Capítulo 8
A manhã filtrava-se preguiçosa pelas frestas da persiana mal fechada, lançando feixes oblíquos sobre a pele exposta, sobre os lençóis revirados, sobre o cheiro agridoce de suor, álcool e luxúria. A respiração dos dois homens ao seu lado era irregular, pesadamente entorpecida, como se o prazer da noite anterior os tivesse esvaziado de qualquer obrigação com a realidade. Um deles roncava levemente. O outro murmurava palavras desconexas entre os sonhos.
Cael estava acordado.
Fazia minutos — talvez horas. O tempo perdera o contorno desde que os corpos deixaram de se mover. Ele permanecia ali, nu, o lençol torcido entre as pernas, os olhos fixos no teto manchado, observando as rachaduras se unirem e se afastarem como veios de um corpo que não lhe pertencia. A fome persistia. Não a física — essa fora saciada de forma rápida, quase automática, como tantas outras vezes. Mas aquela outra fome, mais funda, mais indócil, ainda palpitava dentro dele, silenciosa e corrosiva.
Quando saiu da cama, o fez com o mínimo de ruído. Os pés descalços tocaram o chão frio com a leveza de alguém acostumado a não ser notado ao partir. Vestiu-se com pressa, sem se importar com o desalinho. Ao passar diante do espelho rachado do pequeno apartamento, não se deteve. Evitava o próprio reflexo nos últimos dias. Era como se algo dentro de si estivesse mudando devagar, uma forma se revelando sob a superfície — e ele ainda não sabia se queria ver.
Não pensou muito sobre para onde iria. Os pés o guiaram por hábito, não por vontade. Quando se deu conta, estava parado diante da porta do que costumava chamar de lar.
A chave não girou.
Ficou alguns segundos ali, com a mão na maçaneta, a testa baixa como se pudesse forçar o tempo a retroceder. Mas a realidade era simples, quase banal: ele não morava mais ali. Aquela porta não se abria mais para ele. O cheiro familiar que costumava escapar pelas frestas agora era outro. Ele havia sido substituído.
Com um suspiro, puxou o celular do bolso. Havia mensagens. Algumas da noite passada. Outras, recentes. Todas de Nathan.
Nathan: “Você saiu sem dizer nada. Está tudo bem?”
“Me avisa quando estiver voltando.”
Ele hesitou por um instante antes de digitar a resposta.
Cael: “Estou voltando pra casa.”
As palavras pareceram pesar na tela. Ele as releu algumas vezes antes de enviar. Não por dúvida — mas por estranheza. “Casa” era uma palavra que sempre associara a conveniência, abrigo temporário, um espaço entre duas ausências. Nunca a alguém. Nunca a um gesto de espera.
Quando chegou, o céu já estava tingido por tons mornos de fim de tarde, e as luzes da sala estavam acesas. A chave entrou com facilidade. O silêncio do apartamento o envolveu assim que a porta se fechou às suas costas — mas não era o tipo de silêncio que assusta. Era o tipo que escuta.
Nathan estava ali.
Sentado no sofá, com um livro aberto no colo e uma expressão neutra, porém atenta. Ele não disse nada ao vê-lo entrar. Apenas ergueu os olhos — firmes e calmos — e esperou.
Cael parou no corredor, as mãos ainda nos bolsos da jaqueta amassada. Havia algo desconcertante naquela cena, algo que fez seu peito se apertar de forma inexplicável. Ele olhou ao redor, como se visse o espaço pela primeira vez. As plantas na janela. A caneca esquecida na mesa. O casaco de Nathan pendurado com cuidado na cadeira. Tudo permanecia. Tudo o esperava.
Ele atravessou a sala devagar, como se o ar tivesse se tornado denso. Quando enfim parou diante de Nathan, não disse nada. Não tinha desculpas, nem explicações. Apenas estendeu os braços, hesitante, como se aquilo não lhe fosse permitido.
Nathan não se moveu. Não houve choque, nem palavras dramáticas, nem censura. Apenas aquele olhar — firme, inabalável — e o silêncio que lhe era característico, cheio de pequenas permissões.
Cael se inclinou, e o abraço aconteceu com uma naturalidade inesperada. O rosto se aninhou no ombro de Nathan, os braços ao redor de sua cintura, o corpo se moldando ao dele com uma urgência que não era sexual. Não era fome. Era necessidade. Era uma busca por abrigo em alguém que, estranhamente, se permitia ser abrigo.
Nathan não retribuiu o abraço com força, tampouco se afastou. Apenas permaneceu. Seu calor, sua presença, o modo como não exigia nada de volta — aquilo era novo. Inquietante.
Era a primeira vez que Cael chegava a algum lugar e havia alguém esperando por ele que não desejava usá-lo. A primeira vez que voltar não significava render-se, mas ser aceito. E isso o desarmou mais do que qualquer punição poderia.
