Capítulo 134: Um mendigo
Assim que foi libertada, a serpente de saliva venenosa deslizou diretamente em direção a Wu Weixue.
Aquela serpente havia sofrido todo tipo de tortura desde que fora capturada por Wu Weixue, que a forçou a cuspir saliva até se ferir, além de usar seu sangue para fabricar veneno. A serpente a odiava profundamente. Jurara que mataria aquela mulher assim que tivesse a chance.
O rosto de Wu Weixue estava pálido quando ela sacou uma arma mágica e gritou para Shang Zhirong:
— Mãe! Mãe! Me ajude!
Ela havia enviado várias pessoas para capturar a serpente. Todas estavam mortas, exceto ela.
A serpente percebeu que ela estava pedindo ajuda. Saltou e se lançou sobre Wu Weixue.
Wu Weixue gritou de medo e lançou sua arma às pressas.
A serpente desviou rapidamente e escancarou a boca para morder o rosto de Wu Weixue.
Ela ativou uma arma defensiva enquanto tentava correr, mas de repente foi agarrada pelo ombro e empurrada em direção à serpente.
A serpente cravou os dentes no rosto dela, arrancando um pedaço de carne e engolindo-o de uma vez.
Wu Weixue gritou de dor e se virou para ver quem segurava seu ombro. O que viu foi inacreditável: era seu avô, aquele que a amava desde a infância.
Wu Chenzi soltou seu ombro com indiferença.
Wu Weixue caiu no chão, tomada pelo desespero. A saliva da serpente corroía cada centímetro de sua pele. Ela gritava, desesperada:
— Meu rosto! Meu rosto! Mãe! Está doendo demais!
Ela rolava no chão, contorcendo-se de dor. Em pouco tempo, seu rosto estava totalmente apodrecido, restando apenas carne e sangue necrosados.
— Weixue! Weixue! — Shang Zhirong se arrastou até ela. — Weixue, você está bem?
Ela virou Wu Weixue e se horrorizou ao ver o estado de seu rosto. Acabou largando-a.
Song Yan se sentiu imensamente feliz ao ver o estado em que Wu Weixue se encontrava.
A Família Yao estava chocada e assustada com a rapidez com que Wu Chenzi havia mudado de atitude. Durante toda a vida, ele havia defendido sua neta. E agora, num piscar de olhos, a empurrara friamente para a serpente, sem a menor piedade.
Não puderam evitar ficar em alerta contra Wu Chenzi — um aliado tão volúvel.
Wu Chenzi olhou friamente para a Família Yao:
— Estão satisfeitos agora?
— …
— Se permanecerem em silêncio, vou considerar isso como um “sim”. E não quero mais ouvir falar disso — disse ele, com severidade.
Yao Jinghui assentiu e foi embora com os jovens.
Wu Chenzi lançou um olhar feroz para a serpente que tentava fugir e rugiu:
— Maldita! Pare aí!
Lançou uma runa contra ela e, com um estrondo, a serpente se despedaçou.
Ele então se virou para a mãe e filha que choravam:
— Vou buscar um médico para curar o rosto de Weixue.
Depois, caminhou até a porta e, antes de sair, lançou um olhar gelado para Song Yan. Ela tremeu de medo e caiu no chão. Wu Chenzi certamente a odiava muito.
Naquela noite, Wu Weixue desapareceu.
Três dias depois, logo após o café da manhã, Wu Ruo e Hei Xuanyi receberam uma mensagem de Ling Mohan. Ele queria encontrá-los no Yipinxiang, o maior restaurante da capital. Mas não disse o motivo.
Wu Ruo ficou intrigado com o convite. Quando chegaram ao Yipinxiang, o restaurante estava cheio de clientes entrando e saindo — e também havia mendigos por perto.
O garçom expulsava a maioria deles. Mas havia um mendigo em especial, amarrado a um pilar na entrada. Estranhamente, nem os garçons nem o gerente o expulsaram.
Wu Ruo viu o mendigo assim que ele e Hei Xuanyi desceram da carruagem.
O mendigo vestia um manto preto imundo, e os cabelos estavam desgrenhados. Seu rosto estava tão deteriorado que era impossível reconhecê-lo. Os braços e pernas pendiam frouxos, como se estivessem quebrados.
Seus olhos estavam vidrados, olhando os transeuntes na rua. Mas, quando viu Wu Ruo e Hei Xuanyi, emitiu um som estranho e escondeu o rosto, como se se lembrasse de algo.
Hei Xuanyi franziu o cenho e acompanhou Wu Ruo até a sala VIP do restaurante, que havia sido reservada por Ling Mohan. Estava vazia. Mas havia um bilhete:
“Wu Ruo, peça o que quiser. A refeição já está paga.”
E, em seguida:
“Você viu o mendigo na porta? O reconhece?”
