Capítulo 21
“Senhor Jill, não esqueça de tomar o remédio hoje”.
“Obrigado, Norn”.
Jill voltou a olhar pela janela.
O parapeito estava lindo, graça as flores que Diego havia dado. A luz da manhã entrava de forma brilhante no quarto e iluminava o vidro de cristal na mesa de centro.
Depois que Jill tomou o remédio, Norn colocou o copo de água na bandeja e disse:
“Fico feliz agora que está melhor”.
“Sim”.
“Há quatro dias, quando Diego-sama cancelou todas as reuniões e me pediu para deixar a casa fechada, me perguntei se havia acontecido algo grave”.
A voz de Norn demonstrava a preocupação que tinha com Jill, mesmo quando falava com um rosto completamente inexpressivo. Jill se ruborizou ao escutar o que o lobo havia feito para poder cuidar dele. Quatro dias atrás, Diego reteve Jill em uma pousada de um pequeno povoado e esteve em seu quarto dia e noite. Aparentemente, consolou Jill amorosamente apenas para tentar acalmar sua febre e depois disso foi em busca de um supressor tão logo quanto o clima permitiu. Por isso, após acordar, depois que notou que havia perdido os sentidos, notou que já havia se passado um dia e que no quarto haviam várias coisas que não estavam ali antes. Diego estava ao seu lado, lhe segurou a mão e lhe contou que havia ido ao consultório médico e conseguiu alguns medicamentos que o fariam se sentir muito melhor. Jill então contou a ele como se sentia, que a febre já havia passado um pouco e que os calafrios diminuíram, contudo Diego ainda estava um pouco abalado. O lobo precisou arrumar outro cavalo porque não teve a paciência necessária para recuperar as ferraduras. Ajustaram o novo cavalo à carruagem e cortaram caminho por um trajeto que diminuía a distância. Em seguida, levou Jill de volta à mansão e o acompanhou até o seu quarto. Além disso, mesmo após retornar, se desculpou por ter sido descuidado com a condição física de Jill, disse que lamentava tudo o que havia feito e até chamou seu médico pessoal para atendê-lo. Graças a isso, o médico lhe receitou um medicamento muito eficaz e Diego prometeu que, no futuro, Jill seria examinado frequentemente.
O que estava tomando agora era um medicamento para aliviar os sintomas do cio. Tinha que tomá-lo ao menos uma semana, para garantir os resultados.
“Sinto muito, Norn. Não queria te preocupar”.
“Não estou preocupado. Apenas fiquei muito surpreso”. Disse Norn olhando para Jill com seus olhos redondos. “Não imaginei que haviam ômegas que não visitassem um médico de forma regular. Quero dizer, Jill-sama pertence à família Müller e é de conhecimento público que eles possuem um catálogo variado de médicos a sua disposição”.
“Eu sinto muito mesmo, a verdade é que eu nunca concordei com isso de ir a consultas de revisão”.
“Que barbaridade”.
Entretanto, ainda que tivesse consultas médicas regulares, nunca haviam lhe receitado um supressor. Basicamente porque não era necessário, já que todos os ômegas estavam sendo treinados para ter os filhos dos aristocratas. Norn agarrou a chaleira e decidiu lhe preparar um chá.
“Jill-sama não gosta de tomar remédios?”
“Não, acho que não odeio. É só que, nunca tive necessidade de tomar nenhum”.
Enquanto falava, evitou pensar no passado, lembrando que o que lhe desagradava era estar cara a cara com um médico. Cada vez que Jill passava por algum exame, inevitavelmente, lembrava que era apenas um ômega imprestável. Então, mesmo que aceitasse sua condição de ômega, sem perceber, evitava o médico pois não queria escutar coisas como mudanças em seu corpo e feromônios. No entanto, por fazer isso, terminou causando um grande incomodo para Diego.
“É difícil manter a razão estando no cio… Não é?” Norn moveu as orelhas enquanto segurava uma xícara de chá e falou: “Eu sou beta, então não consigo entender completamente o que está dizendo. Mas posso imaginar que seja realmente difícil. Os alfas dizem que os feromônios de um ômega são poderosos”.
“Você está certo”.
Afinal, Diego teve muitos problemas para se controlar e parecia extremamente excitado. Mas, embora tenha sido muito difícil para ele, tratou Jill de forma muito amorosa. Foi todo um cavalheiro. Mas, mesmo que Diego soubesse que ele não não era experiente, por ser sua primeira vez, mesmo que Jill tenha dito “estarei bem ao seu lado”, teve mais medo do que gostaria de aceitar. Entretanto, Diego teve muita paciência com ele, foi infinitamente carinhoso. Lembrando das carícias que havia recebido e também da forma como Diego usou sua língua, sentiu um calor repentino.
