mordeu o lábio inferior, pensando. Não havia algo específico que ele quisesse comer, mas havia algo que começava a se formar em sua mente — um sentimento, uma vontade quase subconsciente de prolongar aquele momento de quietude e proximidade. Ele se perdeu por um instante nos olhos de Cas, que o observavam com uma paciência genuína, como se ele tivesse todo o tempo do mundo para esperar pela resposta.

— Não sei… — murmurou, desviando o olhar brevemente para a cozinha, como se buscasse inspiração. — Pode me surpreender, estou com bastante fome e amo a sua comida.

Cas assentiu levemente, e a sombra de um sorriso retornou a seus lábios.

— Tudo bem, então. — Ele se levantou, já caminhando em direção à cozinha, como se aquele fosse o plano desde o início.

Enquanto Cas se movia, Ellin observou a maneira natural e fluida como ele fazia tudo parecer fácil — desde o modo como lidava com qualquer situação até a forma como parecia cuidar dele sem esforço.

Ellin ficou onde estava por alguns instantes, o coração batendo em um ritmo mais lento e confortável.

—–

Ellin saiu do quarto, os passos ainda levemente arrastados, depois de vestir uma calça de moletom leve e uma camiseta fina.

Ao chegar à cozinha, Ellin encontrou Cas de costas para ele, debruçado sobre o fogão com a mesma tranquilidade prática que parecia sempre acompanhá-lo. O alfa segurava a frigideira com uma mão enquanto mantinha o celular encostado no ouvido com a outra. Sua voz grave e tranquila preenchia o ambiente, e, por um instante, Ellin ficou parado na entrada, apenas observando a cena — o perfil calmo de Cas, os gestos firmes e seguros, a maneira como ele parecia em completa harmonia com aquele espaço doméstico.

— Sim, mãe, já passou — dizia Cas ao telefone, com um tom que misturava paciência e um traço discreto de afeto. — Tá tudo bem agora. Vou voltar ao trabalho amanhã.

Ellin se aproximou em silêncio, se acomodando em um dos bancos altos encostados na bancada. Cas percebeu sua presença antes mesmo de olhar para ele, e um sorriso discreto surgiu em seus lábios antes de ele voltar a atenção para a ligação.

— A gente avisa quando for visitar vocês — continuou Cas. — Tá, manda um abraço pro pai. Tchau, mãe.
Ele desligou com um suspiro leve e deixou o celular sobre o balcão.

— Sua mãe? — perguntou Ellin, a voz ainda um pouco rouca, quebrando o silêncio entre eles.

Cas assentiu, pegando uma espátula para virar o conteúdo da frigideira.

— Ela queria saber se você está bem. Acho que se preocupou mais com você do que comigo.

Ellin abriu um sorriso pequeno e desviou o olhar para o tampo da mesa, tocado por aquela preocupação indireta.

— Quer ajuda?

— Não precisa — respondeu, a voz baixa, mas firme.

Ellin hesitou, mordendo o lábio em dúvida, mas Cas lançou-lhe aquele olhar — aquele que não era exatamente uma ordem, mas também não deixava muito espaço para discussão.

— Porque você sempre quer cozinhar sozinho? Eu posso não ser um chefe renomado, mas posso ajudar. — Murmurou Ellin, apoiando o queixo na mão e lançando-lhe um olhar de canto. Ele não acreditava nessas palavras, só queria provocá-lo. Afinal Cas aceitava sua ajuda na cozinha sim, da mesma forma que também negava.

Cas sorriu de leve, o brilho brincalhão em seus olhos contrastando com a serenidade do restante de seu rosto.

— Sou um alfa, eu tenho que cuidar do meu parceiro, incluindo sua alimentação.

Ellin revirou os olhos, mas não conseguiu evitar que o canto de seus lábios se curvasse em um pequeno sorriso. Cas sempre tinha uma resposta pronta — uma provocação, uma piada sutil, algo que deixava o ambiente mais leve, mesmo quando havia algo denso por trás das palavras.

Enquanto o cheiro do café recém-passado se espalhava pela cozinha e o som suave do chiado da frigideira preenchia o ar, Ellin sentiu uma calma quase incomum descer sobre ele. Talvez fosse a familiaridade daquela cena. Ou talvez fosse o fato de que, mesmo sem tocar em nada ou dizer muito, Cas conseguia fazê-lo sentir-se seguro — como se, por mais que o mundo lá fora pudesse ser incerto e cheio de memórias difíceis, ali dentro, com Cas, ele estivesse protegido.

— Vai ter suco também ou você já se contentou em ser só parcialmente perfeito? — perguntou Ellin, arqueando levemente uma sobrancelha.