Wu Ruo ficou surpreso. Tinha notado o mendigo, mas não havia prestado muita atenção.
No final, o bilhete trazia apenas uma palavra: “Xue”.
Wu Ruo estreitou os olhos. Seria possível que o mendigo…?
Hei Xuanyi pegou o bilhete e leu:
— O mendigo lá fora é Wu Weixue?
Havia rumores de que Wu Weixue havia desaparecido. Supunham que Wu Chenzi a tinha levado para tratamento. Mas, agora, essa hipótese parecia improvável.
Toda a capital sabia que a serpente havia mordido o rosto de Wu Weixue. Wu Chenzi não precisaria tirá-la da cidade para tratar isso. Pelo visto, ela havia sido sequestrada. Isso explicava por que Shang Zhirong a procurava tão desesperadamente.
— Então foi Ling Mohan quem a levou — disse Wu Ruo.
Ele sorriu.
— Vamos ver exatamente o que está acontecendo. Será que está se vingando por mim?
Hei Xuanyi estreitou os olhos e queimou o bilhete com poder espiritual.
— Vamos dar uma olhada mais de perto — disse Wu Ruo, puxando Hei Xuanyi escada abaixo.
Pararam diante do mendigo e puderam ver claramente que, sob aquelas roupas imundas, tratava-se de uma mulher.
Wu Ruo colocou um lingote de prata na tigela dela. O tilintar chamou sua atenção.
Mas, ao ver Wu Ruo e Hei Xuanyi, ela virou o rosto.
Wu Ruo zombou:
— Que mendigo mais esquisito. Ao invés de agradecer, ainda vira a cara.
Um homem sentado perto da porta se levantou e deu um chute na mendiga, que se encolheu de dor.
— Por que não diz nada, se o senhor quer te dar dinheiro? — Disse o homem, desculpando-se com Wu Ruo. — Perdão, senhor. Ela é muda. Não sabe falar.
— Ah, é? Muda? — Os lábios de Wu Ruo se curvaram.
— Sim. Ela não tem língua. Por isso, não fala.
A mendiga levantou os olhos e lançou um olhar furioso para o homem.
Ele bufou:
— Para de me olhar! Ou eu arranco seus olhos!
Ela se encolheu, assustada.
Wu Ruo comentou com Hei Xuanyi:
— Xuanyi, você não acha que os olhos dela se parecem com os de Wu Weixue?
A mendiga estremeceu ao ouvir o nome Wu Weixue e se encolheu ainda mais. De repente, rugiu para Wu Ruo, como se lembrasse de algo.
— Sim, se parece — concordou Hei Xuanyi.
A mendiga tentou se levantar, mas não conseguiu. Só conseguia rosnar.
Wu Ruo entendeu: ela estava tentando dizer que era Wu Weixue. Ele sorriu ainda mais e provocou:
— Por que está tão emocionada? Será que conhece a senhorita Wu? A senhorita Wu é tão linda. Será que gosta dela? Mas, veja bem, a senhorita Wu é uma dama nobre… completamente fora do seu alcance.
Os olhos da mendiga ficaram vermelhos. Ela continuava rugindo.
Wu Ruo jogou outro lingote de prata na tigela.
— Mesmo que tivesse um status tão alto quanto o da senhorita Wu, ela não gostaria de você. Porque ela ama outra pessoa. Um homem… que é casado com outro homem.
A mendiga congelou e encarou os olhos zombeteiros de Wu Ruo. Ele a havia reconhecido.
— Urgh… — Ela rugiu alto. Só podia ser Wu Ruo quem a sequestrara, cortara sua língua, destruíra sua base espiritual, quebrara seus membros… e a transformara numa inútil completa.
Por causa dele, ela deixou de ser uma dama da elite para se tornar uma mendiga que ninguém reconhecia.
A mendiga ficou cada vez mais agitada e se arrastou em direção a Wu Ruo.
Wu Ruo, eu vou te matar! Eu quero te matar!
Seus olhos estavam vermelhos, cheios de ódio.
O homem lhe deu um chute na perna e gritou:
— Cale a boca! Está assustando o senhor. Já está na hora. Vamos sair da capital.
— Vocês vão sair da capital? — perguntou Wu Ruo.
— Sim. Vou levá-la para outras cidades, pra mendigar.
O homem soltou a correia e a arrastou como se fosse um cachorro.
— Anda, sua muda!
A mendiga gritou para Wu Ruo.
Wu Ruo sorriu e segurou a mão de Hei Xuanyi.
— Vamos, Xuanyi.
Ao ver o casal perfeito e respeitável, os olhos da mendiga se encheram de dor e lágrimas amargas.
Hei Xuanyi escoltou Wu Ruo até a carruagem e o ajudou a subir. A mendiga os observava.
Ela rugiu, desesperada. Aquele homem deveria ser meu. Ele era meu!