Teve essa sensação de que o interior do seu corpo estava formigando. A sensação de que os lugares onde Diego havia percorrido estavam ficando dormentes e lembrou do prazer que sentiu até os ossos.
Começou a sentir que seu interior esquentava então Jill, um pouco envergonhado, moveu a mão em direção ao local que esquentava e pressionou os dedos. Nunca tinha lhe passado nada assim, então estava se sentindo um pouco deslocado. Deslocado e decepcionado. De fato, havia sido tratado com muito cuidado e amor, mas, na verdade, Jill estava esperando muito mais do que língua e dedos. E não podia deixar de e sentir solitário ao pensar que Diego se afastou e colocou medicina em seu lugar. Naquele momento, Jill tinha toda vontade de deixar que ele lhe fizesse amor então, quanto estendeu só braços para ele, estava preparado para se abrir para e ele e se entregar por completo. Pensou que estaria tudo bem se entregar para o lobo, mas, de repente, ele se afastou. Ele não foi até o final e todas aquelas palavras gentis como “querido” e “já não aguento” pareceram apenas pura cortesia…
(Porque vão me devolver a família Müller depois disso).
Diego havia dito que gostava de Jill, mas talvez aquele “gostar” não era em um sentido romântico. E o motivo do lobo querer tocá-lo, provavelmente, era por causa do cio. E deveria estar tudo bem. Jill não queria ter inconvenientes mas, de alguma forma, não conseguiu se desfazer da terrível tristeza que parecia pairar sobre ele tempo todo.
(Ultimamente estou me comportando de forma muito estranha).
Se perguntou porque estava suspirando como um adolescente apaixonado, então tentou se concentrar no chá para deixar de pensar em tudo aquilo. Logo escutou alguém batendo à porta e dizendo “Bom dia”.
Quando Norn, rapidamente, abriu a porta foi o Sr. Toneria quem entrou. Jill levantou subitamente diante da aparição do lobo que levava um monóculo.
“Toneria-sama! Por que está aqui?”
“Desculpe. Escutei que você estava doente”.
“Ah, sim…”
Toneria olhou para Norn. O sutil sinal com a cabeça indicava que o mordomo podia se retirar. Norn fez uma reverência e disse:
“Por favor, me chame se precisar de alguma coisa, jovem Jill”.
Toneria se aproximou da mesa que continha a bandeja com o chá, enquanto espera que Norn se retirasse.
“Po… pode se sentar”.
“Obrigado!”
Toneria tomou assento e colocou o livro que trazia em frente a Jill.
“Diego está trabalhando hoje. Eu trouxe este livro porque pensei que você estaria entediado”.
“Oh, é um livro sobre o mar, certo?”
“Isso mesmo. Você parecia interessa nas cartas náuticas na última vez. Este livro é muito interessante.”
O livro, diante de Jill, era grosso e quando o virou encontrou várias letras em relevo dourado. No entanto as frases pareciam difíceis de se ler.
“Obrigado”.
Jill agradeceu segurando o livro. Toneria sorriu satisfeito.
“Você parece bem. Se amanhã estiver e sentindo um pouco melhor, gostaria de passear comigo pelo jardim?”
“Um passeio?”
“Não se preocupe, estarei ao seu lado o tempo todo”. Toneria parecia orgulhoso em dizer aquilo. “Esta bem se venho te buscar às 10 em ponto? A partir dessa hora já estarei livre e terei a oportunidade de almoçar com você”.
“Por que… Disse que ficaria ao meu lado o tempo todo?”
“Porque Diego parece um pouco preocupado em te deixar sem supervisão neste momento”.
“Diego…”
A saudade voltou a bater em seu coração. Quer dizer, Jill estava feliz em saber que Diego se preocupava por ele, mas até agora o lobo tinha ficado ao seu lado a todo momento e imaginou que seria igual agora. Talvez era seria assim que ia ser quando ele disse que não queria filhos.
Jill lembrou quando ele disse “Eu gosto de você”. Provavelmente tenha se arrependido depois.
(Acho que ele caiu em si depois de passar o efeito dos feromônios).
No fim das contas, ele não deveria ter dito que gostava de mim de uma forma tão egoísta.
Pelo canto do olho, notou que Toneria havia tirado um relógio do bolso.
“Hoje tenho que trabalhar até as 3, mas depois disso estou livre. Gostaria que tomássemos um chá juntos?”
“Obrigado… Mas hoje ainda quero descansar”.
Jill não queria tomar chá com alguém além de Diego.
“Ainda se sente mal?”
Tentando dizer que sim, Jill notou o nariz de Toneria movendo para cima e para baixo. O focinho do lobo, ligeiramente pouco úmido, se movimentando rapidamente. Pareceu estar farejando algo que Jill não conseguia sentir. Os olho atrás daquele monóculo o estavam encarando tanto que Jill sentiu um arrepio. Tentando se desculpar dizendo:
“Eu sinto muito. Mesmo sendo um convite do senhor, eu…”
“Se é pela sua condição física, não há nada que se possa fazer. Volto em outro momento”.
