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Doce Inanição

Capítulo 18

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Na manhã seguinte, a casa estava tomada por uma atmosfera gentilmente animada. A luz dourada invadia a cozinha pelas janelas amplas, refletindo nas superfícies claras e nos vidros das garrafas de suco recém-preparado. Marianne cortava frutas com movimentos hábeis e metódicos, cada gesto medido pela familiaridade do hábito. Havia um silêncio tranquilo entre ela e Nathan, pontuado apenas pelo som da faca contra a tábua e do pano sendo passado sobre a bancada.

 

— Tem certeza de que não querem vir hoje? — perguntou ele, dobrando com cuidado uma toalha grande de praia e colocando-a sobre a cesta já parcialmente cheia.

 

Marianne ergueu os olhos e sorriu com uma ternura quase cúmplice.

 

— Tenho. E não tente insistir de novo. Vai ser bom vocês passarem um tempo sozinhos. Depois, sim, saímos todos juntos. Prometo.

 

Havia algo de deliberadamente não dito em sua resposta, um espaço deixado em branco que Nathan entendeu bem. Ela sabia que ele precisava desse tempo. Que Cael precisava. Não apenas para se acostumar ao mundo, mas para encontrá-lo com menos pressa.

 

Nathan assentiu, guardando a garrafa térmica entre os demais itens e fechando a cesta. Já vestia uma bermuda clara de linho e uma camisa florida, de tecidos leves e abertos ao vento — um toque despreocupado e veranil que parecia crescer nele só quando estava longe da cidade. Os cabelos, ainda levemente úmidos do banho, estavam jogados para trás, e havia uma expressão relaxada em seu rosto, como se a presença do mar o modificasse por dentro.

 

Cael apareceu instantes depois, descendo as escadas com um andar silencioso, quase felino. Vestia apenas uma sunga preta de corte discreto, que lhe moldava o corpo com elegância e certa ousadia silenciosa. Não era vulgar, tampouco deliberadamente provocante — mas era impossível não notar o modo como a pele parecia captar e refletir a luz, ou como sua postura sugeria uma confiança recém-descoberta, menos defensiva do que nos primeiros dias ali.

 

Marianne, com sua sutileza gentil, não comentou, mas os olhos repousaram por um breve segundo sobre Cael com uma expressão indecifrável — talvez surpresa, talvez cuidado — antes de voltar à laranja que espremia para o suco.

 

— Está tudo pronto — disse Nathan, chamando Cael com um gesto de cabeça. — Vamos?

 

Cael assentiu, e houve uma troca de olhares entre ele e Marianne, breve e contida, mas menos tensa do que na noite anterior. Ela não tentou mais perguntas. E Cael, por sua vez, não tentou mais respostas. Havia entre eles uma trégua tácita, um reconhecimento silencioso de que nem todas as aproximações precisavam ser feitas com palavras.

 

——-

 

O carro cortava as estradas litorâneas com as janelas abertas, deixando entrar o vento e o cheiro de sal. Cael mantinha o braço apoiado na borda da janela, os olhos fixos na paisagem que passava — campos baixos, dunas, vegetação rasteira. A sensação do sol em sua pele, o som do mar à distância e Nathan ao lado, guiando o carro com uma das mãos enquanto a outra descansava próxima à marcha, criavam uma composição quase cinematográfica. E, no entanto, não havia artificialidade alguma ali. Era real. Estranhamente real.

 

— A praia que vamos é mais afastada — explicou Nathan, rompendo o silêncio sem quebrá-lo. — É mais calma, com menos gente. Eu costumava ir lá quando queria ficar sozinho. Acho que vai gostar.

 

Cael não respondeu de imediato. Observava os fios de cabelo de Nathan dançando ao vento, o modo como ele sorria, leve, como se essa memória — a solidão escolhida — já pertencesse a um tempo encerrado.

 

— Você costumava fugir para o mar — disse, por fim, sem que a frase soasse como uma pergunta.

 

Nathan deu uma risada baixa, tocada de nostalgia.