— Você quer se alimentar? — perguntou Nathan, com voz baixa, como se fosse uma oferta de chá, e não uma questão de sobrevivência.
A pergunta era simples, mas algo nela despertou desconforto. Cael se afastou quase de imediato, como se aquele breve toque de cuidado fosse mais perigoso do que qualquer contato carnal. Seus olhos desviaram, procurando refúgio em qualquer canto da sala que não fosse o rosto de Nathan.
— Não — respondeu, num sussurro seco. — Não agora.
Nathan assentiu uma única vez, sem questionar. O silêncio retornou, mas era diferente daquele que havia do lado de fora, entre corpos vazios e olhares distraídos. Este era um silêncio que acolhia, não que escondia.
Cael passou os dedos pelos próprios cabelos, ainda levemente embaraçados, e se deixou cair no sofá ao lado, os ombros tensos, como se carregasse algo que não sabia nomear. Não olhou para Nathan. Não precisava. O gesto havia sido íntimo demais. Vulnerável demais. E ele não sabia lidar com isso.
Mas, ainda assim, permaneceu.
E Nathan não se moveu.
Eles ficaram ali — dois corpos separados por um espaço tênue, mas ligados por algo mais espesso que o tempo. Nenhum deles disse mais nada. Nenhum deles precisava. Porque, às vezes, não é o que se diz que cura, mas o que se permite sentir em silêncio.
E naquela noite, enquanto a luz da sala desenhava sombras suaves nas paredes e o mundo lá fora seguia seu curso, Cael descobriu que voltar para casa podia significar muito mais do que um teto. Podia significar ser esperado. E, quem sabe, um dia, ser querido.
—–
A noite era densa. O relógio marcava quase três da manhã.
Nathan estava de pé no corredor, parado. Não sabia ao certo por que havia saído do quarto — apenas sentira que algo o puxava. A casa estava em silêncio, exceto pelo zumbido sutil da cidade adormecida além das janelas.
Luz vinha da sala.
Quando se aproximou, viu Cael sentado no sofá, as pernas recolhidas sob o corpo, envolto apenas em um robe escuro. Ele não se virou ao perceber a presença de Nathan, mas seus ombros se tensionaram ligeiramente — como se já o esperasse ali.
Nathan permaneceu à porta por um momento, observando-o em silêncio.
O cabelo de Cael ainda estava úmido. Ele havia tomado banho, mas parecia que a água não levara embora o que estava grudado à pele. Havia um cansaço em seus olhos — não físico, mas existencial. Como se estivesse lutando contra algo que não tinha nome.
— Não consegue dormir? — perguntou Nathan, num tom baixo.
— Você também não. — Cael ainda olhava para a janela, onde as luzes dos postes riscavam sombras sobre o chão de madeira.
Nathan entrou, sentando-se no outro canto do sofá. Houve um silêncio longo, quase confortável — exceto pelo fato de que nenhum dos dois respirava com leveza. Algo pairava entre eles, denso como neblina.
Cael quebrou o silêncio, mas sua voz era fina, hesitante:
— Você não quer saber o que aconteceu hoje?
Nathan desviou o olhar, como se já soubesse qual seria a pergunta.
— Não precisa me contar. Já sabia — disse ele, com um tom neutro que feriu mais do que qualquer julgamento.
— Seu cheiro… — continuou, mais devagar — e o jeito como você chegou… Não é da minha conta com quem você dorme.
Cael virou o rosto lentamente. Seus olhos estavam opacos, mas havia uma tensão sutil em sua mandíbula.
— Não foi sobre com quem — murmurou, quase como se falasse consigo mesmo. — Foi… sobre obedecer. Sobre me dissolver naquilo que esperam de mim.
Nathan o observou por um momento longo. Seus olhos não tinham raiva. Tinham dor — mas era uma dor que não buscava ser validada. Apenas compreendida.
— Então por que veio direto para mim depois?
Cael olhou para ele. Pela primeira vez naquela noite, encarou-o de frente.
— Porque você é o único que não… me quer por isso.
Nathan quase sorriu, mas havia algo triste demais naqueles olhos para que qualquer leveza se firmasse.
— Talvez — disse ele — eu só esteja esperando você descobrir que pode querer outra coisa.
Cael baixou o olhar. Aproximou-se um pouco mais, como se quisesse estar perto, mas não soubesse exatamente o que isso significava.
Sua mão tocou o braço de Nathan, de leve — um gesto tímido, vacilante. Como quem pede abrigo sem saber se tem esse direito.
Nathan não se afastou. Tampouco se inclinou. Apenas permitiu. E esse gesto — permitir — teve mais impacto sobre Cael do que qualquer palavra.
Ficaram assim por um tempo. O relógio avançava lentamente. A cidade continuava adormecida.
— Posso ficar aqui com você? — perguntou Cael, quase num sussurro.
Nathan respondeu apenas com um gesto: abriu um espaço ao seu lado, ajeitando o corpo.
