Capítulo 31
O olhar de Xiao Chi, do lado de fora, continuava sereno, quase frio, contrastando com o riso sem jeito de Hu Shaofeng, que tentava disfarçar o constrangimento. Para ele, parecia apenas uma reunião amigável, enquanto para Lin Jingzhe, cada encontro com Xiao Chi lhe trazia mais azar e complicações do que ele conseguia lidar.
As luzes de uma viatura se aproximaram, e o som da sirene policial cortou o silêncio, chamando a atenção de todos. Fang Wenhao, bêbado, soltou um arroto no banco de trás, enquanto Hu Shaofeng soltava um palavrão, claramente irritado. Lin Jingzhe suspirou, passando a mão no rosto, imaginando quais seriam as penalidades para dirigir sem habilitação.
Xiao Chi, percebendo a expressão aflita de Lin Jingzhe, inclinou-se ligeiramente e perguntou: “Houve algum ferimento?”
“Não”, respondeu Lin Jingzhe com um olhar de desgosto, antes de admitir a contragosto, “mas… eu não tenho carteira de motorista.”
Xiao Chi ficou momentaneamente surpreso.
Antes que pudesse reagir, Hu Shaofeng, ainda murmurando reclamações sobre a presença da polícia em uma rua deserta àquela hora, foi subitamente puxado por Xiao Chi, que abriu a porta do motorista, retirou Lin Jingzhe do banco e empurrou o atordoado Hu Shaofeng para o assento.
Hu Shaofeng caiu no banco do motorista com um baque, enquanto Fang Wenhao, do banco traseiro, ainda bêbado, murmurava palavras sem sentido.
De longe, a cena parecia uma briga, e o policial que se aproximava acelerou o passo, gritando: “Ei! O que está acontecendo? Todo mundo parado!”
Xiao Chi aproveitou a confusão para apontar Hu Shaofeng e, com seriedade, disse ao policial: “Foi ele que bateu no meu carro.”
Hu Shaofeng soltou uma exclamação de surpresa, enquanto Lin Jingzhe apenas suspirou, resignado.
“Foi… foi eu que bati”, Hu Shaofeng disse, sem ter outra saída, enquanto Fang Wenhao dava-lhe um tapinha bêbado no ombro e murmurava: “Idiota…”
O policial, separando os grupos, examinou a colisão e, percebendo que não era grave, relaxou. Mas, ao notar os carros de luxo, manteve-se atento e começou a anotar os detalhes, perguntando: “Quem estava dirigindo o carro da frente?”
“Eu”, disse Xiao Chi, assumindo a culpa com tranquilidade.
“Todos, me mostrem suas carteiras de motorista!”
Xiao Chi foi até o jipe para pegar a sua, enquanto Hu Shaofeng, ainda confuso, desceu do carro. O policial, surpreso, gritou: “Ei, o que você está fazendo?”
“Pegando a minha carteira!”, respondeu Hu Shaofeng, irritado. Após alguns passos, ele abriu a porta do jipe e entregou sua habilitação ao policial.
Verificando que tudo estava em ordem e que ninguém estava ferido, o policial, aliviado, concluiu que era apenas uma briga sem consequências graves entre jovens ricos. Ele então disse: “Resolvam isso entre vocês e não fiquem obstruindo a via!”
Xiao Chi lançou um olhar para Hu Shaofeng, que apenas suspirou e, resignado, voltou ao carro. Enquanto isso, o policial deu uma última advertência: “Mantenham uma distância segura da próxima vez! Isso é perigoso e irresponsável!”
Hu Shaofeng assentiu, segurando o volante com uma expressão de desgosto, enquanto se afastava lentamente.
Xiao Chi observou pelo retrovisor os faróis de Hu Shaofeng piscando freneticamente. Ignorando a irritação do amigo, ele olhou para Lin Jingzhe, que estava de cabeça encostada no vidro, e disse calmamente: “Desculpe pela confusão.”