Cas soltou uma risada baixa e pegou um copo vazio da prateleira.

— Suco de laranja ou maçã, alteza? — perguntou, lançando-lhe um olhar deliberadamente exagerado, cheio de falsa deferência.

— Maçã — respondeu Ellin, fingindo pensar por um momento.

Cas abriu a geladeira com um sorriso discreto e serviu o suco em um copo alto, colocando-o diante de Ellin com um leve toque de cuidado que contrastava com o tom brincalhão de segundos antes.

— Agora sim — disse Cas, voltando-se para o fogão e abaixando o fogo. — Café da manhã digno de um rei. Ou, no caso, de um ômega exigente.

Ellin sorriu, pegando o copo e tomando um gole antes de responder, com a voz suave e quase sem querer:

— Não sou tão exigente assim… Só gosto de saber que você está aqui.

Cas parou por um instante, como se as palavras tivessem tocado algo mais profundo do que ele deixava transparecer.

Não virou-se imediatamente, mas Ellin percebeu o pequeno gesto de sua mão, que se fechou por um momento ao lado do fogão antes de relaxar novamente.
Quando finalmente ele voltou-se para encará-lo, havia algo de diferente no olhar — algo mais silencioso, mais íntimo.

— Eu sempre vou estar, meu amor. — Respondeu Cas, com uma simplicidade que tornava aquelas palavras ainda mais significativas.

Ellin não respondeu. Não precisava. Apenas assentiu levemente, o olhar fixo no dele, como se absorvesse cada palavra, cada promessa silenciosa que não fora dita, mas pairava entre eles como uma constante.

O aroma reconfortante de café fresco preenchia o ambiente enquanto Ellin e Cas compartilhavam o café da manhã em um silêncio tranquilo, pontuado apenas pelo som discreto dos talheres contra os pratos e pela leve brisa que entrava pela janela entreaberta. Cas havia preparado tudo com sua eficiência habitual — uma omelete macia e dourada, torradas ligeiramente tostadas, e café preto, forte como ele gostava. Assim que terminou de servir, sentou-se ao lado de Ellin, apoiando os cotovelos na mesa com uma postura relaxada, mas atenta.

Ellin deu uma mordida cuidadosa na omelete e desviou o olhar por um momento, sentindo o calor familiar da presença de Cas ao seu lado. Depois de alguns instantes, que pareciam mais longos do que realmente eram, ele falou, mexendo distraidamente nas dobras da camiseta:
— E você avisou no hotel?

Cas, que já levava a xícara de café aos lábios, assentiu com um movimento breve e respondeu, pousando a xícara sobre a mesa.
— Avisei, sim. Falei que posso voltar amanhã. — Ele se serviu de mais uma porção de omelete e deslizou o prato na direção de Ellin, que aceitou com um aceno. — E você? Vai avisar o pessoal da cafeteria também?

Ellin assentiu novamente, cortando um pedaço da omelete com o garfo e levando-o à boca.
— Vou mandar uma mensagem mais tarde — murmurou, mastigando devagar.

Cas pareceu satisfeito com a resposta. Ele recostou-se na cadeira com um ar pensativo, cruzando os braços sobre o peito, mas seus olhos claros logo voltaram a focar em Ellin, com aquele brilho que sempre prenunciava uma provocação. O canto de seus lábios se curvou sutilmente, e a expressão despreocupada tornou-se ligeiramente travessa.

— Sabe — começou ele, em tom casual —, o médico estava certo. Os ômegas com a sua condição realmente produzem mais leite durante o cio.

A reação de Ellin foi imediata e inconfundível. Ele congelou por um segundo, o garfo suspenso no ar, e o rubor subiu por seu rosto em uma onda rápida e implacável, tingindo suas bochechas e as pontas das orelhas de um vermelho intenso. Seus olhos arregalaram-se levemente antes de ele encarar Cas com uma mistura de incredulidade e indignação.

— Cas, cala a boca — retrucou, tentando soar firme, mas o embaraço evidente em sua voz enfraqueceu a tentativa.

Cas soltou uma risada baixa e rouca, claramente satisfeito por ter provocado aquela reação. Havia algo profundamente divertido em ver Ellin ficar sem palavras, ainda mais quando ele tentava manter uma fachada de autoridade.

— Eu tô só falando um fato — disse Cas, ainda sorrindo enquanto tomava mais um gole de café. — Se não acredita, é só contar as garrafas.