Cael se deitou, de modo que sua cabeça repousou sobre a coxa de Nathan. Seus olhos se fecharam e, pela primeira vez desde que retornara, seu corpo pareceu ceder — como se, enfim, não precisasse manter-se armado.
O toque leve dos dedos de Nathan nos cabelos de Cael havia se tornado um gesto automático, quase protetor. Mas havia algo em seus olhos — um brilho inquieto, um pensamento que se formava e resistia em ser contido.
— Cael — murmurou ele, com a voz baixa, mas firme.
— Hm? — respondeu Cael, os olhos entreabertos, mas a respiração mais tranquila.
Nathan hesitou. Podia sentir o peso da pergunta antes mesmo de pronunciá-la.
— Eu… sonhei com você. Com… ele. — Cael se enrijeceu. Não completamente, mas o suficiente para que Nathan sentisse. — Eu vi você… acorrentado. Com fome. Ele te deixava assim, não é?
Cael não respondeu de imediato. Apenas fechou os olhos. Quando falou, sua voz saiu baixa, quase sem ar:
— Sim.
A palavra ficou suspensa, como se não quisesse cair no chão frio da realidade.
Nathan respirou fundo.
— Foi real?
— Tudo. — Cael abriu os olhos e virou o rosto em direção ao teto. — Não era apenas punição. Era controle. Ele dizia que a fome me tornava mais obediente. Mais… moldável.
Nathan sentiu o estômago apertar.
— Isso é tortura, Cael.
Cael soltou uma risada fraca, sem humor.
— Para ele, era educação. Eu precisava ser refinado, lapidado. Ele não queria só um corpo, Nathan. Queria criar algo que pudesse exibir — como uma obra de arte que também sangra, se for necessário.
Nathan permaneceu em silêncio por um momento. Seus dedos, no entanto, pararam de se mover.
— Quem é ele?
Cael hesitou. Havia algo em seu olhar agora — uma sombra antiga, cheia de ambivalência. Raiva, sim, mas também algo como… saudade?
— Ele se chama Arael. — Cael fechou os olhos de novo. — Uma divindade caída, ou pelo menos ele se diz assim. Bonito demais para ser real. Ele me criou — literalmente. Usou partes de si, partes que eu nunca compreendi totalmente. Sou mais um experimento do que um ser completo.
Nathan olhou para ele com uma expressão difícil de nomear. Não havia julgamento, tampouco pena. Havia apenas… presença. Uma vontade de compreender.
— Ele te ama?
Cael abriu os olhos com lentidão. Demorou para responder.
— Arael ama como os deuses amam. De forma absoluta, mas nunca gentil. Para ele, amor e posse são a mesma coisa.
Nathan assentiu levemente. Seus dedos voltaram a se mover, desta vez com mais lentidão.
— E você? Você o ama?
Cael não respondeu imediatamente. Ficou olhando para o vazio acima de si, como se as palavras estivessem escondidas entre as rachaduras do teto.
— Eu queria ser tudo o que ele esperava de mim. Só depois que o perdi percebi que nunca soube o que eu queria ser por mim mesmo.
Nathan se inclinou ligeiramente, o rosto mais próximo de Cael agora.
— E agora?
Cael olhou para ele. Seus olhos estavam escuros, intensos, mas havia ali uma fragilidade crua, exposta.
— Agora… eu estou tentando descobrir. Mas às vezes ainda escuto a voz dele, como se estivesse dentro de mim. Dizendo o que devo sentir, como me mover, com quem dormir.
Nathan levou a mão até o rosto de Cael, os dedos roçando levemente sua mandíbula.
— Aqui, você não precisa obedecer.
Cael fechou os olhos. Aquele toque era simples, mas lhe atravessava a alma de forma violenta. Porque era livre. Porque não cobrava nada. Porque não vinha com a promessa de prazer, mas com a possibilidade de descanso.
— Não sei se consigo ser outra coisa além do que ele fez de mim — sussurrou.
Nathan encostou a testa à de Cael e respondeu com a mesma suavidade:
— Então começa sendo só… alguém que não precisa esconder quando está com fome.
Silêncio.
Cael não respondeu. Mas, pela primeira vez, sua mão procurou a de Nathan. Apertou-a.
E não soltou.
O silêncio entre eles não era incômodo, tampouco vazio — era denso, quase vivo, como se cada segundo sustentasse o peso de algo prestes a ser dito. Nathan ainda mantinha a testa encostada à de Cael, suas respirações se misturando em uma cadência sutil. Entre os dedos entrelaçados, a temperatura de seus corpos oscilava em contraste: Nathan, morno e constante; Cael, levemente frio, como se o calor que possuía precisasse ser constantemente lembrado de voltar.
— Você já esteve em um relacionamento sério? — murmurou Nathan, a voz baixa, como se temesse quebrar algo frágil.
