Capítulo 32
Desmond abre seus olhos devagar e logo percebe que não está em seu quarto. Ele estreita os olhos, tentando focar sua visão em algum objeto e assim poder finalmente se localizar.
– Que merda, onde eu… ? – ele murmura e esfrega os olhos, aos poucos sua visão se acostuma ao local e Desmond pode finalmente reconhece-lo, estava no escritório de Ambrose, que por alguma razão estava uma bagunça, com móveis e objetos quebrados, além de sangue espalhado pelo chão.
– Ambrose, está aí ? – Desmond o chama, mas só ouve um choro baixo, que vem de trás da mesa. Ele caminha até lá e se depara com o Rei em sua forma humana encolhido no chão, com suas costas e braços arranhados.
– Ambrose, o que foi ? Está com dor ? – ele se ajoelha e tenta tocá-lo, mas não consegue alcançá-lo, como se fosse algum tipo de fantasma.
– “Sou um inútil, não posso fazer nada… estraguei tudo de novo. É culpa minha!” – Ambrose murmura entre o choro, preso em um ciclo infinito de ansiedade e culpa.
– Ei! Do que está falando ? – Desmond insiste preocupado, mas continua sem resposta.
– “Zaria, eu sinto muito… Deveria ter protegido você, mas não consegui.” – ele murmura novamente enquanto seu corpo treme e suas unhas arranham suas costas, que estão cobertas por cicatrizes.
– Ambrose, me desculpe, eu estava errado e não deveria ter dito que foi culpa sua! – Desmond esbraveja e o observa aflito. Nunca imaginou que ele se sentiria tão miserável.
– É horrível vê-lo assim, não é ? – uma voz feminina o questiona. Desmond se assusta e ao levantar sua cabeça, pode ver Gaia parada ao seu lado o observando.
– O que significa isso ? Por que ele não me ouve ?
– Porque estamos vendo algo que já aconteceu, não podemos mudar o passado.
– Isso é uma lembrança ? – ele questiona confuso, ainda tentando processar tudo.
– Sim.
– Por que está me mostrando isso… ? – Desmond murmura, sentindo um nó se formar em sua garganta.
– Desde criança ele é assim, sempre se culpando e vivendo de acordo com as expectativas dos outros. – ela suspira e se ajoelha ao lado de Ambrose, em seguida acaricia seus cabelos brancos enquanto o observa com um olhar amoroso e cheio de compaixão.
– Me pergunto quando ele finalmente vai lutar por sua felicidade…
– Isso não responde a minha pergunta!
– Você já sabe a resposta, Desmond. Não preciso responder.
– O que…? Eu não… – ele balbucia confuso e sente uma pontada de dor atravessar sua cabeça.
– Não se preocupe, vai encontra-la logo. – Gaia sorri e desvia sua atenção para Ambrose, ainda acariciando os seus cabelos. Desmond continua confuso, mas de repente seus olhos começam a pesar e sua visão fica turva.
– Espera! – ele grita ao se levantar, mas logo percebe que está de volta ao seu quarto. Foi apenas um sonho.
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Ambrose cambaleia pelo corredor, indo em direção ao seu quarto. Após tantos dias sem dormir, comer e sob tanto estresse, seu corpo está fraco e a beira de um colapso.
– Ugh… porra! – ele resmunga ao sentir uma pontada de dor atravessar sua cabeça, o deixando tonto e o obrigando a se apoiar na parede para não cair. Ambrose respira fundo e tenta usar as suas últimas forças para voltar para o quarto, mas a luz forte da lua cheia brilhando intensamente no céu chama sua atenção, fazendo com que seja difícil desviar seu olhar.
– Desmond… – ele sussurra esperançoso de que sua Rainha venha salvá-lo novamente enquanto a dor se intensifica, o deixando impotente, mas logo Ambrose lentamente começa a perder as forças em suas pernas e é obrigado a se sentar no chão, ele mantém seus olhos fixos na enorme lua ao mesmo tempo em que seu peito desce e sobe de forma frenética, seguindo o ritmo de seus pulmões. Estava hiperventilando.