Ellin revirou os olhos com exasperação, mas o pequeno sorriso que surgiu em seus lábios o traiu. Cas tinha esse efeito sobre ele — o dom de desarmá-lo com uma provocação bem colocada, quebrando qualquer tensão antes que ela pudesse crescer.

— Vamos levar essas garrafas hoje? — perguntou Ellin, mudando deliberadamente de assunto em uma tentativa de recuperar o controle da conversa.

Cas inclinou-se levemente para frente, cruzando os braços sobre a mesa, como se quisesse encurtar a distância entre eles. Seus olhos ainda brilhavam com aquela leve malícia, mas sua voz, quando respondeu, estava calma e despretensiosa.

— Podemos, sim. No mesmo lugar de sempre, né? Eles já estão acostumados com as doações.

Ellin assentiu, e o rubor em suas bochechas finalmente começou a diminuir. A doação do leite era algo que ele fazia há algum tempo — um hábito que havia começado quase por acaso, mas que, com o passar dos anos, tornara-se um pequeno ritual que lhe dava uma sensação de propósito. Havia algo reconfortante em saber que sua condição, que tantas vezes lhe trouxera desconforto e insegurança, podia ser transformada em algo útil para outras pessoas.

— Depois de tomar café, a gente arruma tudo — acrescentou Cas, lançando-lhe mais um daqueles olhares demorados e penetrantes, que pareciam ver muito mais do que Ellin estava disposto a mostrar.

Ellin desviou o olhar para o prato, sentindo o calor ainda presente em seu rosto, mas, no fundo, sabia que não havia desconforto real ali. Era apenas Cas, com seu jeito tranquilo e sua segurança silenciosa — e a presença constante que, de alguma forma, sempre o fazia sentir que tudo estava exatamente onde deveria estar.

O café da manhã transcorreu com uma tranquilidade que só o hábito e a intimidade compartilhada poderiam proporcionar. Enquanto terminavam a refeição e recolhiam os pratos, Cas lançou a ideia com o mesmo tom despreocupado que usava para falar sobre os assuntos mais triviais, mas seus olhos claros traíam algo mais íntimo e sugestivo.

— Que tal um banho na banheira? A gente relaxa… e já aproveitamos para drenar o leite — sugeriu ele, o canto dos lábios curvado em um meio sorriso que só Ellin parecia ser capaz de arrancar.

Ellin sentiu o calor familiar que sempre o invadia quando Cas falava tão abertamente sobre algo que, por tanto tempo, fora motivo de vergonha para ele. Mas com Cas… era diferente. Ele fazia parecer normal, quase mundano — e isso tornava tudo muito mais fácil de suportar.

— Pode ser — respondeu Ellin, com um aceno de cabeça quase tímido, mas sincero.

Cas assentiu, parecendo satisfeito, e se levantou da mesa.

— Vou encher a banheira. Te chamo quando estiver pronta. Pode esperar no quarto.

Ellin apenas observou enquanto Cas saía da cozinha com passos firmes, o andar confiante e o ar prático que sempre o acompanhava. Quando ficou sozinho, respirou fundo, sentindo o ar se expandir em seus pulmões e tentando dissipar a leve ansiedade que ainda o assombrava em momentos assim — momentos em que a proximidade com Cas parecia tão tangível que quase lhe roubava o fôlego.

—–

Pouco tempo depois, Ellin ouviu a voz grave de Cas chamando-o do banheiro. Ele levantou-se da cama, onde estivera sentado enquanto esperava, e pegou as bombas de leite que estavam guardadas em uma gaveta. Seus dedos deslizaram com familiaridade pelas peças, e ele fechou a gaveta com um leve estalo antes de seguir em direção ao banheiro.

Assim que entrou, o aroma suave e relaxante de lavanda e hortelã o envolveu. Cas sempre sabia escolher os sais de banho certos, e a mistura delicada e calmante parecia ideal para aquele momento. A banheira estava cheia, a água morna coberta por uma fina camada de espuma branca que flutuava como névoa sobre a superfície. Cas já estava dentro, com o corpo relaxado, os músculos definidos parcialmente submersos e os braços apoiados nas bordas da banheira em uma postura que parecia tanto casual quanto protetora.

Ele ergueu o olhar assim que Ellin entrou e deu-lhe um leve sorriso.

— Vem — disse ele, estendendo a mão.

Ellin aproximou-se devagar; o calor úmido do vapor beijava sua pele. Ele entrou na banheira com cuidado e, assim que se acomodou, encontrou o lugar natural que sempre parecia reservado para ele: o colo de Cas. Apoiou-se contra o peito largo e firme do alfa, sentindo o coração dele bater em um ritmo constante sob a superfície da água. Cas ajustou seu corpo com facilidade, como se aquela posição fosse tão natural quanto respirar.