— Cale a boca! Vai latir agora, sua cadela?
O homem se irritou, apertou a correia e a arrastou com brutalidade. Muitos transeuntes olharam com pena da mendiga.
Dentro da carruagem, Wu Ruo ouviu o rugido e, aninhado nos braços de Hei Xuanyi, perguntou:
— Xuanyi, você acha que eu sou uma má pessoa?
Se não fosse por Wu Weixue em sua vida passada, Wu Chenzi não teria usado uma arma budista contra ele. Não teria sido separado de Hei Xuanyi. Cada vez que pensava em sua vida anterior com Hei Xuanyi, seu coração se partia.
— Você não é ruim — Hei Xuanyi o abraçou. — Eu só queria que fosse ainda mais implacável.
Se Ling Mohan não tivesse sequestrado Wu Weixue, Hei Xuanyi mesmo a teria matado.
— Por quê? — perguntou Wu Ruo.
Hei Xuanyi beijou sua testa.
— Para que você possa se proteger do perigo.
— … — Wu Ruo.
Ele estava falando sério… ou só tentando consolar?
— Quer ir pra casa ou dar uma volta?
Ao pensar na pilha imensa de Feno de Fera no quintal, Wu Ruo suspirou:
— Vamos pra casa. Ainda tenho muita erva pra lidar.
— Por que você comprou tanto Feno de Fera? — perguntou Hei Xuanyi.
— Logo você vai saber — Wu Ruo sorriu.
Assim que chegaram em casa, Wu Ruo foi direto para a Sala de Refinamento.
Quando Numu o viu, reclamou:
— Tem cada vez mais erva aqui! Quando isso vai acabar? Por que não contratamos alguns médicos pra ajudar? Seria mais eficiente.
Wu Ruo balançou a cabeça e estava prestes a responder quando alguém gritou:
— Senhor, senhor! Alguns homens desmaiaram de repente!
Numu se assustou, largou as ervas e perguntou:
— O que aconteceu?
— Não faço ideia! Eles caíram no chão sem motivo. Os corpos estão quentes… mais quentes que água fervendo! Por favor, venha ajudá-los!
Wu Ruo também largou as ervas e foi com Numu ver o que estava acontecendo.
Assim que entraram na sala, os outros deram passagem.
Numu tentou sentir o pulso de um dos homens. Mas, ao tocar sua pele, se queimou e se assustou.
— Está muito quente! Eles comeram algo diferente? Algum veneno?
— Não — responderam os companheiros. — Não comemos nada fora do comum. Mesmo no Clã dos Demônios, levamos nossa própria comida.
Wu Ruo perguntou:
— Vocês estiveram no Clã dos Demônios durante o Festival dos Quatro Clãs?
— Sim. Ouvimos dizer que havia muitos materiais por lá. Então fomos.
Wu Ruo ficou em silêncio.
Numu continuou examinando os pulsos, mesmo com a febre intensa. Franziu o cenho:
— Que estranho… Não há nada além do calor. Os pulsos estão normais. E não há sinais de veneno. Isso é muito estranho…
Ele olhou para Wu Ruo:
— Ruo, venha ver. Não consigo encontrar a causa.
Wu Ruo tocou o corpo que estava absurdamente quente.
Numu perguntou:
— Tem alguma ideia?
— Nenhuma — respondeu Wu Ruo, balançando a cabeça.
Ele então perguntou a um dos companheiros:
— Aconteceu algo estranho enquanto estavam no Clã dos Demônios?
— Algo estranho? — O homem pensou um pouco. — Nada fora do comum.
Os outros também negaram com a cabeça.
Wu Ruo insistiu:
— Pensem bem. Qualquer coisa diferente já conta.
O homem refletiu e disse:
— Bem… houve uma coisa, mas não sei se conta como “estranha”.
— Diga.
— Quando chegamos ao Clã dos Demônios, eles não pareciam muito bem… como se estivessem doentes. Estavam sem energia, espirrando o tempo todo. Quando perguntamos, disseram que estavam com febre nos últimos dias, mas que melhoravam com um pouco de descanso. Disseram que era normal entre os demônios.
Comentários no capítulo "Capítulo 134: Um mendigo"
COMENTÁRIOS
Capítulo 134: Um mendigo
Fonts
Text size
Background
Comeback of the Abandoned Wife
Depois que Wu Ruo morreu, ele renasceu naqueles dias sombrios em que era o mais inútil e o mais gordo — justamente a versão de si mesmo que mais odiava.
Perdeu sua senha?
Por favor, digite seu nome de usuário ou endereço de e-mail. Você receberá um link para criar uma nova senha via e-mail.
Atenção! Indicado para Maiores
Comeback of the Abandoned Wife
contém temas ou cenas que podem não ser adequadas para muito jovens leitores, portanto, é bloqueado para a sua protecção.
Você é maior de 18?