Cael não respondeu de imediato. Seus olhos dourados — agora em tom mais opaco, sem os reflexos insinuantes de desejo — desviaram do rosto de Nathan para um ponto vago no chão, onde a sombra dos dois se dissolvia em formas imprecisas. Sua boca se curvou num traço ambíguo, uma linha de hesitação mais do que de expressão.
— Não — disse, enfim. — Alguns humanos tentaram. Insistiram. Diziam que havia algo em mim que os fazia sentir vivos, inteiros. Mas eles confundiam a necessidade com amor. Já me disseram coisas como “quero ser o único para você” ou “quero te ter de verdade”, esse tipo de bobagem. Mas nunca aceitei. Nunca quis.
— Por quê?
Cael desviou o olhar, fitando o teto como se ali estivessem escritas respostas que ele não conseguia formar em palavras.
— Porque isso seria negar o que eu sou. Eu fui criado pra desejar. Pra consumir. Pra ser passageiro. Um relacionamento… isso exige constância. E constância não é algo natural pra mim.
Nathan não retrucou. Só escutou. A voz de Cael vinha embebida em uma honestidade rara, como se cada palavra precisasse atravessar um labirinto de máscaras para emergir.
Ele pensou em todas as vezes em que o vira sorrir como quem carrega o próprio corpo como uma promessa — e, ao mesmo tempo, um fardo. Pensou nas risadas rápidas, nos olhares sedutores, nos jogos. E em como, por trás de tudo, havia sempre uma borda escura, um vestígio de ausência.
— Mas comigo foi diferente? — perguntou, sem urgência, como quem tateia o contorno de algo que já sabe, mas precisa ouvir mesmo assim.
Cael fechou os olhos. Por um instante, o mundo pareceu parar. Quando os abriu novamente, havia algo de exausto em seu olhar, mas também de entregue.
— Você nunca confundiu o que sentia comigo com a fome — respondeu. — Nunca tentou me salvar, nem me controlar. Você só… ficou. Mesmo quando eu fui cruel. Mesmo quando eu não soube ser nada além do que ele fez de mim.
Nathan inspirou devagar, o peito se expandindo sob o tecido fino da camiseta. A mão livre subiu até o rosto de Cael, traçando com o polegar a linha de sua mandíbula, num gesto contido, mas carregado de afeto.
Seus olhos, escuros e intensos, buscavam os de Cael não como um desafio, mas como uma âncora.
— Eu gosto de você, Cael. Isso sempre foi verdade. Mesmo quando eu achava que você era só um pesadelo bonito demais pra durar — disse, com a franqueza nua de quem já não precisa se proteger. — Mesmo quando parecia que tudo entre nós era só um jogo seu.
Cael engoliu em seco. Aquilo era diferente. Não havia manipulação. Não havia desejo como distração. Apenas presença. E presença era algo que ele nunca aprendera a sustentar.
Ele virou o rosto devagar. O sorriso que lhe surgiu nos lábios era fino, ambíguo — como uma lâmina sob seda.
— Você tá insinuando que a gente… tente?
Nathan deu de ombros, o gesto contido, mas sincero.
— Não estou falando em promessas ou rótulos. Só… em experimentar algo diferente. Você disse que não sabe se consegue ser outra coisa além do que ele fez de você. Então tenta ser isso aqui — disse, entrelaçando os dedos com mais firmeza — alguém que pode escolher.
Cael o observou por um longo instante. A luz banhava os contornos de seu rosto com uma doçura que ele não costumava carregar. Era como ver uma máscara prestes a ceder — não porque alguém a arrancava, mas porque estava cansada demais para permanecer.
— Você quer mesmo isso? Um relacionamento com um íncubo?
— Eu não vejo problema — respondeu Nathan, simples.
A risada de Cael veio baixa, quase triste. Ele recostou a cabeça no encosto do sofá, mas seus olhos permaneceram cravados em Nathan, como se procurasse uma rachadura, uma mentira, qualquer coisa que o tirasse daquela vertigem.
— Isso é ridículo — sussurrou. — Um relacionamento. Um único parceiro. Isso é… isso é exatamente o tipo de coisa que fui ensinado a desprezar.
Nathan não rebateu. Apenas esperou.
E o silêncio que veio depois não era vazio — era denso, repleto de ideias não ditas, imagens que se chocavam umas contra as outras dentro da mente de Cael. Ele se lembrava de risos forçados, de beijos sem gosto, de mãos que agarravam, mas nunca tocavam de verdade.
Lembrava-se das palavras de Arael, afiadas como agulhas: “Você pertence a mim.”
E, no entanto, ali estava ele. Sentado no sofá de um apartamento pequeno, envolto por calor humano, segurando a mão de alguém que não queria tomá-lo para si, mas apenas… permanecer.
Nathan se inclinou para a frente, tocando o rosto dele com a ponta dos dedos, como se cada gesto tivesse um peso exato.