 

— Sim. Acho que era isso. Mas hoje… é diferente. Eu não quero fugir. Quero estar aqui.

 

O carro seguiu por mais alguns quilômetros até estacionar num trecho escondido da estrada, onde uma trilha de areia se estendia entre arbustos baixos. O som das ondas já era mais próximo, um rugido constante e familiar que fazia o peito vibrar.

 

Nathan saiu do carro e começou a tirar os itens do porta-malas: duas cadeiras de praia dobráveis, um guarda-sol largo, a cesta de piquenique, uma toalha de praia espessa e listrada. Carregava tudo com uma eficiência despreocupada, rindo quando Cael tentou pegar parte do peso.

 

— Você está de férias — disse, com um sorriso. — Só tem que aproveitar.

 

— Mas eu quero ajudar — respondeu Cael, pegando a toalha mesmo assim.

 

A caminhada até a areia foi breve. Quando finalmente chegaram à faixa aberta da praia, encontraram o que parecia um pequeno santuário: a areia clara e fina estendendo-se até onde os olhos alcançavam, o mar quebrando em linhas calmas, as gaivotas pairando distantes no céu limpo. Nenhuma outra pessoa à vista.

 

Nathan escolheu um canto próximo às pedras, onde o som das ondas ganhava um eco suave e constante. Ali, montaram o pequeno acampamento: fincaram o guarda-sol, estenderam a toalha, montaram as cadeiras uma ao lado da outra. A cesta de piquenique foi aberta entre eles, revelando frutas cortadas, pães recheados, sucos e garrafinhas de água gelada.

 

Cael observou tudo com um tipo de fascínio silencioso. Não pelo cenário em si — embora fosse belo —, mas pelo cuidado. O modo como Nathan preparara cada detalhe. Como se aquilo fosse, em si, uma forma de amor. Uma afirmação.

 

Sentaram-se lado a lado, os pés descalços na areia morna, e ficaram alguns minutos em silêncio, apenas observando o mar.

 

— Nunca pensei que estaria aqui — disse Cael, quase num sussurro. — Desse jeito.

 

— Aqui, comigo? — perguntou Nathan, sem ironia, sem expectativa.

 

Cael assentiu, mas não virou o rosto.

 

— Sim. E… em paz.

 

Nathan deixou que o silêncio os envolvesse de novo antes de estender a mão e entrelaçar os dedos com os dele.

 

— Também não pensei. Mas agora que estamos… quero ficar mais um pouco.

 

O sol subia lentamente, pintando a pele de ambos com dourado. As horas se estendiam diante deles como o mar — vastas, imprevisíveis e, ainda assim, estranhamente calmas.

 

A luz do sol se derramava sobre a praia como um véu cálido, difuso e ondulante, iluminando a superfície do mar com reflexos dourados e azul-esverdeados. O céu era uma extensão vítrea, sem nuvens, e o som das ondas tinha um compasso hipnótico — como uma respiração antiga e paciente. Ao fundo, o canto de alguma ave marinha pontuava o silêncio com leveza.

 

Nathan se espreguiçou sob o guarda-sol, os pés afundando na areia morna, e virou o rosto na direção de Cael.

 

O outro estava agachado perto da linha da maré, os calcanhares enterrados na areia úmida, observando com fascínio infantil a dança da água que ia e vinha, lambendo-lhe os dedos dos pés. Quando a espuma o alcançava, Cael encolhia os dedos como se o toque do mar tivesse uma linguagem própria — algo que ele precisava decifrar primeiro com o corpo, antes que a mente pudesse compreender.

 

Ele esticou as mãos para frente, deixando a água se derramar entre seus dedos abertos, como se quisesse sentir o pulso do mundo — sua memória líquida e ancestral. Um sorriso pequeno, quase ausente, curvou seus lábios: um traço de encantamento genuíno, raro.

 

Nathan caminhou até ele, o som de seus passos abafado pela areia molhada.

 

— Você parece… hipnotizado — comentou, com um riso contido.

 

Cael ergueu os olhos, e havia neles uma chama quase reverente.

 

— É diferente. Vivo. Como se a água soubesse que estou aqui.