Toneria ficou de pé parecendo desapontado. Jill segurava o braço com os nervos a flor da pele enquanto o acompanhava até a porta cortesmente. Era de má educação se sentir incomodado com o respeitável irmão de Diego.
(Toneria-sama apenas está preocupado comigo).
Quando o lobo saiu pela porta, Jill respirou fundo. Talvez, após seu primeiro cio, seus nervos estavam instáveis e por isso se preocupava com coisas triviais e começou a reagir de forma exagerada. Sabia que Toneria era mais gentil do que aparentava, deveria agradecê-lo em vez de fugir dele. Por este motivo, Jill passeou com Toneria pelo jardim no dia seguinte e no seguinte dia também, após o convite do lobo. Toneria o levou a uma parte do jardim que, normalmente, não ia. Era um lugar onde havia a fonte mais bonita que já tinha visto e que, ao que parece, foi desenhada por um arquiteto famoso. Depois do passeio, Jill foi convidado para comer algo enquanto tomavam chá, mas recusou. Toneria ficou decepcionado quando Jill disse que não tinha apetite desde que teve seu cio e que não conseguia comer direito por causa da sua condição física. No terceiro dia, logo após o café da manhã, Toneria voltou e Jill novamente disse “Desculpe”. Diferente de quando estava com Diego, Jill realmente não apreciava passar tempo com seu irmão. Pensou que algo havia acontecido desde o momento que ficaram juntos e agora, além de Diego, não se interessava por ninguém mais.
Toneria estava insatisfeito quando Jill disse que queria descansar em seu quarto.
“É difícil se recuperar. Da próxima vez vou te levar até a cidade”.
“Eh?”
“Você gosta de ir até a cidade, não é? Eu te levo”.
“Er… Mas…”
“Não pode fazer isso” Tentou dizer o ômega. “Não tenho vontade de ir”. Pensou, mas no fim disse apenas:
“Precisa pedir permissão para o Diego”.
Toneria tinha um rosto carrancudo.
“Por que deveria pedir permissão a ele?”
“Porque… Bem, eu fui com ele uma vez e…”
“Então deveria ir comigo também. Sou membro da família Siegfried igual ao Diego e seria rude de sua parte recusar o convite. Está sendo tratado excepcionalmente bem porque é um ômega de família nobre, então, por que você parece estar tão insatisfeito?”
“Não, não estou insatisfeito… Obrigado”.
“Deveria ficar feliz por sair comigo. Eu me preocupo com você. E… já que sou mais velho, deveria estar tudo bem você não contar nada para o meu irmão”.
“Está bem… Poderia me dar um pouco mais de tempo para que minhas pernas deixem de estar bambas?”
Era mentira. Mais uma desculpa. Talvez fosse por ter tido seu primeiro cio tão de repente em um lugar estranho mas, agora, mesmo que tivesse o remédio, estava preocupado em sair até o jardim, ou mesmo ficar sozinho com ele no quarto. Não queria entrar no cio enquanto estivesse com Toneria. Sabia que o cio tinha um ciclo periódico mas poderia acontecer novamente, certo? Toneria tossiu sem estar convencido das palavras de Jill.
“Tudo bem. Entendo que depois de ficar doente a vida pode ficar um pouco desagradável. Se o fizer se sentir melhor, podemos apenas… ir até a biblioteca. Tenho planejado trabalhar por um tempo mas, ficarei livre depois de três dias. Então, gostaria de ficar com você depois. Tem algumas coisas que quero te ensinar e sei que a educação para um ômega é primordial”.
“Obrigado por sua preocupação…”
“Talvez você não sinta vontade de comer ou passear, mas sei que gosta de livros”.
Jill concordou enquanto o olhava fixamente. De certa forma, sentia que Toneria o estava monitorando. Não foi educado pensar assim só porque ele sabia sobre a sua condição física, mas… Ainda tinha algo que incomodando Jill.
Quando Toneria saiu e ele ficou sozinho no quarto, uma ansiedade começou a bater e ficar cada vez mais forte. Diego nunca mais apareceu. Estranhamente ele nem ao menos vinha para perguntar se Jill estava se sentindo bem. Quando pensou que o lobo o poderia estar evitando de propósito, seus sentimentos afloraram e inevitavelmente ficaram descontrolados. Se Diego já não queria ficar do seu lado, deveria dizer logo e mandar Jill para cada de uma vez.
O ômega estremeceu e se aproximou da janela. As flores roxas, que foram presenteadas por Diego, estavam crescendo lindamente.
Jill ficaria tão feliz se Diego viesse, nem que fosse só por um momento, no lugar de apenas ficar olhando um vaso com flores que lhe trazia lembranças dele.
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