– Merda… preciso… – o lobo murmura com a voz fraca e tenta se arrastar em direção ao quarto, mas seus olhos pesam e seu corpo também, o deixando imovel. Logo Ambrose acaba cedendo ao cansaço e desmaia, havia finalmente chegado ao seu limite.
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– Sr. Lyter! – uma empregada do palácio grita ao vê-lo.
– Algum problema ? – ele a questiona ao se aproximar e logo nota que a mulher parece aflita.
– O Rei está fora de controle!
– Onde ele está ? – Lyter sente uma onda de ansiedade atravessar seu corpo.
– No andar de baixo!
– Diga a todos os empregados para procurarem um lugar seguro e não saiam até eu dizer que está tudo bem. Entendeu ?
– Sim, senhor!
– Certo, agora vá, rápido!
– S-sim! – ela acena com a cabeça e sai apressada. Lyter suspira, se perguntando o que deveria fazer, mas logo tem uma ideia.
– É a minha única opção… – ele sussurra para si mesmo e segue pelo corredor até chegar nos aposentos da Rainha. Lyter suspira e bate à porta, que para a sua surpresa, logo se abre.
– Lyter, por que está aqui ? – Desmond o questiona ao vê-lo do outro lado. Aquela noite estava cada vez mais estranha.
– Minha senhora, preciso da sua ajuda… – ele se curva e parece inquieto.
– Qual o problema ?
– Ambrose, ele… – Lyter hesita e cerra seus punhos.
– Vamos, fale!
– Ele está fora de controle, se continuar assim vai machucar todos no palácio…
– Onde ele está ? Me leve até lá! – Desmond fala determinado. Estava começando a entender.
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– Antes de ir, precisa saber que ele não está em sua total consciência, então tome cuidado. – Lyter o adverte preocupado.
– Eu vou! – Desmond sorri, tentando acalmá-lo e desce as escadas em direção ao andar de baixo, mas à medida em que se aproxima do local, seu coração palpita e suas mãos tremem.
Devido a pouca luz, Desmond não consegue enxergar bem o caminho, mas continua seguindo em linha reta como Lyter o orientou. Após caminhar um pouco, ele chega ao porão que está cheio de móveis quebrados empilhados e baús velhos cobertos por poeira.
– Que porra… – ele sussurra e se aproxima dos móveis, mas enquanto está distraido, algo o joga contra a parede.
– Ugh… – Desmond geme de dor ao cair desorientado no chão. Em seguida ele se senta, com suas costas apoiadas na parede e tenta identificar de onde veio aquele golpe, mas seus olhos encontram algo assustador em meio a escuridão.
Parado na sua frente, um enorme lobo negro de aparência grotesca e olhos dourados brilhantes o encara com as presas a mostra, estava pronto para ataca-lo e devorar seu corpo.
– Ambrose ? – ele murmura, ainda um pouco confuso. Desmond estende sua mão e tenta tocá-lo, mas a criatura recua.
– Está tudo bem, sou eu, seu marido! – Desmond tenta se aproximar novamente, mas recebe um rosnado como resposta.
– Ambrose, eu sei que está sofrendo e que tem sido difícil para você, mas volte ao normal. Vamos passar por isso juntos, não está mais sozinho! – ele se levanta devagar e observa fixamente seus olhos, esperando encontrar algum traço de racionalidade, mas a criatura o derruba com sua pata, arranhando seu peito e se inclina sobre ele.
– Ambrose, por favor não faça isso… – Desmond toca seu focinho.
– Não foi sua culpa. – ele sussurra com a voz embargada e agora pode ver tudo claramente, aquele lobo também estava lutando contra os seus demônios.
– Volte para mim, Ambrose. – Desmond sorri com um olhar amoroso e a criatura reage às suas palavras. Ambrose recua e cai no chão, em seguida seu corpo muda para a forma humana.
– Finalmente… – ele suspira aliviado e acaba desmaiando.
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Capítulo 32
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O Lobo e a Lua
Desmond, um lobo fêmea, é abandonado por sua família por ser “defeituoso”. Desde então ele ganha a vida se prostituindo noite após noite, tentando juntar...