Cael cerrou os olhos. Por um segundo, pareceu prestes a recuar. A se erguer, rir, vestir alguma máscara cínica e dizer que tudo aquilo era só mais um jogo. Mas não o fez. Ficou ali. Com o peito apertado por uma sensação que não sabia nomear — algo que se parecia com medo, mas também com desejo.
Desejo de ficar.
E, quando Nathan encostou os lábios em sua têmpora — um gesto sem promessas, sem exigências — Cael não se afastou. Não tentou transformar aquele momento em algo superficial. Apenas fechou os olhos.
E, pela primeira vez, deixou-se habitar por aquela ideia absurda.
De que talvez… apenas talvez… ele pudesse ser mais do que o que foi criado para ser.
—–
O quarto estava mergulhado naquela penumbra densa que só a madrugada oferece, quando o mundo parece suspenso entre um sonho e outro, e até o silêncio soa mais profundo. Uma brisa noturna passava pelas frestas da janela entreaberta, fazendo as cortinas ondularem em movimentos preguiçosos. No relógio de cabeceira, os dígitos vermelhos marcavam 3h27, mas Nathan não os viu de imediato. O que o despertou não foi o tempo, mas o som — um som baixo, cortado, carregado de uma angústia que parecia não pertencer àquele corpo normalmente tão seguro de si.
Cael se remexia sob os lençóis. A respiração descompassada, como se estivesse correndo de algo, mas não com os pés — com a alma. Os lábios entreabertos murmuravam palavras em uma língua que Nathan não compreendia, guturais, ancestrais, cheias de ruído e súplica. E, entre essas palavras, um nome emergiu como uma rachadura súbita no vidro:
— Mestre…
Nathan sentou-se devagar, os olhos fixos em Cael. Não era só um pesadelo. Era algo mais antigo, mais enraizado — um fragmento de uma dor que ele jamais tinha visto o íncubo deixar escapar. O suor cobria-lhe a testa e o pescoço, e seus dedos se fechavam contra os lençóis como se segurassem garras invisíveis. Seu corpo tremia levemente, apesar do calor.
Nathan hesitou apenas um segundo, depois se inclinou e tocou seu ombro com delicadeza.
— Cael… — chamou em voz baixa, como quem entra em um templo ou toca uma ferida exposta.
Cael sobressaltou-se ao contato, os olhos abrindo com brusquidão — mas não era o Cael que Nathan conhecia. Havia ali uma ausência. Um vazio sombrio que se agarrava aos cantos de sua expressão, como cinzas sobre uma estátua. Os olhos estavam úmidos, mas não era emoção o que escorria deles — era memória. Um medo cru, silencioso, encapsulado em um lugar que talvez nem ele soubesse nomear.
— Ei… sou eu — disse Nathan, mesmo sem saber se isso bastaria.
Cael piscou devagar, voltando, pouco a pouco, da caverna onde seus próprios gritos haviam ecoado. O nome que escapara de seus lábios ainda pairava no ar como um cheiro que não se dissipa, e Nathan não perguntou sobre ele. Sabia que não era a hora.
Sem dizer nada, ele deitou-se de novo, com lentidão, respeitando o espaço entre os corpos. Mas estendeu o braço, e com um gesto simples, abraçou Cael por trás — o peito tocando suas costas suadas, o rosto repousando perto de sua nuca. Não havia urgência no toque, apenas presença. Uma âncora silenciosa.
Por um momento longo, Cael permaneceu imóvel. Depois, seus dedos tatearam no escuro até encontrarem os de Nathan. Entrelaçaram-se com firmeza. Como se aquele gesto dissesse tudo que ele não conseguia.
O tempo se arrastou sem pressa, a escuridão os envolvendo como uma segunda pele. Nathan não sabia quanto havia se passado, mas quando o beijo veio, não foi chamado por desejo — foi chamado por ausência. Um gesto suave, quase infantil, nos lábios entreabertos, como quem encontra um abrigo em meio à tempestade.
Não foi fogo.
Foi lar.
Cael virou-se com lentidão, os olhos ainda sombreados, mas mais calmos. Seus rostos ficaram próximos, e Nathan pôde ver ali o traço de alguém que não havia sido criado, mas forjado. Cada curva daquele corpo, cada gesto sedutor, cada palavra afiada — tudo aquilo era o verniz que escondia o metal por baixo. E agora, pela primeira vez, ele via a ferrugem. O peso. A humanidade que não devia existir.
— Você fica mesmo… — Cael começou, mas a voz falhou. Ele fechou os olhos e respirou fundo, como se o simples ato de aceitar aquele abraço exigisse dele algo que não sabia nomear. — Mesmo quando não tem nada aqui que valha a pena ficar.
Nathan tocou de leve seu rosto, o polegar roçando o canto de sua boca.
— Você tá aqui. Isso já vale alguma coisa pra mim.
Cael não respondeu. Mas também não se afastou. E, pela primeira vez, quando Nathan o abraçou de novo, ele não enrijeceu. Apenas cedeu.
