Capítulo 22

Naquela noite, a porta foi golpeada várias vezes.
Não tinha vontade de fazer nada, inclusive planejava dormir cedo. Contudo, quando a porta se abriu e Jill viu o rosto de Diego, se surpreendeu tanto que se viu caminhando em direção a ele sem nem ao menos perceber o que fazia.
“Diego! O que foi?”
“Jill… Eu estava ocupado nos últimos dias e não consegui vir te ver. Está um pouco tarde, eu sei, mas eu estava me perguntando se você gostaria de tomar chá comigo, ou você já estava indo dormir?”
O olhar do lobo se dirigiu ao pijama que Jill trajava. O ômega, imediatamente se sentiu arrependido por ter trocado de roupa.
“Não, não se preocupe. Apenas coloquei o pijama para ficar mais confortável. Claro que eu quero tomar chá com você”.
“Fico feliz. Norn, por favor, traga o chá”.
Norn, que parecia estar de guarda no corredor, entrou com a bandeja cheia de todas as coisas que precisavam para o jantar. Então, Diego colocou um pequeno vaso com flores sobre a mesa. Eram várias flores vermelhas, rosas escuras e também uma pequena flor amarela realmente linda.
“É uma beldroega (planta da família das suculentas). Achei que seria um bom presente pra você porque é colorida e brilhante”.
“Obrigado. É realmente linda”.
“Se você colocar junto com a Coleus roxa (espécie de folhagem colorida que serve como ornamentação) do parapeito da janela, vai ficar muito bonito”. Diego se levantou e olhou para a janela. “Dá pra ver o mar daqui. Acho que não tinha reparado nisso antes”.
“Sim, dá pra ver. Não me canso de olhar para as luzes dos barcos e do farol…”
“A vista aqui é melhor do que a do meu quarto”.
“Sério?”
“Meu quarto fica para lá, então não tenho muito campo de visão”. Diego apontou para o prédio do outro lado. “É o segundo quarto do lado esquerdo, este com as luzes apagadas”.
“Não sabia que dava pra ver o seu quarto daqui”.
“É porque eu não te disse. Mas eu consigo ver o seu quarto claramente. Se destaca muito porque está sempre cheio de flores”.
“É assim por sua causa, Diego”. Jill sorriu sem querer. “Porque você sempre me traz flores, mesmo sem eu pedir”.
Diego reclamou.
“Me disseram que flores era um bom presente. Talvez seja um presente sem graça”.
“Não é nada sem graça. Me sinto melhor quando olho para elas”.
Diego coçou a nuca de uma forma tímida e olhou fixamente para Jill. Parecia estar tentando se acalmar.
“Você parece bem agora. Está se sentindo melhor?”
“Sim, estou bem”.
“Não se sentiu mal? Não ficou ansioso ou teve fraqueza?”
Por um momento Jill se lembrou de Toneria. O homem havia contado que Diego se preocupava com ele mas, para ser sincero, preferia mil vezes se encontrar assim com Diego, ainda que por pouco tempo, a ter que passear com seu irmão pelo jardim. Jill adorava a cidade, mas não tinha vontade de ir lá com Toneria. Na verdade, ele gostaria de ser mais honesto com seus sentimentos e dizer a Diego que achava estranho toda aquela insistência de Toneria mas, claro, tinha um pouco de vergonha em falar. No fim das contas, Diego tinha grande respeito por seu irmão mais velho. E mesmo que acreditasse nele e decidisse fazer algo a respeito, Diego era o único que seria prejudicado.
“Não posso ser tão egoísta”. Pensou Jill. “Não quero incomodá-lo”.
“Estou bem, graças aos seus cuidados, Diego”.
Sorriu, porém Diego ficou lhe olhando por um momento sem dizer uma palavra.
“Diego?”
“Não é nada… Vamos sentar”.
Diego puxou a cadeira para que Jill sentasse primeiro. Depois afastou dos olhos uma mecha de cabelo do ômega e a acomodou atrás da orelha.
“O próximo presente vai ser algum acessório de cabelo”.
“Não se preocupe, eu não preciso ficar ganhando vários presentes”.
Jill pegou uma bolacha, esperando que Diego também se sentasse. Era um desses biscoitos de caramelo crocante com várias nozes que Diego havia comprado uma vez.
“Você me comprou alguns doces, me trouxe flores e uma infinidade de comidas”.
“Mas…”
Diego parecia querer se desculpar.
“Não acha que é suficiente? Afinal, Diego, vou ficar aqui somente até que seus irmãos estejam satisfeitos”.
“Pode ser uma forma de ver as coisas”.
“Você até me levou ao seu trabalho porque eu estava de aniversário. Eu tenho recebido tantas coisas, sinto que não mereço tanto”.
Diego olhou para Jill com uma expressão estranha no rosto.
“É um incômodo que eu te presenteie?”
“Não é incômodo nenhum…”
Jill apenas pensou que se recebesse acessórios para o cabelo, voltaria para casa com eles guardados em uma caixa. E isso significava que ficaria preocupado para sempre. Com o simples fato de olhar para caixa já se lembraria de Diego. Este seria um sentimento indescritível e complexo.
Diego continuava em silêncio, com uma enorme cara de preocupação. Jill, rapidamente, sorriu.
“No faça essa cara. Eu apena não preciso de nenhum presente”.
“E… se formos ver as estrelas de novo?”
Disse Diego levando sua xícara de chá a boca para tomar um gole.
“Eu… adoraria!”
Finalmente sorriu.
“Jill, você não fala o que gostaria de fazer por pensar que seria algo egoísta. Mas sempre parece muito emocionado quando falamos de estrelas”.
Por alguma razão, seu coração batia forte. Não podia se expressar bem, mas, na verdade, o que queria fazer com Diego era algo completamente diferente. Algo a mais. Mas não importava o quanto pensasse, Jill não sabia exatamente o quê.