Capítulo 14
“Du… Du…”
Sendo encarado por várias pessoas com olhares nada amigáveis, ele mal conseguia formular uma frase coerente. Ao ouvir Du Kang pedindo para ver os documentos, ficou tão apavorado que parecia ter perdido a alma.
Du Kang esperou por um momento, mas vendo que ele não se mexia, sua expressão ficou cada vez mais sombria. Com um resmungo frio, avançou e tirou o papel das mãos dele. Ao abrir o documento, ele se deparou com acusações listadas uma a uma, cheias de retórica condenatória, e uma marca de mão borrada que dificultava a identificação.
A caminho dali, Du Kang ainda nutria a esperança de que as coisas não tivessem seguido pelo pior cenário possível, e que, pelo menos, a cidade de Liyun não passasse uma imagem irrecuperável aos olhos do Sr. Fang e de todos os outros líderes que estavam prestes a chegar. No entanto, naquele momento, a realidade o atingiu como um tapa na cara, sem a menor piedade.
“Muito bem, muito bem, documentos escritos com grande competência,” ele bateu a pilha de papéis inutilizados na mesa com um estalo, enquanto um sorriso irônico disfarçava a fúria prestes a explodir. “Qual é o seu nome?”
O homem, aterrorizado, sequer conseguia responder. Suas pernas tremiam tanto que ele mal conseguia ficar em pé.
Foi o pai de Deng, que acompanhava o grupo, quem respondeu: “Ele se chama Sun Laixin, cunhado do vice-diretor Liu. Geralmente é responsável pela área de Baima Street.”
Du Kang, no entanto, captou um detalhe naquelas palavras. Ele assentiu várias vezes, repetindo: “Muito bom, muito bom. Baima Street, uma das áreas mais movimentadas de Liyun. Imagino que seja uma fonte de renda bastante substancial. E o cargo é confiado ao cunhado. Essa nomeação foi certamente feita com muita… eficiência, a ponto de me deixar sem palavras.”
Em Liyun, estando em uma posição elevada, Du Kang sempre via apenas uma fachada impecável que seus subordinados se esforçavam para manter. Agora, ao remover camada por camada, ele percebia que a realidade era muito mais suja do que o pior que ele havia imaginado. E tudo isso sendo exposto, nu e cru, diante do Sr. Fang, com certeza em breve se tornaria de conhecimento geral. Ele, como gestor, provavelmente se tornaria motivo de piada em toda a província de Qunnan.
Para uma pessoa, a dignidade é tudo, assim como a casca para uma árvore. Pensar nas consequências fazia Du Kang sentir como se fosse cuspir sangue. A fúria em seu coração era avassaladora, quase rompendo suas barreiras, quanto mais para aqueles que haviam causado essa confusão toda.
Com uma chave na mão, ele mesmo foi até Lin Jingzhe e abriu o cadeado que o prendia à cadeira, soltando um sorriso amargo: “Jovem, sinto muito por tudo o que você passou.”
Seu secretário, que já havia trazido uma toalha molhada, se aproximou rapidamente para ajudar Du Kang a erguer Lin Jingzhe e limpar a tinta vermelha da almofada de carimbo que ainda manchava sua mão.
“Eu mesmo faço,” respondeu Lin Jingzhe, com uma expressão contrariada, mas já não era alguém que descontava sua frustração nos outros, além de não gostar de aproximações muito íntimas. Então, pegou a toalha e agradeceu: “Obrigado.”
Du Kang disse a ele: “Não se preocupe, eu vou lhe dar uma explicação satisfatória.”
Apesar de suas palavras serem dirigidas a Lin Jingzhe, na verdade, elas eram uma promessa ao Sr. Fang. Lin Jingzhe, sem conhecer Du Kang, não sabia exatamente a quem todos pertenciam, mas pela atitude de Sun Laixin, podia deduzir algumas coisas.
Ele limpou a mão com a toalha e a jogou despreocupadamente sobre a cadeira em que havia ficado tanto tempo. Com um leve aceno de cabeça, demonstrava uma calma impressionante, que parecia absurda para alguém que havia sido pressionado daquela maneira. “Não precisa se desculpar; afinal, isso não foi culpa sua.”