O desejo estava lá, como sempre — um calor subterrâneo que nascia do contato, da familiaridade, do instinto. Mas não era o centro. Era um eco. O que importava, naquela noite, era o silêncio entre eles. O espaço preenchido por duas respirações sincronizadas. A mão que segurava firme, e a presença que não exigia explicações.
Nathan então começou a desenhar pequenos círculos com os dedos no braço de Cael, um carinho sem direção, quase inconsciente. O toque era leve, mas constante, como se quisesse lembrar ao outro que ele estava ali, de verdade. Os dedos passaram do braço ao ombro, do ombro à linha da cintura. Um gesto simples, que não pretendia nada além do que era.
O sorriso de Cael se aprofundou e ele se inclinou, diminuindo a distância entre eles. Seus lábios se encontraram com os de Nathan em um beijo lento e terno, que rapidamente se aprofundou quando os braços de Nathan o envolveram, puxando-o para mais perto.
A mão de Cael deslizou pelo peito de Nathan, as pontas dos dedos o provocando enquanto mergulhavam sob o cós de sua cueca. A respiração de Nathan ficou presa, seu corpo respondendo instantaneamente ao toque de Cael. Suas mãos desceram pela coluna vertebral de Cael, explorando a curva de suas costas até chegarem à base de sua cauda.
Cael não respondeu de imediato. A cauda, que antes estava parcialmente enrolada sob o lençol, havia se desenrolado levemente no susto e agora se movia com uma oscilação lenta, quase tímida. Nathan, curioso, deslizou a mão de novo, agora ciente do que estava tocando.
O corpo de Cael reagiu com uma tensão instantânea, não de dor, mas de um tipo diferente de alerta — seus músculos se contraíram, a respiração mudou. Um som muito baixo escapou de sua garganta, entre surpresa e prazer contido.
— Você… — Cael começou, os olhos meio fechados, virando-se de leve para encarar Nathan por cima do ombro. — Você não devia fazer isso sem avisar.
Nathan piscou, confuso e intrigado.
— Isso o incomoda?
— Não — respondeu Cael, com uma risada baixa, meio ofegante. — Muito pelo contrário.
Nathan observou mais de perto. A cauda agora se movia com uma leveza inquieta, como se procurasse o toque novamente, e seus dedos continuaram o carinho, agora mais conscientes, mais atentos às reações de Cael.
— Não sabia que era… sensível assim.
— Ninguém devia saber disso. Nunca deixei que tocassem. — Ele riu de novo, e havia um traço de embaraço na curva de seu sorriso, raro como um eclipse.
Nathan se inclinou, murmurando próximo à sua orelha:
— E agora deixou?
Cael fechou os olhos. O peso do pesadelo ainda pendia sobre ele, mas como se estivesse sendo dissolvido a cada toque, a cada som brando no escuro. O calor que crescia entre os dois não era da urgência habitual, do fogo que se alimentava do vício do toque. Era algo diferente.
Encorajados, os dedos de Nathan traçaram o comprimento da cauda de Cael, seu toque suave, mas deliberado. Cael se aproximou mais — sua respiração vinha em arfadas curtas, enquanto Nathan explorava aquela nova zona erógena.
Cael riu baixinho, mas o som foi logo engolido por um gemido quando os dedos de Nathan encontraram um ponto particularmente sensível.
O coração de Nathan acelerou quando Cael se deslocou, descendo pelo seu corpo com uma graça fluida que era quase predatória. Seus lábios deixaram um rastro de beijos ardentes pelo peito de Nathan, deslizando sobre o abdômen, até alcançar o cós de sua cueca. Cael olhou para cima — seus olhos fixaram-se nos de Nathan enquanto ele prendia os dedos no tecido e, lentamente, o puxava para baixo, revelando o pênis meio rígido de Nathan.
A respiração de Nathan prendeu quando Cael se inclinou, os lábios roçando a pele sensível da parte interna de sua coxa. O toque do íncubo era puro choque — cada movimento meticuloso, cada beijo projetado para levá-lo ao limite.
Quando a língua de Cael finalmente alcançou a ponta de seu pênis, Nathan gemeu, os dedos se agarrando aos lençóis com força. A boca de Cael estava quente, úmida — seus lábios o envolveram com um apetite lento, tomando-o fundo, saboreando cada centímetro com uma devoção quase cruel.
— Cael… — ofegou Nathan, os quadris se arqueando em resposta à precisão luxuriosa daquele toque.
Cael murmurou algo contra sua pele, e a vibração provocou um arrepio que percorreu Nathan como um fio de eletricidade. Ele já estava completamente rígido, o pênis latejando de necessidade, a tensão crescendo sob cada gesto controlado.
Mas, justo quando Nathan pensou que não aguentaria mais, Cael recuou. Seus lábios estavam úmidos, e um sorriso convencido se curvava neles.
— Ainda não — sussurrou, a voz baixa e carregada de promessas.