Após um longo silêncio, Lin Jingzhe lançou um olhar interrogativo para Xiao Chi, sem entender exatamente pelo que ele estava se desculpando.
Xiao Chi, fixando o olhar na estrada, comentou: “Hu Shaofeng é um idiota. Ele pensou que Fang Wenhao estava dirigindo. Sempre que isso acontece, ele acaba levando o carro de Fang para consertar. Você se acostuma.”
Lin Jingzhe bufou, exasperado. “Quem quer se acostumar com um maluco desses? Pare o carro, aquelas luzes estão me deixando tonto.”
Xiao Chi olhou pelo retrovisor, irritado com as luzes piscantes de Hu Shaofeng. Sem hesitar, abaixou o vidro e atirou o pager que estava no painel para fora, mirando o carro atrás.
O som das luzes piscantes cessou, seguido pelo grito raivoso de Hu Shaofeng: “Xiao Chi, seu desgraçado!”
Xiao Chi subiu o vidro calmamente. “Para onde você quer ir? Eu te levo.”
Lin Jingzhe suspirou, cansado. “Apenas até a Faculdade de Finanças da Universidade de Yanshi.”
Ao chegar, Lin Jingzhe saiu do carro rapidamente. Hu Shaofeng, fielmente o seguindo, estacionou ao lado, com o para-brisa do carro rachado como uma teia de aranha. Mas nada era mais alto do que seus gritos de frustração.
“Ele vomitou em mim!”, Hu Shaofeng gritou, tirando a camisa com nojo enquanto Fang Wenhao, cambaleante, quase desmaiava sobre ele e tentava vomitar mais.
Lin Jingzhe, ignorando a confusão, foi até o banco do passageiro para pegar seu envelope de documentos, suspirando aliviado ao ver que estavam intactos. Enquanto isso, Hu Shaofeng, irritado, reclamava com Xiao Chi: “Mas eu não estava dirigindo!”
Xiao Chi respondeu, jogando as chaves para ele: “Mas você que começou a confusão, não foi?”
Hu Shaofeng, coberto de vômito, começou a questionar sua própria sanidade. “Será que eu tenho algum problema?”
Xiao Chi não respondeu, mas lançou um olhar para Lin Jingzhe, agora seguro com o envelope. Naquela hora da noite, o campus estava calmo, com poucos alunos passando, a maioria ignorando o carro amassado e a cena caótica ao redor.
“Pode deixar que eu cuido do Fang Wenhao”, disse Xiao Chi. “Pode ir.”
Lin Jingzhe hesitou, mas ao lembrar-se da amizade de infância entre Fang e Hu, sentiu-se mais tranquilo. “Tudo bem, amanhã eu verifico como ele está.”
Xiao Chi olhou para o relógio. “Eu te levo de volta.”
“Não precisa.” Lin Jingzhe respondeu e começou a andar em direção ao portão da universidade. Xiao Chi, no entanto, o seguiu de perto.
Enquanto caminhavam pelo campus, Xiao Chi, que era alto e rápido, logo o alcançou e, sem aviso, envolveu o pescoço de Lin Jingzhe com seu rosário de contas de madeira.
Lin Jingzhe olhou para ele, incrédulo, segurando o rosário enquanto Xiao Chi o encarava com um sorriso malicioso. “Nem estou mais bravo, e você ainda está de cara feia? Pra quê?”
Lin Jingzhe arregalou os olhos. “Bravo? Você estava bravo? Tem certeza de que você não tem algum problema?!”
Xiao Chi, com uma expressão meio divertida, deixou algumas mechas de cabelo caírem sobre a testa, assumindo um ar quase infantil. “Você tem ideia da força daquele chute?”
“E olha aqui!” Ele mostrou a mão com uma marca. “Ainda está roxo.”
Lin Jingzhe, sem conseguir enxergar a marca devido à pouca luz, apenas suspirou. “E o que você quer com isso?”
