Capítulo 65
Yue Dingtang não tinha pressa em sair.
Ele ainda estava esperando no quarto de hospital de Ling Shu, aguardando o resultado de sua conversa com He You’an.
Embora Yue Dingtang soubesse que era muito provável que Ling Shu voltasse de mãos vazias e que He You’an tentasse jogar a culpa em outra pessoa,
Mas Ling Shu, embora aparentemente animado, na verdade é muito profundo. Não importa quão astuta a pessoa seja, ele deve ser capaz de ganhar alguma coisa.
Sem mais nada para fazer, Yue Dingtang pegou um livro estrangeiro e começou a ler no quarto do hospital.
Assim que ele começou a ler sobre a visita da Srta. Morstan (NT: personagem dos livros doeSherlock Holmes), Ling Shu retornou.
Ao sair, Ling Shu não tinha nada nas mãos, mas ao retornar, estava carregado de sacolas e pacotes. Ling Shu dispôs as coisas que havia trazido. Havia clavículas de pato com molho de soja, açúcar de malte, laranjas e até flores frescas. Todo tipo de coisa que poderia encher uma mesa pequena.
No quarto do hospital, havia um vaso vazio. Ling Shu o limpou e colocou algumas flores nele, adicionando instantaneamente um toque de aconchego ao quarto.
“He You’an deu isso a você?” Yue Dingtang não conseguia imaginar a reclusa He You’an carregando uma clavícula de pato e dando a Ling Shu.
“Como isso é possível? Eu os peguei no caminho de volta, visitando salas diferentes.” Respondeu Ling Shu.
Vendo que Yue Dingtang ainda tinha algumas dúvidas, Ling Shu contou a história.
“He You’an está hospedada ao lado de uma senhora idosa, que vem de uma família rica e tem problemas cardíacos. O médico pediu que ela ficasse no hospital, mas a família dela não está, então só há uma empregada cuidando dela. A senhora idosa estava de mau humor por causa da doença e discutiu com a empregada. Eu estava passando por ali e entrei para as convencer. A senhora idosa simpatizou comigo e conversamos um pouco. Antes de eu ir embora, ela até me deu dois sacos de laranjas.”
Yue Dingtang perguntou: “Você comeu um saco inteiro no caminho para cá?”
Ling Shu respondeu: “Fui à enfermaria ao lado, onde o paciente era originalmente um oficial que deixou o exército para trabalhar em Xangai. Ele era bem-sucedido e tinha alguma riqueza, mas infelizmente não tinha filhos e era bastante solitário. Quando me viu levando laranjas para o visitar, não pôde deixar de se sentir feliz. Além disso, sou muito bonito, então, depois de algumas palavras, ele me deu a maioria dos presentes que outros lhe trouxeram e até me deixou seu contato, combinando de nos encontrarmos depois que ele receber alta.”
Yue Dingtang: …
Ling Shu disse: “Então fui para outra enfermaria. A enfermeira tinha acabado de dar uma injeção na paciente e foi embora. Uma moça rica e mimada chorava lá dentro, e sua mãe e a empregada não a conseguiam confortar. Assim que cheguei, a jovem parou de chorar e eu consegui fazer com que ela risse. Ela me abraçou com força e até quis me dar flores. No final, a mãe dela conseguiu a colocar para dormir e eu pude ir embora.”
Yue Dingtang perguntou: “Quantos anos tinha a jovem?”
Ling Shu respondeu: “Ela tinha quatro anos.”
Yue Dingtang ficou sem palavras.
Ling Shu falou com sinceridade: “Pense bem, qualquer um que possa ficar no mesmo andar que He You’an deve ser rico. Eu não andei por aí à toa, e o mais importante é que fiz amizade com as pessoas. Até dei algumas coisas para a enfermeira. Se eu precisar voltar aqui, pelo menos conhecerei algumas pessoas.”
Yue Dingtang perguntou: “Você planeja voltar?”