Antes que Nathan pudesse protestar, Cael escalou seu corpo com uma graça predatória, montando seus quadris. As mãos de Nathan deslizaram por impulso até a cintura dele, segurando-o firme enquanto o íncubo se alinhava.
— É isso o que você quer? — murmurou Cael, os lábios roçando os de Nathan, sem pressa, brincando com a proximidade.
— Você sabe que sim — respondeu ele, a voz rouca, tingida de urgência.
O sorriso de Cael se abriu mais — seus olhos reluziram com satisfação antes de se abaixar devagar, tomando Nathan dentro de si com um gemido contido.
A cabeça de Nathan caiu contra o travesseiro quando o movimento começou — os quadris de Cael dançavam num ritmo lento, provocante, quase torturante.
As mãos de Cael repousavam sobre o próprio peito, os dedos se contraindo em pequenos espasmos, como se quisessem conter o prazer que se espalhava em ondas lentas. Ele se arqueava para trás com uma elegância natural, os movimentos do corpo ondulando com fluidez quase felina — uma dança silenciosa que deixava Nathan à beira do descontrole.
Atrás dele, a cauda balançava preguiçosa, descrevendo arcos suaves no ar, hipnotizante, como se coreografasse o próprio desejo que os envolvia.
Nathan deixou as mãos escorregarem até os quadris de de Cael, firmando o toque com mais intenção. Guiava os movimentos dele, moldando o ritmo em algo primal, instintivo — como se o corpo soubesse antes da mente o que era preciso. O quarto se preenchia com sons abafados: respirações entrecortadas, o impacto ritmado de pele contra pele, gemidos entremeados por pausas onde o silêncio pesava mais que qualquer palavra.
Ainda assim, havia algo diferente.
Cael, tão naturalmente provocador, mantinha uma entrega mais contida. Não havia os sorrisos lascivos, os olhares desafiadores — era como se algo o puxasse para dentro, para longe da persona costumeira. Nathan notou. A ausência daquele jogo insinuante não passou despercebida, mas guardou as dúvidas para si. Era cedo demais para palavras.
Então Cael se curvou.
Deitou-se sobre o corpo de Nathan, o contato quente da pele provocando um arrepio imediato. Seus lábios encontraram o pescoço dele — uma lambida lenta, seguida por uma mordida que fez Nathan conter um gemido, os olhos cerrando com a intensidade do gesto. As mãos de Cael vagueavam pelo peito de Nathan com uma reverência quase ansiosa, explorando cada curva, cada tensão sob os músculos expostos.
Nathan o abraçou. Os quadris começaram a se mover em um impulso firme, contínuo, como se guiado por algo mais fundo que o desejo. O corpo de Cael reagiu com surpresa, o som que escapou de sua garganta era agudo e cru — um gemido que soava quase vulnerável.
— Me beija… — pediu ele, a voz falhando entre um suspiro e um apelo.
Nathan atendeu sem hesitar.
O beijo veio quente, possessivo, os lábios se encontrando com uma urgência que carregava mais do que fome — havia algo de entrega, de necessidade reprimida demais. No meio do beijo, Nathan veio. Gozou fundo dentro de Cael, o corpo inteiro estremecendo sob o impacto da liberação. Parte do sêmen escorreu para fora com um som molhado, quente, sujando a parte inferior do abdômen de ambos.
Cael não se afastou de imediato. Ainda montado sobre ele, moveu-se devagar, mantendo o membro de Nathan dentro de si o quanto pôde. Só então se ergueu, abrindo as pernas como se quisesse oferecer um espetáculo íntimo — mostrar a Nathan, sem dizer uma palavra, o quanto o havia feito gozar.
O esperma escorria da junção de seus corpos, e uma parte havia sujado sua pele. Com naturalidade lasciva, Cael passou os dedos pelo próprio ventre, recolhendo um pouco daquele excesso viscoso. Levou à boca e provou devagar, como quem saboreia um doce raro.
O olhar que lançou a Nathan, então, era carregado — não de malícia, mas de algo mais profundo. Um pedido velado. Um convite à leitura do que ele ainda não dizia.
—–
Nathan acordou com a sensação distinta de que algo dentro dele havia cedido.
Não era dor, exatamente. Nem cansaço. Era uma exaustão difusa, profunda, como se tivesse atravessado uma tempestade física e emocional ao mesmo tempo. Os músculos, ainda dormentes, protestavam a cada tentativa de movimento, e até a respiração parecia mais lenta, embriagada de lembranças. A luz da manhã entrava filtrada pelas cortinas do quarto, projetando sombras pálidas no lençol amarrotado. Ele piscou devagar, tentando lembrar em que ponto da noite — ou da sanidade — havia perdido o controle de si mesmo.
Demorou a sair da cama. Cada passo até a cozinha parecia exigir mais do que o corpo estava disposto a dar. Mas o aroma de café fresco se espalhava pelo ar, envolvente, e foi ele que o guiou, mais do que a vontade consciente.