“Estou dizendo que estamos quites. Você me chutou e me apertou a mão com toda a força. Dá pra parar com essa hostilidade agora?” Xiao Chi inclinou-se, com um tom sério. “E, pra constar, eu também não gosto de homens.”
Lin Jingzhe, exasperado, respondeu: “Você acha que eu gosto? Qual o seu problema?!”
Xiao Chi apenas o observou com uma expressão indecifrável, o que fez Lin Jingzhe entender porque ele e Hu Shaofeng eram amigos. Percebendo a futilidade da conversa, deu meia-volta e continuou andando.
Mas antes que pudesse se afastar, Xiao Chi jogou o rosário novamente sobre seu pescoço, como uma corda. Irritado, Lin Jingzhe arrancou o rosário com um movimento brusco, girou o braço de Xiao Chi e, numa reação rápida, aplicou-lhe um golpe com o cotovelo, fazendo-o cambalear até se apoiar em uma árvore.
Caindo quase que sobre ele, Lin Jingzhe sentiu novamente o cheiro familiar de sândalo. Preparou-se para dar outro golpe, mas Xiao Chi segurou seu pulso e, com o braço firme, envolveu-lhe a cintura, imobilizando-o.
Os dois ficaram parados, tensos, quando um grito súbito quebrou o silêncio. Uma dupla de estudantes, claramente um casal em meio a um encontro íntimo, saiu às pressas do arbusto próximo, as roupas levemente desalinhadas.
Seus olhares cruzaram, e por um instante, todos congelaram.
Xiao Chi, com uma expressão fria e quase intimidante, soltou um olhar cortante para os intrusos.
Lin Jingzhe, ainda preso nos braços de Xiao Chi, percebeu que a situação havia tomado um rumo muito mais constrangedor do que imaginava.
Apesar da diferença de altura entre os dois, Lin Jingzhe, com seus mais de um metro e setenta e cinco, olhava de cima para o casal de aproximadamente um metro e sessenta.
“QAQ, desculpa por interromper,” o rapaz, claramente incomodado, pensou consigo mesmo que eram “um casal de homens desavergonhados,” mas temia causar problemas. Rapidamente, puxou a namorada e saíram apressados.
Com o sumiço das duas figuras, Lin Jingzhe e Xiao Chi ficaram em silêncio, e a tensão que antes pairava no ar dissipou-se. Após alguns instantes, Lin Jingzhe tentou se desvencilhar. Xiao Chi, notando o movimento, soltou-o sem resistência, mas seu rosto frio relaxou um pouco enquanto cobria o abdômen onde havia sido atingido.
Lembrando-se do pedido de desculpas apressado do casal, Lin Jingzhe sentiu-se exausto e devolveu o rosário para Xiao Chi, apontando para a outra direção. “Vai embora,” disse, cansado.
A dor no corpo de Xiao Chi era evidente, mas ele refletia sobre a força inesperada daquele braço magro, sem entender de onde Lin Jingzhe tirava tanto vigor. Ele até poderia revidar, mas sabia que a relação entre os dois mudaria de um jeito que não desejava. Contudo, ainda estava um pouco irritado por ter apanhado sem a menor cerimônia. Além disso, o casal que interrompeu também o incomodava, e ele, descontente, pegou o rosário e, com um movimento rápido, o lançou de volta ao pescoço de Lin Jingzhe.
Apontando com o dedo para Lin Jingzhe, sem dizer mais nada, Xiao Chi virou-se e saiu. Antes de desaparecer na escuridão, ainda deixou uma frase no ar: “Espere e verá.”
Observando Xiao Chi sumir, Lin Jingzhe não pôde deixar de soltar uma risada irônica. Olhando para o céu, suspirou. “Hoje é um daqueles dias de azar, não é?”