 

Nathan o observou em silêncio por um momento, antes de perguntar com leveza:

 

— Quer nadar?

 

A pergunta flutuou no ar por um instante. Cael hesitou. Olhou para o mar como se ele fosse uma entidade — bela, sim, mas também vasta demais, imprevisível demais. Seu olhar percorreu o movimento contínuo das ondas, a curvatura da maré quebrando adiante, e então voltou para Nathan.

 

— Eu… não sei — confessou, com uma honestidade desarmada. — Nunca tentei. Não acho que conseguiria.

 

Nathan deu um passo à frente, estendendo a mão para ele com simplicidade.

 

— A gente não precisa ir fundo. Eu vou te segurar.

 

Cael olhou para a mão estendida. Por um segundo, pareceu ponderar. Havia algo em sua expressão — uma sombra remota de desconfiança, não exatamente de Nathan, mas talvez do gesto. Do que significava confiar. Mas então, com a mesma doçura contida de quem cede à música de um convite silencioso, ele aceitou.

 

A pele de Nathan era quente quando envolveu a dele. Firme. Tranquilizadora.

 

Foram juntos, os pés afundando na areia a cada passo, enquanto o mar subia em suas pernas como uma carícia paciente. Quando a água alcançou os joelhos, Cael estremeceu levemente e parou.

 

— Está fria — murmurou, entre o desconforto e o riso.

 

— Só no começo. Depois, fica bom — disse Nathan, puxando-o suavemente.

 

E Cael foi. Não como alguém que se lança ao desconhecido, mas como alguém que escolhe o ritmo da própria entrega. À medida que o mar subia, tocando-lhe o ventre e depois o dorso, seus músculos se retesavam e relaxavam em ondas — um reflexo que não sabia se era de medo ou excitação. Os pés ainda tocavam o fundo, mas a sensação de flutuar começava a se insinuar, como se o mar quisesse levá-lo, torná-lo leve.

 

Nathan envolveu sua cintura por trás, sustentando-o com firmeza, e falou ao pé de seu ouvido:

 

— Eu estou aqui.

 

Cael fechou os olhos por um instante, sentindo a água, o calor do corpo de Nathan, o som abafado do mundo além das ondas. Foi então que algo — talvez uma alga, talvez apenas a corrente — roçou seus pés.

 

— Ah! — Ele se sobressaltou de forma quase cômica e, num movimento abrupto, virou-se e se agarrou a Nathan como se esperasse ser engolido por alguma criatura invisível.

 

Nathan riu alto, sem zombaria, envolvendo-o com mais força.

 

— Foi só um fio de alga, provavelmente. Você está seguro. A não ser que um polvo imenso esteja tentando roubar você de mim.

 

— Eu não gosto de não ver o que está embaixo — disse Cael, colando-se mais a ele, os braços em torno de seu pescoço, o corpo inteiro encostado ao dele.

 

Nathan afundou o rosto na curva entre o ombro e o pescoço de Cael, o riso agora manso, e murmurou:

 

— Eu te aviso se surgir alguma coisa com tentáculos.

 

Cael riu também, e o som era solto, límpido, como água batendo em rochas lisas. Um som que Nathan raramente ouvia — sem defesas, sem dor por trás. Era novo. Era precioso.

 

Ficaram assim por um tempo, apenas balançando suavemente com o movimento das ondas. Nathan traçava com os dedos as linhas da espinha de Cael, e este deixava que a cabeça descansasse em seu ombro, olhos semicerrados, corpo relaxado. As gotas de água escorriam pela pele morena, e o sol, refletido ali, parecia transformar os dois em algo translúcido — efêmero, quase sagrado.

 

— Sabe… — murmurou Cael — eu não sabia que podia gostar de algo assim. Do mar. Ele é… tão imenso que assusta, mas… ao mesmo tempo, eu quero ficar.

 

Nathan virou o rosto e tocou sua testa com a dele, mantendo os olhos abertos, próximos demais.

 

— É como amar alguém — disse. — Você nunca sabe se vai afundar ou flutuar. Mas escolhe entrar mesmo assim.