Ouvir uma frase que, na prática, estava livrando-o da culpa, fez com que a gratidão de Du Kang não pudesse ser expressa em palavras.
Ele então virou-se para Sun Laixin, que estava visivelmente apavorado, e sentiu sua raiva crescer ainda mais.
Era por causa de pessoas como ele, que enganavam seus superiores e reprimiam os outros, que quase lhe haviam causado problemas gravíssimos! Ele mal conseguia conter o desejo de devorar aquele homem ali mesmo.
Sun Laixin ficou sem reação, observando toda a cena. Ele já havia percebido que, de alguma forma, havia desrespeitado alguém que jamais deveria ter provocado. Mas isso não fazia sentido. Antes de agir, ele e seu cunhado haviam verificado todos os antecedentes de Lin Jingzhe. Constatado que ele era um jovem sem apoio familiar, com uma história de pais divorciados e sem parentes próximos que pudessem defendê-lo. Como é possível que alguém tão isolado de repente atraísse a atenção de Du Kang, que se apressou até ali e agora se desculpava com tamanha humildade? O que ele havia deixado escapar?
Enquanto esperava por seu cunhado, Sun Laixin, vendo sua situação deteriorar-se, estava quase tendo um colapso nervoso. O suor escorria por seu rosto e formava uma pequena poça no chão, mas ele nem se atrevia a enxugá-lo. Com as costas curvadas, ele desejava desaparecer ali mesmo.
Nesse momento, um murmúrio começou do lado de fora. Um homem abriu caminho pela multidão que bloqueava a entrada e aproximou-se rapidamente de Du Kang, sussurrando algumas palavras em seu ouvido.
“Já chegou?!”
Du Kang ficou chocado, ajeitou a postura e saiu para recebê-lo com a máxima seriedade.
Dentro da sala, Sun Laixin, que fora deixado completamente de lado, estava atônito.
Ele escutou o homem sussurrar para Du Kang: “O carro do Secretário Zheng Cunzhi chegou.”
Zheng Cunzhi?!
Mesmo que esquecesse o nome da própria mãe, ele jamais esqueceria aquele nome.
Com a visão escurecida e sentindo-se tonto, Sun Laixin sentiu seu coração disparar, como se o ar estivesse desaparecendo ao seu redor.
Lin Jingzhe estava intacto. A única dificuldade era remover a tinta vermelha que manchava sua mão, mas, fora isso, ele não sofreu nenhum arranhão.
O Sr. Fang, no entanto, estava furioso como nunca. Ao chegar em Liyun, jamais imaginou que, em tempos de paz, encontraria uma situação tão caótica e sem lei. Ele rejeitou imediatamente a sugestão de Zheng Cunzhi de voltar ao alojamento para descansar. Convocou uma reunião emergencial naquela mesma noite, batendo na mesa com tanta força que vários copos de chá se quebraram.
Zheng Cunzhi deu o veredito final: “Investigação completa! Vamos até o fundo disso!”
Toda a província de Qunnan foi movimentada por essa reunião. O visitante do departamento de patrimônio, que viera de tão longe, foi imediatamente detido para uma investigação aprofundada. O Diretor Liu e seus aliados mais próximos foram todos removidos de seus cargos, enquanto Deng Fengshou, o pai de Deng Mai, foi indicado como responsável principal da investigação.
Em sua casa, Lin Jingzhe deixou a porta aberta enquanto a equipe do museu, com extremo cuidado, retirava os itens doados que haviam sido armazenados no depósito, todos devidamente protegidos. Zheng Cunzhi e o Sr. Fang, supervisionando o transporte no jardim, agora restaurado pela equipe enviada por Du Kang, conversavam sobre assuntos triviais enquanto coordenavam a movimentação.
Zheng Cunzhi abriu uma das caixas que estava prestes a ser levada para o carro e passou os dedos suavemente sobre uma pesada peça de bronze marcada com um código.