Retirou o rosário do pescoço e, ao examiná-lo, percebeu a intrincada gravação de sutras em cada uma das pequenas contas de madeira, cujo toque suave e polido indicava anos de uso. O objeto exalava o mesmo aroma sutil e calmante que ele associava a Xiao Chi, e Lin Jingzhe sabia que aquele item tinha grande valor, tanto espiritual quanto material.
Ele gritou: “Você esqueceu o seu rosário!”
Mas Xiao Chi o ignorou completamente, mantendo-se distante, claramente aborrecido. Ao sair, ele ainda lançou um olhar impaciente para Hu Shaofeng, que estava apoiado contra o carro, fumando e tentando sustentar Fang Wenhao.
Hu Shaofeng apagou o cigarro rapidamente, jogou o bêbado Fang Wenhao no banco traseiro do jipe e correu para o banco do passageiro. Antes que ele pudesse fechar a porta, Xiao Chi a empurrou, ordenando: “Vai para o banco de trás.”
Hu Shaofeng, temendo outro episódio de vômito, relutou, mas conhecia as peculiaridades do amigo e, resignado, deitou Fang Wenhao, que já estava desmaiado, em seu colo, enquanto observava pelo retrovisor o olhar frio de Xiao Chi.
Durante o trajeto, Hu Shaofeng, temendo que Xiao Chi estivesse realmente bravo, observava o amigo cautelosamente. Então, notou algo incomum. “Ei, cadê o seu rosário?”
Surpreso, ele começou a lembrar que Xiao Chi sempre carregava aquele rosário, uma herança de sua avó. Era uma peça preciosa, feita de sândalo raro, que ele sequer deixava Hu Shaofeng tocar. Diante da possibilidade de o rosário ter sido perdido, Hu Shaofeng tentou ajudar: “Será que caiu? Podemos voltar e procurar…”
“Fica quieto.” Xiao Chi respondeu, dirigindo o jipe de forma pouco usual, com uma intensidade que destoava de sua habitual calma. “Amanhã, quero que você investigue uma empresa chamada ‘Shiyu Real Estate’. E cuide do Fang Wenhao; se ele vomitar de novo, vou largar vocês dois na estrada.”
No dia seguinte, Fang Wenhao apareceu no campus, parecendo revigorado e sem qualquer memória dos eventos da noite anterior. Aproximou-se de Lin Jingzhe para tranquilizá-lo. “Não se preocupe! O carro já está sendo consertado. Fiz aquele idiota do Hu Shaofeng pagar tudo!”
Lin Jingzhe, observando a atitude despreocupada de Fang, decidiu não mencionar o vexame de Hu Shaofeng. No entanto, ele ainda tinha planos em mente. Depois de resolver o assunto do carro, Fang rapidamente mudou o foco para tentar convencer Lin Jingzhe a desistir da ideia de participar da licitação.
Lin Jingzhe ouviu os conselhos, mas por dentro se preocupava. A empresa que acabara de fundar precisava de um parceiro confiável, e era evidente que Fang Wenhao não estava interessado, além de ter uma empresa cheia de sócios intrigantes e em constante disputa. Com isso, Lin Jingzhe precisava de uma nova estratégia e de alguém com quem pudesse realmente contar.
O nome “Shiyu Real Estate” representava um novo começo para ele, e a empresa era seu primeiro passo no setor imobiliário, com um propósito diferente do que ele tivera em Shenshi. Embora estivesse confiante em seu conhecimento de planejamento urbano, as palavras de Fang não deixavam de ter um fundo de verdade. O mercado imobiliário de Yanshi era extremamente competitivo, com licitações de terras que exigiam conexões e um alto poder aquisitivo.
Lin Jingzhe possuía cerca de três milhões em ações, mas a quantia era insuficiente para a compra de um terreno em uma cidade em pleno desenvolvimento. Recentemente, um terreno disputado em uma licitação em Yanshi, e que Fang cobiçava, foi vendido por mais de trinta milhões, enquanto o terreno mais barato na época custava cerca de sete milhões.