Ellin manteve o tórax acima da água para encaixar as bombas de leite e começar a drenagem. O som suave do dispositivo preencheu o ambiente, criando um fundo quase ritmado que, longe de quebrar a paz do momento, parecia acrescentar algo de íntimo e necessário.

Enquanto observava o movimento quase automático de Ellin ajustando as bombas, Cas notou algo. Havia marcas em seu pescoço — marcas que ele mesmo deixara durante o cio. Elas estavam um pouco mais desbotadas agora, mas ainda visíveis, como vestígios silenciosos de noites intensas. Uma leve sombra de preocupação passou por seu rosto antes de ele murmurar, com a voz baixa e levemente arrependida:

— Desculpa… Acho que me empolguei um pouco.

Ellin piscou e, por um segundo, pareceu confuso. Então seguiu o olhar de Cas e percebeu do que ele estava falando. Uma expressão de compreensão suave cruzou seu rosto, e ele deu de ombros levemente, ainda trabalhando na drenagem do leite.

— Tá tudo bem. Não me machucou.

Cas não respondeu de imediato, mas inclinou-se ligeiramente e roçou os lábios na curva do ombro de Ellin, em um gesto que misturava carinho e desculpas não ditas. Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas aproveitando a proximidade, o calor da água e a sensação do tempo desacelerando ao redor deles.

Foi Cas quem quebrou o silêncio.

— E aquele exame que você ia levar ao médico? Já levou?

A pergunta parecia casual, mas havia algo na voz dele — um sutil traço de preocupação subjacente que Ellin imediatamente reconheceu. Ele hesitou por um momento antes de responder.

— Levei, sim. Está tudo bem.

Cas franziu levemente as sobrancelhas. Ellin não mentia… mas também não revelava tudo.

— Tem certeza? — insistiu Cas, a voz ainda calma, mas firme.

Ellin soltou um suspiro curto e desviou o olhar, mordendo o lábio inferior em um gesto nervoso que Cas conhecia bem. Ele não precisou dizer mais nada — Cas esperou, com a paciência silenciosa que sempre o tornava uma presença tão segura e estável. Finalmente, Ellin cedeu.

— Eu… encontrei o Eric lá — confessou ele, em um sussurro quase inaudível.

Cas congelou. Por um segundo, ele achou que havia ouvido errado, mas a expressão séria de Ellin confirmou o que ele temia.

— Eric? No hospital?

Ellin assentiu lentamente.

— Ele é médico lá agora. Não foi ele quem me atendeu, mas… o vi.

Cas apertou os lábios, e sua mandíbula ficou tensa. Uma onda de raiva silenciosa percorreu seu corpo, mas ele manteve a calma por Ellin.

— Achei que o registro criminal dele impediria isso — murmurou Cas, com o olhar sombrio.

— Eu também… — Ellin parecia mais calmo do que Cas esperava, mas havia um cansaço sutil em sua voz. — Não falei muito com ele, não aconteceu nada.

Cas respirou fundo e deslizou os braços ao redor de Ellin, apertando-o contra si com uma firmeza protetora.

— Você foi a vítima, Ellin. Se quiser desabar, não tem problema. Não precisa fingir que está tudo bem o tempo todo. Você foi a vítima.

Ellin fechou os olhos e se deixou afundar um pouco mais no abraço de Cas, sentindo o peso das palavras dele — e o alívio silencioso que elas traziam.

—–

A luz tênue da televisão iluminava a sala com um brilho suave e pulsante, mudando de tom conforme as cenas se alternavam na tela. Do lado de fora, a noite estendia seu manto silencioso sobre a cidade, e a chuva fina tamborilava contra as janelas, ecoando no espaço quase vazio. O ar ali dentro estava aquecido, carregando o perfume amadeirado e sutilmente cítrico que Cas usava e que impregnava as almofadas do sofá, onde Ellin dormia tranquilamente — ou pelo menos estava, até poucos minutos atrás.

Ele abriu os olhos com certa relutância, a consciência despertando devagar, como se ainda quisesse se prender ao conforto etéreo do sono. O primeiro ruído que captou foi o barulho baixo da televisão, um fundo sonoro distante e familiar. O segundo foi o som suave da respiração de Cas, constante e ritmada, quase como um convite à tranquilidade. Só então Ellin se deu conta de que não estava simplesmente deitado no sofá. Seu corpo estava recostado sobre algo muito mais sólido e quente — e quando ele ergueu ligeiramente o rosto, percebeu que era Cas.