 

Cael o olhou, quieto. Não respondeu com palavras. Apenas levou uma das mãos ao rosto de Nathan, acariciando-o com a ponta dos dedos, como se estivesse moldando a certeza do momento. E então o beijou. Um beijo lento, quente, salgado, que misturava água do mar e desejo, medo e entrega. O tipo de beijo que não pedia pressa. Que falava mais da presença do que da posse.

 

Quando se separaram, os rostos ainda tão próximos que dividiam o mesmo sopro, Cael sussurrou:

 

— Obrigado… por me ensinar isso.

 

Nathan apenas sorriu e envolveu-o de novo, como se o mundo inteiro pudesse ser resumido naquele abraço, naquela dança silenciosa em meio à água viva.

 

—–

 

A água os deixava lentamente, em respingos preguiçosos que escorriam pelas pernas e ombros, quando decidiram voltar para a areia. As roupas grudadas ao corpo e os cabelos molhados brilhavam ao sol, que agora parecia mais intenso — como se também quisesse envolvê-los em seu calor. Nathan caminhava à frente, segurando uma das mãos de Cael com a naturalidade de quem já fizera aquilo por mil verões. O rastro de ambos era apagado pela maré baixa, e só o riso leve de Cael ainda ecoava, como um reflexo do sal e da alegria rarefeita.

 

— Acho que está na hora de comer alguma coisa — disse Nathan, parando perto do guarda-sol. O estômago começava a reclamar, e havia algo de especialmente recompensador na ideia de saborear um lanche depois de um mergulho.

 

Cael assentiu, os olhos ainda voltados para o mar, como se não quisesse abandoná-lo completamente. Mas seguiu Nathan, e os dois se acomodaram sobre a toalha estendida. O espaço que haviam montado parecia um oásis entre a imensidão da areia branca: havia duas cadeiras de praia, um guarda-sol listrado que projetava sombras suaves e uma cesta de vime entreaberta, de onde escapava o aroma acolhedor de frutas cortadas, pães, sucos naturais e alguns bolinhos que Marianne preparara naquela manhã.

 

Nathan abriu a cesta e começou a distribuir as porções com um cuidado quase cerimonial. Passou uma caixinha com morangos frescos a Cael, que os recebeu com uma expressão curiosa — como se ainda estivesse se acostumando à ideia de ser cuidado de forma tão tangível. Experimentou um, e o gosto ácido e doce lhe provocou um leve estremecimento nos lábios. Nathan observou com um sorriso divertido.

 

— Muito forte? — perguntou, mordendo uma fatia de melancia com a despreocupação típica dos que nasceram com acesso a esses pequenos prazeres.

 

Cael sacudiu a cabeça, engolindo com lentidão.

 

— Não… só é mais vivo do que imaginei. — Olhou o fruto como se tentasse desvendar seus segredos. — Como tudo hoje.

 

Durante algum tempo, comeram em silêncio. Não um silêncio desconfortável, mas daqueles que surgem quando o mundo não exige palavras — quando tudo o que importa está contido na simples presença do outro. O som do mar ao fundo, o estalar ocasional de uma gaivota, o tilintar de uma garrafa térmica sendo aberta… tudo compunha um cenário em suspensão, como se o tempo tivesse se rendido àquele momento.

 

Depois que comeram o suficiente, Nathan se esticou em uma das cadeiras de praia, o corpo relaxado, coberto pelo calor acolhedor do sol. Seus olhos, fatigados pelo banho e pelo dia longo, foram se fechando pouco a pouco, como pétalas rendendo-se ao fim da tarde.

 

— Só um pouco… — murmurou, quase para si, antes que o sono o envolvesse.

 

Cael permaneceu sentado ao lado dele, as pernas cruzadas sobre a toalha. Observava Nathan com um olhar que era, ao mesmo tempo, contemplativo e indecifrável — como se tentasse memorizar aquela imagem: o peito subindo e descendo de forma regular, a pele dourada pelo sol, os cabelos ainda úmidos espalhados sobre a cadeira.

