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O Lobo e a Lua

Capítulo 27 - Final de temporada

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“- Desmond, acorde… precisa se levantar agora!” – Desmond acorda de repente, assustado, ansioso e ofegante. Ele olha ao redor e vê Ambrose dormindo ao seu lado tranquilamente, mas movido por um estranho impulso, se levanta e decide ir até o berço do filhote, apenas para conferir que ela estava bem. Ao se aproximar, Desmond nota que a janela ao lado do berço está aberta, ele rapidamente a fecha, apesar de achar estranho que ela tenha sido esquecida aberta.

– Zaria… – ele sussurra e volta sua atenção para o berço, mas ao procurar entre os lençóis, Desmond nota que ela não está lá. Em um misto de desespero e medo, ele observa o local vazio se perguntando onde o seu filhote poderia estar.

– Zaria! – Desmond grita aflito e sai apressado do quarto, vestido apenas com seu pijama e os pés descalços. Ele corre entre os corredores, gritando seu nome enquanto a ansiedade e o pânico tomam conta do seu corpo, se impregnando em seus ossos e o deixando atordoado.

Após correr por alguns minutos, Desmond chega a sala do trono e ali, em meio a escuridão que aos poucos some à medida em que o sol nasce, ele encontra seu filhote no chão frio com as patas e focinhos amarrados por cordas, sua barriga aberta de uma ponta a outra e seus seus órgãos internos expostos ao lado do corpo. Em meio aquela cena de horror, ele se aproxima do cadáver e se ajoelha ao seu lado, solta suas patas e focinho e em seguida a toma em seus braços com cuidado, a aconchega e então finalmente deixa que toda a dor em seu peito saia na forma de um grito estridente, cheio de sofrimento e agonia, fazendo os vidros estilhaçarem e todos os animais ao redor se assustarem.

– Meu bebê… meu lindo bebê! – Desmond a segura próximo ao seu corpo e murmura em meio ao choro. Seu peito estava dilacerado e não havia nada que pudesse fazer, a perdeu para sempre.

– Não, não, por favor não! – ele começa a soluçar e tremer. Estava em um estado de choque.

– Desmond! – Ambrose grita ao vê-lo ajoelhado no chão, coberto de sangue e com seu filhote nos braços.

– Ambrose… nós perdemos ela!

– Desmond… – ele se aproxima e cai de joelhos sobre o chão, o abraça e apoia sua cabeça próximo ao seu peito. Ambrose o segura com força e tenta acalmá-lo, mas nem mesmo consegue evitar que a aflição e a raiva tomem conta da sua mente e as lágrimas brotem de seus olhos.

Envoltos em uma terrível dor, o casal chora angustiado pela sua perda enquanto aos poucos o cômodo se enche de luz solar, deixando ainda mais evidente o quão cruel foi a morte do seu precioso filhote. Aquele seria um dia que nunca esqueceriam.
_______________

– Ambrose, já fiz o que me pediu. Todas as portas do palácio estão trancadas e todos os empregados e guardas estão reunidos na sala. – Lyter fala de forma séria, mas o observa com um olhar dolorido, triste pela perda do seu amigo.

– Conte comigo para qualquer coisa. – ele toca seu ombro e tenta reconforta-ló.

– Obrigado, Lyter. Sua ajuda é muito bem-vinda! – Ambrose suspira e o abraça, um abraço apertado e fraternal entre dois lobos que se consideram muito mais do que apenas amigos. Para eles, sua relação era tão forte quanto a de irmãos

– Cuide disso para mim, não posso deixá-lo agora… – o lobo volta seu olhar para Desmond, que está sentado em uma cadeira agarrado a manta ensanguentada do seu filhote.

– Volto mais tarde com atualizações. Meus pêsames! – Lyter se curva e sai apressado do cômodo, sumindo no corredor. Ambrose suspira e se aproxima de Desmond, que está tão perdido em seus pensamentos que nem nota sua presença.