Influenciado pelo Sr. Fang, Zheng Cunzhi também desenvolveu um certo interesse em antiguidades. Embora, por alguns motivos, ele nunca colecionasse peças, ele possuía um olhar treinado.
“Trabalho do final da dinastia Shang. Uma obra-prima.” Ele suspirou, balançando levemente a cabeça antes de se levantar e comentar com o Sr. Fang: “Esta é a maior doação de artefatos históricos já feita em nossa província de Qunnan. Nunca imaginei que o doador fosse um jovem que acabou de atingir a maioridade.”
Suas palavras foram cautelosas, pois doações de artefatos, especialmente uma doação dessa magnitude, eram raras até mesmo em nível nacional. Para algumas pessoas, esses tesouros históricos transmitidos por gerações eram vistos apenas como símbolos de riqueza, e, para alcançar essa “riqueza”, não hesitavam em ir até as últimas consequências.
Ambos voltaram o olhar para Lin Jingzhe, que, apoiado contra a porta, observava com uma expressão neutra as caixas sendo retiradas.
Com sua experiência de vida e perspicácia, os dois captaram facilmente a saudade e o leve desapego por trás da fachada fria de Lin Jingzhe. O Sr. Fang suspirou: “Esse rapaz é especial. Cunzhi, não se esqueça de retribuir a ajuda. Mesmo que tenha sido de forma indireta, ele acabou lhe dando uma mãozinha.”
Zheng Cunzhi assentiu com um leve sorriso: “Jamais imaginei que a oportunidade surgiria tão rápido. Quem diria que a trama por trás dessa disputa por artefatos históricos envolveria gente da nossa própria província.”
O Sr. Fang balançou a cabeça: “O dinheiro corrompe as pessoas. Esses adultos… sua visão é menos generosa que a de um jovem.”
Após assinar o acordo de doação formal e ver os veículos carregados de caixas saírem sob forte proteção, Lin Jingzhe soltou um longo suspiro, como se tivesse finalmente removido um peso de seu peito, embora uma tristeza vaga ainda permanecesse.
Ao fechar a porta do depósito, ele sabia que, dali em diante, provavelmente nunca mais a abriria.
Sentindo-se vazio, ajoelhou-se diante do altar de seu avô. O incenso preenchia o ar, e antes de partir, o Sr. Fang, acompanhado por vários outros, havia feito uma reverência em homenagem ao velho.
Na luz tênue do incenso, Lin Jingzhe inclinou-se e reverenciou três vezes.
Seus olhos, levemente irritados pela fumaça, ameaçavam lacrimejar, mas ele manteve-os abertos, fixando o olhar na fotografia em preto e branco de seu avô.
Na foto, o velho sorria com a mesma expressão afetuosa de sempre, um sorriso que parecia capaz de abraçar o mundo inteiro, olhando para Lin Jingzhe com serenidade.
Finalmente, estava tudo encerrado.
A partir daquele momento, Lin Jingzhe percebeu que estava pronto para começar uma nova fase em sua vida.
Ainda abalados, Gao Sheng e Zhou Haitang apareceram como de costume para irem juntos à escola.
Por causa da doação dos artefatos, muitos alunos da turma cinco, incluindo Lin Jingzhe, faltaram às aulas por dois dias, o que era um tanto excessivo para o último ano do ensino médio, com a pressão dos estudos tão intensa. Mas, após processar sua tristeza, Lin Jingzhe rapidamente recuperou o foco. Internamente, ele já era um adulto que sabia quando se expor e quando se recolher. Ele entendia muito bem o que era prioritário para ele naquele momento.
O caso da disputa pelos artefatos estava sendo tratado discretamente pelas autoridades locais, e nada havia vazado até então. Hu Yu, embora não soubesse o motivo da ausência de Lin Jingzhe, também não se preocupou em investigar. Afinal, para ela, havia outra notícia muito mais animadora.
Os resultados do segundo exame simulado da escola haviam saído.
Lin Jingzhe tinha conseguido o primeiro lugar da turma. Não, o primeiro lugar da escola inteira.
Assim que os resultados foram divulgados, todos os professores ficaram em choque, inclusive a própria Hu Yu.
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Capítulo 14
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