 

Havia algo de vulnerável em vê-lo dormir. Algo que o tornava ainda mais humano, mais próximo. E talvez, por isso mesmo, mais precioso.

 

Cael se aproximou um pouco, hesitante. Sentou-se ao lado da cadeira e, com cuidado — como se não quisesse interromper a paz que pairava entre eles —, inclinou-se até apoiar a cabeça no ombro de Nathan. O cheiro da pele quente misturado ao sal do mar era reconfortante de um modo que ele não conseguia explicar. Familiar e novo. Seguro e íntimo.

 

O som das ondas continuava, embalando os dois. E, por um instante, Cael fechou os olhos também. Não para dormir, mas para se permitir estar ali — não como uma sombra, não como um sobrevivente, mas como alguém que, pela primeira vez, descobria o que era repousar ao lado de outro sem medo de desaparecer.

 

E aquele momento, simples em aparência, era talvez o mais profundo de todos: o instante em que ele não precisava performar, esconder ou fugir. Apenas existir. E ser visto.

 

—–

 

O sol já havia começado sua lenta descida, tingindo o céu com tons dourados e lilases que se dissolviam como pinceladas preguiçosas sobre o horizonte. A luz mais baixa tocava a pele com delicadeza, como se também, por fim, estivesse cansada. Nathan despertou com um leve estremecimento, espreguiçando-se na cadeira de praia. O som contínuo das ondas era o mesmo, mas algo na atmosfera ao seu redor estava diferente.

 

Virando o rosto, viu Cael sentado sobre a toalha, enrolado em um tecido branco que contrastava com o brilho levemente etéreo de sua pele agora diferente, como se a realidade ao redor tivesse se dobrado sutilmente à sua presença. Os olhos de Nathan levaram um momento para registrar: chifres curvados, pele que parecia ter um fulgor tênue próprio, o contorno das asas recolhidas às costas — e a leve ondulação da cauda, serpenteando preguiçosamente ao lado do corpo.

 

Nathan sentou-se, os olhos arregalando-se mais pelo susto do que pelo julgamento.

 

— Cael… você está… — começou, hesitante, a voz ainda rouca de sono. — Alguém pode ver você assim. Mesmo aqui.

 

Cael o olhou por cima do ombro, e havia uma sombra de malícia domesticada em seu sorriso.

 

— Não podem — respondeu, com uma calma quase provocadora. — Lancei um feitiço de percepção ao redor de nós. Uma dobra simples na consciência de qualquer um que se aproxime. Aos olhos deles, estamos invisíveis.

 

Nathan franziu a testa, ainda tentando processar a situação quando Cael se ergueu lentamente. A toalha escorregou por seus ombros e caiu aos pés como se tivesse sido instruída a fazê-lo, revelando sua forma com a mesma naturalidade de uma flor desabrochando ao sol.

 

O “maiô”, se é que aquele nome lhe fazia justiça, parecia mais uma provocação arquitetônica do que uma peça de roupa.

 

Nathan engoliu em seco, completamente mudo.

 

— Achei que… você poderia gostar — murmurou Cael, aproximando-se, os pés afundando levemente na areia quente. Cada passo seu era silencioso, quase ritualístico, até que estivesse perto o bastante para sentir a respiração de Nathan mudar.

 

Antes que Nathan pudesse dizer qualquer coisa, Cael passou uma perna por sobre o colo dele e se acomodou ali, com movimentos suaves, quase ensaiados. As mãos pousaram nos ombros de Nathan com naturalidade íntima, como se sempre pertencessem àquele lugar.

 

— Cael — disse ele, a voz baixa e tensa —, você está… sério? Aqui?

 

Por um segundo, o corpo de Cael vacilou. O olhar provocante cedeu espaço a uma vulnerabilidade rara. Ele deslizou do colo, recuando meio passo.

 

— Eu… — disse ele, cabisbaixo. — Quando soube que estaríamos sozinhos… eu pensei nisso. Quis me preparar e escolhi algo bonito. Achei que seria especial, mas… deveria ter te perguntado antes.

