Capítulo 106: Wu Chenliu
Hei Xuanyi percebeu que havia ferido os sentimentos de Wu Ruo ao vê-lo cabisbaixo, como um cachorrinho machucado. Puxou-o para os braços e tentou consolá-lo:
— Eu sou diferente. A maior parte do meu poder espiritual veio do meu bisavô. Foi isso que me permitiu atingir o nível nove em tão pouco tempo.
Wu Ruo se surpreendeu ao ouvi-lo revelar algo tão pessoal:
— O quê? Seu bisavô te deu todo o poder dele? E você não explodiu com o excesso?
Se alguém tentasse absorver vários elixires supremos de uma vez, o corpo não aguentaria e explodiria com o excesso de energia. Por isso, só era possível tomar um elixir por vez e, ainda assim, era necessário esperar meses antes de consumir o próximo. Nesse intervalo, o cultivador precisava treinar com afinco. Afinal, mesmo subindo de nível, isso não significava que dominava de verdade aquele poder. Era por isso que, mesmo entre pessoas do mesmo nível espiritual, o poder de combate podia variar muito.
— Meu corpo tem uma constituição especial.
— E em que nível estava seu bisavô quando te transferiu esse poder? — perguntou Wu Ruo.
— Nove.
— Se ele estava no nível nove e ainda tem o seu próprio poder… então você deve estar acima disso. Acha que chegou ao nível dez? Mas eu nunca ouvi falar de alguém que tenha atingido o nível dez.
Wu Ruo, na verdade, nem compreendia bem o que era o nível nove, porque nunca tinha conhecido ninguém com esse grau de poder.
— Não existe nível dez. Quando se chega ao nove, é preciso expandir a terra espiritual para armazenar mais poder. Só assim é possível liberar o máximo das habilidades supremas do nosso clã. “Todos os Fantasmas da Noite”, por exemplo. Você viu essa técnica em ação na Cidade de Gaoling. Mas na ocasião, a execução não foi perfeita por falta de energia suficiente. A versão verdadeira do “Todos os Fantasmas da Noite” é muito mais poderosa. Requer uma quantidade imensa de energia espiritual para convocar os fantasmas supremos — explicou Hei Xuanyi.
— … — Wu Ruo ficou em silêncio e o encarou.
— O que foi? — perguntou Hei Xuanyi, confuso.
— Você…
— Hm?
— Nunca falou tanto comigo assim — disse Wu Ruo.
Se tivessem conversado dessa forma na vida passada, tudo teria sido bem mais fácil entre eles.
— … — Hei Xuanyi.
Era verdade que ele não falava muito. Mas isso não queria dizer que se recusava a conversar. Simplesmente nunca teve alguém com quem quisesse falar.
— Eu vou conversar mais com você daqui pra frente.
Aquilo podia parecer simples, mas apertou forte o coração de Wu Ruo. Doeu tanto que ele não conseguiu se conter: abraçou Hei Xuanyi com força. Sim, ele fez isso. Enterrou o rosto no ombro dele e inalou profundamente seu cheiro.
Hei Xuanyi sentiu algo frio escorrer por seu pescoço. Estaria chorando?
Ficou confuso e em pânico. Antes que pudesse fazer algo, Wu Ruo disse com a voz embargada:
— Não se mexa. Não olhe pra mim nem pergunte nada.
Nem ele mesmo sabia por que, de repente, se sentia tão triste assim.
— … — Hei Xuanyi.
Muito tempo depois, percebeu que a respiração de Wu Ruo havia ficado longa e tranquila.
Com todo cuidado do mundo, afastou-o dos braços. Viu que havia lágrimas ainda presas nos cílios dele, o que lhe partiu o coração. Beijou suavemente o rosto molhado e o carregou nos braços durante toda a noite.
Três dias depois, após Wu Xi sair à rua todos os dias, finalmente deu certo. Assim que voltou para casa, compartilhou a história com Wu Ruo:
— O homem parecia alguns anos mais velho que nosso pai. Era bonito. Que pena que é maluco. Correu até mim, agarrou meu braço assim que me viu e disse que meu pingente era dele. Queria que eu devolvesse. Me chamou até de ladra! Disse que roubei o pingente dele!