– Desmond, me dê isso. Não pode continuar se agarrando a essa manta suja. – ele acaricia seu rosto e tenta tirar o objeto de suas mãos, mas Desmond a segura com mais força e se recusa solta-la.

– É meu bebê… não a tire de mim! – ele murmura e logo as lágrimas voltam a escorrer por seu rosto.

– Desmond, nosso bebê não está ai. – Ambrose sussurra com a voz embargada, prestes a chorar, mas se contém e foca em fazê-lo voltar a si.

– Ambrose, por que a tiraram de nós ? Era apenas um filhote… Não fez nada de errado! – Desmond se agarra ao seu corpo e chora inconsolávelmente. Não podia compreender o porquê de tanta crueldade.

– Eu não sei, mas prometo que quem fez isso vai pagar! – Ambrose o abraça com força e sente seu sangue ferver em suas veias e artérias. Se pudesse pôr suas mãos no lobo que fez isso, o faria sofrer durante dias, ou melhor, durante anos até finalmente mata-lo e expor sua cabeça nos portões do palácio para servir de lição aos que tentarem machucar sua família.

– Precisa pega-lo o mais rápido possível! – ele se afasta e o encara determinado. Compartilhava do mesmo desejo de Ambrose.

– Eu vou! – o lobo segura seu rosto com as duas mãos e o encara com um olhar confiante, mas ao mesmo tempo dolorido e furioso.
_______________

– Senhor, já está tudo pronto, como pediu ao Lyter. – Nanber informa sobre os detalhes do enterro do filhote e outros detalhes relevantes.

– Certo, obrigado.

– Eu trouxe um pouco de comida… – ela fala hesitante, com medo de ser repreendida.

– Não acho que ele vá comer, mas deixe sobre a mesa. Quem sabe tenhamos um pouco de sorte. – Ambrose volta seu olhar para Desmond, que após horas de choro acabou adormecendo. Ele acaricia seu rosto e suspira preocupado, nunca o viu tão miserável antes.

– Sim, senhor! – Nanber se apressa e traz a bandeja de comida que havia preparado, a deixa sobre a mesa e dá uma última olhada em Desmond antes de ir. Queria ajuda-lo, mas sabia que seria melhor para ele estar com Ambrose.

– Com licença! – ela se curva e sai. O Rei se levanta após vê-la sair e confere a comida que está na bandeja, depois de uma rápida avaliação ele volta para a cadeira e continua o observando. Sentia que se tirasse seus olhos dele, o perderia também.

– Me desculpe por fazê-lo tão infeliz, minha querida Rainha… – Ambrose sussurra e beija sua testa. Era inevitável pensar que todo aquele sofrimento era sua culpa.
_______________

Dia seguinte.

– Desmond, precisamos ir. – Nanber chama sua atenção ao notar que ele havia se perdido em seus pensamentos de novo.

– Certo… – ele observa seu reflexo no espelho por mais alguns instantes e logo depois volta sua atenção para Nanber, que o espera com um sorriso gentil e a mão estendida para guia-ló.

– Já estão todos lá ?

– Sim, só estão esperando por você e pelo Rei.

– Entendo. – Desmond segura sua mão e se deixa ser guiado para fora do quarto. Eles caminham até a saída que leva direto aos jardins do palácio e ao se aproximarem, todos os empregados, amigos e líderes do Conselho, voltam seus olhares para Desmond. Alguns o observam com pena, outros com sinceros sentimentos de tristeza pela sua perda, mas há alguns que apenas estão se deliciando com sua dor. Esse era o preço da realeza.

– Desmond, venha. – Ambrose se aproxima e estende sua mão. Queria que tudo acabasse rápido para poupa-lo de tanta dor.

– Obrigado. – ele respira fundo, ergue sua cabeça e toma sua mão, sendo guiado até a pequena cova. Ao ver seu filhote enrolado em uma manta branca, sendo gentilmente colocado sobre a terra seca e infértil por um dos guardas, Desmond finalmente entende que ela se foi. Agora já não restava mais dúvidas ou esperança.