 

Nathan passou a mão pelos cabelos, tentando ordenar o turbilhão que começava a girar dentro de si.

 

— Ei — disse ele com um suspiro, chamando-o com um gesto. — Não é que eu me incomode com a ideia. Só fiquei… surpreso. Não é todo dia que um demônio sensual aparece de maiô na praia e sobe no seu colo.

 

Cael soltou uma risada baixa, nervosa. Os olhos, porém, ainda carregavam aquele brilho de decepção consigo mesmo.

 

— Eu posso esperar. Podemos ir para outro lugar depois… eu só… queria que fosse aqui. Foi o lugar mais bonito em que já estive.

 

Nathan se calou por um instante, observando o rosto à sua frente. Havia algo ali que ultrapassava o desejo — um desejo, sim, mas amarrado a memórias que ainda nem haviam sido criadas. A vontade de deixar algo marcado naquele espaço, como quem grava nomes em troncos ou entalha palavras em pedras à beira-mar.

 

— Você disse que ninguém pode nos ver mesmo? — perguntou Nathan, e o tom era mais gentil agora, com um leve sorriso nos lábios.

 

Cael assentiu.

 

— Ninguém. Nem som, nem imagem. Só nós.

 

Nathan fez um gesto breve com a cabeça, e depois se recostou mais uma vez na cadeira.

 

— Então… tudo bem. Se é algo que você quer mesmo, podemos fazer.

 

Cael se aproximou com mais cautela agora, os olhos buscando nos dele uma confirmação mais profunda do que qualquer palavra. Ao recebê-la, sorriu — não com lascívia, mas com gratidão.

 

— Obrigado — murmurou, se ajoelhando à frente dele. — Isso… significa muito.

 

Nathan riu, com um toque de ternura que o surpreendeu.

 

— Sabe, Cael… existem outras formas de guardar memórias num lugar. A gente podia tirar uma foto, por exemplo.

 

— Mas eu não sou “a gente”, Nathan — respondeu ele, aproximando-se mais uma vez. — E esse é o meu jeito.

 

Nathan não discordou. E, no fundo, sabia que ali, entre sal e sol, envoltos por um feitiço invisível, aquele instante seria mesmo inesquecível — gravado não em fotos, mas no próprio corpo da lembrança.

 

Fim da primeira temporada…

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Capítulo 18
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Doce Inanição

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Nathan jamais esperou encontrar o amor na forma de um íncubo. Muito menos descobrir que ele tinha um lado doce, um senso de humor duvidoso e uma tendência incorrigível a usar lingerie como forma...

Chapters

  • Vol 1
      • Capa
        Capítulo 18 Uma Tarde Na Praia
      • Capa
        Capítulo 17 Pais, esse é Meu Namorado Incubus
      • Capa
        Capítulo 16 De Onde Vim, Afinal
      • Capa
        Capítulo 15 O Presente Perfeito Para o Aniversariante
      • Capa
        Capítulo 14 Sim, Eu Sou o Namorado Dele
      • Capa
        Capítulo 13 Você Sobreviveu. Agora Vai Viver
      • Capa
        Capítulo 12 O Amor Dito Pela Primeira Vez
      • Capa
        Capítulo 11 Eu Quis Te Esquecer, Mas Só Soube Te Procurar
      • Capa
        Capítulo 10 A Primeira Vez Que Você Foi Amado
      • Capa
        Capítulo 9 Manual Paranormal de Como Reagir a um Incubus
      • Capa
        Capítulo 8 Memórias que Não Dormem
      • Capa
        Capítulo 7 Entre o Pecado e a Paz
      • Capa
        Capítulo 6 Dias de Fome, Noites de Amor
      • Capa
        Capítulo 5 Como Seduzir e Motivar um Universitário em 3 Passos
      • Capa
        Capítulo 4 Uma Versão Peluda do Meu Criador
      • Capa
        Capítulo 3 Onde Moram as Fomes Antigas
      • Capa
        Capítulo 2 Um Incubus no Meu Sofá
      • Capa
        Capítulo 1 Me Deixe Provar um Pouco

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