Ele estava deitado de bruços, recostado sobre as costas do alfa, como se o corpo musculoso fosse uma extensão macia do estofado. A surpresa o fez piscar algumas vezes, e então, num reflexo rápido, ele ergueu o tronco com cuidado, saindo daquela posição sem jeito.

— Desculpa… — murmurou, sentindo um calor leve subir ao rosto. — Eu nem percebi…

Cas abriu os olhos devagar e virou a cabeça na direção de Ellin, com um sorriso que começava nos cantos dos lábios e se espalhava de forma preguiçosa e tranquila.

— Foi você quem deitou aí desse jeito, lembra? — disse ele, a voz rouca de cansaço, mas carregada de um humor suave. — Aparentemente, gostou tanto que acabou dormindo.

Ellin não conseguiu conter uma risada baixa. Algo na maneira como Cas dizia aquelas coisas, com aquele tom entre o divertido e o despreocupado, sempre tinha o efeito de desfazer suas tensões.

— Acho que você está certo — admitiu, relaxando um pouco.

Ao se ajeitar no sofá, com as pernas cruzadas ao lado do corpo, Ellin deixou que seu olhar vagasse pelas costas largas de Cas, parcialmente expostas onde a camiseta havia subido. Foi então que ele notou os arranhões.

As marcas finas e avermelhadas se destacavam na pele clara, traçando linhas irregulares que desciam da altura dos ombros até parte das costelas. Eram resquícios do cio recente — marcas de uma intensidade tão arrebatadora que agora pareciam distantes, quase de outra realidade. Ellin sentiu um misto de constrangimento e culpa ao vê-las ali, um lembrete vívido do quanto ele havia se entregado ao próprio desejo e do quanto Cas suportara sem reclamar.

Ele estendeu a mão com delicadeza, os dedos quase flutuando sobre as marcas, como se temesse tocar e causar dor.

— Isso dói? — perguntou, baixinho, enquanto a ponta do dedo traçava suavemente o contorno de um dos arranhões.

Cas soltou um suspiro que mais parecia um ronronar satisfeito e fechou os olhos novamente, o rosto apoiado no braço dobrado.

— Não. Já está cicatrizando. Vai sumir logo — respondeu, a voz mais abafada agora, mas ainda tranquila.

Ellin continuou a acariciar a pele de Cas, os dedos deslizando devagar sobre as marcas. A textura ligeiramente quente sob seus toques o fez sentir um aperto suave no peito, uma mistura de carinho e gratidão por aquele homem que o aceitava em toda sua complexidade, mesmo nas partes que Ellin às vezes ainda relutava em aceitar em si mesmo.

Cas suspirou mais uma vez, desta vez um pouco mais fundo, e murmurou, com uma ponta de humor:

— Isso é bom…

Ellin arqueou a sobrancelha e sorriu de leve.

— Não era essa a minha intenção — disse, com uma suavidade divertida. — Mas já que você gostou…

Ele mudou a posição das mãos, agora aplicando uma pressão maior nos ombros de Cas e deslizando os polegares ao longo dos músculos rígidos. Cas soltou uma risada baixa e rouca.

— Você está me massageando?

— Acho que é o mínimo, depois de ter dormido em cima de você.

Cas riu novamente, mas não protestou. Pelo contrário, ele acomodou o rosto um pouco mais no braço e permitiu que Ellin continuasse.

Os movimentos do ômega eram cuidadosos, meticulosos. Havia algo quase ritualístico na maneira como ele aplicava a pressão nos lugares certos, sentindo os nós de tensão cederem sob seus dedos. A cada deslizar das mãos, Ellin podia perceber pequenas reações de Cas — o relaxamento gradual dos ombros, a respiração que se tornava mais profunda e regular, e o leve estremecer dos músculos sob o toque firme e atento.

Conforme continuava, Ellin se deu conta de que aquele gesto — simples, íntimo e sem qualquer urgência — era uma forma de conexão diferente, mas igualmente poderosa. Não havia necessidade de palavras; o silêncio entre eles era preenchido pelo som rítmico da respiração de Cas e pelo leve murmúrio da televisão ao fundo.

Quando Ellin terminou, Cas abriu os olhos novamente e o encarou por alguns segundos. Havia algo ali, na profundidade daquele olhar esbranquiçado, que fez Ellin sentir uma onda de calor se espalhar por dentro.

— Melhor? — perguntou, com um pequeno sorriso.

Cas assentiu, um brilho sereno no olhar.

— Com certeza, obrigado amor.

Ellin sorriu de volta e ajeitou uma mecha do próprio cabelo atrás da orelha, sentindo o coração mais leve do que antes.

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