Wu Qianqing e Guan Tong olharam para Wu Ruo.
— E como você explicou isso? — ele perguntou.
— Falei que foi meu irmão quem comprou o pingente pra mim e que custou cinco mil taéis de prata. Se ele não acredita, pode ir na loja perguntar. Vai descobrir rapidinho se estou dizendo a verdade ou não.
Wu Ruo assentiu. Com base na sua análise, Wu Chenliu provavelmente apareceria muito em breve.
E, como esperado, quatro horas depois, Wu Chenliu veio pessoalmente se desculpar, trazendo um monte de presentes, já que havia investigado a situação.
Wu Ruo pediu que os outros voltassem aos seus próprios quartos, ficando apenas com Hei Xuanyi e Hei Xin.
Quando Wu Chenliu foi levado até a sala, ouviu um dos servos dizendo:
— Senhor, senhora, descobri que a Academia Xuanhai é a melhor escola da Capital Imperial. Mas eles só aceitam alunos de famílias nobres. Estudantes comuns podem ser maltratados lá. E, em qualquer outra escola, temo que a senhorita Wu Xi não vá aprender muita coisa…
O servo que guiava Wu Chenliu interrompeu Hei Xin:
— Senhor, senhora, o convidado chegou.
Wu Ruo, que estava ouvindo a conversa de Hei Xin, se virou para encarar Wu Chenliu e levantou-se para recebê-lo:
— Por favor, entre.
Antes mesmo de vir, Wu Chenliu já havia pesquisado tudo sobre a Família Hei. Por isso, não se surpreendeu ao ver que a “senhora” era, na verdade, um homem. Mas ficou claramente impressionado com sua aparência extraordinária.
Apesar de já terem lhe dito que o casal era belo como deuses, ele achava que era apenas uma expressão exagerada. Porém, ao vê-los com os próprios olhos, percebeu que era verdade.
Eles eram realmente tão belos quanto diziam.
Wu Ruo convidou Wu Chenliu a se sentar e lhe serviu uma xícara de chá de ervas finas antes de perguntar:
— Podemos saber em que podemos lhe ajudar?
Como Wu Chenliu estava certo de que o pingente de sua falecida esposa estava naquela casa, não se apressou em ir direto ao assunto. Tomou um gole do chá e exclamou:
— Que chá maravilhoso! Faz tempo que não provo um tão bom. Que tipo de chá é esse?
Wu Ruo sorriu e respondeu:
— É um chá comum com uma mistura de cinco tipos de ervas. Nada caro. Espero que não se importe.
— Ervas? Então deve fazer bem pra saúde, não é?
— Sim. É refrescante e ajuda a fortalecer o corpo. Se não se importar, posso pedir que preparem um pacotinho pra você levar.
— Agradeço — disse Wu Chenliu, aceitando prontamente.
Em seguida, suspirou:
— Há algo que eu gostaria de conversar com você. Hoje de manhã, quando eu ia visitar uma velha amiga, vi uma jovem usando um pingente de jade azul. Reconheci na hora: ele pertenceu à minha falecida esposa. Fiquei muito emocionado naquele momento. Acabei agarrando a moça e dizendo algumas palavras ofensivas…
— A moça de quem está falando… — Wu Ruo fingiu não ter ideia.
— É sua irmã, Wu Xi. Ela me disse que você comprou aquele pingente por cinco mil taéis de prata. Posso lhe pagar cinco mil… aliás, dez mil, para comprá-lo de volta. O que acha?
Wu Ruo pensou por um instante e respondeu:
— Se ele de fato pertenceu à sua esposa, posso devolvê-lo. Mas como pode provar que era dela?
— Há uma palavra “Lan” gravada nele. E tem uma rachadura no canto superior direito. Quando ela estava gravemente doente, o pingente caiu no chão e se quebrou. Você poderia devolvê-lo?