Ling Shu riu: “Eu falei errado, só por precaução!”
Ele fechou o livro e Yue Dingtang iniciou uma conversa casual.
“Como foi sua conversa com He You’an?”
“Não teve um resultado claro, mas também não foi um fracasso completo.” Disse Ling Shu vagamente, colocando a chave sobre a mesa. “Banco HSBC, Cofre nº 7708, pagamento de He You’an para nós.”
Yue Dingtang olhou para a chave. “O que mais ela disse?”
Ling Shu respondeu: “Ela alegou que não conhecia Chen Youhua e que tinha acabado de saber da morte de Shen Shiqi. Do início ao fim, ela não teve nada a ver com isso. Ela até se autodenominou vítima. Além de escrever aquele bilhete para nos alertar sobre Chen Wendong, ela não fez mais nada. Ela também mencionou que deixará Xangai em alguns dias para clarear as ideias e não sabe quando voltará.”
Yue Dingtang suspirou: “Então, ainda não temos nada para mostrar.”
“Mas antes de eu ir embora, ela disse algo muito estranho.” Disse Ling Shu, parando para refletir mais uma vez sobre o que He You’an havia dito.
Ela disse: “’Sr. Ling, trabalho na indústria cinematográfica há anos e tirei muitas fotos. Todas estão guardadas com o Sr. Teng Siping. Se o seu cunhado estiver interessado, pode pedir ao Sr. Teng depois que eu for embora. Já disse a ele que pode dar todas de presente para o senhor.'”
Yue Dingtang refletiu por um momento. “Seu cunhado é fã de He You’an?”
“O estranho é que minha irmã é fã dela. Eu nunca mencionei meu cunhado, e dada a idade de He You’an, ela não deveria o ter confundido com um fã.” Respondeu Ling Shu.
“Você acha que ela estava insinuando alguma coisa?” Perguntou Yue Dingtang.
Ling Shu disse: “Ela é uma pessoa inteligente que consegue ler o coração das pessoas. Pessoas como ela geralmente não dizem bobagens antes de ir embora. E pelo que entendi, ela pode não retornar a Xangai por um longo tempo, ou mesmo se estabelecer em Hong Kong, se for conveniente para ela.”
He You’an o lembrou de esperar até que ela fosse embora antes de pegar alguma coisa.
As fotos era assim.
O mesmo vale para o cofre.
Talvez ela tivesse algo que não pudesse dizer pessoalmente, então deixou algumas palavras enigmáticas para Ling Shu descobrir por si mesmo.
Também é possível que ela não tenha suportado a humilhação de Shen Shiqi e decidido o matar, fugindo com o Sr. Cheng para viver livremente no mar e no céu abertos. Ela deixou algumas pistas para Ling Shu por amizade, para que ele não ficasse obcecado e perdesse a razão.
Ling Shu achava que seu cérebro não podia ser considerado estúpido, mas quando ele encontrava He You’an, ele nunca conseguia a entender direito.
Essa mulher segurava uma pipa e cobria metade do rosto, e toda vez que ele pensava que a via claramente, ela ficava borrada novamente.
Depois que ela deixasse Xangai, as mortes de Shen Shiqi e Qian Shi poderiam ser enterradas e impossíveis de rastrear.
“Parece que só me resta esperar que ela vá embora e então procurar respostas.” Ling Shu bocejou e notou o prato vazio ao seu lado.
“Onde estão as maçãs?” Ele perguntou.
Yue Dingtang respondeu: “Eu as comi. Ontem tinha um saco inteiro de maçãs, como é que sobrou só uma?”
“Eu estava com fome ontem à noite e não comi nada na segunda metade da noite. Os convidados também comeram bastante durante o dia.” Explicou Ling Shu.
“Você comeu a maior parte, não é? E ainda quer ter alta do hospital logo?” Provocou Yue Dingtang.