Apesar da frustração com a situação financeira, Lin Jingzhe também não sabia o que fazer com o rosário de Xiao Chi. Pensou em descartá-lo, mas, devido a suas crenças e ao fato de ter renascido, achou melhor mantê-lo consigo, embora a ideia de devolver a peça fosse desconfortável.
Enquanto isso, Xiao Chi, agora com um rosário diferente, sentia-se desconfortável. Logo, Hu Shaofeng retornou com novidades.
“Você realmente tem faro para essas coisas, hein? Onde foi que ouviu falar dessa empresa?” Hu Shaofeng, ainda surpreso, folheava os documentos que conseguiu. “Os documentos foram assinados pelo grupo do Da Hu, que é ligado ao Fang. O representante é Lin Jingzhe, e ele até enviou os papéis para a próxima licitação. Será que o Fang está tentando nos enganar?”
Xiao Chi analisou o nome “Shiyu Real Estate” por um momento, refletindo. Fang tinha razão em suspeitar, mas havia algo em Lin Jingzhe que o fazia duvidar dessa teoria.
“Não acho que seja isso,” disse Xiao Chi, balançando a cabeça.
“Será que é mesmo o Lin Jingzhe? Como um garoto conseguiria fazer tudo isso sozinho?” Hu Shaofeng estava convencido de que a aparência inofensiva de Lin Jingzhe o tornava incapaz de algo tão audacioso. Xiao Chi apenas respondeu: “Você se esqueceu onde o encontramos pela primeira vez?”
“Na sala de operações de ações?” Hu Shaofeng recordou, e sua expressão mudou. Ele lembrava vividamente como Lin Jingzhe havia feito suas movimentações com precisão, sincronizado com Xiao Chi e sem hesitar ao investir grandes somas.
Desde aquele dia, Xiao Chi monitorou o mercado e conseguiu um bom retorno, o suficiente para cobrir seus investimentos. Se Lin Jingzhe era tão calculista quanto Xiao Chi, então ele provavelmente também era alguém com um lado oculto e estratégico.
Ao lembrar-se disso, Hu Shaofeng sentiu um arrepio. Lin Jingzhe, com sua aparência juvenil e inocente, escondia uma determinação que o tornava ainda mais intimidante do que a personalidade calma de Xiao Chi.
Enquanto folheava os documentos, Xiao Chi foi interrompido por Hu Shaofeng, que se lembrava de outra notícia. “Ah, ouvi dizer que Qi Kai foi finalmente resgatado pelo avô e voltou a Yanshi ontem.”
Xiao Chi olhou para o canto do documento onde havia uma foto de identificação de Lin Jingzhe. Ele acenou com a cabeça, tranquilamente absorvendo a informação.
Não foi surpresa para ninguém que Qi Kai tivesse sido resgatado. Afinal, o velho Qi ainda estava vivo, e certamente não permitiria que o único herdeiro da família ficasse preso.
Pelo bem desse único herdeiro, o velho Qi renunciou a muitas coisas, o que lhe custou grande desgaste. Xiao Chi se lembrava de seu pai falando sobre isso, com um misto de animação e um pesar mal disfarçado na voz.
Um homem que sempre foi poderoso durante toda a vida, no fim, se viu prejudicado pelo neto incapaz. Mesmo sendo um concorrente, era difícil não sentir alguma empatia por ele. Fechando o arquivo em mãos, Xiao Chi lançou um olhar sério para Hu Shaofeng e disse com gravidade: “O que ele fará depois de voltar para Yan City é problema dele. Mas se você ousar andar com ele de novo, não me culpe por ser duro.”
“Ah, relaxa!” Hu Shaofeng, lembrando-se da época em que cobiçou os “grandes negócios” de Qi Kai, sentiu-se envergonhado. “Pode ficar tranquilo. Eu não sou bobo, prefiro é manter distância dele.”
Xiao Chi assentiu levemente, recostando-se no sofá com a mesma postura imperturbável de sempre e deu uma ordem: “E outra coisa, prepare-se. Nestes dias, marque um jantar com Fang Wenhao e… Lin Jingzhe.”