– Acabou, Ambrose. – Desmond volta seu olhar para ele e está prestes a chorar novamente, mas o lobo o puxa para um abraço e cobre seu rosto.

– Não chore na frente deles, não deixe que vejam que está vulnerável… – ele sussurra próximo ao seu ouvido.

– Mas é tão difícil. Doi tanto!

– Eu estou aqui com você. Se apoie em mim! – Ambrose acaricia seus cabelos e luta contra si mesmo para se manter forte. Precisava continuar firme e apoia-ló até o fim.

Depois de um breve discurso, o Sacerdote finalmente encerra a cerimônia e a cova é fechada. Todos voltam sua atenção para o casal, para cumorimenta-los e desejar forças em um momento tão difícil.

– Meus pêsames, senhora. – Azael fala ao se aproximar. Apesar de deixar claro o quanto despreza seu irmão, não hesitou em comparecer.

– Obrigado, Azael. – Desmond o responde por educação e tenta se afastar, mas é impedido pelo lobo, que agarra seu pulso.

– Posso te dar um abraço ?

– Claro. – ele suspira e se deixa ser abraçado. Ao sentir seu toque, Desmond sente seu estômago se revirar e um estranho aroma se desprende de seu corpo. Um cheiro que já sentiu antes, mas não se recorda de onde.

– Desmond, venha! – Ambrose o chama ao vê-los juntos e rapidamente se aproxima, afastando seu irmão.

– Disse para não se aproximar. Vá embora, não é bem-vindo aqui! – ele rosna, mostrando seus dentes.

– Só estava cumprimentando minha cunhada e dando os meus pêsames, fique calmo lobinho! – Azael ergue suas mãos para o alto e fala em um tom debochado, em seguida se afasta e some na multidão.

– Ele disse algo desagradável ? – o lobo segura seu rosto e o encara preocupado.

– Não, estou bem. Apenas me leve para dentro, estou cansado.

– Certo, vamos entrar.
_______________

– E então, como ele está ? – Lyter o questiona.

– Péssimo, não comeu nada desde ontem. Sinceramente, não sei o que fazer. – Ambrose desliza seus dedos entre os pelos, jogando os fios para trás e suspira.

– É normal que esteja tão abatido. Na verdade, todos nós estamos.

– Descobriu alguma coisa ? – Ambrose muda de assunto, tentando esquecer de tudo por um momento.

– Não, não há nenhum rastro, alguém que tenha visto ou ouvido alguma coisa. Não tem nada! – Lyter suspira e cerra seu punho. Odiava dar péssimas notícias.

– Continue procurando e me avise.

– Entendido. – ele se curva e sai, o deixando finalmente sozinho. Ambrose se levanta e caminha até uma das janelas de seu escritório, de onde é possível ver a terra revirada no local em que a pequena cova foi feita. Naquele instante seu peito aperta e tudo o que esteve guardando dentro de si nas últimas horas sai em forma de uma fúria descontrolada e perigosa.

O lobo atira os móveis de madeira contra a parede e quebra os objetos que encontra pela frente. Para Ambrose, não havia outro jeito de extravasar seus sentimentos além desse.

– Rei ? Eu sou um fraco! – ele murmura para si mesmo ao ver seu reflexo no espelho acima da lareira e soca o objeto, que se estilhaça e acaba ferindo sua mão.

– Eu não posso proteger ninguém, sou um inútil! – Ambrose cai de joelhos sobre o chão e as lágrimas começam a brotar de seus olhos. Lentamente seu corpo muda para a forma humana e então ele finalmente desmaia, dando um pequeno descanso para sua mente.

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Desmond, um lobo fêmea, é abandonado por sua família por ser “defeituoso”. Desde então ele ganha a vida se prostituindo noite após noite, tentando juntar...

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