Ling Shu riu: “Posso ficar no hospital, não importa. O Tio Zhou me traz sopa quente e arroz todos os dias, então me sinto em casa.”
Bem, ele ficou viciado em ficar no hospital.
Yue Dingtang não queria mais discutir com ele, então se levantou e pegou o livro.
“Estou indo agora. O Tio Zhou virá mais tarde para negociar com o médico. Se você estiver bem, ele cuidará dos seus procedimentos de alta.”
“Comandante Yue,” Ling Shu o chamou, “há algo que eu quero perguntar, mas não sei se devo.”
Yue Dingtang parou e se virou.
Ling Shu perguntou inocentemente: “Ainda preciso ir trabalhar amanhã?”
Yue Dingtang não queria dizer mais nada, então ele apenas se virou e foi embora.
Depois que ele saiu, Ling Shu riu.
Ele balançou a cabeça, pegou uma laranja e a descascou lentamente.
Assim como Yue Dingtang tentava sondar seus próprios limites, ele também gostava de provocar o outro de vez em quando, sondando os limites de Yue Dingtang passo a passo.
Os dois interagiam como se estivessem dançando um tango, onde um deles assumia a liderança.
Eram como amigos e inimigos, superior e subordinado, antigos colegas de classe, com múltiplas identidades entrelaçadas. Oscilavam entre a intimidade e a distância, mantendo um equilíbrio delicado.
Pouco depois de Yue Dingtang partir, o médico e o velho mordomo, Tio Zhou, chegaram.
Talvez devido à falta de autocontrole dos últimos dias, o médico diagnosticou que seu corpo ainda não havia se recuperado totalmente e sua temperatura estava oscilando em torno de 38 graus.
Ele ainda precisava ficar no hospital em observação por mais dois dias.
Sob o olhar condenador do velho mordomo, Ling Shu obedientemente entregou a clavícula do pato e as laranjas que ele não teve a chance de comer.
Os olhos do mordomo eram como os de um falcão, e ele até encontrou as laranjas que Ling Shu havia escondido debaixo do travesseiro. Todo o estoque de Ling Shu foi saqueado, restando-lhe apenas mingau aguado e vegetais salgados para sobreviver.
Ele se sentiu duplamente desolado.
A consequência de beber mingau foi que, depois de várias idas ao banheiro, seu estômago começou a roncar.
Apesar de procurar pela enfermaria, ele não conseguiu encontrar nada para comer, então teve que se deitar cedo, se cobrir com um cobertor e imaginar um banquete suntuoso em sua mente, com abalone, barbatana de tubarão e pepino-do-mar.
Ele suportou a fome e adormeceu.
No meio da noite, Ling Shu foi acordado pela vontade de urinar.
O ambiente estava silencioso, e do lado de fora da janela, quieto e vazio, mas ao lado da cama, ele parecia como se alguém estivesse ali. A sensação era inexplicável, difícil de expressar em palavras. Mas quando alguém fecha os olhos e há outras pessoas por perto, é fácil a sentir. Ling Shu estava se sentindo assim agora.
Dizia-se que as pessoas frequentemente entravam no hospital em pé e saíam deitadas. Funerais eram comuns ali e, ao longo dos anos, inúmeros fantasmas vagavam por ali, relutantes em deixar o mundo mortal.
Dizia-se também que este hospital costumava ser um cemitério, e muitas almas perdidas não tinham para onde ir, então fizeram do hospital seu lar. À meia-noite, quando não havia ninguém por perto, era natural que ‘eles’ estivessem ativos.
Os cabelos de Ling Shu se arrepiaram. Ele prendeu a respiração e fingiu se revirar na cama, fechando os olhos com força, exceto por uma pequena fresta. No ponto onde o luar brilhava na beira da cama, havia tênues sombras negras.
De repente, uma mão desceu. Ling Shu queria se mover, mas não conseguia!
Seu pescoço estava sendo estrangulado!
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Capítulo 65
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