Wu Ruo pediu a Hei Xin que trouxesse Wu Xi até o salão.
Wu Xi ficou surpresa ao ver Wu Chenliu ali:
— É você! Ruo, é ele! Foi ele quem me acusou de roubar o pingente de jade!
— Xi, comporte-se! — Wu Ruo contou a ela a história de Wu Chenliu.
Wu Xi então mudou de postura diante dele e entregou o pingente de volta:
— Se pertencia mesmo à sua esposa, aqui está. Mas cuide bem dele dessa vez e não o perca de novo.
Wu Chenliu pegou o dinheiro para pagar, mas Wu Ruo recusou.
— Faço questão. Você pagou por ele. É justo que eu pague o mesmo valor pra tê-lo de volta.
Wu Chenliu havia se preparado para dizer que também era da Família Wu, caso se recusassem a devolver o colar. Mas, para sua surpresa, Wu Ruo foi extremamente generoso. Não só lhe devolveu o pingente, como também não quis aceitar o pagamento.
— Não é nada demais pra nós. Não se preocupe com isso. Considere como um presente, já que somos novos na cidade — disse Wu Ruo.
— … — Era evidente para Wu Chenliu que aquela família era abastada. Ainda assim, sentia-se desconfortável em simplesmente receber o pingente de volta assim, sem mais nem menos. Então sugeriu:
— Ouvi dizer que você está procurando uma escola no momento.
— Sim. Tem alguma sugestão boa? — Os olhos de Wu Ruo brilharam.
— Não sei se minhas sugestões são boas, mas já fui mentor e ensinei muitos alunos. Não tenho uma escola, mas minha habilidade é comparável à dos professores das melhores academias. Se não se incomodarem, posso aceitar a senhorita Wu Xi como minha última discípula. Moro aqui no bairro, o que torna tudo bem mais prático.
Wu Ruo, é claro, já sabia que Wu Chenliu morava por perto. Caso contrário, não teria pedido para Wu Xi andar pela vizinhança.
— Não nos incomodamos de forma alguma. Mas, como minha irmã se especializa em habilidades de Yin e Yang, seria melhor que não aprendesse outras técnicas.
— Por acaso, é exatamente isso que eu ensino — respondeu Wu Chenliu.
Wu Ruo se animou:
— Sério? Posso saber seu nome?
— Me chamo Wu Chenliu.
— Seu sobrenome é Wu? O mesmo que o nosso? Você é da Família Wu? — Wu Xi se espantou.
— Já não sou mais da Família Wu. Fui expulso por causa de um assunto pessoal — disse ele, balançando a cabeça.
— Mas ainda carrega o sangue da família! E é da geração “Chen”, a mesma do nosso bisavô! — disse Wu Xi, empolgada. — Senhor, todos nós somos da Família Wu. Mas somos da Cidade de Gaoling.
— Eu sei. Pesquisei sobre vocês antes de vir — disse Wu Chenliu.
— Está mesmo disposto a me aceitar como sua aluna? — Wu Xi confirmou várias vezes.
Wu Chenliu assentiu com a cabeça.
— Maravilha! — Wu Xi saiu correndo do salão, radiante. — Vou contar essa notícia maravilhosa pra mamãe e pro papai!
Quando Wu Qianqing e Guan Tong souberam, ficaram paralisados, sem acreditar que aquilo havia realmente acontecido. Que honra seria ter Wu Xi como discípula do primo de seu bisavô! Além disso, Wu Qianqing já tinha ouvido falar da fama de Wu Chenliu quando saíra para treinar nos seus primeiros anos de cultivo. Sem dúvida, seria um mentor excepcional. Por isso, sem hesitar, organizaram um ritual no qual Wu Xi reconheceu oficialmente Wu Chenliu como seu Mestre.
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Capítulo 106: Wu Chenliu
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Comeback of the Abandoned Wife
Depois que Wu Ruo morreu, ele renasceu naqueles dias sombrios em que era o mais inútil e o mais gordo — justamente a versão de si mesmo que mais odiava.
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