Encontrou Cael encostado no balcão da cozinha, uma caneca entre os dedos, o olhar distraído pela janela embaçada. Vestia uma blusa larga demais — o tecido escorregava do ombro com preguiça — e uma roupa íntima comum, despretensiosa. Mas em Cael, até a casualidade parecia deliberada. Havia algo no modo como se movia, ou talvez em como se mantinha imóvel, que ainda exalava sensualidade — contida, mas pulsante.
— Fiz café — disse ele, sem virar o rosto, a voz arrastada como um elogio a si mesmo.
Nathan se encostou no batente da porta, os olhos percorrendo o contorno de Cael com uma mistura de exaustão e desejo renovado. O maldito parecia saído de um devaneio: cabelo solto, a pele ainda úmida do banho, o sorriso quase dócil… mas nos olhos havia presunção. Aquela consciência insuportável de que ele sabia exatamente o que causava.
— Você tá tentando me matar — murmurou Nathan, com a voz ainda áspera do sono. Não havia real indignação ali, só uma rendição antecipada.
Cael arqueou uma sobrancelha, finalmente se virando. Entregou-lhe a caneca com uma delicadeza quase irônica, os dedos roçando de leve os de Nathan no gesto.
— Se essa fosse minha intenção, você já estaria morto. Eu fui gentil essa noite.
Nathan arfou uma risada incrédula, apoiando-se na pia como quem precisa recuperar o fôlego só de lembrar. As mãos de Cael em sua pele, os beijos demorados, o modo como o tocava… Havia algo de devocional naquilo. Como se alimentar-se dele fosse mais do que necessidade — fosse um ritual. Um gesto de celebração.
Mas também… intensidade demais. Como se Nathan fosse a única fonte de prazer num mundo silencioso.
— Li em algum lugar — murmurou, levando a caneca à boca — que o corpo humano não foi feito pra aguentar esse tipo de… dedicação.
Cael riu, e não apenas riu — gargalhou com uma espontaneidade quase cruel, como se Nathan tivesse dito algo deliciosamente ingênuo. Nathan revirou os olhos, mas o fez sorrindo. Sabia que estava sendo ridículo, e isso só deixava tudo pior.
— Tô falando sério. Tô com dor em músculos que nem sei nomear. Meu cérebro parece envolto numa nuvem. Isso não é normal.
— Talvez o problema seja esse — sussurrou Cael, aproximando-se em passos lentos — você não tá acostumado com prazer de verdade.
— Talvez o problema seja você ser um íncubo com um apetite fora de escala — rebateu Nathan, tentando manter o tom neutro, mas seus olhos o traíam. Acompanhavam cada pequeno gesto de Cael com uma fome resignada.
Cael se aproximou ainda mais, até que apenas a bancada os separasse. Inclinou-se, apoiando os cotovelos no mármore frio, o rosto a poucos centímetros do de Nathan.
— Eu te avisei. Desde o começo. — A voz era baixa, quase um sussurro conspiratório. — Você que insistiu. Você me quis aqui.
Nathan engoliu em seco. As palavras não eram cruéis. Eram nuas. E essa franqueza desarmava mais do que qualquer ameaça velada.
— Eu queria você… inteiro. Não em sessões de cardio noturno que me deixam em estado semi-comatoso.
Cael sorriu. E por um instante, o sorriso não era provocação — era ternura. Um lampejo raro, quase acidental.
— Então aprende a pedir pausa, humano frágil. — Passou os dedos pelos cabelos desgrenhados de Nathan, como quem afaga uma ferida recém-descoberta. — Você é muito… intenso. Isso me contagia. É quase poético.
Nathan fechou os olhos, vencido. Aquilo era tão Cael — transformar exaustão física em algo lírico. Fazer de qualquer conversa uma dança sensual. Mesmo quando vestia roupas comuns. Mesmo ali, entre xícaras e azulejos.
— Só tô dizendo… se algum dia eu morrer de exaustão, você vai ter que explicar pra minha família.
— Direi que você morreu sorrindo — murmurou Cael, e antes que Nathan respondesse, tocou seus lábios num beijo leve. Quase casto. Como um ponto final malicioso.
Nathan suspirou, derrotado. Mas estava sorrindo também — um sorriso lento, preguiçoso, como quem sabe que não vai embora. E, no fundo, nem quer.
— Você é insuportável.
— E você… é viciante.
Silêncio.
As palavras ficaram ali, suspensas entre o cheiro do café e o calor morno do toque recém-cedido. Nathan percebeu, com uma nitidez assustadora, que talvez Cael não soubesse amar. Mas sabia permanecer. E isso, agora, estava se tornando perigosamente difícil de ignorar.
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Capítulo 8
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Doce Inanição
Nathan jamais esperou encontrar o amor na forma de um íncubo. Muito menos descobrir que ele tinha um lado doce, um senso de humor duvidoso e uma tendência incorrigível a usar lingerie como forma...