Hu Shaofeng fez uma careta, claramente desconfortável. “Pra que chamar os dois? Faz poucos dias que briguei com Fang Wenhao, e o desgraçado foi reclamar com o meu pai, dizendo que bati no carro dele.”
Erguendo as mangas em tom de queixa, acrescentou: “Meu pai me deu uma bronca daquelas!”
Xiao Chi ignorou o lamento dele e apenas apontou para o arquivo: “Você abriu e deu uma olhada? Consegue adivinhar qual terreno está em jogo na solicitação de qualificação para o projeto imobiliário?”
Hu Shaofeng ficou surpreso e exclamou, batendo a mão na coxa ao se levantar: “O Lote 9 não é lá do lado da Rua Er Zhong? Aquele fim de mundo onde nem os pássaros passam! Fang Wenhao e Lin Jingzhe devem ser uns idiotas!”
“Eu acho que eles não são idiotas.” Xiao Chi baixou os olhos e levantou uma possibilidade que Hu Shaofeng achou improvável. “Talvez tenham recebido alguma informação. De qualquer forma, todos podemos compartilhar nossas fontes.”
Quando Fang Wenhao recebeu a mensagem no pager marcando o jantar, Lin Jingzhe já estava a caminho da Universidade de Wutong. Uma hora antes, Zhou Haitang havia ligado para ele com uma notícia inesperada.
O pai de Zhou estava na lista mais recente de trabalhadores demitidos da fábrica de garrafas térmicas de Liyun.
O Departamento de Computação da Universidade de Wutong era novo, com poucos alunos e dormitórios recém-construídos, onde a escola, bem provida de recursos, até instalara linhas telefônicas nos quartos.
Zhou Haitang, queimado pelo sol do treinamento militar, estava tão bronzeado quanto Deng Mai. Ao ver Lin Jingzhe, estava visivelmente perdido: “O que eu faço, Jingzhe?”
Os colegas do dormitório tentavam consolá-lo. Naquela época, perder o emprego era uma situação muito grave, algo difícil de entender para os estudantes, e todos sentiam pena dele.
Lin Jingzhe, com calma, bateu no ombro dele e perguntou: “Quando aconteceu?”
Ele achou estranho. Era verdade que o pai de Zhou seria demitido, mas, na sua memória, isso não deveria acontecer agora.
“Faz quase um mês. Meus pais esconderam isso de mim até agora; só soube porque o pai do Deng Mai deixou escapar.” Zhou Haitang lembrou-se das remessas mensais de 150 yuans que seus pais enviavam desde que ele chegou a Yan City, e a culpa o consumia. Ele passou as mãos pelos cabelos, incapaz de se acalmar, repetindo: “Por que não me contaram…”
Gao Sheng suspirou, vendo o estado dele, e explicou a situação.
O pai de Zhou tinha sido demitido sem aviso prévio um mês atrás, o que deixou o casal em desespero. Desde que a mãe de Zhou perdera o emprego, a economia da família dependia inteiramente do pai, e essa mudança foi devastadora para eles. Ainda assim, toda vez que falavam com o filho ao telefone, escondiam a situação.
A demissão do pai de Zhou também tinha uma causa específica: tudo começou com o dinheiro que ele e a esposa pegaram emprestado para pagar os estudos de Zhou Haitang.
O pai de Deng Mai explicou que a fábrica de garrafas térmicas havia construído anos atrás um prédio de apartamentos para os funcionários, que seria distribuído em breve. Como trabalhadores antigos, ambos os pais de Zhou tinham prioridade. Contudo, com muitos candidatos para poucas vagas, o diretor da fábrica acabou favorecendo seus próprios parentes, e a má relação entre os Zhou e o diretor os colocou no grupo de dispensados. A mãe de Zhou fora demitida no ano anterior, em uma tentativa de reduzir as chances deles na disputa pelo apartamento.
Após a demissão, o pai de Zhou confrontou o diretor, expondo seus motivos e causando um grande embaraço. O diretor, então, ficou de olho nele, esperando a oportunidade de prejudicá-lo. E essa oportunidade surgiu quando o pai de Zhou pegou dinheiro emprestado para os estudos do filho. Foi acusado de usar esse dinheiro para especulação no mercado de ações, e, apesar de inocente, foi demitido. Como recompensa, o delator, que era amigo próximo do pai de Zhou, acabou recebendo o apartamento.
Indignado, Gao Sheng disse: “Isso é realmente ultrajante!”
Lin Jingzhe, no entanto, não ficou tão abalado. Ele sabia que a demissão do pai de Zhou era inevitável, afinal, as empresas estatais estavam em declínio, e até setores de peso, como aço e mineração, enfrentavam problemas. Que chances teria uma pequena fábrica de garrafas térmicas?
Pensando no destino que o pai de Zhou teria após a demissão, Lin Jingzhe concluiu que sair dali talvez fosse uma boa ideia.
Após serem despejados do dormitório, os pais de Zhou estavam temporariamente abrigados na casa de Deng Mai, enquanto buscavam um novo lar. Zhou Haitang, amadurecido pelo choque, decidiu: “Vou estudar com afinco e garantir que o sacrifício deles valha a pena.”
Lin Jingzhe viu a determinação nos olhos dele, e isso o tranquilizou. Do outro lado da linha, os pais de Zhou também pareciam aliviados.
O pai de Zhou respondeu: “Filho, enquanto você estudar com seriedade, faremos o que for preciso para sustentá-lo!”
Zhou Haitang, decidido, disse: “Ainda tenho o dinheiro do mês passado, pai. Amanhã vou devolver. Não precisam me enviar mais nada. Vou trabalhar para me sustentar aqui.”
O pai, desaprovando, insistiu: “Seu trabalho é estudar. Não quero que se preocupe com isso. Encontre foco nos estudos, e deixe o resto conosco.”
Ele continuou: “Seu tio Gao ligou recentemente e disse que há vagas de trabalho com bom pagamento na cidade. Eu e sua mãe vamos visitá-lo no fim de semana.”
Naqueles tempos, um salário diário de vinte ou trinta yuans era um bom valor. Lin Jingzhe, porém, ficou apreensivo.
Ele jamais esqueceria que o pai de Zhou morreu em um acidente no canteiro de obras, transpassado por uma barra de ferro. A lembrança da dor de Zhou Haitang o fez agir.
Depois de conversar com Zhou Haitang, Lin Jingzhe correu ao telefone e ligou para os pais dele.
“Senhor Zhou, é o Jingzhe,” disse, sem rodeios. “Podem vir a Yan City? E tragam a senhora Zhou também.”
“Jingzhe?” O senhor Zhou estava confuso. “Por quê? Yan City é longe…”
“É que o Zhou Haitang está muito abalado. Temo que faça uma besteira.” Lin Jingzhe exagerou para causar impacto.
Na outra linha, a mãe de Zhou rapidamente concordou: “Cuide dele! Vamos já comprar as passagens!”
Lin Jingzhe sabia que o casal viria sem hesitar, mesmo ao custo de uma longa viagem. Ele só esperava que, ao vê-los, Zhou Haitang tivesse o apoio necessário para enfrentar o momento difícil.
De volta ao dormitório, Lin Jingzhe olhou para Zhou Haitang, que estudava concentrado, e pensou com um toque de culpa: “Amigo, sinto muito, mas você está prestes a levar uma bronca.”
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Capítulo 31
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RENASCIMENTO DA ILUMINAÇÃO
Neste mundo, sempre existem aquelas pessoas que começam com boas cartas nas mãos, mas que acabam por fracassar completamente.
Lin Jingzhe, após perder muito, retornou aos seus dezoito...